Taxa de turismo é alvo de polêmica em Parque de Jericoacoara

A Justiça Federal do Ceará decretou um prazo de dois meses para que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apresente os licenciamentos ambientais e alvarás municipais necessários à cobrança de uma taxa de R$ 50 para a travessia do Parque Nacional de Jericoacoara até a Vila de Jericoacoara, em Jijoca, gerido pela concessionária Urbia. O decreto também suspende obras no parque até a regularização.

A decisão, tomada por meio de uma Ação Civil Pública, foi motivada pela falta de clareza na estrutura da cobrança, conforme divulgado na segunda-feira (20/1). O juiz Sérgio de Norões Milfont Júnior suspendeu a nova cobrança por 90 dias, que já havia sido adiada em dezembro de 2024 para março de 2025.

Ao Correio, o ICMbio afirma que essa medida está alinhada com os procedimentos de análise de conformidade, afirmando ainda que ela não se restringe ao órgão e a Concessionária Urbia, mas em todos os contratos de concessão.

A prática de cobrança de taxas turísticas é adotada por várias cidades com o objetivo de preservar o meio ambiente e manter a infraestrutura desses locais. No entanto, a implementação nem sempre é bem vista por moradores e turistas, levando algumas localidades a revogar tais cobranças, como aconteceu recentemente em Caldas Novas.

Wendel Luís Moura, é um turista frequente de Jericoacoara. Em depoimento, afirma ter viajado a cidade por quatro vezes e em apenas uma das viagens pagou a taxa estabelecida. “Não vemos nenhuma medida para proteger o meio ambiente, eles estão preocupados em ganhar dinheiro, e faturar mais”, afirma.

O Advogado, e Especialista em Direito Tributário e Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), Jairo Castelo Branco, explica que cada município tem competência para a criação da taxa do turismo, sendo obrigados a prestarem contas de serviço público. Logo, os recursos arrecadados devem ser destinados diretamente à segurança aos visitantes.

“A atividade turística de forma crescente exerce uma importância econômica para o nosso estado. Então é claro que toda taxação pode ocasionar diminuição no fluxo de visitantes, desaquecendo o setor da economia”, avalia.

“Acredito que a suspensão cumpre um papel importante, o ICMIBio e a concessionária Urbia podem rever se esses valores não estão sendo abusivos. E se não é possível construir uma estrutura de garantias de serviço para a população e visitantes sendo mantida e ampliada”, complementa o advogado.

Em janeiro de 2025, o prefeito reeleito à prefeitura de Caldas Novas, Kleber Marra, anunciou a revogação da Taxa de Preservação Ambiental (TPA) que havia sido aprovada em novembro de 2024. A decisão foi tomada após críticas de comerciantes e setores ligados ao turismo, que temiam uma possível redução no fluxo de visitantes, gerando impacto negativo na economia local. Os valores cobrados por cada turista variava entre R$ 5 a R$ 183.

Atualmente, as cobranças de taxas colaboram no financiamento de ações de conservação e proteção dos ecossistemas locais, gerando sustentabilidade ambiental. Além de contribuir para a conservação ambiental, essas taxas ajudam no controle do número de visitantes, evitando a superlotação.

Conheça as localidades no Brasil que já adotam taxas de preservação ambiental, com valores e objetivos variados.

A arrecadação é destinada a ações ambientais em Bombinha, cobrada a TPA com os seguintes valores por veículo:

A Taxa de Preservação Ambiental (TPA) é cobrada por pessoa e varia conforme os dias de permanência:

A cidade implementou a Taxa de Proteção Ambiental (TPA), com os seguintes valores por diária:

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Taxa de Conservação Ambiental (TCA): A partir de janeiro de 2025, a cidade implementou a TCA com os seguintes valores:

Tarifa de Preservação e Uso do Patrimônio do Arquipélago Municipal (TUPA):

Taxa para Passeios no Chapadão de Pipa

Taxa para Acesso aos Lençóis Maranhenses via Santo Amaro:

Abrolhos (BA)

Taxa de Visitação ao Arquipélago:

Em nota, o Ministério do Turismo destacou seu compromisso com o turismo sustentável, priorizando a valorização de patrimônios culturais e naturais, além de promover segurança e boas práticas em destinos turísticos.

Da adrenalina à destruição: Entenda a formação das ondas e os impactos de fenômenos naturais

As ondas são oscilações da superfície da água causadas pela transferência de energia através do meio aquático. Elas podem sofrer impactos de fenômenos naturais e atingir alturas elevadas, o que as tornam queridas para alguns e perigosas para outros. As ondulações, por exemplo, são capazes de gerar adrenalina em surfistas, mas paralisam as atividades do Porto de Santos, no litoral de São Paulo.

Ao g1, especialistas e profissionais que ‘vivem’ nas águas explicaram o que são as ondas e os impactos delas aos seres humanos e ao meio ambiente. Confira:

Ondas

🤔O que são?

As ondas são oscilações da superfície da água causadas pela transferência de energia através do meio aquático.

🏄Como são formadas?

Diversos fatores podem formar diferentes tipos de ondas, sendo alguns deles:

Segundo o especialista em hidrodinâmica costeira e doutor em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), Renan Ribeiro, aquelas que costumamos ver nas praias são formadas pela ação dos ventos na superfície do mar. “Normalmente, as ondas que chegam na costa com maior energia são formadas a quilômetros de distância”, explicou ele.

Já as ondas com menor energia, conhecidas como “mar mexido”, duram por pouco tempo e são formadas pelo vento local [fluxos de ar que ocorrem em uma determinada região durante um período específico do ano].

Elas também podem ser formadas por abalos sísmicos submarinos, também conhecido como maremoto – provocados pelo deslocamento das chamadas placas tectônicas. “Não é comum esse tipo de geração de onda na costa brasileira”, destacou Renan.

A oceanógrafa, mestranda no programa de pós-graduação interdisciplinar em ciência e tecnologia do mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) da Baixada Santista (SP), Mariana Amaral, acrescentou que as ondas também podem ser formadas pela força da atração entre a Lua, Sol e Terra.

📏Como é feita a medição?

Na Baía de Santos, de acordo com Renan Ribeiro, a Praticagem de São Paulo utiliza um ADCP [Acoustic Doppler Current Profiler — em português, perfilador de acústico de correntes por efeito Doppler]. Este equipamento mede o movimento das ondas do mar a partir de um princípio físico de propagação de ondas sonoras, conhecido como efeito Doppler.

O Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Universidade Santa Cecília (Unisanta) usa os dados coletados pelos instrumentos ADCPs da Praticagem para calcular a altura significativa (Hs), que é a média do terço superior das maiores ondas, e o período de pico, ou seja, o intervalo de tempo entre as cristas das ondas mais energéticas.

Apesar disso, também existem outras opções:

Em alto-mar ou mesmo na Baía de Santos, segundo Renan, podem ser usadas boias oceanográficas com sensores que detectam o movimento da superfície do mar.

Em local mais próximo da costa, de acordo com ele, é possível utilizar sensores de pressão que medem diretamente as variações na altura.

Segundo o especialista, há a possibilidade de realizar a medição por meio de sensores a bordo de satélites localizados a quilômetros de distância da superfície do mar.

Maior onda registrada

Em 21 de agosto de 2016, o NPH-Unisanta registrou ondas de 4,25 metros de altura na região da Ilha das Palmas, em Guarujá (SP). De acordo com o laboratório, este foi o maior evento dos últimos 30 anos na Baixada Santista (SP).

Segundo o NPH-Unisanta, a altura das ondas naquela ocasião foi causada por uma frente fria associada a um ciclone extratropical — sistema de baixa pressão atmosférica formado pelo contraste de temperaturas de diferentes massas de ar (quente e fria). “Um evento meteoceanográfico extremo”.

Tsunamis e terremotos

Além dos ciclones, as ondas do litoral de São Paulo também podem ser impactadas por tsunamis e terremotos, mesmo que estes fenômenos não ocorram no Brasil, uma vez que o país está localizado longe das placas tectônicas.

“Não [impacta] no sentido catastrófico”, explicou Renan Ribeiro. “O impacto em regiões como o litoral de São Paulo costuma ser muito mais sutil devido à distância dos principais epicentros de tsunamis. Embora possamos detectar a influência”, afirmou o especialista.

