Parque Nacional da Tijuca terá R$ 75 milhões em investimentos em infraestrutura e pesquisa

O Corcovado e outras áreas do parque mais visitado do país, o Parque Nacional da Tijuca, vão receber um plano de melhorias no valor de R$75 milhões, segundo anunciou, na manhã de ontem, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em conjunto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Entre as intervenções, estão previstas obras essenciais de infraestrutura, de acessibilidade e revitalização de espaços da Unidade de Conservação (UC), desde os elevadores que dão acesso ao monumento, até o manejo florestal.

Os recursos serão distribuídos até 2027, sendo R$ 25 milhões por ano. Algumas intervenções essenciais começaram já no fim do mês passado. Entre elas, estão a estabilização de encostas e melhorias no sistema de drenagem de vias, como na Estrada das Paineiras, e a manutenção de contrafortes de sustentação do platô de visitação. Só no setor Serra da Carioca, onde está localizado o Corcovado, serão R$ 25 milhões, englobando obras de infraestrutura na Estrada das Paineiras, na Estrada do Corcovado, no reservatório Mãe D’Água e outros pontos.

Também estão previstos aportes para restauro de estruturas históricas, como a Mãe D’água, um reservatório da época do Império, apoio à pesquisa e a projetos de manejo de fauna e de espécie exóticas. No Corcovado, que recebe grande fluxo de turistas, faltam reparos nos elevadores, e reformas dos banheiros do Corcovado, com portas sem trinco e estrutura precária.

— A prioridade são as obras emergenciais, como a contenção de encostas e manutenções preventivas da estrutura de uma forma geral. Uma preocupação que a gente tem é com a questão da acessibilidade no Alto Corcovado, que é uma demanda e uma necessidade grande — conta Viviane Lasmar Pacheco, chefe do Parque Nacional da Tijuca.

A previsão é que o dinheiro seja utilizado nos próximos três anos, e investido pelas duas concessionárias que operam no Parque: Trem do Corcovado e Paineiras-Corcovado, no cumprimento de suas obrigações contratuais. No evento de ontem, dois termos aditivos aos contratos foram assinados.

— Antes, o concessionário tirava o valor de lucro dele, e o valor correspondente ao ICMBio, ele depositava para a União. Agora, com a assinatura dos aditivos, o recurso vai ser aplicado diretamente nas intervenções necessárias para a revitalização. O PNT não vai receber o valor diretamente, quem vai aplicar este recurso são os próprios concessionários, dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Parque — explica Viviane.

O secretário-executivo do Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco afirmou que a conservação e melhora das condi

— O grande desafio das Unidades de Conservação no Brasil é justamente manter programas de apoio à visitação. Nós temos vários parques em que a parceria público-privada tem permitido melhorar a infraestrutura, beneficiando o patrimônio e a população. A história de restauração da Tijuca é uma inspiração para ajudar a conservar a cobertura vegetal em pelo menos 12 milhões de hectares nos diferentes biomas do Brasil — explicou Capobianco.

O presidente do ICMBio, Mauro Pires, reforçou que os termos aditivos garantem a verba necessária para essa revitalização, e são instrumentos que fortalecem a capacidade de gestão em prol da população.

— É um avanço em conservação, infraestrutura e segurança, ao mesmo tempo em que atendemos as demandas sociais e econômicas associadas ao Parque. Além disso, com esses aditivos, vamos fortalecer a fiscalização e a gestão contratual das concessões — disse Mauro.

Breno Herrera, gerente da Gerência Regional do Sudeste do ICMBio, detalha um pouco mais dos trabalhos.

— As obras de contenção das encostas do Parque já começaram e devem ser uma constante, devido às condições naturais e, claro, à intensificação dos eventos climáticos, que provocam chuvas cada vez mais intensas. Entre março e abril de 2025 deverá ser iniciada a obra de manutenção e reforço do contraforte do platô do Alto Corcovado.

Nos próximos meses, serão contempladas obras de acessibilidade, com a construção de rampas para acesso ao Cristo Redentor; adaptações nos banheiros para cadeirantes, instalação de piso tátil, vagas exclusivas para PcD no novo estacionamento do Centro de Visitantes.

Trilha inédita

Durante o evento, foi inaugurado um trecho inédito da trilha Transcarioca, no Parque Nacional da Tijuca: o caminho “Paineiras-Corcovado”. Na viagem de quatro dias ao Rio, o engenheiro chinês Xu Kun, de 36 anos, aproveitou ao máximo o que o Cristo Redentor poderia oferecer, desde o monumento em si, até a trilha nova.

Com 1,15 km de extensão, a trilha começa no Centro de Visitantes e leva até os acessos ao Cristo, com grau de dificuldade moderado. Apesar de não ser longa, é íngreme, e tem uma subida de 260 metros. O tempo estimado de caminhada é de 45 minutos, mas pode variar de acordo com o condicionamento físico de cada um. Ela fica aberta seguindo o horário de funcionamento do Parque, das 8h às 18h. A entrada é gratuita.

— É muito bonita, gostei muito de fazer, adoro natureza. Mas poderia ter um pouco mais de sinalização, porque eu me confundi e acabei me perdendo. Depois me achei e terminei o caminho, mas senti falta de mais placas. De resto, o lugar é lindo — disse Kun.

O novo caminho integra ainda o percurso de 180 km da Trilha Transcarioca, a primeira trilha de longo curso nacional e que conecta diversas unidades de conservação do município.

Saindo do Centro de Visitantes Paineiras, o acesso da nova trilha “Paineiras – Corcovado” fica ao lado do acesso da sede administrativa do Parque Nacional da Tijuca, atrás do Centro de Visitantes Paineiras, e não precisa pagar nada. Na hora de descer, o acesso fica próximo do primeiro estacionamento do Alto Corcovado.

Os pedestres que chegarem por trilha ao Corcovado podem comprar o ingresso para acessar o monumento do Cristo. O visitante adulto paga R$ 52,00 na alta temporada e R$ 32,00 na baixa temporada; enquanto crianças de 7 a 11 anos, estudantes, PcD, ID Jovem e idosos pagam R$ 32,00. O ingresso não dá direito ao transporte de trem ou de van para descer o trajeto de volta.

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PEC vai privatizar praias? A decisão da Coroa portuguesa no centro da polêmica no Senado

A polêmica Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê mudar as regras do controle da costa brasileira voltou à discussão. A Comissão de Cidadania e Justiça (CCJ) do Senado incluiu a chamada PEC das Praias, na pauta desta quarta-feira (4/12).

A proposta já havia sido discutida anteriormente, quando a CCJ realizou uma audiência pública, em maio, sobre o tema. No entanto, em meio a repercussões negativas, o texto acabou ficando parado.

A polêmica se deu porque os críticos à proposta dizem que as praias serão privatizadas, algo refutado pelo relator da proposta, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Agora, caso seja aprovada na comissão de quarta-feira, a PEC ainda precisará passar por duas rodadas de votação no plenário para então ir à sanção.

A proposta parte do fato de que, no Brasil, os terrenos beira-mar são públicos, considerados “áreas de marinha” e, portanto, pertencentes à União, por meio da Marinha.

A origem desse entendimento remonta ao Brasil colonial, quando a Coroa portuguesa decidiu reservar para si esses espaços em vez de incluí-los nas sesmarias distribuídas aos colonizadores.

O objetivo era tanto manter controle sobre a produção de sal quanto garantir a defesa contra potenciais invasores vindos pelo oceano.

Estudioso das monarquias portuguesa e brasileira, o pesquisador e biógrafo Paulo Rezzutti conta à BBC News Brasil que o primeiro documento que regulamentava essas áreas foi a carta régia assinada por Dom João 5º (1689-1750) em 21 de outubro de 1710.

“Ela determinava que se reservasse para a Coroa portuguesa as marinhas. As praias do litoral deveriam ficar livres de construção”, ressalta ele.

Isso teve implicância nas chamadas sesmarias, as cessões de terras feitas pelo reino português a colonizadores que vieram ocupar e explorar o Brasil.

Segundo o pesquisador, no início não era clara a dimensão dessa faixa de terra, mas aos poucos novas cartas régias foram especificando melhor, até chegarem à medida de 15 braças — equivalente a cerca de 33 metros.

“Até a independência [do Brasil] o que prevaleceu foi a orientação geral para uso e exploração dos territórios portugueses na América, como a terra, rios, áreas costeiras e florestais. A normatização geral e colonial portuguesa seguia os interesses e as conveniências nas relações de lealdade e de fidelidade aos propósitos da Monarquia e dos sucessivos reinados, em particular”, comenta à BBC News Brasil o historiador Paulo Henrique Martinez, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

“Por esta razão as normas e a legislação referentes aos espaços coloniais formam um cipoal de interdições, proibições e permissões, nominais, específicas, localizadas e temporárias”, afirma.

“As áreas costeiras das capitanias da América portuguesa estavam sujeitas a tais flutuações. Assim como havia a concessão de posses para usufruto da terra, ocorriam também concessões para a pesca, a ocupação, a extração e coleta de produtos naturais também em ambientes aquáticos, como a passagem de rios e a navegação de cabotagem.”

Tiros, sal e peixes

Os objetivos de manter essa faixa de terra sob o comando da Coroa eram por razões de segurança e também por um controle econômico.

Em uma época em que qualquer ataque externo viria do Atlântico, foram nas praias que os portugueses ergueram fortes. E era preciso manter a área livre de construções para o caso de serem necessários disparos de canhão.

“O propósito era garantir o controle e a defesa do território, bem como assegurar a exploração e o uso estratégico dessas áreas pela Coroa”, crava à BBC News Brasil o jurista Marcelo Crespo, coordenador do curso de direito da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

O primeiro documento a regulamentar estas áreas foi a carta régia assinada por Dom João 5º em 1710

É história corrente, inclusive, a que explica que a distância das tais 15 braças tenham sido em virtude da potência dos canhões da época. Mas isso não é comprovado e pode ser mais lenda do que realidade.

