Oriente Médio: Israel lança ampla ofensiva militar na Cisjordânia

Enquanto as atenções do mundo se voltavam para a Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF) lançaram a maior operação militar na Cisjordânia desde 2002. Pelo menos 11 palestinos foram mortos na incursão terrestre apoiada por bombardeios de drones. Centenas de soldados israelenses e blindados invadiram quatro cidades — Nablus, Jenin, Tulkarem e Tubas — e dois campos de refugiados palestinos. A operação teve a participação do serviço de segurança Shin Bet.

Horas depois do início da incursão, Khaled Mashaal, um dos líderes do movimento extremista islâmico Hamas, exortou a facção a retomar atentados suicidas na Cisjordânia. “Queremos retornar às operações (suicidas). Essa é uma situação que somente pode ser resolvida com conflito aberto. (…) Eu reitero meu apelo para que todos participem, em frentes múltiplas, na atual resistência contra a entidade sionista”, disse Mashaal. Um porta-voz da Jihad Islâmica, facção armada aliada do Hamas, denunciou a tentativa de Israel de “anexar a Cisjordânia”.

De acordo com Israel Katz, ministro das Relações Exteriores israelense, as IDF buscam desmantelar infraestrutura terrorista islâmico-iraniana estabelecida em campos de refugiados de Jenin e Tulkarem. “O Irã trabalha para desestabilizar a Jordânia e estabelecer uma frente de terror oriental contra Israel, seguindo os modelos da Faixa de Gaza e do Líbano, ao financiar, armar terroristas e contrabandear armas avançadas para a Jordânia, a Judeia e a Samaria”, escreveu na rede social X. “Devemos lidar com essa ameaça com todos os meios necessários, inclusive, em alguns casos de combate intenso, permitindo à população a retirada temporária de um bairro para outro.”

Morador de Nablus, o designer gráfico Ahmad Mohamed Amer, 24 anos, contou ao Correio que as forças israelenses realizam incursões em várias áreas da Cisjordânia. No campo de refugiados de Nur Shams, a 39km dali, soldados e membros de facções palestinas travaram combates. “Graças a Deus, as batidas não incluíram o bairro onde eu vivo, mas posso escutar as explosões e o barulho de tiros”, relatou. “A principal arma da resistência são os dispositivos explosivos plantados no chão. Quando uma viatura se aproxima, o artefato é detonado. Por isso, as escavadeiras entram antes e começam a destruir as ruas e partes de casas.”

Segundo Amer, as tropas não diferenciam civis de integrantes de grupos armados. “Os israelenses não se importam”. “As violações dos direitos humanos e das crianças ocorrem diariamente na Cisjordânia. Eu me lembro que, uma vez, um soldado israelense agarrou uma criança de cerca de 13 anos e começou a espancá-la, sem razão. Outra foi levada por uma patrulha. Quando o carro ganhou velocidade, os soldados a lançaram de lá e ela teve graves ferimentos.”

Palestino chora diante de corpo de jovem morto pelas forças israelenses, no necrotério de Tubas

Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, Alon Ben-Meir explicou ao Correio que a incursão em Jenin foi uma resposta a vários ataques de extremistas palestinos. “Infelizmente, o ciclo de violência não irá parar enquanto a ocupação continuar. Isso prosseguirá durante meses, ou anos, a menos que Israel e os palestinos cheguem a um acordo”, previu. Ele criticou a sugestão de Katz de repetir na Cisjordânia a estratégia usada em Gaza. “O que aconteceu em Gaza é uma tragédia para os palestinos. Ambos os lados devem cair em si, sentar-se e encontrar uma solução de uma vez por todas.”

Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, afirmou à reportagem que evidências confirmam a “continuação da guerra sistemática de extermínio contra o povo palestino”. Ele comentou os ataques de colonos judeus em assentamentos ocupados na Cisjordâni. “Os colonos não atuam à margem das decisões do governo israelense, e o fazem de maneira coordenada. A incapacidade das instituições internacionais encorajara a escalada do ciclo de sangue inocente em toda a Palestina. A expansão do ciclo de guerra destrutiva, que não poupará ninguém.” A reportagem entrou em contato com a Embaixada de Israel, mas até o fechamento desta edição não houve pronunciamento sobre a operação na Cisjordânia.

Os Estados Unidos anunciaram novas sanções contra colonos israelenses na Cisjordânia e pediram a Israel que combatesse esses grupos “extremistas”. “A violência dos colonos extremistas na Cisjordânia provoca intenso sofrimento humano, prejudica a segurança de Israel e compromete as perspectivas de paz e estabilidade”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller. Por sua vez, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou ainiciativa. “Israel considera muito grave a imposição de sanções contra cidadãos israelenses. A questão é objeto de discussões intensas com os Estados Unidos.”

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Conheça quem coordena as campanhas eleitorais das quatro chapas à prefeitura de Caxias do Sul | Pioneiro

A corrida eleitoral em Caxias do Sul evidencia os nomes dos quatro concorrentes ao cargo de prefeito e seus respectivos vices. Contudo, atua nos bastidores o personagem que promove a integração da visão de mundo do candidato com o seu público, ou seja, o eleitor.

As propostas de Adiló Didomenico (PSDB), Denise Pessôa (PT), Felipe Gremelmaier (MDB) e Maurício Scalco (PL), as estratégias de comunicação, as costuras das alianças e até o enfoque dos programas eleitorais de rádio e televisão e a sintonia com a campanha de rua, tudo isso, é fruto de um planejamento idealizado e executado por um grupo de pessoas sob a liderança dos coordenadores gerais de cada chapa.

Leia a seguir quem são os quatro coordenadores de companha dos candidatos à prefeitura de Caxias do Sul e quais as diretrizes que cada um deles planeja pôr em prática na condução das mais diversas equipes que trabalham sob a sua orientação.