De acordo com ele, os efeitos dos tsunamis e terremotos podem ser vistos em pequenas variações no nível do mar ou alterações na frequência das ondas, sem grandes riscos à infraestrutura costeira ou à população.

Velocidade

À equipe de reportagem, a oceanógrafa Mariana explicou que a velocidade das ondas depende da região e das condições locais do dia, como altura, período, direção e energia das oscilações.

Segundo o especialista Renan, as ondas costumam ter um período de dez segundos no litoral do estado. Por este motivo, chegam em local próximo à costa com aproximadamente 25 Km/h, enquanto se propagam em uma velocidade de 50 Km/h em mar aberto.

Perigos

➡ Renan afirmou que ondas com maior energia podem dificultar ou até inviabilizar a navegação.

➡ Para o meio ambiente, o especialista afirmou que as ondas podem influenciar a erosão costeira, quando a praia perde mais sedimentos do que recebe. “Causando assim a perda de habitat de algumas espécies”, destacou ele.

➡ Mariana acrescentou que as construções humanas estão cada vez mais próximas da área costeira que naturalmente já tem uma dinâmica de ondas. “O perigo é a força da onda atingir essas construções e causar grandes danos”, reforçou ela.

O Presidente da Praticagem de São Paulo, Fábio Mello Fontes, é prático da região da Baixada Santista, e nos portos de Santos e São Sebastião. Esta profissão consiste em acompanhar e auxiliar o comandante durante toda a manobra do navio, que é combinada anteriormente entre eles.

Para os práticos, de acordo com Fontes, o ideal é que não haja ondas. “As ondas dificultam, em um primeiro momento, o embarque e o desembarque do prático e, em um segundo momento, a manobra em si. Quanto maior a altura da onda, maiores são os riscos”, explicou ele.

Quando as ondas alcançam mais de três metros de altura, os portos são fechados e as manobras canceladas por determinação da Capitania dos Portos de São Paulo até que as condições fiquem mais seguras.

Impactos positivos

“Graças às ondas o oceano é tão dinâmico e está sempre em movimento”, afirmou a oceanógrafa. Confira os impactos positivos das ondulações, de acordo com os especialistas:

➡ Ajudam a mistura da água do mar, transportando nutrientes das camadas mais fundas para a superfície;

➡ Auxilia no transporte de animais;

➡ Ajudam a oxigenação da água do mar;

➡ Atraem surfistas, e podem ser consideradas turismo e lazer.

O professor de Educação Física e coordenador da Escola de Surf da Prefeitura de São Vicente (SP), Ricardo de Mello Martins, é um dos apaixonado por ondas. Ao g1, ele explicou que a altura ideal das oscilações varia de acordo com o nível e o gosto de cada praticante.

Por exemplo, os iniciantes costumam começar em ondas pequenas a médias, de 0,5 a 1 metro, enquanto os avançados podem arriscar entre 1,5 e 2 metros. De acordo com o professor, o impacto da onda é determinante para o nível de performance.

➡ Ondas mais longas ajudam o surfista a desenvolver um maior número e variações de manobras.

➡ Ondas tubulares possibilitam o praticante performar e dominar as oscilações.

“Ondas fortes e altas geram mais risco e a famosa adrenalina, o que a maioria dos surfistas de alto rendimento gostam e procuram”, afirmou Martins. “Somente quem começa a praticar que consegue sentir e compreender a força das ondas e das correntezas do mar”, acrescentou ele.

“Ondas fortes e altas geram mais risco e a famosa adrenalina, o que a maioria dos surfistas de alto rendimento gostam e procuram”, afirmou Martins. “Somente quem começa a praticar que consegue sentir e compreender a força das ondas e das correntezas do mar”, acrescentou ele.

VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos

Demissões e lugar do Brasil: as polêmicas de Trump em 24 horas de governo

Com pouco mais de 24 horas desde que tomou posse como 47º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e o governo dele protagonizaram diversas polêmicas — desde o primeiro discurso, quando garantiu ida a Marte e deportação em massa, até gesto de Elon Musk, chefe de departamento do republicano, comparado a saudação nazista por entidades judaicas.

Uma das partes mais tradicionais da cerimônia de posse do presidente dos Estados Unidos, ocorrida na última segunda-feira (20/1), é o juramento que o novo governante faz com a mão direita erguida e a mão esquerda sobre a Bíblia e a Constituição.

Apesar de não se tratar de obrigação constitucional, tocar nos documentos é uma tradição institucional que foi esquecida ou ignorada por Trump, que não encostou na ‘Bíblia de Lincon’, segurada pela esposa dele, Melania.

Antes da cerimônia, uma autoridade do novo governo havia dito que Trump planejava emitir decretos para acabar com o direito de pedir asilo nos Estados Unidos e com o direito à cidadania por nascimento no país.

“Vamos acabar com o asilo (…), o que abre um processo de remoção imediata (de imigrantes)”, disse a fonte à AFP. “Depois, vamos acabar com o direito à cidadania por nascimento.”

Durante a posse, Trump afirmou que vai decretar emergência nacional na fronteira com o México, ao sul dos Estados Unidos, e prometeu enviar tropas a fim de “reparar desastres de invasões”.

“Toda entrada ilegal será imediatamente impedida e iniciaremos o processo de devolver milhões e milhões de imigrantes ilegais de volta para o lugar de onde vieram”, declarou. “Poderemos utilizar todas as forças de segurança pública para eliminar todas as gangues criminosas que atuam trazendo crime devastador para o solo americano.”

Contrariando as tendências globais de investimento em energias renováveis, Trump anunciou investimentos na exploração de petróleo e gás natural no país. “Vamos decretar emergência nacional de energia, vamos ‘perfurar, querida, perfurar’”, declarou.

Em discurso, Trump prometeu colocar os EUA entre os maiores exportadores dos combustíveis fósseis. “Seremos novamente uma nação rica, e é esse ‘ouro líquido’ nos ajudará nesse feito.”

O novo presidente dos Estados Unidos também prometeu taxar outras nações. Segundo ele, “tarifas e impostos” serão cobrados de países estrangeiros a fim de “enriquecer” os cidadãos americanos.

“Começarei imediatamente a reformular nosso sistema comercial para proteger os trabalhadores americanos e suas famílias”, disse.

Além disso, informou que espera impor tarifas alfandegárias de 25% ao México e ao Canadá a partir do dia 1º de fevereiro. “O Canadá também abusa fortemente — grandes quantidades de gente vindo e de fentanil chegando”, justificou.

Trump afirmou novamente que vai “tomar de volta” o Canal do Panamá. “Demos o canal ao Panamá e vamos recuperá-lo”, declarou. Segundo o novo mandatário, “a China está operando” o local.

Ele acusou os responsáveis pelo canal de sobretaxar navios estadunidenses e de não tratar o país de forma justa.

O republicano reiterou, também, que “em breve” o nome do Golfo do México será alterado para “Golfo da América”.

O presidente disse que os Estados Unidos vão ficar a bandeira do país em Marte. “Vamos perseguir nosso destino manifesto rumo às estrelas, enviando astronautas americanos para fincar as estrelas e listras (da bandeira americana) no planeta.”

O destino manifesto a que ele se refere diz respeito a uma ideologia prevalente no século XIX que defendia o direito moral e a missão divina de cidadãos americanos de expandir os próprios territórios, da costa atlântica até o Pacífico.

Trump disse também que os EUA não precisam do Brasil. “Eles precisam de nós muito mais que nós deles”, respondeu a uma jornalista.

Antes mesmo da cerimônia de posse, funcionários da Casa Branca haviam adiantado à AFP que o novo presidente iria assinar uma ordem executiva que orienta o governo a “reconhecer” a existência de apenas “dois gêneros”, o que foi confirmado no primeiro discurso do governante.

“Também acabarei com a política governamental de tentar aplicar a raça e o gênero em cada aspecto das vidas pública e privada”, ressaltou. “A partir de hoje, a política do governo dos Estados Unidos é de que existem apenas dois gêneros, masculino e feminino.”