“A ideia de que tinha a ver com os canhões é mais uma lenda do que um fato histórico comprovado”, afirma Crespo.

“Esse limite foi estabelecido mais com base em critérios administrativos e de gestão territorial do que em considerações militares específicas.”

Economicamente, manter essa faixa restrita à Coroa garantia um controle sobre a pesca na costa. E também na exploração do sal. “Só a Coroa poderia repassar essas áreas para quem quisesse explorar as salinas”, pontua Rezzutti.

À BBC News Brasil, o historiador Vitor Soares, quem mantém o podcast História em Meia Hora, lembra que “essa delimitação visava a garantir que a Coroa mantivesse o controle sobre áreas estratégicas para a defesa e a navegação, evitando que essas terras fossem apropriadas por indivíduos sem o controle estatal adequado”.

“Além dos aspectos de defesa e controle, essa demarcação tinha implicações econômicas, permitindo à Coroa controlar o uso dos recursos naturais costeiros e os pontos de comércio e pesca”, afirma Soares.

As tais quinze braças foram mantidas em 1818, por dom João 6º (1797-1826) e demarcadas apenas em 1831, no período da Regência.

Segundo Crespo, a medida de João 6º serviu principalmente “para melhorar a gestão e a arrecadação de impostos sobre essas áreas”.

“Em 1831, durante o período da Regência, houve uma tentativa de modernização e adaptação das leis às novas realidades do Brasil independente. A legislação foi ajustada para melhor adequar a administração dessas terras, garantindo que as áreas de marinha continuassem sob controle do governo, agora brasileiro, e fossem utilizadas para fins públicos e estratégicos”, ressalta o jurista.

“A legislação de 1818 também trouxe normas mais detalhadas sobre a ocupação e o uso dessas terras. O objetivo era assegurar que essas áreas estratégicas fossem administradas de maneira eficiente e que qualquer atividade realizada nelas estivesse sob o controle do governo, prevenindo abusos e garantindo a exploração considerada adequada dos recursos naturais”, avalia Soares.

“Essas mudanças refletiam a crescente preocupação com a proteção das áreas costeiras e a necessidade de um controle mais rigoroso sobre as terras de marinha.”

Medida de Dom João 6º em 1818 serviu principalmente ‘para melhorar a gestão e a arrecadação de impostos sobre estas áreas’, diz especialista

“A presença da corte portuguesa implicou na reacomodação das necessidades de transporte, comércio, construção e defesa do litoral brasileiro”, acrescenta Martinez.

“A definição e a exclusividade no aproveitamento das terras de marinha esteve vinculada às oportunidades para aqueles fins. Instalação de atracadouros, canais, estaleiros, armazéns, abastecimento e fontes de água, de matérias-primas, como madeiras, lenha, resinas, fibras, facilidades de circulação, construção e reparos navais.”

“Estas áreas eram selecionadas e reservadas para uso da Coroa, com duração variada, conforme a motivação e a necessidade, como o estoque para a extração e coleta de recursos apropriados para a navegação. Esta destinação pontual sobreviveu”, diz.

“Ainda hoje há espaços de usos exclusivo das forças armadas, para geração de energia, Terras Indígenas, a conservação da natureza e da biodiversidade.”

A legislação de 1831 trouxe um detalhe importante: o chamado “aforamento a particulares”, segundo o qual o poder público poderia conceder esses terrenos em regime de arrendamento de longo prazo a particulares, conforme considerarem apropriado — o chamado “refime de enfiteuses”.

“Em resumo, a lei permitiu que as câmaras municipais administrassem e utilizassem os terrenos de marinha para fins públicos, além de concedê-los a particulares mediante pagamento de uma taxa anual, regularizando assim a ocupação informal e arrecadando recursos”, diz Soares.

Professor no Museu Paulista da Universidade de São Paulo, o historiador Paulo César Garcez Marins lembra à BBC News Brasil que embora o “regime de enfiteuses” não esteja mais presente no atual Código Civil Brasileiro, “os que já existiam continuam válidos”.

“Você não pode criar outros, estabelecer novos, mas pode manter os já constituídos”, afirma.

Em 22 de fevereiro de 1868, um novo decreto acaba regulando todos os anteriores quanto às unidades de medida. “É quando as 15 braças se tornaram 33 metros, porque a unidade anterior não era mais usada”, explica Rezzutti.

De lá para cá

“A adoção do regime de propriedade privada da terra, a partir de 1850, levou ao retalhamento do território nacional em unidades de extensão e localização diversificadas. O ordenamento territorial escapou ao controle exclusivo do Estado e as áreas costeiras não foram exceção”, avalia Martinez.

“Desde, então, os conflitos e as disputas pela apropriação e uso do território no Brasil assumem proporções e violência crescentes na espoliação de áreas públicas e em conflitos sociais em torno das condições de vida e de trabalho de inúmeras contingentes populacionais regionais.”

“Terras indígenas, pescadores artesanais, marisqueiros, caiçaras, extrativismo em ecossistemas aquáticos e terrestres, como os de mangues e lagunas, são afrontados pelo turismo predatório, a pesca de arrasto, obras de infraestrutura, expansão urbana, desmatamento, lixões, poluição química, industrial e doméstica, aterramentos, vazamentos de petróleo que comprometem o saneamento ambiental marinho e costeiro”, argumenta o historiador.

Decreto do então presidente Eurico Gaspar Dutra, de 1946, é a base da legislação que vigora até hoje

Cada vez mais passou a haver a necessidade de um controle do Estado. Não mais por defesa ou valor econômico, mas para garantir a proteção.

“O interesse coletivo, o poder público, a qualidade de vida e as formações socioculturais e naturais do litoral, diariamente, são solapados por interesses privados, individuais e empresarias. Vale lembrar a emblemática atitude do presidente anterior. Ele se permitia pescar em áreas de proteção da natureza e fez anular a infração que lhe havia sido aplicada pelos órgãos federais, em benefício próprio”, critica Martinez.

No século 20, a questão das terras de marinha foi objeto de decreto do então presidente Eurico Gaspar Dutra (1883-1974), em 5 de setembro de 1946.

Na extensa lei que dispunha sobre os bens imóveis da União, ficou determinado que os terrenos de marinha eram todos aqueles a 33 metros “horizontalmente”, da “posição da linha do preamar-medido de 1831”. Por preamar se entende o nível da maré alta.

De acordo com Crespo, essa legislação, “com algumas modificações ao longo dos anos, é a base do que vigora até hoje”.

“Essa regulamentação foi mantida e adaptada ao longo dos séculos, sendo incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro após a independência do país. Atualmente, a legislação que trata das terras de marinha está incluída no Código Civil Brasileiro e em outras normas específicas que regulamentam o uso e a ocupação dessas áreas”, comenta Soares.

Ele ressalta que embora a legislação de 1946 “continue a ser a base para a regulamentação dos terrenos de marinha”, ela foi “complementada e atualizada por outras normas”, principalmente por uma lei de 1998 “que trouxe mais detalhes e modernizações sobre a administração, regularização, aforamento e alienação dos bens imóveis de domínio da União”.

O último capítulo dessa história, ao menos até a discussão levantada pela PEC das Praias, foi a Constituição de 1988, em vigor.

“Foi quando esses terrenos de marinha passaram a ser um preceito constitucional, incluídos como bens da União”, pontua Rezzutti.

“A PEC das Praias não é nada mais do que a face deste Brasil predador dos ecossistemas e das formas de vida. É um documento atual do processo de auto atribuição de privilégios às custas da população brasileira, de bens e do patrimônio público e coletivo globais”, critica Martinez.

“Em termos sócio-políticos, deveria ser tipificada como prática de racismo ambiental e, como tal, proscrita da pauta legislativa como afronta aos direitos humanos e aos princípios do Estado democrático de direito.”

O relator do texto no Senado, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), tem argumentado que a PEC não será para “privatizar” praias, mas terá como efeitos positivos, por exemplo, conceder títulos de propriedade a comunidades que já ocupam as áreas — incluindo alguns grupos de quilombolas.

“A legislação sobre as áreas de marinha tem sido constantemente revisitada para ajustar-se às mudanças sociais, econômicas e ambientais”, diz Crespo.

“Recentemente, debates sobre a ocupação irregular, preservação ambiental e uso sustentável dessas áreas têm ganhado destaque, refletindo a importância contínua de uma gestão adequada e equitativa dos espaços públicos costeiros no Brasil.”

Orçamento do DF prevê receita de R$ 66,6 bilhões para o ano que vem

Principal projeto a ser votado pela Câmara Legislativa (CLDF) até o fim do ano, a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025 — enviada à Casa pelo Governo do Distrito Federal (GDF) em setembro — prevê receita de R$ 66,67 bilhões. A maior parte dos recursos deve vir do Tesouro Disitrital, R$ 41 bilhões. Outros R$ 25 bi são do Fundo Constitucional (FCDF), valor que é repassado pela União.

Na comparação com o orçamento deste ano — que ficou na casa dos

R$ 61,14 bilhões —, houve um aumento previsto de 9,05% para o ano que vem, de acordo com a proposta enviada para Câmara Legislativa. Atualmente, o projeto está na Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (CEOF) da CLDF.

Presidente da comissão, o deputado Eduardo Pedrosa (União Brasil) comentou que houve uma audiência pública sobre o orçamento, onde questionamentos foram feitos. “Além disso, recebemos algumas respostas do governo sobre outras perguntas e os relatores parciais vão trabalhar em cima delas, apresentar seus relatórios para que a gente possa, a partir deles, avançar na produção do relatório geral”, detalhou.

O distrital ressaltou que a LOA está sendo alvo de muita discussão, debates e respostas para os questionamentos feitos. “Este é o momento para se aprofundar nos detalhes e conseguir corrigir qualquer erro que possa aparecer durante esse período, para que seja entregue um documento mais completo possível”, avaliou. “Nossa expectativa é de deixar tudo pronto para que a votação ocorra em 12 de dezembro, na última sessão do ano”, acrescentou Pedrosa.