Grégora Fortuna dos Passos

A coordenadora da campanha de Adiló Didomenico (PSDB) e Edson Néspolo (União Brasil) é Grégora Fortuna dos Passos, 40 anos. Natural de Caxias, é casada e mãe de uma menina. Ela ingressou na política durante o curso de Direito, participando de eleições do Diretório Acadêmico (DA) e Diretório Central de Estudantes da UCS (DCE).

Em 2007, Grégora filiou-se ao Progressistas (PP) e fez estágio na prefeitura de Caxias. Dois anos depois, foi para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Após a fusão de PTB e Patriota, em 2023, que resultou na criação do Partido Renovação Democrática (PRD), filiou-se ao novo partido. Desde o início de sua carreira política ela nunca foi candidata. Na última eleição, em 2020, integrou a equipe de campanha do atual prefeito Adiló. Durante a gestão dele, foi secretária de Governo e Chefe de Gabinete.

A coordenadora explica que ela é a porta-voz de um grupo de cinco pessoas que atua na linha de frente da campanha de Adiló e Néspolo. O grupo orienta as pessoas que vão para as ruas entregar material de campanha, produz os programas de rádio e televisão e coordena a agenda dos candidatos, entre outras ações. Ela diz que a estratégia é explicar as propostas aos eleitores sem atacar os demais candidatos. Grégora entende que Adiló será o candidato mais cobrado porque busca a reeleição, mas a campanha vai revelar informações e dados que, na visão dela, não chegam até a maioria das pessoas.

Roberto Nascimento

A campanha de Denise Pessôa (PT) e Alceu Barbosa Velho (PDT) tem um grupo de 14 pessoas na coordenação, mas o porta-voz da equipe é Roberto Nascimento, 52 anos. Natural de Cruz Alta, ele mora em Caxias do Sul desde 1991. Seis anos após chegar ao município, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT). Nascimento é doutor em História Econômica. É divorciado e tem uma filha.

Há 27 anos militando no PT, Nascimento já trabalhou em diversas campanhas eleitorais para representantes do partido em diversos cargos. Com essa experiência ele acredita ter conhecimento suficiente para auxiliar na campanha de Denise e Alceu à prefeitura. Além disso, já integrou a coordenação da campanha do atual deputado estadual Pepe Vargas, nos anos em que concorreu ao executivo caxiense (em 2008, 2016 e 2020). A tese de doutorado, justifica Nascimento, resultou em importante bagagem para exercer atualmente o cargo de coordenador porque aborda a presença do Estado, obras de infraestrutura e o desempenho econômico de Caxias na primeira metade do século 20.

O grupo de coordenadores, sob orientação de Nascimento, organiza o fluxo de ações no andamento da campanha em diversas áreas de atuação para que elas sejam interligadas e atinjam o objetivo de apresentar as propostas da chapa. Ele destaca ainda que a estratégia da campanha é mostrar que Caxias precisa ser dinâmica e ter capacidade de crescimento no ritmo que as pessoas necessitam.

Carlos Búrigo

O deputado estadual Carlos Búrigo (MDB), 60 anos, é o coordenador da campanha de Felipe Gremelmaier (MDB) e Michel Pillonetto (PSD). Búrigo nasceu em São José dos Ausentes, formou-se em Ciências Contábeis, é casado e pai de dois filhos. Ele foi prefeito de São José dos Ausentes entre 1997 e 2004. Em 2005, atuou como secretário da Fazenda em Caxias do Sul e, em 2020, disputou a prefeitura. No governo do Estado, foi secretário Geral de Governo e de Planejamento no mandato de José Ivo Sartori (MDB). Em 2018, ele foi eleito deputado estadual.

Búrigo é filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) desde 1994. Neste período, ajudou a coordenar a campanha de Sartori para a prefeitura de Caxias (2004) e para governador do Estado (2014). Búrigo diz que sempre trabalhou nos bastidores, articulando coligações, realizando estratégias e elaborando planos de governo.

Búrigo explica que a estratégia desta campanha é propositiva, pois o objetivo é tornar Caxias do Sul uma cidade feliz, assim ele diz ter sido na época de Sartori como prefeito (de 2005 a 2013). O coordenador da campanha de Felipe acredita que é necessário entregar à população os serviços públicos para que as pessoas sintam-se felizes e gostem de morar no município.

Búrigo revela que não se licenciará da Assembleia Legislativa no período da campanha eleitoral municipal.

Marcelo Borella

Marcelo Borella, 49 anos, é o coordenador da campanha de Maurício Salco (PL) e Gladis Frizzo (Progressistas). Borella é advogado em Porto Alegre, de onde é natural, é casado e tem filhos. Já trabalhou por oito anos no Ministério do Turismo e, em 2019, foi diretor de Turismo do Estado. Ele é filiado ao Partido Liberal (PL) há seis meses. Na última eleição para a Câmara dos Deputados, em 2022, auxiliou na campanha que elegeu Luciano Lorenzini Zucco (PL) deputado federal. Essa campanha, diz Borella, ampliou seus limites de atuação, por se tratar de uma eleição federal, que também precisava focar no público gaúcho. O coordenador acredita que essa experiência foi fundamental para embasar a campanha de Scalco e Gladis.

Conforme Borella, o cargo de coordenador está ligado a todas as ações da campanha para que “todos falem a mesma língua”. Atualmente, entre outras funções, ele supervisiona as equipes, idealizando estratégias de marketing, logística, produção e criação de materiais de divulgação. Borella entende que a formação em Direito ajuda a compreender as questões jurídicas envolvidas.