Na noite de segunda-feira (20/1), Trump anunciou que iria assinar decretos para indultar pessoas condenadas por participar da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021.

Ele chamou os criminosos de “reféns”, “patriotas” e “presos políticos” e disse que assinaria “indultos para muita gente” ainda naquela noite.

Também na noite de segunda, foi assinada ordem executiva para tirar os EUA do Acordo de Paris sobre o clima, firmado em 2015 com o objetivo reduzir emissões de gases de efeito estufa.

O presidente também assinou carta formal dirigida à Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de notificar sobre a decisão — feita em um momento em que impactos produzidos pelo aquecimento global, inclusive eventos climáticos extremos, são percebidos no mundo inteiro.

Por fim, assinou decreto para retirar o país da Organização Mundial da Saúde (OMS), da qual os Estados Unidos são o principal doador e garantem financiamento vital. Ele diz que a OMS roubou os EUA.

Além disso, foi assinado decreto que cancela o regime de trabalho remoto de cerca de um milhão de funcionários públicos federais.

“Os chefes de todos os departamentos e agências do Poder Executivo do governo devem, o mais rápido possível, tomar todas as medidas necessárias para encerrar os acordos de trabalho remoto e exigir que os funcionários retornem ao trabalho presencial em seus respectivos locais de trabalho em tempo integral”, diz o documento.

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Trump revogou a decisão de Biden de tirar Cuba de uma lista de países patrocinadores de terrorismo, anunciada dias antes a fim de libertar presos políticos. A Casa Branca anunciou a decisão em comunicado divulgado após a cerimônia de posse.

O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse que medida é “ato de arrogância e desprezo pela verdade”.

Ao agradecer apoiadores de Trump em discurso feito na noite de segunda, Elon Musk fez um gesto que foi comparado a uma saudação nazista por entidades judaicas. De acordo com a AFP, ele “bateu no peito com a mão direita, que depois estendeu abertamente na direção da plateia”, por duas vezes.

No X, a historiadora especializada em nazismo nos EUA Claire Aubin disse que o gesto do futuro ministro de Trump foi um “sieg heil”. Mais tarde, Musk escreveu que as pessoas vão ter que encontrar “truques sujos melhores” para derrotá-lo e que “o ataque ‘todo mundo é Hitler’ é exagerado”.

A partir da madrugada de terça-feira (21/10), Trump demitiu, por meio da primeira publicação que fez na rede social Truth Social após a posse, quatro funcionários de alto escalão nomeados por Biden. O presidente disse também que “mais de mil” serão destituídos.

Os funcionários demitidos foram: José Andrés, do Conselho Presidencial de Esportes, Saúde e Nutrição; Mark Milley, do Conselho Consultivo Nacional de Infraestrutura; Brian Hook, do Centro Internacional Woodrow Wilson para Acadêmicos; e Keisha Lance Bottoms, do Conselho Presidencial para Exportações.

“Que isto sirva como aviso oficial de rescisão para esses quatro indivíduos, com muitos outros por vir”, escreveu. “Meu Departamento Pessoal Presidencial está ativamente no processo de identificar e demitir mais de mil cargos nomeados pelo governo anterior que não se enquadram em nossa visão de tornar a América grande novamente.”

*Com informações da AFP.

Governo de Israel aprova cessar-fogo em Gaza

O governo e o gabinete de segurança de Israel aprovaram o acordo de cessar-fogo em Gaza na noite desta sexta-feira (17/01, horário do Brasil).

As objeções dos ministros de direita radical no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não foram suficientes para rejeitar o acordo.

Antes mesmo das votações, após uma série de negociações e atrasos de última hora, Netanyahu confirmou que havia sido finalizada a negociação para a libertação de reféns sequestrados em Israel e que estão atualmente em Gaza.

Em troca, prisioneiros palestinos atualmente em Israel serão soltos.

Segundo o gabinete de Netanyahu, os primeiros reféns poderão ser libertados já no domingo (19). Os nomes dos 33 reféns que serão soltos em uma primeira etapa do acordo já foram divulgados.

O atraso na votação, inicialmente prevista para quinta-feira (18), gerou dúvidas — Netanyahu havia garantido que, caso o acordo fosse aprovado pelos órgãos de Israel, a libertação dos primeiros reféns ocorreria conforme o planejado.

O que o acordo prevê

O acordo, intermediado pelos Estados Unidos e pelo Catar, é dividido em três fases, com objetivos distintos e escalonados.

Na primeira fase, que entra em vigor em 19 de janeiro e terá duração de seis semanas, 33 reféns, incluindo mulheres, crianças e idosos, serão libertados em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel.

Paralelamente, as forças israelenses devem recuar para o leste, afastando-se das áreas mais densamente povoadas de Gaza. Esse movimento permitirá que palestinos deslocados comecem a retornar às suas casas, interrompendo temporariamente o conflito direto em áreas urbanas.

Além disso, está prevista a entrada diária de centenas de caminhões de ajuda humanitária no território palestino, aliviando a grave crise humanitária na região.

A segunda fase do acordo será marcada por novas negociações para a libertação dos reféns restantes. Esse período também incluirá o recuo total das tropas israelenses em Gaza e esforços para alcançar uma “calma sustentável”.

A expectativa é que essa etapa estabeleça as bases para um acordo mais duradouro, evitando a retomada imediata do conflito armado.

Por fim, a terceira e última fase focará no retorno dos restos mortais de quaisquer reféns que não sobreviveram ao cativeiro.

Além disso, será iniciada a reconstrução de Gaza, o que inclui a restauração de infraestrutura essencial e assistência às famílias afetadas pela destruição.

Esse processo, no entanto, pode levar anos, considerando a magnitude dos danos causados pelo conflito.

Manifestantes em Tel Aviv pedindo o retorno dos reféns mantidos na Faixa de Gaza reagem após o anúncio do cessar-fogo

A situação agora

Enquanto isso, a violência persiste. Desde o anúncio do acordo, mais de 100 palestinos foram mortos em ataques aéreos israelenses, incluindo 27 crianças e 31 mulheres, segundo a defesa civil de Gaza.

Bombardeios recentes atingiram casas em diferentes partes do território, agravando ainda mais a crise humanitária.

A situação humanitária em Gaza é crítica, com 91% da população enfrentando insegurança alimentar aguda, segundo dados da ONU.

Os suprimentos de ajuda humanitária diminuíram drasticamente desde o início do conflito.

Antes de outubro de 2023, cerca de 500 caminhões de ajuda, incluindo combustível, entravam em Gaza diariamente. No entanto, em outubro de 2024, essa média caiu para apenas 37 caminhões por dia.

Danos em edifício residencial após ataque aéreo israelense em Jabalia, ocorrido em 16 de janeiro, depois de Israel e Gaza chegarem a um acordo de cessar-fogo

A agência da ONU dedicada às crianças, a Unicef, relatou que “milhares de carregamentos de ajuda” estão retidos em armazéns na Jordânia, aguardando para entrar em Gaza.

Rosalia Bollen, porta-voz da Unicef, disse ao programa Today, da BBC Radio 4: “Estamos muito esperançosos de que as condições no terreno melhorem com o cessar-fogo.”

Contudo, mesmo que os suprimentos sejam liberados, haverá grandes desafios para distribuí-los devido aos danos na infraestrutura e à insegurança na região.

No país liderado por Netanyahu, a política interna refletiu as tensões em torno do acordo, que teve resistência de membros do governo de direita radical, como Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich.

Governo de Israel aprova cessar-fogo em Gaza

O governo e o gabinete de segurança de Israel aprovaram o acordo de cessar-fogo em Gaza na noite desta sexta-feira (17/01, horário do Brasil).

As objeções dos ministros de direita radical no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não foram suficientes para rejeitar o acordo.

Antes mesmo das votações, após uma série de negociações e atrasos de última hora, Netanyahu confirmou que havia sido finalizada a negociação para a libertação de reféns sequestrados em Israel e que estão atualmente em Gaza.

Em troca, prisioneiros palestinos atualmente em Israel serão soltos.

Segundo o gabinete de Netanyahu, os primeiros reféns poderão ser libertados já no domingo (19). Os nomes dos 33 reféns que serão soltos em uma primeira etapa do acordo já foram divulgados.