Ao Correio, o secretário Executivo de Finanças, Orçamento e Planejamento da Secretaria de Economia (SEEC), Thiago Conde, disse esperar que a tramitação do projeto ocorra de forma tranquila. “A Secretaria de Economia mantém contato com a CLDF para que eventuais demandas que surjam sejam analisadas e integradas ao projeto, em comum acordo entre os poderes, sempre dentro da possibilidade de se absorver tais despesas”, detalhou. “Dessa forma, como trata-se de uma construção conjunta, em que o diálogo prevalece, não são esperadas grandes alterações no projeto de lei”, avaliou Conde.

Em relação a concursos e reajustes salariais para servidores do GDF, o secretário disse que a PLOA 2025 prevê os aumentos já concedidos às categorias, como é o caso da terceira parcela do reajuste linear de 18%. “Os valores estão presentes nas dotações orçamentárias das unidades, distribuídos conforme os impactos apurados no momento da concessão do aumento”, explicou. “Também prevê recursos, distribuídos nas unidades, para o caso de nomeações. Nesse caso, as convocações de novos servidores vão depender da arrecadação e do caixa do GDF no momento das nomeações”, esclareceu o secretário.

O trabalho da CLDF em 2024, até agora, foi marcado por projetos polêmicos e embates, dentro do Plenário, entre governistas e oposição. Até 6 de novembro, 777 proposições foram apresentadas, contemplando projetos de lei, propostas de emenda à Lei Orgânica, projetos de decreto legislativo, de resolução e de lei complementar. Desse total, os deputados distritais aprovaram 240 normas. No ano passado, foram 295.

Temas considerados fundamentais para a vida pública do Distrito Federal foram discutidos pela Casa, como os debates relacionados à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), ao surto de dengue no início de 2024, à crise na saúde pública e ao Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB).

Especialistas ouvidos pela reportagem indicam que a quantidade de projetos apresentados pode ser considerada satisfatória, conforme explicou o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Murilo Medeiros. “Indica uma média de 32 projetos apresentados por cada parlamentar”, observou.

Gabriel Amaral, professor de ciência política e direito na Faculdade Republicana, reforçou que acompanhar a eficiência legislativa da CLDF é fundamental para saber se as ações parlamentares estão alinhadas aos valores. “Foram 777 proposições e 220 novas normas jurídicas produzidas, resultando em uma taxa de 28% ao ano”, calculou.

Embora a taxa levante preocupações, de acordo com Amaral, ela também convida a refletir sobre o papel mais amplo da CLDF. “Um órgão que equilibre a criação de normas com uma fiscalização atenta, promovendo o bem-estar e a justiça para todos no DF”, pontuou. Segundo o professor, o acúmulo de proposições não convertidas pode sugerir ineficiência e criar um “estoque” de projetos arquivados, indicando uma possível queda na capacidade de conversão legislativa ao longo do tempo, que ele classifica como “entropia legislativa”. “Porém, o volume de arquivamento não é necessariamente problemático”, avaliou.

“Na democracia, o convencimento e o filtro natural das discussões impedem que normas voltadas a interesses particulares sejam aprovadas, tornando o ‘cemitério’ de projetos uma barreira saudável que evita leis desnecessárias, sem consenso claro”, ponderou. O cientista político apontou que, em um cenário ideal, a Câmara Legislativa do DF tem que alinhar suas prioridades às demandas sociais, criando normas que realmente resolvam conflitos e atendam ao controle democrático sobre o governo.

O Correio também ouviu deputados distritais, que avaliaram o trabalho da CLDF em 2024, até o momento. Líder da oposição, Gabriel Magno (PT) afirmou que a Câmara cumpriu papéis importantes, do ponto de vista de fiscalização, neste ano. “Não só por parte da oposição, parlamentares da base governista também repercutiram várias situações delicadas, como o caos da saúde que vivemos neste ano, além do despreparo para enfrentar tanto a seca quanto o período de chuvas”, comentou.

Magno também apontou as dificuldades enfrentadas. De acordo com ele, o governo “agiu mal” em algumas situações. “(O GDF) confundiu a relação e, muitas vezes, se comportou como se a CLDF fosse um anexo do Buriti, pressionando e desrespeitando o Poder Legislativo”, lamentou. “Essa, inclusive, foi uma das dificuldades que a oposição teve em 2024. Isso é muito ruim e traz reflexos negativos para a sociedade”, acrescentou.

O distrital destacou o projeto do PPCUB ao exemplificar o seu comentário. “O governo mandou para a Câmara e atropelou o debate, as comissões e o rito legislativo”, pontuou. “Foi um debate que marcou o ano. Se a oposição não reivindicasse e dialogasse com a sociedade, mostrando o que estava sendo feito no projeto, vários vetos importantes não seriam feitos”, garantiu Magno.

Outro desafio, segundo ele, foi o pedido de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a gestão da saúde no DF. “O pedido foi protocolado, e agora aguarda a instalação. Ela é fundamental para que a Câmara cumpra seu papel de investigação”, ressaltou.

Robério Negreiros (PSD), líder do governo na CLDF, comentou que a tramitação dos projetos do governo tem seguido o rito da Câmara ou o interesse do Colégio de Líderes. “Não podemos reclamar, uma vez que tivemos muitos avanços, principalmente na reestruturação de diversas carreiras dos servidores públicos, além de proporcionar melhorias de infraestrutura, a partir da aprovação de créditos orçamentários”, observou.

Sobre a afirmação de que o governo confunde a relação com a CLDF, Negreiros disse não ter “cabimento algum”. “Buscamos sempre discutir projetos visando o diálogo respeitoso e construtivo em busca de um objetivo principal: o melhor para a população do DF”, garantiu. “Tanto que não tivemos grandes embates em 2024, pois temos tentado trabalhar em harmonia com a oposição, sempre respeitando a independência dos poderes”, acrescentou.

Mesmo assim, o deputado afirmou que, às vezes, existem alguns desentendimentos. “Como quando deliberamos sobre a aprovação do PPCUB. Apesar dos acordos, foi um projeto complexo e com a necessidade de muita discussão”, recordou.

O líder do governo na CLDF disse que, por enquanto, não existem projetos importantes que devem ficar para o ano que vem. “Porém, esperamos a atualização do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) para o primeiro semestre de 2025, que dará mais segurança jurídica à ocupação territorial do Distrito Federal”, comentou.

LOA 2024

Tesouro Distrital – R$ 37.874.880.298

FCDF – R$ 23.272.461.079

Total – R$ 61.147.341.377

PLOA 2025

Tesouro Distrital – R$ 41.600.640.122 (+9,83%)

FCDF – R$ 25.078.223.161 (+7,75%)

Total – R$ 66.678.863.283 (+9,05%)

Fonte: Secretaria de Economia

1º de fevereiro — Por causa da epidemia de dengue, foi aprovada a alteração à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO/2024) para permitir a contratação de 150 agentes de Vigilância Ambiental em Saúde (AVAs);

5 de março — Aprovação de projeto que assegura à servidora pública vítima de violência doméstica e familiar afastamento por até seis meses. O objetivo da lei é preservar a integridade física e psicológica da servidora amparada por medida protetiva;

2 de abril — Ajuste na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 para permitir a nomeação de 240 médicos aprovados em concurso público;

21 de maio — Aprovação de projeto que ajusta as despesas com pessoal da peça orçamentária para incluir autorização de novas nomeações de servidores públicos. A medida abriu a possibilidade de nomeação de mais de 4.100 servidores das carreiras da educação;

5 de junho — Requerimento que pede a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as falhas de atendimento e de gestão da saúde pública no Distrito Federal, a CPI da Saúde;

19 de junho — Aprovação do PPCUB;

25 de junho — Aprovação da LDO para 2025;

22 de outubro — Aprovada a regularização de atividades de lazer e eventos de cultura no Eixão do Lazer, com a possibilidade de comercialização de bebidas alcoólicas e a presença de food trucks;

29 de outubro — Alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para permitir a contratação de 800 agentes de saúde.

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Conheça a SpaceSail, rival da empresa de Musk que firmou acordo com governo brasileiro

O Ministério das Comunicações assinou nesta terça-feira um acordo com a empresa chinesa considerada uma concorrente da Starlink, propriedade do bilionário Elon Musk. A SpaceSail está desenvolvendo um serviço de internet de alta velocidade por meio de um sistema de satélites de órbita baixa da Terra (LEO, na sigla em inglês) — segmento da tecnologia no qual a Starlink é líder no mercado.

O secretário de Telecomunicações de Lula, Hermano Tercius, disse, no início deste mês, que o objetivo é fomentar a competição no setor de satélites de órbita baixa, na tentativa de conectar mais famílias, escolas e empresas em áreas remotas do Brasil à internet.

“Nosso MOU [acordo de entendimento] com a Telebras não é apenas uma parceria, mas também um compromisso compartilhado para capacitar regiões carentes do Brasil”, disse Jason Jie Zheng, da SpaceSail, em um discurso. “Ao combinar a expertise da Telebras com a solução de ponta da SpaceSail, pretendemos apoiar a iniciativa nacional do Brasil com nossos serviços de banda larga e soluções industriais digitais e impulsionar o acesso a serviços essenciais como educação, saúde pública e governo.”

O projeto SpaceSail foi lançado no ano passado, por meio do incentivo estatal chinês, e prevê executar três fases iniciais de seu desenvolvimento até 2030. O primeiro objetivo, que deve ser concluído até o ano que vem, prevê enviar mais de 600 dos seus satélites ao espaço — já tendo colocado em órbita seus primeiros 18 em agosto, seguido de um novo lançamento de outros 18 no mês passado.

Para 2027, a meta é enviar mais 600 satélites, em um avanço global da sua cobertura. Por fim, o ambicioso objetivo, a ser cumprido até 2030, prevê o envio de 15 mil satélites a serem colocados em órbita, o que permitirá “integração multisserviço de conexão direta móvel”.