Para Borella, a principal estratégia da campanha de Scalco e Gladis é mostrar a preocupação deles com o futuro da cidade. Na visão do coordenador, nem Borella e nem Scalco precisam da política para viver, por isso, podem fazer uma campanha propositiva pensando no legado que deixarão aos filhos e netos.

Pacote do gás tenta resolver preço alto do produto com medidas de intervenção que vão da extração até o consumidor

Em busca de solução para o preço do gás natural no Brasil, um problema apontado como crônico por diferentes governos e pela indústria, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva lançou ontem uma série de medidas que se aproximam de interferência direta no setor. As ações impactam diretamente atividades que vão dos campos de exploração até a venda direta do produto.

Além disso, o Executivo decidiu ampliar e reformular o programa de “vale-gás”, voltado para subsidiar o GLP a famílias de baixa renda, a partir do ano que vem.

As medidas foram assinadas por Lula em reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) — órgão encabeçado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Indústrias consumidoras do produto comemoraram, antevendo um aumento da oferta do insumo, o que significaria preço menor.

Críticos, no entanto, afirmam que as medidas podem ser questionadas como intervenção no mercado, sobretudo caso interfiram em contratos já vigentes. O tema afeta não só a Petrobras, mas também grandes multinacionais que atuam no segmento no Brasil, como Shell, BP, Galp e Equinor.

Um dos decretos amplia os poderes da Agência Nacional do Petróleo (ANP) sobre o setor. Permite regular as tarifas de escoamento e tratamento de gás, que hoje são negociadas entre empresas. O escoamento e processamento ocorrem do campo à costa. Depois que o gás é tratado, há etapas de transporte e distribuição.

A agência terá poder para determinar a redução da reinjeção de gás nos poços para os novos projetos e estimular que nos antigos, com contrato assinado, as petroleiras topem aderir à medida. Na reinjeção, o gás extraído dos campos de petróleo é injetado novamente nos poços.

Isso é feito, por exemplo, para melhorar a extração de petróleo, por falta de infraestrutura e alto teor de carbono. O governo vê no processo um desperdício de gás, que poderia ser aproveitado.

A ANP poderá determinar o aumento da produção de gás natural e a ampliação das infraestruturas de escoamento e tratamento do produto.

Em outra frente, Lula assinou resolução que permite usar a estatal Pré-Sal Petróleo (PPSA) como um braço para comercializar gás natural. A PPSA poderá comercializar gás natural, gás de cozinha (GLP) e líquidos derivados do processamento do gás. Assim, poderá concorrer diretamente com a Petrobras na comercialização do gás ao mercado. A ideia é ajudar a baixar o preço.

Redução de ao menos 35%

A PPSA é a estatal que gerencia os contratos de produção no pré-sal. É ela que fica com o óleo e o gás que cabe à União nas reservas de pré-sal. A partir da resolução, ela poderá acessar os sistemas de processamento e o escoamento do gás produzido nos campos, que são localizados no mar, e comercializá-lo.

Hoje, a empresa não tem autorização para vender gás natural após as unidades de processamento, conhecidas no setor como UGPN, e é obrigada a vender a fatia do gás que cabe à União na plataforma.

— Estamos equilibrando o mercado nacional do gás, oferecendo aumento da disponibilidade e moderação nos preços ao consumidor final. O governo federal e o povo brasileiro serão beneficiados com a implantação dessa política — disse Silveira.

Diferentes segmentos da indústria consumidora de gás, que estiveram na plateia, apoiaram a iniciativa, com a perspectiva de que possam ter acesso ao gás a preços mais baixos. O governo fala em reduzir de 35% a 40% o preço do gás.

— É mais racional usar a PPSA do que a Petrobras. Hoje o preço de mercado é definido só pela Petrobras. É um embrião de um mercado com leilões a longo prazo de gás — disse Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, associação de grandes consumidores de energia.

O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos Cordeiro, estima uma redução de até 50% no preço. O segmento é o maior consumidor do produto.

—Não é possível ter uma diferença de 400% em relação aos preços de referência internacionais — diz Passos Cordeiro, que acredita que o custo do gás natural no país, que gira em torno de US$ 10 a US$ 12 o milhão de BTUs atualmente, pode cair para US$ 6 a US$ 7.

Um segundo decreto fecha as portas para a possibilidade de privatização no setor de refino, o que já não estava em curso no governo Lula. E um projeto de lei permite a transferência de excedentes dos índices de conteúdo local entre contratos vigentes de exploração e produção: se em um contrato uma petroleira obtém índice de conteúdo nacional na compra de equipamentos superior ao necessário, pode transferir o excedente a outro contrato de exploração.

Por exemplo: se o contrato prevê 35% de conteúdo local e a empresa teve 40%, poderia levar a parcela adicional a outra operação na qual esteja abaixo do mínimo.

Karina Santos, advogada da área de Sustentabilidade Corporativa do Gaia Silva Gaede Advogados, lembra que a Petrobras é uma empresa de economia mista, em que a maioria das ações pertence à União, mas também tem dinheiro privado, com ações na Bolsa. As decisões passam por níveis de governança. No caso da PPSA, 100% de seu capital é público.

— Via PPSA, o governo vai atuar de maneira mais direta no mercado de gás. Ou seja, haverá maior interferência governamental em relação às atividades de escoamento e tratamento do gás — avalia, acrescentando que considera a ação uma interferência do governo no mercado. — Foi o que aconteceu com a MP 579 no setor elétrico. O governo manipulou as regras para baixar momentaneamente o valor da energia. E estamos vendo isso no gás. Ou seja, o gás pode ser barateado no primeiro momento, mas vamos pagar a conta mais tarde.