O atraso na votação, inicialmente prevista para quinta-feira (18), gerou dúvidas — Netanyahu havia garantido que, caso o acordo fosse aprovado pelos órgãos de Israel, a libertação dos primeiros reféns ocorreria conforme o planejado.

O que o acordo prevê

O acordo, intermediado pelos Estados Unidos e pelo Catar, é dividido em três fases, com objetivos distintos e escalonados.

Na primeira fase, que entra em vigor em 19 de janeiro e terá duração de seis semanas, 33 reféns, incluindo mulheres, crianças e idosos, serão libertados em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel.

Paralelamente, as forças israelenses devem recuar para o leste, afastando-se das áreas mais densamente povoadas de Gaza. Esse movimento permitirá que palestinos deslocados comecem a retornar às suas casas, interrompendo temporariamente o conflito direto em áreas urbanas.

Além disso, está prevista a entrada diária de centenas de caminhões de ajuda humanitária no território palestino, aliviando a grave crise humanitária na região.

A segunda fase do acordo será marcada por novas negociações para a libertação dos reféns restantes. Esse período também incluirá o recuo total das tropas israelenses em Gaza e esforços para alcançar uma “calma sustentável”.

A expectativa é que essa etapa estabeleça as bases para um acordo mais duradouro, evitando a retomada imediata do conflito armado.

Por fim, a terceira e última fase focará no retorno dos restos mortais de quaisquer reféns que não sobreviveram ao cativeiro.

Além disso, será iniciada a reconstrução de Gaza, o que inclui a restauração de infraestrutura essencial e assistência às famílias afetadas pela destruição.

Esse processo, no entanto, pode levar anos, considerando a magnitude dos danos causados pelo conflito.

Manifestantes em Tel Aviv pedindo o retorno dos reféns mantidos na Faixa de Gaza reagem após o anúncio do cessar-fogo

A situação agora

Enquanto isso, a violência persiste. Desde o anúncio do acordo, mais de 100 palestinos foram mortos em ataques aéreos israelenses, incluindo 27 crianças e 31 mulheres, segundo a defesa civil de Gaza.

Bombardeios recentes atingiram casas em diferentes partes do território, agravando ainda mais a crise humanitária.

A situação humanitária em Gaza é crítica, com 91% da população enfrentando insegurança alimentar aguda, segundo dados da ONU.

Os suprimentos de ajuda humanitária diminuíram drasticamente desde o início do conflito.

Antes de outubro de 2023, cerca de 500 caminhões de ajuda, incluindo combustível, entravam em Gaza diariamente. No entanto, em outubro de 2024, essa média caiu para apenas 37 caminhões por dia.

Danos em edifício residencial após ataque aéreo israelense em Jabalia, ocorrido em 16 de janeiro, depois de Israel e Gaza chegarem a um acordo de cessar-fogo

A agência da ONU dedicada às crianças, a Unicef, relatou que “milhares de carregamentos de ajuda” estão retidos em armazéns na Jordânia, aguardando para entrar em Gaza.

Rosalia Bollen, porta-voz da Unicef, disse ao programa Today, da BBC Radio 4: “Estamos muito esperançosos de que as condições no terreno melhorem com o cessar-fogo.”

Contudo, mesmo que os suprimentos sejam liberados, haverá grandes desafios para distribuí-los devido aos danos na infraestrutura e à insegurança na região.

No país liderado por Netanyahu, a política interna refletiu as tensões em torno do acordo, que teve resistência de membros do governo de direita radical, como Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich.

Pobreza infantil ainda atinge 55,9% das crianças e adolescentes no Brasil

O Brasil reduziu em 6,6% o número de crianças e adolescentes de 0 a 17 anos vivendo na pobreza, em suas múltiplas dimensões, nos últimos seis anos. Segundo o estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil, publicado nesta quinta-feira (16/1) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em 2017, eram 34,3 milhões (62,5%) e, em 2023, o número caiu para 28,8 milhões (55,9%).

O levantamento, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), analisou sete dimensões fundamentais: renda, educação, acesso à informação, água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil, além da segurança alimentar.

Com relação à pobreza multidimensional extrema, o número passou de 13 milhões (23,8%) para 9,8 milhões (18,8%), no mesmo período. De acordo com os dados, a redução da pobreza desse indicador foi influenciada principalmente pelo aumento da renda — beneficiado em especial pela ampliação do Bolsa Família —, e pela melhoria no acesso à informação.

A pobreza multidimensional é um conceito que considera vários fatores que contribuem para a pobreza, além da renda monetária. É resultado da relação entre privações, exclusões e vulnerabilidades que comprometem o bem-estar de meninas e meninos.

Segundo a chefe de Políticas Sociais do Unicef no Brasil, Liliana Chopitea, os resultados do estudo mostram que o Brasil conseguiu avançar nas diversas dimensões avaliadas. No entanto, o percentual ainda é preocupante. “Naturalmente, é positivo e esperançoso saber que essa situação está melhorando”, destaca.

A pobreza infantil pode ter impactos duradouros na saúde, no desenvolvimento cognitivo e nas oportunidades da criança. “A pobreza infantil é importante, porque se nós endereçarmos esses primeiros anos essa pobreza pode se perpetuar e os impactos podem ser duradouros para crianças e adolescentes. Então é importante entender que a pobreza afeta mais as crianças e adolescentes porque está justamente em um momento de desenvolvimento. Qualquer direito que não seja garantido na idade certa pode ter consequências a médio e longo prazo para o desenvolvimento das crianças”, explica Chopitea.

A longo prazo, esses efeitos também podem ser sentidos na economia do país. “Se tivermos crianças que não estão devidamente desenvolvidas e apoiadas, naturalmente vamos ter menos adultos que possam contribuir economicamente para o país. Então é importante colocar como prioridade as políticas endereçadas a acesso aos direitos das crianças e adolescentes na idade certa”, complementa.

No período analisado, entre 2017 e 2023, o percentual de crianças e adolescentes de 0 a 17 anos privados de renda caiu de 25,4% em 2017 para 19,1% em 2023. O percentual de crianças sem acesso à informação caiu de 17,5% para 3,5%.

Dentre as dimensões avaliadas, no acesso a água a queda foi de 6,8% para 5,4%. Na dimensão de saneamento, o percentual caiu de 42,3% para 38%. Eram 13,2% crianças e adolescentes sem acesso adequado a moradia em 2017, caindo para 11,2% em 2023.

Já o percentual de crianças e adolescentes em trabalho infantil ficou estável, passando de 3,5% em 2017 para 3,4% em 2023. Em relação à educação, o estudo analisou as privações de acesso à escola na idade certa e alfabetização. Olhando apenas a dimensão de alfabetização, cerca de 30% das crianças de 8 anos não estavam alfabetizadas em 2023.

De acordo com o estudo, esse é um dos reflexos da pandemia entre os anos de 2020 e 2021, período marcado pelo ensino remoto e pela falta de acesso a recursos educacionais e suporte pedagógico adequados. À época essas crianças, que tinham tinham entre 5 e 6 anos, estavam na alfabetização. Em um recorte racial, as crianças negras tiveram maiores privações em educação, especialmente em relação ao analfabetismo.

Separado por Unidades da Federação, o estudo mostra avanços na grande maioria dos estados. Embora o Norte e Nordeste continuem apresentando os maiores desafios, foram observadas reduções de até 10 pontos percentuais da pobreza multidimensional em alguns estados dessas regiões entre 2017 e 2023.

O estudo destaca ainda o impacto geográfico da privação de crianças e adolescentes, os que residem em áreas rurais enfrentam consistentemente níveis muito altos de privação. Em 2023, a taxa geral cai levemente para 95,3%, após ter atingido 96,9% em 2019. Por outro lado, nas áreas urbanas, o percentual de crianças e adolescentes com alguma privação mostra uma tendência de redução mais acentuada, caindo de 55,3% em 2017 para 48,5% em 2023.

Apesar de as áreas rurais terem significativamente mais crianças e adolescentes com alguma privação em todos as dimensões, saneamento se destaca. Enquanto em áreas urbanas, o percentual com privação de saneamento é de quase 28%, no caso de áreas rurais esse percentual é de quase 92%.