Acordo

O memorando de entendimento assinado com a estatal brasileira Telebras prevê que as empresas estudem a demanda por internet via satélite em locais que a infraestrutura de fibra óptica não chega, como áreas rurais, e a possibilidade de parcerias para levar inclusão digital a essas localidades.

Também foi assinado um memorando assinado entre o Ministério das Comunicações e a Administração Nacional de Dados da China para o desenvolvimento de infraestrutura digital e inovação tecnológica, além do fortalecimento da indústria digital.

Com isso, a expectativa é de fortalecimento de políticas públicas, coordenação em foros internacionais e a realização de encontros técnicos. O memorando foi previamente assinado pela China. A entidade chinesa já tem memorandos assinados com Peru, Uruguai, Chile, Paquistão e Vietnã.

O presidente da China, Xi Jinping, está no Brasil participando da Cúpula do G20, no Rio de Janeiro. Ele chegou nesta terça a Brasília e, na quarta, tem reunião com o presdiente Lula.

G20 Social vai entregar propostas aos líderes; veja o que diz cada uma delas

Iniciativa inédita da presidência brasileira, o G20 Social tem o objetivo de ampliar a participação da sociedade nas discussões do grupo das maiores economias do mundo. Um dos passos nesse sentido será a contribuição de movimentos sociais, cidadãos em geral e dos grupos de engajamento (GEs) do G20 para um documento com recomendações aos líderes. A carta será entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo fim de semana.

Em paralelo, os 13 grupos de engajamento, que reúnem desde empresários até cientistas e jovens de países do G20, também elaboraram seus documentos com recomendações, os chamados communiqués, e puderam compartilhá-los com representantes das trilhas de sherpas e de finanças do G20, que cuidam dos assuntos políticos, sociais, ambientais e financeiros.

Estes grupos também participaram de grupos de trabalho (GTs) das trilhas política e financeira, aumentando as chances reais de contribuir e influenciar as decisões. Até ano passado, os GEs debatiam os temas da agenda do G20 mas não tinham acesso direto às lideranças.

Os communiqués também serão entregues aos líderes do G20, na Cúpula de Chefes de Estado do G20, no Rio, na semana que vem. Eles trarão recomendações para temas prioritários da presidência brasileira do G20: combate à fome, à pobreza e à desigualdade; sustentabilidade, mudança climática e transição justa; e reforma da governança global. Conheça, a seguir, as principais propostas de cada um:

Civil 20 (C20), o grupo da sociedade civil

Defensor dos direitos humanos, do meio ambiente e do desenvolvimento socioeconômico, o C20 – grupo das sociedades civis do G20 – foi representado, este ano, por mais de 1.700 organizações, movimentos sociais e redes de 91 países.

Ele é presidido pelo diretor executivo da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), Henrique Frota, e tem como articuladora política (sherpa) a cofundadora da ONG Gestos, Alessandra Nilo.

Segundo Frota, as propostas do C20 têm um enfoque interseccional “na busca por um real compromisso de não deixar ninguém para trás”.

Algumas dessas recomendações são: promover políticas públicas de acesso a trabalho digno, água, terra, habitação, segurança alimentar e a sistemas universais de educação, saúde (inclusive mental) e proteção social; implementar urgentemente medidas de adaptação e mitigação para cumprir o Acordo de Paris; e adotar políticas fiscais progressivas e justas, com taxação dos super-ricos.

Entre outras medidas, o C20 defende também a garantia de direitos sexuais e reprodutivos a todos, bem como o acesso à educação sexual e a cuidados e tratamentos gratuitos.

Frota diz que a expectativa é grande em relação ao lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza durante a Cúpula de Líderes. Por outro lado, a questão climática preocupa.

– Em relação às mudanças climáticas, o sentimento é de frustração diante da incapacidade dos países em chegarem a compromissos mais audaciosos e concretos que estejam à altura da crise.

Frota destaca ainda que, pela primeira vez, além ter sido possível entregar o documento final do grupo às trilhas política e financeira do G20, o C20 conseguiu atuar junto a vários grupos de trabalho (GTs) do G20.

– Foram momentos importantes, que nunca haviam ocorrido em edições anteriores. Essa possibilidade de participação mais intensa pode ser entendida como uma melhoria nos processos do G20 – avalia.

Think tanks 20 (T20), o grupo de institutos de pesquisa

Grupo representado por think tanks de países-membros do G20, o T20 sugeriu políticas públicas em áreas como transição energética, transformação digital e combate à fome e à pobreza. Suas recomendações são resultado do trabalho de seis forças-tarefas temáticas, que analisaram e aprovaram as propostas de 121 think tanks.

Tudo isso sob a coordenação de um comitê organizador composto por três instituições: Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

– Foi um trabalho complexo, que exigiu muita articulação, coordenação e espírito de colaboração entre os participantes – avalia Luciana Muniz, diretora do T20 no Cebri.

Do conjunto de recomendações, o comitê organizador destacou dez prioritárias, e as três primeiras desta lista são: garantir apoio à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada ao final da presidência brasileira do G20; apoiar a criação de um imposto mínimo global sobre os indivíduos de alta renda e corporações altamente poluentes, além de combater a evasão fiscal; e otimizar o acesso de países de baixa renda aos Fundos Climáticos Multilaterais.

– Um dos principais pontos de consenso foi a necessidade de agir sobre a mudança climática. Alavancar recursos para o financiamento climático, assim como melhorar o ambiente de negócios, estruturar boas práticas de governança, ter contextos regulatórios claros e reduzir riscos para aumentar o volume de investimentos foram algumas recomendações do T20 – explica Luciana.

Youth 20 (Y20), o grupo da juventude

Um dos mais antigos grupos do G20, o Youth20 (Y20), das juventudes dos países-membros, sugeriu propostas como a criação de um fundo para a juventude; a taxação de grandes fortunas para combater desigualdades e a evasão de divisas; a ética e a regulamentação da Inteligência Artificial; e o cessar-fogo imediato em Gaza.

O grupo contou com 29 delegações, cada uma com cinco lideranças jovens, que, além dos temas comuns a todos os grupos, propostos pela presidência brasileira, debateram também sobre: inclusão e diversidade; e inovação e futuro do trabalho.

– Desde sua criação, em 2010, o Y20 tem apresentado propostas, reivindicações e reflexões avançadas. Apesar das diferentes culturas, percebe-se, entre os jovens, maior disposição, com maior senso de urgência, ousadia e predisposição a mudanças – afirma o presidente do Y20, Marcus Barão, referência internacional em políticas públicas de juventude.

Além de promover, pela primeira vez, um processo seletivo público, por meio de edital público, para selecionar cinco jovens isentos e interessados em contribuir para os debates, o Y20 realizou outro feito também inédito: realizou mais de 30 diálogos regionais – sendo dois deles no exterior – para incluir em seus debates jovens indígenas, imigrantes, do campo, das cidades, das favelas, das universidades e das escolas.

O impacto da iniciativa foi tão grande que, com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), os diálogos regionais serão compilados e publicados sob a forma de livro.

Women 20 (W20), o grupo das mulheres

Com o intuito de influenciar as lideranças do G20, o grupo das mulheres organizou recomendações em cinco áreas: mulheres empreendedoras e o acesso a financiamentos, capital e mercados; economia do cuidado e combate às disparidades de gênero nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

Também elaboraram propostas para gestão de crises climáticas sensíveis ao gênero, pois 80% das vítimas de desastres climáticos são mulheres e meninas, e para o fim da violência contra elas, já que uma em cada três sofre abuso físico ou sexual, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo Ana Fontes, presidente do W20, os temas violência contra as mulheres e economia do cuidado foram os que tiveram maior consenso e importância. Sobre violência, ela afirma:

– Este é um tema complexo, com muitas nuances, pois cada país enfrenta desafios específicos. Após extensos debates, conseguimos chegar a um consenso sobre a necessidade de todos os países medirem os custos associados à violência contra as mulheres. Realizar uma avaliação de quanto isso representa para a sociedade é essencial para fundamentar políticas e ações eficazes.

Já a valorização da economia do cuidado, que trata sobre o cuidado com familiares, foi o segundo ponto de consenso.

– Esse setor, majoritariamente ocupado por mulheres, precisa ser reconhecido como essencial. Estimativas indicam que, se esse trabalho fosse remunerado, poderia adicionar 9% ao PIB dos países do G20, o que representaria aproximadamente 11 trilhões de dólares – esclarece.

E completa:

– Nossas recomendações incluem reconhecer formalmente a economia do cuidado como trabalho essencial, valorizar financeiramente esse trabalho e promover a educação para que o trabalho do cuidado seja compartilhado, incentivando a participação de toda a sociedade.

O W20 promoveu uma série de diálogos regionais, totalizando oito encontros em diferentes regiões do Brasil. Para Ana Fontes, essa iniciativa foi fundamental para aproximar a sociedade civil do debate do W20 e representa uma inovação importante.

Outra ação de destaque foi a criação da plataforma iSaw, que reúne todo o legado de documentações, debates e contribuições das delegações.

– Essa plataforma será um ponto de referência para as próximas presidências, começando pela África do Sul. Esse é um legado valioso para assegurar a continuidade do trabalho.

Oceans 20 (O20), o grupo dos oceanos

Coordenado por entidades internacionais e nacionais relacionadas a biodiversidade e pesquisa, o O20 estreou este ano no G20, com o propósito de garantir um oceano saudável, resiliente e que contribua com a segurança alimentar, energética e o comércio mundial. Entre suas recomendações macro, estão: garantir um oceano limpo, saudável e produtivo; expandir sistemas sustentáveis de alimentos aquáticos; aumentar a geração de energia eólica offshore; aprimorar a governança marítima para a navegação sustentável; e incentivar o financiamento oceânico.

– Destacamos a ratificação do acordo sobre conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha em áreas além da jurisdição nacional 30×30 (30% de áreas marinhas protegidas até 2030), a inclusão dos oceanos nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e a realização do planejamento espacial marinho com base ecossistêmica que incorpore o aspecto social em sua implementação – diz a coordenadora do O20, Simone Pennafirme.