Para Rodrigo Figueiredo, especializado em Direito do Estado e sócio do escritório RVF Advogados, o pacote do governo muda a gestão estratégica do escoamento e produção do gás natural no país, ao incluir a PPSA em áreas dominadas pela Petrobras:

— Isso pode trazer uma vantagem ao consumidor, instaurando certa concorrência, tendendo a baratear os preços. Mas há uma diferença qualitativa entre a ingerência que PPSA e Petrobras podem sofrer a partir do controlador.

Em outra frente, o pacote permite ampliar o vale-gás com recursos do Fundo Social do Pré-Sal. O aumento do número de beneficiários ocorrerá a partir do ano que vem e chegará ao auge em 2026.

R$ 2 tri na economia verde

Durante a reunião do CNPE ontem, foi aprovada a criação da Política Nacional de Transição Energética. O Ministério de Minas e Energia diz que o o país pode receber cerca de R$ 2 trilhões em investimentos verdes em dez anos.

O secretário de Transição Energética, Thiago Barral, explicou que a iniciativa inclui um fórum permanente entre atores públicos e privados para tomada de decisões e um plano vinculado a outras áreas do governo.

— Esse país já jogou fora muitas oportunidades. A gente não pode jogar oportunidades fora. Temos tudo o que a natureza nos ofereceu. Temos mão de obra qualificada, gente capacitada tecnicamente. No setor energético, a gente tem centenas de excelências nesse país. A gente pode fazer o que quiser — disse Lula.

Governo federal estuda medidas para tentar baratear gás natural

Nesta segunda-feira (dia 26), o governo federal deve anunciar uma série de medidas para reduzir os preços do gás natural no Brasil, melhorando as condições de competição. Segundo técnicos, a ideia é que o custo de infraestrutura e escoamento do produto caia dos atuais US$ 9 por milhão de BTU para até US$ 2 por milhão de BTU.

Interlocutores do mercado apostam em uma queda que pode chegar a 40% no preço do gás. As ações, que preveem mudanças nas regras do setor, serão discutidas em reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

Concorrência

Entre as medidas que poderão ser adotadas, antecipadas no último sábado pelo jornal Valor Econômico, uma é permitir que a estatal Pré-Sal Petróleo (PPSA) possa concorrer com a Petrobras na comercialização, escoamento e processamento de gás no país. Com isso, o governo federal poderá vender o produto diretamente no mercado, sem depender da Petrobras.

Esse caminho é bem visto pela Abrace, associação dos grandes consumidores de combustíveis. Segundo a entidade, a medida é positiva porque atende, em parte, o que definiu a lei do gás, que prometia uma abertura de mercado. Além disso, trará mais transparência ao setor.

Preço-teto em discussão

Outra medida em discussão permitirá que Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP) tenha um preço-teto pelo uso dos gasodutos que levam o gás do alto-mar até a costa brasileira. A ANP fará as contas com base nos custos e nos investimentos amortizados pelos gasodutos.

Também está prevista a criação do Comitê de Monitoramento do Setor de Gás Natural (CMSGN), que vai operar de maneira similar ao CMSE. O decreto em elaboração com as novas regras criará uma consulta pública para propor a harmonização entre a legislação federal e as regras estaduais na atividade de distribuição de gás natural, que está a cargo dos governadores.

Há ainda, no radar, medidas em estudo para a diminuição da reinjeção de gás nos poços de petróleo explorado em alto mar. Hoje, com o gás reinjetado, as petrolíferas conseguem retirar petróleo com mais facilidade, por causa do aumento da pressão no campo, mas o nível de desperdício de gás é alto.

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O papel crucial de Rússia e China na sobrevivência de Maduro na Venezuela

Sob o governo de Nicolás Maduro, a Venezuela estreitou seus laços com importantes aliados internacionais, principalmente a Rússia e a China.

Maduro, que está no poder há 11 anos e, recentemente, foi declarado reeleito em uma eleição contestada pela oposição e por grande parte da comunidade internacional, também recebeu apoio de países como Cuba, Turquia e Irã.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, essas alianças — forjadas ainda durante o governo de Hugo Chávez (1954-2013), antecessor e mentor político de Maduro — forneceram suporte econômico, militar e diplomático crucial, ajudando a sustentar o regime, apesar das significativas pressões internas e externas, incluindo sanções impostas pelos Estados Unidos.

“Maduro, embora esteja isolado da comunidade internacional, especialmente do Ocidente, conta com aliados importantes como Rússia, China e Irã, com os quais mantém uma relação duradoura”, afirma à BBC News Brasil Nicolas Forsans, codiretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos (CLACS) da Universidade de Essex, no Reino Unido.

“Esses aliados ajudam a atenuar os efeitos das sanções dos Estados Unidos e proporcionam uma salvação econômica para o regime de Maduro.”

Não por acaso, esses países foram os primeiros a parabenizar Maduro por sua vitória.

O presidente russo, Vladimir Putin, por exemplo, destacou a importância da “parceria estratégica” entre os dois países e afirmou que Maduro sempre será “um convidado bem-vindo em solo russo.”

Mas como essa rede de alianças forneceu a Maduro as ferramentas necessárias para enfrentar crises domésticas e pressões internacionais?

China e Rússia são as principais aliadas da Venezuela e seu apoio contrabalanceou sanções dos EUA

“O regime de Maduro não estaria no poder hoje sem o apoio de seus cinco principais aliados: Rússia, China, Cuba, Irã e Turquia. Esses países oferecem diferentes formas de apoio financeiro, diplomático e de inteligência ao regime venezuelano”, argumentam Moisés Rendon e Claudia Fernandez, em um artigo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, nos EUA, destacando o protagonismo de Rússia e China.

Alguns desses países têm laços com a Venezuela desde os primeiros anos da presidência de Hugo Chávez, enquanto outros surgiram como uma salvação econômica em meio à crescente pressão internacional.