O resultado reflete as dificuldades contínuas enfrentadas por crianças e adolescentes em áreas rurais, onde o acesso a serviços básicos, educação e infraestrutura é frequentemente limitado, destacando a necessidade de políticas específicas que abordem as necessidades particulares de crianças e adolescentes em comunidades rurais para reduzir essa lacuna de privação.

Lula sanciona lei que limita celular nas escolas: as dificuldades dos professores para implementar as novas regras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou na segunda-feira (14) a proibição do uso de aparelhos celulares por alunos nas escolas públicas e privadas de todo o Brasil.

O uso de smartphones está no centro de um debate global sobre os impactos no desempenho acadêmico, desenvolvimento de habilidades cognitivas e na saúde mental de crianças e adolescentes.

A nova lei pretende equilibrar os benefícios e prejuízos do uso desses dispositivos, especialmente em salas de aula.

Ela prevê:

A lei não prevê nenhum tipo de sanção específica aos alunos que a descumprirem, mas empodera as escolas para ter mais controle sobre o uso dos aparelhos.

Como será a aplicação da lei em 2025?

O início da lei não significa que o que acontece nas escolas – tanto por parte dos alunos quanto dos educadores – mudará instantaneamente.

Em dezmebro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou lei aprovada por unanimidade na Assembleia Legislativa do estado (Alesp) em novembro, tornando São Paulo o primeiro estado a implementar a proibição.

A BBC News Brasil visitou escolas da capital paulista para entender como estão se preparando para se adaptar à legislação e o que fizeram aquelas que já haviam adotado a prática antes da aprovação da lei.

Em visita da reportagem à Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, em São Paulo, os educadores compartilharam que ainda não têm um plano totalmente definido, e afirmam que não há recomendações muito específicas vindas do Estado, visto que cada escola pode ter uma realidade distinta.

Manuela Fachini, vice-diretora, diz que o caminho será de ‘tentativa e erro’.

Maria das Graças e Rogério Migotto dão aulas para o ensino fundamental II e para o Ensino Médio, e relatam que, atualmente, é difícil controlar o uso mesmo durante as aulas.

Maria das Graças e Rogério Migotto, professores Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna

“Eles acham que tudo precisa ser feito no celular – cerca de 80% dos alunos usa dentro da sala de aula. A gente pede para guardar, mas eles escondem o aparelho embaixo da carteira ou até da perna. Parece que não conseguem ficar sem.”

Ainda assim, os professores não se sentem confortáveis em tirar o aparelho de um aluno.

“Eu parei de pegar celular por que se acontecesse uma queda, qualquer coisa, eu poderia ser responsabilizada por ter pego o celular”, diz Graças.

Migotto relata também que há alunos discutindo com os professores dizendo que eles “não podem fazer nada” em relação ao uso das telas – e alguns poucos se tornam agressivos.

“Já tive uma experiência que resolvi tirar o aluno de sala por não guardar o celular. Ele atirou o celular na parede e saiu me xingando.”

Eles esperam que a lei os garanta mais autoridade em sala de aula, mas ainda não sabem como exatamente isso poderia ser feito.

“Uma coisa que me preocupa muito é como vamos nos responsabilizar pelos celulares. Até que ponto conseguiremos, junto com as famílias, dar um destino adequado para esses aparelhos, evitando qualquer tipo de problema, de ambos os lados? Estamos pensando em alternativas para que isso aconteça”, acrescenta a vice-diretora.

Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna após o último dia letivo de 2024

Os alunos Rafaela Teodoro e Gabriel Takashi, de 17 e 16 anos, dizem compreender que o celular pode ser nocivo e não deve ser usado durante as aulas.

“Eu acho que, por termos crescido tão ligados às telas, quando estamos na sala de aula e chega uma notificação no celular, a vontade de olhar é quase inevitável, e isso acaba gerando até uma sensação de ansiedade”, diz Rafaela.

Gabriel concorda, mas preferia ter acesso durante os intervalos.

“O celular acaba, sim, desviando nossa atenção. Eu acho válido proibir, mas acredito que isso vai depender muito da abordagem adotada em sala de aula. Mas acho que a proibição não deveria se estender ao recreio, que é um momento em que os alunos estão mais livres para relaxar.”

Gabriel Takashi, 16, e Rafaela Teodoro, 17, alunos do segundo ano do Ensino Médio na Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, em São Paulo

Escolas particulares que já adotaram a medida ficam mais confortáveis

Quem tem mais recursos têm também mais liberdade para explorar soluções que mantêm os alunos longe da tentação das telas.

É o caso do Colégio Porto Seguro, particular, que impõe uma regra interna de não uso de telas – mesmo durante intervalos – há seis anos.

Em conversa com a reportagem, Meire Nocito, diretora institucional educacional do colégio, diz que o segredo é o espaço de diálogo direto com os alunos, sobretudo com aqueles que demonstram mais resistência em ficarem afastados do celular.

“Os alunos já estavam tão focados no celular durante os intervalos que pararam de interagir socialmente ou brincar entre si. Por isso, implementamos o ‘detox’ às sextas-feiras, um dia em que eles deixavam os celulares de lado nos intervalos para brincar e participar de atividades recreativas, esportivas e culturais.”

Depois, a regra passou a valer para todos os dias. E mesmo com uma infraestrutura completa, com quadras, laboratórios e salas de música, os alunos puderam oferecer atividades que, em sua visão, poderiam ajudá-los a ignorar as telas.

“Independentemente das atividades que já oferecemos, eles começaram a apresentar suas próprias ideias. Foi assim que surgiram propostas como oficinas de cupcakes, contação de histórias e ateliês de artes.”

Meire Nocito, diretora da unidade Morumbi do Colégio Visconde de Porto Seguro

No também particular colégio Camino, situado na zona Oeste, há cerca de quatro anos é proibido que os alunos usem celular ou outros dispositivos eletrônicos. Para evitar a tentação, os aparelhos são colocados em uma caixa. Se alguém é pego usando, um funcionário da escola pode retirar e devolver somente após o término do dia escolar.

A diretora Letícia Lyle conta que decidiu impor a regra após a pandemia, quando percebeu que os alunos estavam ainda mais apegados à tecnologia.

“No começo, muitos ficaram revoltados, fizeram até um protesto. Mas não durou muito. Depois de uma semana eles começaram a engajar em atividades, jogar vôlei, conversar entre eles… E passaram a ver que também existiam benefícios.”

Maria Morena, Gustavo Matias, Fernando Montoro e Alicia Pereira, alunos do colégio Camino

“Eu quase não sinto falta do celular, porque estou com meus amigos. Mas, por exemplo, quando saiu o Spotify Wrapped [uma retrospectiva personalizada com os artistas mais ouvidos no ano], no ano passado, eu fiquei muito ansiosa para ver o meu. Estávamos na escola, e eu só conseguia pensar: ‘Quero muito ver o meu'”, diz Alicia Pereira, aluna do colégio Camino, de 15 anos.

“Mas, em relação às redes sociais, eu não sinto tanta necessidade, porque sei que, quando a aula acabar e eu puder mexer, vou acabar vendo as mesmas coisas de sempre. E eu acho que quanto mais tempo a gente passa online, é pior para a nossa saúde mental, por conta da comparação com outras pessoas”.

A aluna admite, porém, que muitos dos amigos tem seus ‘jeitinhos’ para manter os celulares escondidos e usar quando ninguém está olhando.

Aluno usando celular durante o tempo livre no último dia letivo, quando ficaram mais livres para escolher suas atividades

O papel da família e a ‘sensação de controle’

Tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, muitos pais defendem que os filhos tenham o celular consigo “para emergências” ou para garantir que “a criança está bem”. Ao mesmo tempo, há um consenso quase unânime de que as famílias esperam que os educadores consigam garantir que, pelo menos durante as aulas, os jovens estejam focados no conteúdo acadêmico.

“Os pais querem manter essa conexão, o que é compreensível, então nem sempre é fácil. Eles precisam aprender a desapegar um pouco e confiar que seus filhos estão em um ambiente seguro e favorável para o aprendizado”, defende Lyle.