O comunicado final do O20 será apresentado ao público na Cúpula do O20, que será realizada junto à Cúpula Social, em 16 de novembro, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Sua elaboração contou com a cooperação internacional pública, privada, acadêmica e cidadã, reunindo mais de 6 mil pessoas de 34 nacionalidades.

– Fizemos um grande chamamento público para diálogos globais sobre o oceano. Esse processo nos permitiu inovar como uma plataforma multistakeholder na qual o diálogo entre os setores público, privado, sociedade civil e academia é priorizado em prol de um oceano limpo, saudável e resiliente e para uma transição rumo a uma economia oceânica justa, equitativa e sustentável – explica Simone.

Segundo a coordenadora, algumas recomendações do grupo já foram incorporadas às declarações finais dos ministros de meio ambiente, resultado do Grupo de Trabalho (GT) de Sustentabilidade Ambiental e Climática.

Labour 20 (L20), o grupo do trabalho

Grupo que defende os interesses dos trabalhadores, o L20 é formado por representantes dos sindicatos dos países-membros do G20 e das Federações Sindicais Internacionais. Este ano, o L20 foi liderado pelo secretário de Relações Internacionais da Central Única de Trabalhadores (CUT) e vice-presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), Antônio Lisboa.

Entre as diversas propostas do L20, Lisboa destacou, em primeiro lugar, a geração de empregos.

– Para absorver as novas gerações de trabalhadores, reivindicamos 575 milhões de novos empregos nos países do G20 até 2030, e isso obviamente impactaria positivamente outros países também, por meio das cadeias de produção.

A segunda prioridade, segundo ele, é a formalização de um bilhão de empregos informais até 2030.

– Neste ponto, a gente leva em conta o trabalho informal tradicional e os trabalhadores de plataformas digitais – explica.

Na sequência, Lisboa destaca o direito à negociação coletiva e à liberdade sindical.

– Por exemplo, uma das questões muito importantes para nós é a igualdade salarial entre homens e mulheres. Se tivermos plena liberdade sindical e negociação coletiva, fica mais fácil alcançar essa igualdade, porque a negociação coletiva dá respostas mais rápidas do que as leis.

Sobre transição justa, o líder do L20 enfatiza a necessidade de se considerar o aspecto humano na mudança do modelo de produção.

– Essa transição tem que ser feita de forma que as pessoas se beneficiem dela. Por exemplo, o que se vê, no Brasil e em vários países do mundo, são profissionais saindo da cadeia de produção de petróleo e indo para a produção de energia eólica. Só que, nesta transição, eles estão perdendo direitos trabalhistas, perdendo o direito à carteira assinada, ao 13º salário e a férias remuneradas. Nós defendemos a transição justa dos modelos não só de transição energética, mas também digital, com ênfase na garantia de direitos trabalhistas, na seguridade social – frisa Lisboa.

O líder do L20 destacou ainda, entre as propostas do grupo, a necessidade de investir em educação profissional que prepare jovens para o mercado de trabalho e o apoio à taxação dos bilionários em 2%.

Urban20 (U20) o grupo de cidades do G20

Grupo das cidades do G20, o Urban 20 busca soluções para um futuro urbano sustentável. O grupo é composto atualmente por 38 cidades participantes, dez observadoras e mais de 50 instituições parceiras. Este ano, o U20 foi copresidido pelos prefeitos de Rio de Janeiro e São Paulo, Eduardo Paes e Ricardo Nunes, respectivamente.

– Copresidir o U20 nos coloca em uma posição estratégica para liderar uma agenda de soluções concretas para os desafios das grandes cidades. Focamos em trazer para o encontro ações centradas na sustentabilidade, no enfrentamento climático e na ampliação do acesso das cidades a financiamento. Só assim elas podem tirar projetos essenciais do papel, transformando compromissos globais em prioridades locais – afirma o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

O assessor internacional de Assuntos Multilaterais da Secretaria Municipal de Relações Internacionais de São Paulo e sous-sherpa do U20, Lucas Roberto Paredes Santos, também destacou a questão do financiamento como prioritária:

– O financiamento está interligado a todas as outras demandas e prioridades, como transição energética, combate à fome e às desigualdades, e o desenvolvimento de cidades mais resilientes a chuvas e enchentes, entre outras. O U20 defende muito um mecanismo que libere recursos diretamente para os governos locais. Há inúmeros fundos para financiamento climático, mas ainda existem grandes barreiras ao acesso direto das cidades a esses fundos – frisa Santos.

Além disso, o U20 estabeleceu como prioridade o combate à fome e à desigualdade, independentemente de se tratar de cidade ou país desenvolvido, ou em desenvolvimento e recomendou ao G20 a inserção das cidades – como instância de governo mais próxima das comunidades – em processos internacionais de tomada de decisão.

– As principais necessidades e urgências acontecem nas cidades. Elas ficam sabendo primeiro. Então, todas essas iniciativas multilaterais precisam dar voz e dar espaço para as cidades participarem dos processos de tomada de decisão, dos levantamentos, dos estudos e do desenvolvimento de soluções – defende Santos.

O communiqué do Urban20 está em fase de aprovação pelos seus integrantes e será divulgado durante a 2ª Cúpula de Prefeitos do U20, de 14 a 17 de novembro, no Armazém da Utopia, no Complexo Mauá, região portuária do Rio de Janeiro. São esperados no evento mais de 50 prefeitos e delegações de mais de 100 cidades. A 1ª Cúpula de Prefeitos ocorreu em São Paulo, em junho, e serviu de base para a construção do comunicado.

Business 20 (B20), o grupo de negócios

Com 1.200 representantes de 42 países e 21 setores econômicos, o B20 dividiu seus participantes em oito grupos temáticos liderados por líderes globais nos negócios. Os grupos debateram comércio e investimento; emprego e educação; finanças e infraestrutura; integridade e compliance; transição energética e clima; transformação digital; sistemas alimentares sustentáveis e agricultura; e mulheres, diversidade e inclusão em negócios. Cada um formulou três recomendações, com seus próprios indicadores de desempenho, totalizando 24.

– Trabalhamos com assuntos sinérgicos, uns falando com os outros, para que houvesse congruência, porque quando você fala de digitalização, inteligência artificial, você também está falando de descarbonização, já que os maiores usuários de energia tendem a ser estes processos – diz Dan Ioschpe, presidente do B20.

Segundo o B20, para se ter, por exemplo, comércio e investimentos sustentáveis e resilientes é preciso investir em medidas prioritárias como promover metodologias internacionalmente aceitas para cálculo e prestação de contas sobre a pegada de carbono e revisar políticas comerciais unilaterais restritivas do G20. A motivação para agir é o fato de que US$ 2,3 trilhões – o equivalente a 11,8% das importações do G20 – estão sujeitos a medidas restritivas.

Quanto às finanças e infraestrutura, o B20 recomenda acelerar a implantação de capital privado para facilitar a transição para uma economia sustentável de baixo carbono.

– Para que a gente consiga dar conta dessa transição verde e atingir metas climáticas, é preciso investir de US$ 5 trilhões a US$ 8,5 trilhões por ano até 2030. É óbvio que se não tivermos a junção de capital público e privado, isso será impossível. E para isso, é preciso fazer alguns ajustes na regulação – frisa a gerente de Comércio e Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e sherpa do B20, Constanza Negri.

Segundo o B20, as alterações climáticas poderão causar 14,5 milhões de mortes adicionais e perdas econômicas de US$ 12,5 trilhões até 2050.

Quanto à transformação digital, o grupo apoia a conectividade universal de indivíduos e empresas, além de defender uma abordagem responsável e pró-inovação para novas tecnologias, como a inteligência artificial.

Já no que se refere ao capital humano, o B20 sugere, por exemplo, preparar uma força de trabalho resiliente e produtiva, com melhoria da educação básica e requalificação em proficiência digital e sustentabilidade. Este ponto, inclusive, integra uma declaração conjunta feita por B20, representando o empresariado, e L20, representando os trabalhadores.

Para impulsionar as mudanças, promover a colaboração entre os setores público e privado e garantir a continuidade do impacto, o grupo criou uma estratégia de legado robusta, com três pilares: do B20 para o B20 (África do Sul); do B20 para a sociedade; e do B20 para o Brasil.

Science20 (S20), o grupo de ciências

Grupo da área de ciência e tecnologia, formado pelas academias nacionais de ciências dos países-membros do G20, o S20 é liderado pela presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, que conduziu os debates acerca de cinco eixos temáticos: inteligência artificial (IA), bioeconomia, processo de transição energética, desafios da saúde e justiça social.

No documento final do S20, destacam-se, no campo da inteligência artificial, medidas como: formulação de políticas que garantam a segurança no emprego e os direitos dos trabalhadores; criação em conjunto e compartilhamento de dados científicos valiosos, respeitando a governança de dados; e estabelecimento de estruturas governamentais para supervisionar tecnologias de IA.

– É fundamental que os países tenham um olhar social para a inteligência artificial. Senão, ao invés de diminuir, as disparidades vão aumentar muito – alerta Helena.

Entre os desafios na área de saúde, destacam-se o acesso global a vacinas, medicamentos e ferramentas de diagnóstico para todos e também a promoção da produção local e regional através do desenvolvimento de capacidades em pesquisa, inovação, compartilhamento de conhecimentos e transferência de tecnologia.

No campo da justiça social, a comunidade científica apoia o acesso universal à internet e à alfabetização digital, além do combate à desinformação relacionada à ciência nas mídias digitais.

Assim como os demais grupos, o S20 aprovou um comunicado final A Arábia Saudita foi o único país que não ratificou o documento, devido a um item sobre transição energética.

StartUp20, o grupo das startups

Fundado em 2023, sob a presidência da Índia, o StartUp20 visa fomentar a inovação e o crescimento econômico sustentável de startups e pequenas e médias empresas (PMEs) de tecnologia.