Cada um desses países tem motivações financeiras e geopolíticas distintas para apoiar o regime de Maduro. Mas especialistas apontam que Rússia e China, com seu poderio militar e econômico, além de influência global, cumprem um papel fundamental na sobrevivência política do líder venezuelano.

Principais aliados

Enquanto a Rússia oferece apoio financeiro e militar significativo à Venezuela, a China atua como o principal credor do país e seu maior comprador de petróleo, utilizando intermediários para evitar as sanções dos EUA, de acordo com especialistas.

Forsans, da Universidade de Essex, afirma que “Maduro tem dependido de ambos os países (China e Rússia) para sobreviver”.

Ele diz que, “além de uma ideologia compartilhada e do desejo comum de desafiar a supremacia dos EUA, Rússia e China estão interessadas em proteger seus investimentos, garantir acesso privilegiado ao petróleo e aos minerais abundantes da Venezuela, e assegurar que as dívidas acumuladas sejam pagas”.

No entanto, o apoio da Rússia e da China apresenta características distintas, como ressalta Forsans. Ele diz que o apoio russo é “parcialmente ideológico e motivado pelo comércio”.

“Rússia e Venezuela compartilham o interesse de contrabalançar e enfraquecer o poder dos EUA. Empresas petrolíferas russas estão envolvidas em grandes projetos de exploração de petróleo e minerais na Venezuela, e o país se tornou o principal comprador de armas russas e bens essenciais necessários após o colapso econômico e as sanções dos EUA”, afirma.

O especialista acrescenta que “a Rússia investiu significativamente na Venezuela desde o governo Chávez. Essa parceria permite à Rússia beneficiar-se do petróleo venezuelano barato e estabelecer uma presença no ‘quintal’ dos EUA. Além disso, a Rússia é um credor importante do regime, tendo concedido bilhões em empréstimos durante o governo Chávez.”

Vladimir Rouvinski, diretor do Laboratório de Política e Relações Internacionais (PoInt) e professor associado do Departamento de Estudos Políticos da Universidade Icesi em Cali, na Colômbia, lembra que, após Chávez assumir o poder em 1999, as relações da Venezuela com Washington se deterioraram rapidamente, levando a liderança chavista a buscar “alianças políticas além do Hemisfério Ocidental, especialmente com nações que se opunham à ordem mundial liberal estabelecida”.

“A Venezuela encontrou um parceiro disposto na Rússia pós-soviética”, diz. “Naquela época, Moscou já tinha experiência em apoiar líderes latino-americanos que haviam entrado em conflito com Washington, como seu apoio ao presidente colombiano Ernesto Samper no final dos anos 1990.”

Rouvinski ressalta, porém, que “a lealdade de Moscou a Maduro não se baseia em uma devoção inabalável, mas sim em uma aliança nascida de interesses mútuos sob certas configurações políticas, o que significa que, se essas configurações mudarem, a influência russa desapareceria rapidamente.”

Quanto à China, Forsans observa que seu apoio a Maduro se baseia em dois motivos principais: “Primeiro, garantir o pagamento da dívida. Segundo, a China precisa de petróleo e minerais, e a Venezuela possui ambos.”

“A China está interessada em garantir o acesso a esses recursos e acredita que isso é mais fácil com o regime atual do que com um governo apoiado pelos EUA”, diz Forsans.

Ele relembra que, em crises políticas anteriores da Venezuela, em 2015 e 2019, a resposta da China não foi “ideologicamente motivada”.

Em vez disso, Pequim argumentou que o problema deveria ser resolvido pelos venezuelanos, não por potências estrangeiras, acrescenta.

“A postura da China parece ser movida apenas por seus interesses comerciais e financeiros, que ela acredita estarem mais protegidos com o status quo”, conclui Forsans.

Apoio econômico

Estatal russa Rosneft investiu significativamente nos campos petrolíferos venezuelanos e forneceu crédito para equipamentos militares

Rússia e China têm oferecido apoio econômico essencial para a Venezuela.

Por muitos anos, a Rosneft — estatal russa de petróleo e uma das maiores empresas energéticas do mundo — realizou investimentos significativos nos campos petrolíferos da Venezuela e forneceu crédito para a compra de equipamentos militares.

Considerada por muitos especialistas como o braço político do Kremlin na Venezuela, a Rosneft estabeleceu joint ventures com a PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo, expandindo significativamente seu portfólio de reservas comprovadas, já que a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo cru do mundo.

Além disso, a Rosneft tornou-se a principal fonte de financiamento do regime de Maduro, adiantando pagamentos à PDVSA por petróleo bruto e produtos refinados, de acordo com dados da plataforma financeira Refinitiv Eikon e fontes do setor.

Em 2014, quando o governo de Maduro enfrentou uma grave escassez de moeda estrangeira devido à recessão econômica, a Rosneft concedeu à PDVSA US$ 6,5 bilhões (R$ 36 bilhões, em valores atuais) em empréstimos e adiantamentos.

Em dezembro de 2016, a Rosneft forneceu um empréstimo adicional de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bilhões), garantido por 49,9% da Citgo Holdings, a refinaria da PDVSA nos Estados Unidos.

No entanto, em março de 2020, a Rosneft anunciou surpreendentemente a venda de seus ativos na Venezuela para a Roszarubezhneft, uma empresa controlada pelo governo russo.

A decisão foi motivada pela pressão dos acionistas BP e Catar, que viram suas ações afetadas após o anúncio das sanções americanas à estatal devido às suas operações na Venezuela.