A vice-diretora da Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, Manuela Fachini, ressalta que os pais precisam estar alinhados não apenas com as regras da escola, mas também colaborando para promover uma educação digital mais equilibrada.

“Não posso delegar ao professor algo que, como mãe, é minha responsabilidade. O que vemos hoje é que muitos pais, pela correria do dia a dia, acabam permitindo que o filho use o celular como uma recompensa, como se isso fosse uma forma de compensar a falta de tempo com ele.”

Camila Bruzzi, uma das mães por trás do ‘Movimento Desconecta’, avalia que o argumento de muitos pais para que as crianças sigam portando os aparelhos em escolas parte de uma “falsa sensação de controle”, já que em caso de emergências, como, por exemplo, um ataque violento à escola, o aluno deve focar em se proteger e seguir as orientações da instituição.

“E se precisar contatar a criança, o caminho é ligar na escola, como sempre foi feito”, diz ela, que pretende espalhar a ideia do grupo de criar ações coletivas para adiar, limitar e controlar o acesso de crianças a smartphones e redes sociais.

Para ela, o porte deve ser totalmente proibido. “As crianças e adolescentes estão sempre tentando quebrar regras. Com o nível de sofisticação dos algoritmos usados para viciar e capturar a atenção das pessoas, é injusto esperar que se comportem bem e sigam as regras sem o apoio de diretrizes claras da escola.”

Bruzzi considera alarmante a falta de definição da lei que menciona que se houver uma necessidade importante, a criança pode usar o celular sem qualquer autorização.

“O texto se tornou mais amplo e nada claro. A preocupação é que, basicamente, qualquer coisa pode ser considerada uma exceção.”

O impacto na saúde mental dos jovens

O psicólogo Cristiano Nabuco alerta que os efeitos das dependências das telas, tema do qual é pesquisador, são especialmente nocivos para os jovens.

“O córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos e pela reflexão sobre nossas ações, só se desenvolve totalmente por volta dos 25 anos. O uso constante de telas digitais estimula atalhos no cérebro, liberando dopamina, o que acelera as decisões e reduz a influência de outras áreas cerebrais”, diz ele.

Segundo Nabuco processo reforça a sensação de prazer imediato, como ao receber “curtidas” nas redes sociais, mas também altera a estrutura do cérebro, diminuindo a conectividade entre os neurônios. “Isso pode ter efeitos negativos no longo prazo, como a redução do QI, de acordo com pesquisas.”

A expectativa é que, uma vez implementada, a lei contribua não apenas para um melhor desempenho acadêmico, mas também para a melhoria da saúde mental e das habilidades cognitivas dos alunos, como redução da ansiedade, aumento da atenção, maior foco nas atividades escolares, melhora na interação social e maior capacidade de concentração nas tarefas.

*Com colaboração de Jéssica Cruz

Lula sanciona lei que limita celular nas escolas: as dificuldades dos professores para implementar as novas regras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou na segunda-feira (14) a proibição do uso de aparelhos celulares por alunos nas escolas públicas e privadas de todo o Brasil.

O uso de smartphones está no centro de um debate global sobre os impactos no desempenho acadêmico, desenvolvimento de habilidades cognitivas e na saúde mental de crianças e adolescentes.

A nova lei pretende equilibrar os benefícios e prejuízos do uso desses dispositivos, especialmente em salas de aula.

Ela prevê:

A lei não prevê nenhum tipo de sanção específica aos alunos que a descumprirem, mas empodera as escolas para ter mais controle sobre o uso dos aparelhos.

Como será a aplicação da lei em 2025?

O início da lei não significa que o que acontece nas escolas – tanto por parte dos alunos quanto dos educadores – mudará instantaneamente.

Em dezmebro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou lei aprovada por unanimidade na Assembleia Legislativa do estado (Alesp) em novembro, tornando São Paulo o primeiro estado a implementar a proibição.

A BBC News Brasil visitou escolas da capital paulista para entender como estão se preparando para se adaptar à legislação e o que fizeram aquelas que já haviam adotado a prática antes da aprovação da lei.

Em visita da reportagem à Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, em São Paulo, os educadores compartilharam que ainda não têm um plano totalmente definido, e afirmam que não há recomendações muito específicas vindas do Estado, visto que cada escola pode ter uma realidade distinta.

Manuela Fachini, vice-diretora, diz que o caminho será de ‘tentativa e erro’.

Maria das Graças e Rogério Migotto dão aulas para o ensino fundamental II e para o Ensino Médio, e relatam que, atualmente, é difícil controlar o uso mesmo durante as aulas.

Maria das Graças e Rogério Migotto, professores Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna

“Eles acham que tudo precisa ser feito no celular – cerca de 80% dos alunos usa dentro da sala de aula. A gente pede para guardar, mas eles escondem o aparelho embaixo da carteira ou até da perna. Parece que não conseguem ficar sem.”

Ainda assim, os professores não se sentem confortáveis em tirar o aparelho de um aluno.

“Eu parei de pegar celular por que se acontecesse uma queda, qualquer coisa, eu poderia ser responsabilizada por ter pego o celular”, diz Graças.

Migotto relata também que há alunos discutindo com os professores dizendo que eles “não podem fazer nada” em relação ao uso das telas – e alguns poucos se tornam agressivos.

“Já tive uma experiência que resolvi tirar o aluno de sala por não guardar o celular. Ele atirou o celular na parede e saiu me xingando.”

Eles esperam que a lei os garanta mais autoridade em sala de aula, mas ainda não sabem como exatamente isso poderia ser feito.

“Uma coisa que me preocupa muito é como vamos nos responsabilizar pelos celulares. Até que ponto conseguiremos, junto com as famílias, dar um destino adequado para esses aparelhos, evitando qualquer tipo de problema, de ambos os lados? Estamos pensando em alternativas para que isso aconteça”, acrescenta a vice-diretora.

Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna após o último dia letivo de 2024

Os alunos Rafaela Teodoro e Gabriel Takashi, de 17 e 16 anos, dizem compreender que o celular pode ser nocivo e não deve ser usado durante as aulas.

“Eu acho que, por termos crescido tão ligados às telas, quando estamos na sala de aula e chega uma notificação no celular, a vontade de olhar é quase inevitável, e isso acaba gerando até uma sensação de ansiedade”, diz Rafaela.

Gabriel concorda, mas preferia ter acesso durante os intervalos.

“O celular acaba, sim, desviando nossa atenção. Eu acho válido proibir, mas acredito que isso vai depender muito da abordagem adotada em sala de aula. Mas acho que a proibição não deveria se estender ao recreio, que é um momento em que os alunos estão mais livres para relaxar.”

Gabriel Takashi, 16, e Rafaela Teodoro, 17, alunos do segundo ano do Ensino Médio na Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, em São Paulo

Escolas particulares que já adotaram a medida ficam mais confortáveis

Quem tem mais recursos têm também mais liberdade para explorar soluções que mantêm os alunos longe da tentação das telas.

É o caso do Colégio Porto Seguro, particular, que impõe uma regra interna de não uso de telas – mesmo durante intervalos – há seis anos.

Em conversa com a reportagem, Meire Nocito, diretora institucional educacional do colégio, diz que o segredo é o espaço de diálogo direto com os alunos, sobretudo com aqueles que demonstram mais resistência em ficarem afastados do celular.

“Os alunos já estavam tão focados no celular durante os intervalos que pararam de interagir socialmente ou brincar entre si. Por isso, implementamos o ‘detox’ às sextas-feiras, um dia em que eles deixavam os celulares de lado nos intervalos para brincar e participar de atividades recreativas, esportivas e culturais.”

Depois, a regra passou a valer para todos os dias. E mesmo com uma infraestrutura completa, com quadras, laboratórios e salas de música, os alunos puderam oferecer atividades que, em sua visão, poderiam ajudá-los a ignorar as telas.

“Independentemente das atividades que já oferecemos, eles começaram a apresentar suas próprias ideias. Foi assim que surgiram propostas como oficinas de cupcakes, contação de histórias e ateliês de artes.”