Nestee ano, sob a liderança da presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Ingrid Barth, o grupo se organizou em três forças-tarefas – Investimentos; Regulação e Políticas Públicas; e práticas ASG – e apresentou 13 recomendações.

Entre propostas estão harmonizar as regulamentações e simplificar os processos de registro de startups e de proteção da propriedade intelectual nos países do G20; promover diretrizes éticas e garantir a inovação responsável nos sistemas de Inteligência Artificial (IA) e Blockchain; e padronizar os contratos de investimento, além de estabelecer um arcabouço jurídico unificado para o papel do investidor, garantindo maior segurança jurídica.

Sobre inclusão, destaca-se a proposta de desenvolver programas educacionais e de capacitação abrangentes para empoderar indivíduos e organizações em áreas-chave como inteligência artificial, inovação tecnológica e finanças digitais.

No que tange o combate à fome, o grupo sugere que startups sejam apoiadas na liderança de iniciativas de empreendedorismo social que promovam a inclusão financeira, o empoderamento, a empregabilidade e que desenvolvam tecnologias agrícolas sustentáveis para abordar a segurança alimentar.

Quanto às questões climáticas, o grupo recomenda incentivar startups a liderar iniciativas em energias renováveis e soluções baseadas na natureza (NbS) que contribuam para a resiliência climática, a descarbonização, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento urbano sustentável.

Parliament 20 (P20), o grupo de parlamentos

Grupo dos presidentes dos parlamentos do G20, o P20 visa aproximar congressistas para fortalecer a cooperação global, garantindo a efetividade de acordos internacionais firmados no âmbito do G20.

Neste ano, o P20 se destacou por incorporar em seus debates uma forte dimensão de inclusão social e de igualdade de gênero. Em julho, foi realizada, de forma inédita, a 1ª Reunião de Mulheres Parlamentares do P20 em Maceió, que resultou na “Carta de Alagoas”, com oito recomendações sobre justiça climática, aumento da representação feminina e combate às desigualdades de gênero e raça.

Uma dessas recomendações é que a Reunião de Mulheres Parlamentares passe a fazer parte da agenda do P20 a partir de 2025.

Os debates se concentraram na perspectiva parlamentar dos temas prioritários: combate à fome, pobreza e desigualdade; desenvolvimento socioambiental e transição ecológica justa e inclusiva; e governança global adaptada aos desafios do século 21.

Supreme Audit Institutions 20 (SAI20), o grupo das instituições superiores de controle

Criado para garantir a unidade e a integridade das Instituições Superiores de Controle (ISCs) no âmbito das plataformas e iniciativas da Organização Internacional de Instituições Superiores de Controle (Intosai), o SAI20 visa fortalecer a cooperação entre estas instituições e promover a transparência e a eficácia na governança global. Este ano, o grupo foi liderado pelo presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Bruno Dantas, que assumiu também a presidência da Intosai.

– Propomos sistemas comuns para medir a pobreza e monitorar o financiamento climático. Essas são ações fundamentais para garantir que os recursos sejam alocados de forma justa e eficaz, especialmente para enfrentar as mudanças climáticas e suas consequências para os mais vulneráveis – explica Dantas.

Dentre as iniciativas do SAI20, o grande destaque é a ferramenta ClimateScanner, desenvolvida pela Intosai ao longo de 2023 e apoiada por diversas organizações internacionais e também pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os resultados da iniciativa serão apresentados neste mês, durante a COP29, no Azerbaijão.

Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), auditores em mais 140 Instituições Superiores de Controle já foram treinados no uso da ferramenta.

– O ClimateScanner oferece uma visão global sobre o financiamento climático, ajudando os países do G20 a monitorar de forma eficaz o uso dos fundos para combate às mudanças climáticas. Como presidente do SAI20, acredito que iniciativas como esta fortalecem o nosso papel em promover políticas públicas que realmente façam a diferença para o planeta e para as futuras gerações – frisa Dantas.

Justice 20 (J20), o grupo das cortes supremas e constitucionais

Criado sob a presidência brasileira do G20, o J20 reúne presidentes das cortes supremas e constitucionais do G20, com o objetivo de promover trocas de ideias e iniciativas sobre temas jurídicos relevantes. O J20 é liderado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ministro Luís Roberto Barroso.

Mediados pelo Ministro Barroso, os debates do grupo ocorreram no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), em maio, e basearam-se em três temas centrais: inclusão social e promoção da cidadania; o uso de tecnologia pelo poder judiciário; e mudança climática.

Segundo o ministro, acerca de inclusão social e promoção da cidadania, a constatação é de que os processos autoritários e extremistas se fortalecem pelos desvãos da democracia, pelas promessas não cumpridas de prosperidade e igualdade para todos.

– O enfrentamento à pobreza e à desigualdade continua a ser o grande desafio dos regimes democráticos, inclusive em países desenvolvidos – afirma.

Sobre o uso de tecnologia pelo poder judiciário, Barroso esclarece que as novas tecnologias, que incluem a Internet e a Inteligência Artificial, podem prestar e vêm prestando valiosa contribuição aos países em geral, inclusive no âmbito da prestação de Justiça. Mas faz um alerta:

– Impõe-se, todavia, regulação proporcional, que preserve a liberdade de expressão, valor essencial para as democracias e, quanto à Inteligência Artificial, será sempre imprescindível a supervisão humana.

Já sobre mudança climática, o J20 considera o cenário preocupante.

– O ano de 2023 foi o mais quente da história e 2024 caminha para superá-lo. Os países não estão cumprindo satisfatoriamente as obrigações de redução de emissões assumidas com o Acordo de Paris e, em alguns casos, houve, inclusive, expressivo aumento das emissões. A questão climática deixou de ser apenas uma preocupação com as novas gerações, para envolver uma questão de preservação dos direitos fundamentais à vida, à integridade física, à liberdade de ir e vir e à propriedade das gerações atuais. Nessa matéria, estamos atrasados e com pressa – ressalta o ministro Barroso.

STJD vai pedir interdição da Arena MRV após episódios de violência

A Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) vai solicitar a interdição da Arena MRV após os atos de violência e vandalismo registrados durante a final da Copa do Brasil, realizada neste domingo (10), vencida pelo Flamengo.

O STJD denunciará o clube mineiro com base nos artigos 211 e 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Além disso, pedirá a interdição do estádio, pelo menos até o julgamento.

O artigo 211 prevê multa de até R$ 100 mil. Além disso também a interdição do estádio, caso o clube “deixe de manter o local indicado para a realização do evento com infraestrutura necessária para assegurar plena garantia e segurança para sua realização”.

Já o artigo 213 prevê a perda de mando de campo de até 10 partidas. Também multa de R$ 100 mil, por “deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto; invasão de campo e lançamento de objetos no campo”.

Na súmula da partida, o árbitro Raphael Claus relatou todos os problemas ocorridos na Arena MRV. O juiz ainda informou sobre as bombas, a utilização de laser e as tentativas de invasão ao gramado.

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Rocinha é a maior favela do Brasil com mais de 72 mil moradores, diz IBGE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta terça-feira (7/11) os resultados de uma nova pesquisa detalhada sobre Favelas e Comunidades Urbanas, baseada nos dados do Censo 2022. O estudo revela um cenário crescente e preocupante: atualmente, 8,1% da população brasileira reside em áreas consideradas favelas, representando um aumento significativo em relação a 2010, quando 6% da população vivia nessas condições.

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A Rocinha, localizada na zona sul do Rio de Janeiro, se destaca como a favela mais populosa do país, com 72.021 habitantes e 30.371 domicílios. Logo atrás está Sol Nascente, em Brasília (DF), com 70.908 moradores e 21.889 domicílios. Na terceira posição, Paraisópolis, em São Paulo (SP), abriga 58.527 pessoas.

O aumento da população nessas comunidades se reflete também na expansão do número total de favelas e comunidades urbanas identificadas pelo Censo. Em 2010, foram registradas 6.329 dessas áreas; já em 2022, esse número praticamente dobrou, chegando a 12.348. Juntas, essas comunidades abrigam hoje mais de 16,3 milhões de brasileiros.

A pesquisa também aponta para desigualdades regionais e características demográficas específicas nas favelas brasileiras. Entre as vinte maiores comunidades do país, oito estão na Região Norte, sendo sete em Manaus (AM), indicando uma alta concentração na Amazônia, onde cerca de 34,7% da população do Amazonas vive em áreas de favela — a maior proporção entre os estados brasileiros. Em seguida, o Amapá tem 24,4% da população vivendo em favelas, e o Pará, 18,8%.

Outro dado importante é o perfil etário: a população das favelas é mais jovem que a média nacional, com idade mediana de 30 anos, enquanto a média no país é de 35. Além disso, o índice de envelhecimento é consideravelmente menor nessas comunidades. Enquanto o Brasil possui 80 idosos para cada 100 crianças, nas favelas, essa proporção é de 45 idosos para cada 100 crianças.

Em relação à diversidade racial, os dados mostram uma maior representatividade de pardos (56,8%) e pretos (16,1%) nas favelas em comparação ao total nacional, onde esses grupos representam, respectivamente, 45,3% e 10,2% da população. A proporção de pessoas brancas nas favelas (26,6%) é bem inferior ao índice nacional, de 43,5%.

Outro ponto abordado pela pesquisa são as condições de infraestrutura e acesso a serviços essenciais. O levantamento indica a presença de 958.251 estabelecimentos nas favelas, dos quais 7.896 são de ensino, 2.792 de saúde e impressionantes 50.934 estabelecimentos religiosos. Esses números revelam um aspecto interessante da organização social e religiosa nas favelas: para cada estabelecimento de saúde, há 18,2 estabelecimentos religiosos, e, para cada instituição de ensino, há 6,5 espaços religiosos.

As disparidades no acesso a serviços básicos reforçam a importância de políticas públicas voltadas para melhorar as condições de vida dessas populações, que convivem diariamente com desafios econômicos, sociais e de segurança.