“Embora a Rosneft tenha vendido seus ativos, a Rússia ainda mantém a posse do que antes estava sob controle da Rosneft. Outras empresas russas também estão ativas na Venezuela, potencialmente fornecendo recursos adicionais, reativando investimentos em petróleo e gás e continuando o comércio de recursos naturais”, diz Rouvinski, da Universidade Icesi.

“Além disso, a Rússia ajuda a continuar o comércio de petróleo produzido na Venezuela e a entrada de dinheiro no país.”

Moscou e Caracas se aproximaram ainda mais após a Rússia ser alvo de sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia.

Em uma entrevista em 2023, o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, destacou a importância da colaboração entre os dois países diante das “tentativas ocidentais de usar a demanda por recursos energéticos como uma ferramenta de pressão política”.

“Nossa abordagem de solidariedade é crucial para garantir um equilíbrio saudável entre oferta e demanda no mercado de petróleo, manter a atratividade do investimento na indústria e combater o sentimento especulativo”, acrescentou Novak.

A China também concedeu bilhões em empréstimos à Venezuela, principalmente mediante acordos garantidos por petróleo, desde o início dos anos 2000.

Esses acordos permitiram que a Venezuela quitasse sua dívida com remessas de petróleo, garantindo os recursos necessários durante crises econômicas.

Segundo analistas, esse apoio foi fundamental para Maduro, especialmente em um período em que a economia venezuelana encolheu quase 80% na última década.

Dados do Diálogo Interamericano e do Centro de Políticas de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, mostram que a Venezuela é o principal destinatário latino-americano de empréstimos chineses para desenvolvimento, recebendo US$ 59,2 bilhões (R$ 330 bilhões), quase o dobro do valor destinado ao Brasil, que vem em segundo lugar, por exemplo.

A situação é diferente no caso do Investimento Estrangeiro Direto (IED) da China na Venezuela, que tem diminuído, ao contrário da tendência global.

O IED refere-se ao capital destinado à criação ou aquisição de operações em outros países, incluindo fusões, construção de novas instalações, reinvestimento de lucros e empréstimos entre empresas do mesmo grupo.

Apesar disso, a relação bilateral entre China e Venezuela foi elevada a uma “parceria estratégica para todas as condições climáticas”, segundo comunicado divulgado pelo governo chinês, em setembro passado, quando Maduro visitou Pequim pela primeira vez em cinco anos.

Na visita anterior, em 2018, a Venezuela havia aderido oficialmente à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), também conhecida como a “Nova Rota da Seda”, o projeto diplomático de Xi Jinping para construção de infraestrutura.

Ao final do encontro, o governo chinês saudou a intenção da Venezuela de aderir aos Brics, grupo de países emergentes voltado para a cooperação econômica e o desenvolvimento conjunto, e expressou apoio para alcançar esse objetivo.

Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco anunciou a adesão de seis países em agosto de 2023, incluindo Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Em 1º de janeiro deste ano, quatro deles — Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos — foram admitidos como membros plenos. O presidente argentino, Javier Milei, rejeitou a entrada da Argentina, enquanto a Arábia Saudita ainda considera sua adesão.

Apoio militar e estratégico

A cooperação militar com a Rússia tem sido fundamental para a estratégia de Maduro em manter o controle do regime, segundo especialistas.

A Rússia forneceu equipamentos militares avançados à Venezuela, como caças, tanques e sistemas de defesa aérea.

Em 2019, Moscou enviou conselheiros militares e tropas para a Venezuela.

Segundo especialistas, essa presença destacou o compromisso da Rússia em defender seu aliado contra possíveis intervenções externas.

Naquele ano, durante a crise política que levou à autoproclamação de Juan Guaidó, líder da oposição e presidente da Assembleia Nacional, como presidente interino com apoio dos EUA, o então presidente americano, Donald Trump, reiterou que “todas as opções estavam na mesa”, sugerindo a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela, uma ideia que já havia levantado em 2017.

Na ocasião, Trump afirmou que a Venezuela, sendo “vizinha” dos EUA, poderia ser alvo de uma intervenção militar para resolver a crise no país, onde meses de protestos contra Nicolás Maduro causaram distúrbios violentos e deixaram mais de 100 mortos.

“Temos tropas em lugares distantes, mas a Venezuela está próxima, e as pessoas estão sofrendo e morrendo”, disse Trump em 2017.

Em resposta, o ministro da Defesa da Venezuela, general Vladimir Padrino López, classificou a ameaça de Trump como “um ato de loucura e extremismo”, acusando uma elite extremista de governar os EUA.

Rouvinski, da Universidade Icesi, diz que “a Marinha russa já está presente na Venezuela, e Moscou não hesitaria em fornecer apoio militar adicional a Maduro, se necessário, potencialmente através do Wagner ou outros grupos paramilitares, para ajudá-lo a lidar com forças de oposição”.

Durante os protestos após a eleição de 28 de julho, surgiram vídeos nas redes sociais mostrando um homem com roupa de camuflagem ostentando um emblema do Grupo Wagner, um grupo paramilitar russo, ao lado de policiais venezuelanos em Caracas.

Essas imagens geraram preocupação entre a oposição e observadores internacionais sobre a presença do grupo na Venezuela, embora a BBC não tenha conseguido verificar essas informações de forma independente.

Há relatos não verificados de que combatentes do grupo Wagner teriam sido vistos durante protestos anti-Maduro após eleições contestadas

A China também contribuiu para ampliar as capacidades militares da Venezuela, embora em menor escala.

Tecnologias e treinamentos chineses foram incorporados às Forças Armadas venezuelanas, melhorando sua capacidade operacional, segundo especialistas.

Além disso, tecnologias chinesas de vigilância e cibersegurança foram usadas pelo governo venezuelano para monitorar e controlar a dissidência interna, consolidando ainda mais o poder de Maduro, acrescentam eles.