Meire Nocito, diretora da unidade Morumbi do Colégio Visconde de Porto Seguro

No também particular colégio Camino, situado na zona Oeste, há cerca de quatro anos é proibido que os alunos usem celular ou outros dispositivos eletrônicos. Para evitar a tentação, os aparelhos são colocados em uma caixa. Se alguém é pego usando, um funcionário da escola pode retirar e devolver somente após o término do dia escolar.

A diretora Letícia Lyle conta que decidiu impor a regra após a pandemia, quando percebeu que os alunos estavam ainda mais apegados à tecnologia.

“No começo, muitos ficaram revoltados, fizeram até um protesto. Mas não durou muito. Depois de uma semana eles começaram a engajar em atividades, jogar vôlei, conversar entre eles… E passaram a ver que também existiam benefícios.”

Maria Morena, Gustavo Matias, Fernando Montoro e Alicia Pereira, alunos do colégio Camino

“Eu quase não sinto falta do celular, porque estou com meus amigos. Mas, por exemplo, quando saiu o Spotify Wrapped [uma retrospectiva personalizada com os artistas mais ouvidos no ano], no ano passado, eu fiquei muito ansiosa para ver o meu. Estávamos na escola, e eu só conseguia pensar: ‘Quero muito ver o meu'”, diz Alicia Pereira, aluna do colégio Camino, de 15 anos.

“Mas, em relação às redes sociais, eu não sinto tanta necessidade, porque sei que, quando a aula acabar e eu puder mexer, vou acabar vendo as mesmas coisas de sempre. E eu acho que quanto mais tempo a gente passa online, é pior para a nossa saúde mental, por conta da comparação com outras pessoas”.

A aluna admite, porém, que muitos dos amigos tem seus ‘jeitinhos’ para manter os celulares escondidos e usar quando ninguém está olhando.

Aluno usando celular durante o tempo livre no último dia letivo, quando ficaram mais livres para escolher suas atividades

O papel da família e a ‘sensação de controle’

Tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, muitos pais defendem que os filhos tenham o celular consigo “para emergências” ou para garantir que “a criança está bem”. Ao mesmo tempo, há um consenso quase unânime de que as famílias esperam que os educadores consigam garantir que, pelo menos durante as aulas, os jovens estejam focados no conteúdo acadêmico.

“Os pais querem manter essa conexão, o que é compreensível, então nem sempre é fácil. Eles precisam aprender a desapegar um pouco e confiar que seus filhos estão em um ambiente seguro e favorável para o aprendizado”, defende Lyle.

A vice-diretora da Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, Manuela Fachini, ressalta que os pais precisam estar alinhados não apenas com as regras da escola, mas também colaborando para promover uma educação digital mais equilibrada.

“Não posso delegar ao professor algo que, como mãe, é minha responsabilidade. O que vemos hoje é que muitos pais, pela correria do dia a dia, acabam permitindo que o filho use o celular como uma recompensa, como se isso fosse uma forma de compensar a falta de tempo com ele.”

Camila Bruzzi, uma das mães por trás do ‘Movimento Desconecta’, avalia que o argumento de muitos pais para que as crianças sigam portando os aparelhos em escolas parte de uma “falsa sensação de controle”, já que em caso de emergências, como, por exemplo, um ataque violento à escola, o aluno deve focar em se proteger e seguir as orientações da instituição.

“E se precisar contatar a criança, o caminho é ligar na escola, como sempre foi feito”, diz ela, que pretende espalhar a ideia do grupo de criar ações coletivas para adiar, limitar e controlar o acesso de crianças a smartphones e redes sociais.

Para ela, o porte deve ser totalmente proibido. “As crianças e adolescentes estão sempre tentando quebrar regras. Com o nível de sofisticação dos algoritmos usados para viciar e capturar a atenção das pessoas, é injusto esperar que se comportem bem e sigam as regras sem o apoio de diretrizes claras da escola.”

Bruzzi considera alarmante a falta de definição da lei que menciona que se houver uma necessidade importante, a criança pode usar o celular sem qualquer autorização.

“O texto se tornou mais amplo e nada claro. A preocupação é que, basicamente, qualquer coisa pode ser considerada uma exceção.”

O impacto na saúde mental dos jovens

O psicólogo Cristiano Nabuco alerta que os efeitos das dependências das telas, tema do qual é pesquisador, são especialmente nocivos para os jovens.

“O córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos e pela reflexão sobre nossas ações, só se desenvolve totalmente por volta dos 25 anos. O uso constante de telas digitais estimula atalhos no cérebro, liberando dopamina, o que acelera as decisões e reduz a influência de outras áreas cerebrais”, diz ele.

Segundo Nabuco processo reforça a sensação de prazer imediato, como ao receber “curtidas” nas redes sociais, mas também altera a estrutura do cérebro, diminuindo a conectividade entre os neurônios. “Isso pode ter efeitos negativos no longo prazo, como a redução do QI, de acordo com pesquisas.”

A expectativa é que, uma vez implementada, a lei contribua não apenas para um melhor desempenho acadêmico, mas também para a melhoria da saúde mental e das habilidades cognitivas dos alunos, como redução da ansiedade, aumento da atenção, maior foco nas atividades escolares, melhora na interação social e maior capacidade de concentração nas tarefas.

*Com colaboração de Jéssica Cruz

Especialista destaca importância da descarbonização pelo hidrogênio verde

Considerado o combustível do futuro, o hidrogênio verde (H2V) é apontado como chave para a descarbonização da logística, uma oportunidade para o Brasil se consolidar como polo mundial da indústria sustentável. Em razão de sua dimensão continental e particularidades regionais, o país apresenta um enorme potencial para a produção do gás, gerado a partir de fontes renováveis.

Desde 2021, a utilização do hidrogênio verde como matriz energética no Brasil tem mudado de forma abrupta. O Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, deve produzir 1,3 milhão de toneladas docombustível por ano. Os investimentos em plantas de H2V já ultrapassam R$ 188 bilhões no país, impulsionado por gigantes globais.

Com mais de 25 anos de experiência no setor de hidrogênio, Monica Saraiva Panik, consultora da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), avalia que o país ainda está aquém do potencial que possui. Em entrevista ao Correio, a especialista em H2 e Célula a Combustível, que reside na Alemanha, avaliou as principais tendências e gargalos do setor na corrida internacional.

“Eu sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe passar essa mensagem. Eu acho que falta um foco técnico de como fazer. E essa parte técnica é viabilizadora, é assim que os países se espelham uns nos outros”, disse Monica, que destaca a importância das plantas de hidrogênio para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades.

Confira os principais trechos da entrevista.

É um potencial enorme que vai desde a substituição dos combustíveis fósseis, em todos os modais de transporte, e envolve toda a cadeia. Embarcações, porta-contêineres, todas essas máquinas e equipamentos que são utilizados na logística dos portos. Você tem hoje uma indústria que já fornece esses veículos ou equipamentos e máquinas movidas ou a célula combustível, no caso, para navios é amônio e metanol, que estão sendo mais cotados, que são produzidos à base do hidrogênio. O transporte fluvial envolve também outros modais de transporte, como o rodoviário, transporte de gasodutos, tudo isso está sendo transformado. Toda a infraestrutura que você tinha para distribuir combustíveis fósseis está sendo transformada para distribuir não só hidrogênio derivado, mas também os subprodutos das plantas de hidrogênio. Os portos adquiriram um papel importante nessa transição, porque eles conectam países, indústrias, e isso são novas oportunidades de negócios, de geração de empregos e essa transformação da infraestrutura.

O portfólio de soluções é enorme. Uns querem veículos elétricos; outros movidos a hidrogênio puro; outros a combustíveis à base de hidrogênio. E não importa a rota, todas são válidas. A gente não deve limitar rotas tecnológicas, porque isso limita investimentos. Você deve abrir contanto com o objetivo da descarbonização, a partir daí cada um escolhe o que for melhor para aquela situação, para aquele ambiente.