A ampliação das favelas e a crescente presença de jovens nesses territórios refletem a necessidade urgente de soluções que vão além da regularização fundiária. As favelas, que tradicionalmente são vistas como áreas marginalizadas, abrigam uma parcela crescente da população urbana e exigem políticas que integrem essas regiões à dinâmica das cidades, promovendo mais oportunidades e acesso aos direitos básicos.

Com os resultados do Censo 2022, fica claro que a urbanização no Brasil precisa ser repensada, considerando o impacto social e humano das favelas, que representam uma parcela significativa da população e revelam a complexa realidade socioeconômica do país.

Dia do Evangélico terá 3 dias de festa na Esplanada dos Ministérios

No dia 30 de novembro, tradicionalmente é comemorado o dia do evangélico, especialmente pela comunidade cristã. Segundo o IBGE, a Igreja Evangélica cresceu cerca de 61,5 por cento em dez anos no Brasil, com 16 milhões de novos fiéis, de acordo com levantamento divulgado com base no Censo 2010. Já o site oficial da câmera legislativa, informa que em 2023 uma pesquisa apurou que cerca de 33% da população de Brasília é evangélica, mais de um milhão de pessoas professando a fé. E pra comemorar essa data, que a cada ano se torna mais importante, um grande evento acontecerá no Distrito Federal nos dias 28, 29 e 30 de novembro, o Canta Brasília.

O mega projeto, que contará com um museu da bíblia, terá em seu palco principal grandes nomes da música gospel como Isaias Saad, Sarah Beatriz, Valesca Mayssa e a dupla Jefferson e Suellen. Já na ministração da palavra as noites terão pregações do Pr Claudio Duarte e Pr Elizeu Rodrigues. As atrações serão distribuídas nos três dias de comemorações em uma infraestrutura de ponta, levando o público a ter uma experiência igual aos grandes festivais de música. Com realização da Associação Amigos do Futuro e?apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF.

O evento também terá um espaço de expositores para grandes empresas do segmento e todos os dias o público contará com espaço infantil, onde recreadores realizarão atividades com a garotada. Um espaço com brinquedos também será instalado no local para que as crianças possam se divertir enquanto seus pais participem de uma grande noite de adoração. Especialmente no dia 30/11 o evento será programado para começar as 13h, com muitas atividades envolvendo cultura cristã, louvor e palavra.

Um marco para o Distrito Federal

Para a comunidade cristã, um evento sediado no Distrito Federal e, especificamente na Esplanada dos Ministérios, é muito mais que entretenimento e intercambio interdenominacional. A Igreja acredita que atos proféticos em prol da nação e seu governo são necessários. Muitos encontros de oração e intercessão já levaram igrejas de todo país excursionarem para Brasília, todas em um movimento espiritual para abençoar a nossa nação. O Canta Brasília entra em 2024 no calendário de grandes eventos no circuito nacional do segmento cristão, se tornando mais um dia onde congregações de todos os lugares se reunirão para celebrar e também interceder pela nação.

Canta Brasília revelará um novo talento

Um novo nome da música evangélica será revelado no Canta Brasília. O Dia do Evangélico em Brasília terá um festival de talentos, cantores de todo Brasil poderão participar de uma edição especial no Canta Brasília e tudo sendo acompanhado pelo grande público. Então além de atrações musicais com os maiores nomes da música cristã, o evento promete entregar mais um novo nome da nossa música em plena Esplanada dos Ministérios.

Ministério da Saúde assina acordo de fusão do Gaffrée e Guinle com o Hospital dos Servidores; entenda

O Ministério da Saúde deu mais um passo para o avanço do Plano de Reestruturação dos Hospitais Federais. A Ministra Nísia Trindade assinou, na última a sexta-feira, o Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), conforme adiantado pelo O GLOBO. Com a mudança, o Hospital Federal dos Servidores (HFSE) passará por uma integração com o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, pertencente ao Ministério da Educação, dando origem ao novo hospital universitário.

— É muito importante a reestruturação por que se trata de recuperar a excelência, mas também colocá-la a serviço do Sistema Único de Saúde. Não podemos deixar de fazer essa transformação esperada há tanto tempo e que foi muito adiada. O modelo de gestão dessas unidades é fragmentado e ao longo das décadas foi amplamente discutido. Tivemos excelentes áreas de especialidades, de cirurgiões, por exemplo. Queremos recuperar isso e colocar integrado ao SUS. Como ministra, vejo essa ação como um novo marco para a assistência hospitalar — afirmou Nísia.

Atualmente, as unidades têm juntas 480 leitos ativos. Com a fusão, serão 500 leitos à disposição do sistema de saúde, de acordo com o planejamento da pasta.

O presidente da Ebserh, Arthur Chioro, disse ao Globo que o processo de fusão está em fase de planejamento conjunto, com o objetivo de realizar um estudo técnico para avaliar a viabilidade da integração. A análise incluirá um diagnóstico completo das duas unidades, com revisão de documentos e visitas técnicas, para assegurar que a integração seja conduzida “com base em dados sólidos e um entendimento profundo das necessidades de cada instituição”.

— Estamos estabelecendo um acordo que vai nos permitir abrir diálogo para podermos trabalhar o processo de fusão. Estamos em um planejamento conjunto visando a criação de um estudo técnico para saber se a integração é ou não viável. Vamos aprofundar o diagnóstico situacional, com análises de documentos e visitas técnicas nas duas unidades com base em dados sólidos e um entendimento profundo das necessidades de cada instituição.

Futuro das unidades federais no Rio

O Ministério da Saúde vem intensificando os debates e negociações sobre o futuro dos seis hospitais federais (Andaraí, Bonsucesso, Cardoso Fontes, Ipanema, Lagoa e Servidores) do Rio de Janeiro. Nos últimos quatro meses, a pasta implementou mudanças significativas, como a municipalização do Hospital do Andaraí, realizada em julho, a transferência da administração do Complexo Hospitalar da UFRJ para a empresa pública Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), no mesmo período, além da transferência do Hospital Federal de Bonsucesso para o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), oficializada no Diário Oficial em 15 de outubro.

A quarta grande intervenção do Ministério da Saúde foi a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre a UniRio, a Ebserh, o Ministério da Educação e o Ministério da Educação e Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, que definirá os critérios para a fusão do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, localizado no Maracanã, na Zona Norte, com o Hospital Federal dos Servidores (HFSE), situado no bairro da Saúde, na zona central da cidade.

Inédita, a proposta é transformar a unidade federal em uma extensão do Hospital Universitário vinculado à UniRio e administrado pela Ebserh. A nova unidade deverá se chamar Hospital Universitário do Rio de Janeiro.

Entre os motivos para essa mudança estão a proximidade entre as unidades, o perfil complementar e a possibilidade de ampliação de leitos. De acordo com avaliação interna, o prédio histórico do Gaffrée, tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), já não comporta mais a unidade de saúde e dificulta melhorias no atendimento. Ao GLOBO, o presidente da Ebserh, Arthur Chioro, já havia manifestado interesse em assumir a unidade federal.

— Há uma tendência internacional de fusão de hospitais, pois eles precisam de adensamento tecnológico, ou seja, de capacidade para resolver grandes problemas. Tanto o Hospital dos Servidores quanto o Gaffrée enfrentam o desafio de serem hospitais de alta complexidade. Temos um hospital universitário com graves problemas estruturais, tombado como patrimônio histórico, o que traz grandes desafios para a modernização da sua infraestrutura, a ponto de quase não justificar o investimento necessário. Seria preciso um investimento muito alto para torná-lo funcional como um hospital do século 21. Por outro lado, temos um hospital federal altamente qualificado, com uma infraestrutura importante, mas, como todos sabem, com problemas de gestão que vêm afetando cronicamente a capacidade desse hospital de atender plenamente a população do Rio de Janeiro — afirmou Chioro.

Nos bastidores do governo, discute-se que o acordo colaborativo será apenas a primeira etapa para que o processo de fusão se concretize, visto que seus termos já estão bem avançados. Segundo Chioro, um estudo de viabilidade será realizado em seis meses pelas partes envolvidas, a fim de estabelecer o perfil assistencial do futuro Hospital Universitário da UniRio. Para isso, o processo requer três etapas: autorização da reitoria da universidade, aprovação do Ministério da Educação e da Ebserh. Parte dos processos, no entanto, já vem sendo articulado e deve ser anunciado oficialmente pelo Ministério da Saúde nas próximas semanas.

O reitor da UniRio, professor José da Costa Filho, disse ao GLOBO que a eventual fusão ainda depende de estudos complementares. Ele defende que, a médio prazo, com a incorporação de novas tecnologias e investimentos em infraestrutura e pessoal, a fusão poderá posicionar as unidades entre os três maiores e mais relevantes hospitais universitários públicos do Brasil.

— Primeiramente, é importante explicar que o acordo existente é de cooperação técnica, para estudar e preparar informações e documentos que subsidiem a discussão dentro de nossa comunidade universitária. Por meio dele, saberemos com precisão sobre a quantidade de leitos disponíveis, ativos e paralisados, questões contratuais com empresas e convênios, entre outros pontos importantes. A fusão, portanto, depende dos resultados desse estudo, que verificará sua viabilidade e se será realmente benéfica para a nossa Universidade. A partir do resultado desse acordo de cooperação técnica, teremos clareza sobre o mapa de riscos e as oportunidades que essa fusão poderá representar — afirma o reitor, complementando: — É claro que esse grande potencial para contribuir com as políticas públicas de educação e saúde nos motiva, mas não queremos nos precipitar. A fusão é algo complexo e desafiador, e, se ela de fato se concretizar, terá necessariamente passado por todas as etapas de estudos, debates e esclarecimentos, para que esse futuro com que sonhamos seja plenamente alcançado.