Apoio diplomático

No cenário diplomático, Rússia e China têm protegido consistentemente a Venezuela do isolamento internacional.

Ambos os países vetaram resoluções apoiadas pelos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU) que visavam pressionar Maduro a renunciar.

Em 2019, o Conselho de Segurança da ONU votou duas resoluções sobre a Venezuela, mas nenhuma foi aprovada devido a divergências entre EUA, Rússia e China.

Nove dos 15 membros, incluindo Alemanha, França e Reino Unido, apoiaram o rascunho dos EUA pedindo uma “restauração pacífica da democracia” e eleições. No entanto, Rússia e China vetaram a proposta. O enviado russo Vassily Nebenzia afirmou que o texto visava a mudança de regime, disfarçado de preocupação humanitária.

Naquele mesmo ano, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou: “Faremos tudo para apoiar o governo legítimo da Venezuela”.

A China manifestou apoio semelhante.

Em 2019, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, destacou: “A interferência externa e as sanções unilaterais só complicarão a situação e não ajudarão a resolver os problemas reais.”

Apoio de outros aliados

Cuba tem sido um aliado próximo da Venezuela, oferecendo assistência em segurança e inteligência, dizem especialistas

Além de Rússia e China, a Venezuela estabeleceu relações com outras nações que ofereceram diferentes formas de apoio, destacam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Cuba, por exemplo, tem sido considerada um aliado próximo, fornecendo assistência em segurança e inteligência, em troca de petróleo venezuelano.

Agentes cubanos desempenham papéis importantes no aparato de inteligência da Venezuela, ajudando a identificar e neutralizar ameaças da oposição, além de “prevenir deserções e conspirações” dentro das Forças Armadas venezuelanas, diz à BBC News Brasil Will Freeman, especialista em estudos latino-americanos no Council on Foreign Relations (CFR), centro de estudos baseado nos Estados Unidos.

A Turquia também se destacou como um parceiro significativo, especialmente em transações econômicas.

Em 2018, a Turquia concordou em refinar ouro venezuelano, contornando sanções dos Estados Unidos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, expressou apoio enfático a Maduro, criticando as políticas que considera intervencionistas dos Estados Unidos.

Naquele ano, Erdogan afirmou que a Venezuela foi injustamente alvo de sanções econômicas e disse que “não aprova essas medidas que ignoram as regras do comércio global”.

Ele defendeu seu “amigo” Maduro, dizendo que o líder venezuelano enfrenta “ataques manipulativos de certos países e sabotagem por parte de assassinos econômicos.”

O Irã, que também é alvo de sanções dos Estados Unidos, também prestou assistência crucial.

Em 2020, Teerã enviou vários navios-tanque de gasolina para a Venezuela, aliviando a severa escassez de combustível do momento.

Apesar de a Venezuela ter a maior reserva comprovada de petróleo cru do mundo, sua indústria necessita de importação de químicos e peças de reposição produzidos pelos Estados Unidos.

Futuro das relações

Com o aumento dos protestos e a crescente pressão internacional, especialistas dizem que o futuro de Maduro é incerto.

No entanto, de acordo com Freeman, do CFR, o líder venezuelano “pode se tornar ainda mais dependente de suas conexões com Turquia, Rússia e China”, conforme os próximos acontecimentos.

“Maduro pode acabar se vinculando ainda mais a esses Estados-párias, caso seja amplamente repudiado na América Latina”, afirma Freeman.

Ele ressalta que este é um “momento decisivo” e que muito dependerá de como “Brasil, Colômbia e México liderarão o restante da América Latina”.

Forsans, da Universidade de Essex, diz que “não haverá mudança de posição dos aliados quanto à Venezuela”.

“Rússia, China e Irã foram os primeiros a parabenizar Maduro, então não mudarão de posição e nunca apoiarão o Ocidente”, diz.

Rouvinski, da Universidade Icesi, considera que, dada a crescente ruptura de Putin com os Estados Unidos e o Ocidente, “sua aliança com Maduro se tornou mais valiosa do que nunca”.

Na avaliação dele, “os interesses russos na Venezuela servem como um sinal estratégico de apoio aos aliados que se opõem às políticas dos EUA, oferecendo ‘reciprocidade simbólica’ em resposta às ações ocidentais na Ucrânia e na região pós-soviética mais ampla”.

Rouvinski acrescenta que, se a oposição derrubar Maduro, “isso enfraqueceria o valor do apoio russo a regimes iliberais, forçando Putin a reconstruir sua reputação como aliado confiável”.

Por outro lado, “se Moscou conseguir manter Maduro no poder, isso fortaleceria sua influência entre regimes autoritários globalmente”, acrescenta.

Como resultado, diz Rouvinski, “Moscou pode intensificar seus esforços para proteger Maduro, usando recursos políticos, econômicos e militares, apesar de seu envolvimento na guerra na Ucrânia”.

Apesar disso, o especialista descreve a Venezuela como “uma mala sem alça para a Rússia”, destacando que a relação com Moscou é “desequilibrada”.

“Maduro acredita que pode obter mais benefícios da Rússia, como créditos, apoio financeiro e político, do que pode oferecer em troca. Se as circunstâncias mudarem, a Venezuela provavelmente priorizaria negociações com empresas ocidentais e a China, que têm mais recursos que a Rússia”.

Mas Freeman, do CFR, diz que Pequim está ciente dos riscos de apoiar Maduro.

Em um relatório de investimento recente do governo chinês, Liu Dajiang, então conselheiro econômico e comercial da embaixada da China em Caracas e agora diretor-adjunto no departamento de comércio de Pequim, afirma que espera que as empresas chinesas “façam novas contribuições para o desenvolvimento da parceria estratégica abrangente de todos os climas” entre os países.