O Brasil demorou um pouco para se alinhar a essa força internacional que começou há três, quatro anos. Mas eu acho que o Brasil tem condições para avançar muito mais rápido do que outros países. Porque temos matriz elétrica renovável, temos outras coisas que outros países não têm. Por exemplo, há países onde toda a energia gerada para a produção de eletricidade ainda é fóssil. Então eles têm que começar do zero. O Brasil não tem que começar do zero.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Motivar a demanda, ou seja, motivar a descarbonização, a substituição de insumos de combustíveis fósseis. Por isso, é importante a consciência de que é preciso existir um plano de descarbonização. Se você não tem hoje um plano de descarbonização na sua empresa, não importa o que a empresa faça, você está perdido e vai ficar para trás. O Ministério do Desenvolvimento indicou que quer lançar um selo de pegada de carbono. Isso vai revolucionar todos os setores.

Está bem avançado. Eu conversei com o secretário de Economia Verde, Rodrigo Rollemberg, que participou da concepção do programa. Ele me disse que já estão chamando as agências certificadoras para fazer a metodologia de como é que você vai quantificar a pegada de carbono do seu produto.

O aço verde é o que utiliza energia renovável na sua produção, que utiliza hidrogênio verde. É o aço que tem uma eficiência energética e substituição de insumos fósseis. Então, se não for o aço verde, daqui a pouco não vou mais poder comercializar. Porque se as empresas já começaram esse movimento, principalmente as montadoras, fabricantes de veículos, é uma motivação, porque o aço é uma matéria-prima essencial, está em tudo. Se um comprador disser que a partir de hoje não compra mais aço produzido com carvão, serão buscadas as soluções possíveis para fazer um aço livre de emissões.

Estamos muito aquém do que podemos fazer. Você não acha que esse plano do MDIC de selo de descarbonização não deveria ter sido divulgado na COP? O Brasil não sabe fazer marketing daquilo que ele tem. O mundo não sabe o que o Brasil tem e pode fazer. Eu acho incrível que o Brasil não saiba vender o Brasil. Já melhorou muito, mas, mesmo assim, não sabe. Esse programa de selos, mesmo ainda que não esteja pronto, tinha que ser divulgado. Na COP 29 focou-se muito nessa meta de redução de emissões. O mundo quer ver medidas, quer saber qual caminho seguir. E o Brasil já tem esse caminho, o país tem trabalhado muito nisso. Qual outro país que tem experiência na substituição de combustível? Eu não conheço nenhum. Eu sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe passar essa mensagem.

O Marco Regulatório com certeza é importante, mas não é só isso. Você tem que dar segurança, também, para a região onde você está ou você quer investir. Ainda vai chegar o momento onde você vai ver as comunidades sentindo essa parte de desenvolvimento socioeconômico. À medida que as plantas vão se instalando, você vai agregando valores. Não é só o ambiental, não se pode esquecer o socioeconômico e como as comunidades vão se envolver nisso, o que elas vão ganhar com isso.

Especialista destaca importância da descarbonização pelo hidrogênio verde

Considerado o combustível do futuro, o hidrogênio verde (H2V) é apontado como chave para a descarbonização da logística, uma oportunidade para o Brasil se consolidar como polo mundial da indústria sustentável. Em razão de sua dimensão continental e particularidades regionais, o país apresenta um enorme potencial para a produção do gás, gerado a partir de fontes renováveis.

Desde 2021, a utilização do hidrogênio verde como matriz energética no Brasil tem mudado de forma abrupta. O Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, deve produzir 1,3 milhão de toneladas docombustível por ano. Os investimentos em plantas de H2V já ultrapassam R$ 188 bilhões no país, impulsionado por gigantes globais.

Com mais de 25 anos de experiência no setor de hidrogênio, Monica Saraiva Panik, consultora da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), avalia que o país ainda está aquém do potencial que possui. Em entrevista ao Correio, a especialista em H2 e Célula a Combustível, que reside na Alemanha, avaliou as principais tendências e gargalos do setor na corrida internacional.

“Eu sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe passar essa mensagem. Eu acho que falta um foco técnico de como fazer. E essa parte técnica é viabilizadora, é assim que os países se espelham uns nos outros”, disse Monica, que destaca a importância das plantas de hidrogênio para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades.

Confira os principais trechos da entrevista.

É um potencial enorme que vai desde a substituição dos combustíveis fósseis, em todos os modais de transporte, e envolve toda a cadeia. Embarcações, porta-contêineres, todas essas máquinas e equipamentos que são utilizados na logística dos portos. Você tem hoje uma indústria que já fornece esses veículos ou equipamentos e máquinas movidas ou a célula combustível, no caso, para navios é amônio e metanol, que estão sendo mais cotados, que são produzidos à base do hidrogênio. O transporte fluvial envolve também outros modais de transporte, como o rodoviário, transporte de gasodutos, tudo isso está sendo transformado. Toda a infraestrutura que você tinha para distribuir combustíveis fósseis está sendo transformada para distribuir não só hidrogênio derivado, mas também os subprodutos das plantas de hidrogênio. Os portos adquiriram um papel importante nessa transição, porque eles conectam países, indústrias, e isso são novas oportunidades de negócios, de geração de empregos e essa transformação da infraestrutura.

O portfólio de soluções é enorme. Uns querem veículos elétricos; outros movidos a hidrogênio puro; outros a combustíveis à base de hidrogênio. E não importa a rota, todas são válidas. A gente não deve limitar rotas tecnológicas, porque isso limita investimentos. Você deve abrir contanto com o objetivo da descarbonização, a partir daí cada um escolhe o que for melhor para aquela situação, para aquele ambiente.

O Brasil demorou um pouco para se alinhar a essa força internacional que começou há três, quatro anos. Mas eu acho que o Brasil tem condições para avançar muito mais rápido do que outros países. Porque temos matriz elétrica renovável, temos outras coisas que outros países não têm. Por exemplo, há países onde toda a energia gerada para a produção de eletricidade ainda é fóssil. Então eles têm que começar do zero. O Brasil não tem que começar do zero.

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Motivar a demanda, ou seja, motivar a descarbonização, a substituição de insumos de combustíveis fósseis. Por isso, é importante a consciência de que é preciso existir um plano de descarbonização. Se você não tem hoje um plano de descarbonização na sua empresa, não importa o que a empresa faça, você está perdido e vai ficar para trás. O Ministério do Desenvolvimento indicou que quer lançar um selo de pegada de carbono. Isso vai revolucionar todos os setores.

Está bem avançado. Eu conversei com o secretário de Economia Verde, Rodrigo Rollemberg, que participou da concepção do programa. Ele me disse que já estão chamando as agências certificadoras para fazer a metodologia de como é que você vai quantificar a pegada de carbono do seu produto.

O aço verde é o que utiliza energia renovável na sua produção, que utiliza hidrogênio verde. É o aço que tem uma eficiência energética e substituição de insumos fósseis. Então, se não for o aço verde, daqui a pouco não vou mais poder comercializar. Porque se as empresas já começaram esse movimento, principalmente as montadoras, fabricantes de veículos, é uma motivação, porque o aço é uma matéria-prima essencial, está em tudo. Se um comprador disser que a partir de hoje não compra mais aço produzido com carvão, serão buscadas as soluções possíveis para fazer um aço livre de emissões.

Estamos muito aquém do que podemos fazer. Você não acha que esse plano do MDIC de selo de descarbonização não deveria ter sido divulgado na COP? O Brasil não sabe fazer marketing daquilo que ele tem. O mundo não sabe o que o Brasil tem e pode fazer. Eu acho incrível que o Brasil não saiba vender o Brasil. Já melhorou muito, mas, mesmo assim, não sabe. Esse programa de selos, mesmo ainda que não esteja pronto, tinha que ser divulgado. Na COP 29 focou-se muito nessa meta de redução de emissões. O mundo quer ver medidas, quer saber qual caminho seguir. E o Brasil já tem esse caminho, o país tem trabalhado muito nisso. Qual outro país que tem experiência na substituição de combustível? Eu não conheço nenhum. Eu sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe passar essa mensagem.

O Marco Regulatório com certeza é importante, mas não é só isso. Você tem que dar segurança, também, para a região onde você está ou você quer investir. Ainda vai chegar o momento onde você vai ver as comunidades sentindo essa parte de desenvolvimento socioeconômico. À medida que as plantas vão se instalando, você vai agregando valores. Não é só o ambiental, não se pode esquecer o socioeconômico e como as comunidades vão se envolver nisso, o que elas vão ganhar com isso.