Estrutura defasada

O GLOBO visitou, nesta segunda-feira, as dependências do Hospital Universitário e flagrou graves problemas de infraestrutura, como alas inteiras de enfermaria em salas sem ventilação adequada, infiltração e mofo por toda parte, macas amontoadas no pátio, aparelhos de ar-condicionado presos às janelas quebradas e emaranhados de fios pelos corredores do casarão, além de um laboratório improvisado próximo ao auditório.

A unidade sequer possui uma área de coleta seletiva. Os resíduos são colocados pelos funcionários da limpeza em um depósito na área externa do pátio. Isto porque o hospital não tem autorização para fazer obras ou modificações em suas dependências.

O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle está totalmente inserido na regulação de leitos e serviços do SUS, sendo o hospital federal que mais oferece serviços ao Sisreg. Atende as áreas básicas como clínica médica, obstetrícia, pediatria e maternidade de alto risco, cirurgia pediátrica, CTI neonatal, CTI adulto, tomografia computadorizada, radiologia intervencionista, mamografia, ultrassonografia, cardiologia, oncologia e cirurgias oncológicas, neurocirurgia, hemodiálise, hematologia, cirurgia plástica, neurologia, neurocirurgia, cirurgia torácica, proctologia, ginecologia, nefrologia e urologia, além de ser referência no tratamento de Aids e alta complexidade de saúde auditiva com implante, pediatria.

Segundo a reitoria, orçamento anual de custeio da unidade subiu em 2023 de R$ 18 milhões para R$ 44 milhões, em função de uma negociação com o Ministério da Saúde, em que foi considerada uma nova metodologia de cálculo baseada em capacidade operacional e complexidade, em vez da tabela SUS, que, de acordo com a administração da unidade, está desatualizada e não cobria os custos. Em 2024, a Ebserh fez um aporte de mais R$ 10 milhões (já havia feito um de R$ 22 milhões em 2022). Isso possibilitou que o Hospital Universitário quitasse todas as dívidas históricas de água e energia e com empresas terceirizadas.

— Temos, em nossa gestão, fortalecido o diálogo entre a Reitoria e a Superintendência do Hospital, que tem, em diferentes espaços, inclusive em reuniões com diferentes segmentos da Universidade e audiências públicas, prestado contas do que tem sido feito. Além disso, muitas atividades de ensino, na graduação e na pós-graduação, de pesquisa e de extensão da UniRio são realizadas no Gaffrée e Guinle. Tudo isso continuará no novo Hospital Universitário caso a fusão efetivamente se concretize, inclusive com maior abrangência e diversidade — explicou o reitor José da Costa Filho.

Ao todo, a unidade tem 1526 funcionários, sendo que 53% trabalham no regime jurídico único, ou seja, são servidores da Unirio — 47% dos profissionais são empregados concursados da Ebserh. O local tem capacidade para 224 leitos, mas apenas 170 em funcionamento. Conta com dez salas cirúrgicas, e apenas oito em uso. Por dia, o hospital chega a atender, em média, mil pacientes entre os turnos da manhã e tarde no setor ambulatorial. A universidade oferece ainda 40 programas de residência médica e oito de pós-graduação e mestrado.

Estrutura do Hospital dos Servidores

O Hospital dos Servidores do Estado (HSE) foi erguido em maio de 1934, sob a denominação de Hospital dos Funcionários Públicos, quando, por iniciativa do ministro do Trabalho Salgado Filho, o presidente Getúlio Vargas assinou decreto destinando recursos para a sua construção. Localizado na Zona Portuária, a unidade, que atende pacientes de todo o estado, está em situação ainda mais grave. O local não realiza exames de cateterismo por falta de equipamento. Quatro leitos do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) no 11° andar, 76 leitos de enfermaria, 15 leitos de cirurgia geral e seis salas de cirurgia geral estão fechados por falta de mesa cirúrgica, macas e equipamentos básicos.

O HFSE conta atualmente com 370 leitos, sendo 79 fechados por falta de médicos. Quando foi inaugurado, a unidade tinha capacidade para 450 leitos. Entre as especialidades estão gestão de alto risco, tratamento oncológico, hematologia, pediatria, cardiovascular, tratamento para doença renal crônica com hemodiálise, atenção psicossocial, transplante de rins, córnea e esclera, alta complexidade, atendimento especializado para pacientes com obesidade mórbida e saúde bucal.

A unidade federal tem capacidade para 18 salas cirúrgicas, mas hoje apenas 16 estão em funcionamento. Além disso, o hospital possui 38 programas de residência médica.

De acordo com o relatório dos hospitais federais, elaborado pelo Ministério da Saúde logo quando a nova gestão assumiu, o HFSE sofre com falta de RH, falta de manutenção predial, obras embargadas e parque tecnológico defasado.

Resultado da fusão

De acordo com a Ebserh, caso a fusão seja concretizada, a empresa pública terá um contrato de 20 anos para administrar o novo hospital universitário, que terá atendimento de média e alta complexidade. Juntos, as unidades vão oferecer cerca de 500 leitos, 42 programas de residência médica, além de gestão de alto risco com atendimento em oncologia, pediatria, centro de parto normal, e tratamento de Aids.

— Com o acordo firmado, os recursos se juntam. Não haverá novo dinheiro. Vamos conseguir fazer a gestão da unidade com os recursos já existentes. Para modernizar vamos fazer uma série de intervenções, mas, não há, neste primeiro momento, perspectiva de ampliação de gastos públicos — diz Arthur Chioro.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que “o Acordo de Cooperação Técnica (ACT) não se trata da possibilidade de uma unidade de saúde ser incorporada a outra, mas sim, de uma integração entre as duas unidades”. Segundo a pasta federal, “a proposta de colaboração será entregue à instituição de ensino, a quem cabe a aprovação, por meio do Conselho Universitário, com data a ser acertada”.

— É uma cooperação técnica entre a Ebserh, a UniRio e o Ministério, que vai buscar um diagnóstico e uma integração dos hospitais. Com essa integração, a gente consegue superar as limitações que o atual hospital Gaffrée tem para ampliar leitos e serviços, e também reativar todos os serviços fechados no Hospital dos Servidores, ampliando novos serviços e qualificação, por exemplo — explicou o secretário-adjunto da Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Nilton Pereira.

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O Judiciário frente às vulnerabilidades ligadas aos desastres climáticos

Daniela Madeira — Juíza e conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

Nos últimos anos, as vulnerabilidades socioambientais, especialmente aquelas decorrentes das mudanças climáticas, têm ganhado destaque no cenário global. Os impactos ambientais afetam diretamente comunidades vulneráveis, que são as primeiras a sentir os efeitos devastadores de enchentes, secas e desastres naturais. O Poder Judiciário tem sido chamado a desempenhar um papel crucial na mitigação dessas vulnerabilidades ao aplicar uma ética climática que reconheça as desigualdades e proteja os direitos fundamentais ao meio ambiente.

As tragédias ambientais, além de estarem se multiplicando ao redor do mundo, impactam de sobremaneira o Brasil. Episódios como o rompimento da barragem em Mariana e as enchentes no Rio Grande do Sul são exemplos de desastres dessa natureza, que deixam marcas profundas na população e nos ecossistemas locais. O Poder Judiciário, ao ser acionado para lidar com esses danos, tem a responsabilidade de interpretar e aplicar a legislação ambiental de maneira eficaz, garantindo a proteção tanto do meio ambiente quanto das comunidades afetadas.

Atualmente, se reconhece o conceito de vulnerabilidade socioambiental, que engloba tanto a suscetibilidade de comunidades a desastres naturais quanto a sua capacidade de responder e se adaptar a esses eventos. Ela afeta, sobretudo, populações que já se encontram em situações de desvantagem social e econômica, e a relação entre pobreza, falta de infraestrutura e maior exposição a riscos ambientais é direta, de acordo com estudo do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) que, em 2001, destacava que as populações vulneráveis economicamente seriam as mais afetadas.

Para tanto, a Justiça ambiental deve adotar uma abordagem que considere a ética climática. Esse conceito busca equilibrar as responsabilidades das nações desenvolvidas e em desenvolvimento na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Dentro do Poder Judiciário, a ética climática pode ser um instrumento importante na interpretação das normas ambientais.

As ações judiciais relacionadas às mudanças climáticas têm ganhado espaço no cenário jurídico global. No Brasil, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reconheceu a importância desse tipo de litígio ao incluir, em 2021, o tema “Mudanças Climáticas” nas Tabelas Processuais Unificadas. Esse movimento é fundamental para que o Judiciário possa acompanhar e catalogar os casos relacionados ao clima, permitindo uma resposta mais eficaz às demandas ambientais.

Contudo, definir o que é um litígio climático ainda é um desafio. Nem todos os casos ambientais envolvem diretamente questões climáticas, mas muitos têm implicações nessa seara.

O Brasil tem sido destaque no cenário internacional de litígios climáticos. De acordo com o Sabin Center for Climate Change Law, o país é uma das principais jurisdições do Sul Global em termos de número de casos relacionados ao clima. Um dos exemplos mais importantes é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 708, julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que tratou da omissão do governo brasileiro em alocar recursos para o Fundo Clima. Nesse caso, o STF reconheceu que o Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário, é um tratado de direitos humanos, o que elevou a responsabilidade do país em relação às políticas climáticas.

Diante da emergência climática, o Poder Judiciário tem o dever de se adaptar e atuar de maneira proativa na proteção do meio ambiente e das comunidades vulneráveis. A aplicação da ética climática nas decisões judiciais é um passo crucial para garantir que as responsabilidades sejam distribuídas de forma equitativa e que as populações mais afetadas pelos desastres naturais recebam o apoio necessário.

O futuro da Justiça climática depende da capacidade dos tribunais de reconhecer as vulnerabilidades socioambientais e agir de maneira eficaz na mitigação dos impactos das mudanças climáticas. As ações judiciais climáticas, embora ainda incipientes no Brasil, têm o potencial de transformar a forma como o país lida com seus desafios ambientais, promovendo uma Justiça mais inclusiva e sustentável para as gerações presentes e futuras.

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