Contudo, Liu também recomenda realizar uma “pesquisa e investigações profundas” sobre as condições políticas, macroeconômicas e setoriais da Venezuela antes de tomar decisões de investimento.

O alto funcionário chinês destaca que a Venezuela é considerada um país com riscos comerciais relativamente altos, e que as sanções dos Estados Unidos podem “criar vários obstáculos” para as empresas chinesas que queiram fazer negócios lá.

E acrescenta: “Atualmente, as empresas chinesas que realizam negócios na Venezuela enfrentam uma situação na qual os parceiros venezuelanos são incapazes de quitar suas dívidas a tempo”.

A IEIT Systems, uma fabricante de servidores e outros produtos de TI listada na bolsa de valores de Shenzhen, na China, relatou que possui uma dívida não recebida de 294,91 milhões de yuan (US$ 40,7 milhões ou R$ 230 milhões) da VIT, uma joint venture entre seu acionista controlador, Inspur, e uma empresa estatal venezuelana.

Essa dívida total tem sido considerada “irrecuperável” desde 2016, segundo relatórios anuais anteriores, pois “não se espera recuperar [o recebível] devido ao impacto dos riscos cambiais na Venezuela”.

Apesar desse cenário, “com Maduro no poder por mais um mandato, China e Rússia podem aprofundar sua relação comercial”, diz Forsans. “Uma mudança de regime é um salto no desconhecido.”

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O papel crucial de Rússia e China na sobrevivência de Maduro na Venezuela

Sob o governo de Nicolás Maduro, a Venezuela estreitou seus laços com importantes aliados internacionais, principalmente a Rússia e a China.

Maduro, que está no poder há 11 anos e, recentemente, foi declarado reeleito em uma eleição contestada pela oposição e por grande parte da comunidade internacional, também recebeu apoio de países como Cuba, Turquia e Irã.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, essas alianças — forjadas ainda durante o governo de Hugo Chávez (1954-2013), antecessor e mentor político de Maduro — forneceram suporte econômico, militar e diplomático crucial, ajudando a sustentar o regime, apesar das significativas pressões internas e externas, incluindo sanções impostas pelos Estados Unidos.

“Maduro, embora esteja isolado da comunidade internacional, especialmente do Ocidente, conta com aliados importantes como Rússia, China e Irã, com os quais mantém uma relação duradoura”, afirma à BBC News Brasil Nicolas Forsans, codiretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos (CLACS) da Universidade de Essex, no Reino Unido.

“Esses aliados ajudam a atenuar os efeitos das sanções dos Estados Unidos e proporcionam uma salvação econômica para o regime de Maduro.”

Não por acaso, esses países foram os primeiros a parabenizar Maduro por sua vitória.

O presidente russo, Vladimir Putin, por exemplo, destacou a importância da “parceria estratégica” entre os dois países e afirmou que Maduro sempre será “um convidado bem-vindo em solo russo.”

Mas como essa rede de alianças forneceu a Maduro as ferramentas necessárias para enfrentar crises domésticas e pressões internacionais?

China e Rússia são as principais aliadas da Venezuela e seu apoio contrabalanceou sanções dos EUA

“O regime de Maduro não estaria no poder hoje sem o apoio de seus cinco principais aliados: Rússia, China, Cuba, Irã e Turquia. Esses países oferecem diferentes formas de apoio financeiro, diplomático e de inteligência ao regime venezuelano”, argumentam Moisés Rendon e Claudia Fernandez, em um artigo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, nos EUA, destacando o protagonismo de Rússia e China.

Alguns desses países têm laços com a Venezuela desde os primeiros anos da presidência de Hugo Chávez, enquanto outros surgiram como uma salvação econômica em meio à crescente pressão internacional.

Cada um desses países tem motivações financeiras e geopolíticas distintas para apoiar o regime de Maduro. Mas especialistas apontam que Rússia e China, com seu poderio militar e econômico, além de influência global, cumprem um papel fundamental na sobrevivência política do líder venezuelano.

Principais aliados

Enquanto a Rússia oferece apoio financeiro e militar significativo à Venezuela, a China atua como o principal credor do país e seu maior comprador de petróleo, utilizando intermediários para evitar as sanções dos EUA, de acordo com especialistas.

Forsans, da Universidade de Essex, afirma que “Maduro tem dependido de ambos os países (China e Rússia) para sobreviver”.

Ele diz que, “além de uma ideologia compartilhada e do desejo comum de desafiar a supremacia dos EUA, Rússia e China estão interessadas em proteger seus investimentos, garantir acesso privilegiado ao petróleo e aos minerais abundantes da Venezuela, e assegurar que as dívidas acumuladas sejam pagas”.

No entanto, o apoio da Rússia e da China apresenta características distintas, como ressalta Forsans. Ele diz que o apoio russo é “parcialmente ideológico e motivado pelo comércio”.

“Rússia e Venezuela compartilham o interesse de contrabalançar e enfraquecer o poder dos EUA. Empresas petrolíferas russas estão envolvidas em grandes projetos de exploração de petróleo e minerais na Venezuela, e o país se tornou o principal comprador de armas russas e bens essenciais necessários após o colapso econômico e as sanções dos EUA”, afirma.

O especialista acrescenta que “a Rússia investiu significativamente na Venezuela desde o governo Chávez. Essa parceria permite à Rússia beneficiar-se do petróleo venezuelano barato e estabelecer uma presença no ‘quintal’ dos EUA. Além disso, a Rússia é um credor importante do regime, tendo concedido bilhões em empréstimos durante o governo Chávez.”

Vladimir Rouvinski, diretor do Laboratório de Política e Relações Internacionais (PoInt) e professor associado do Departamento de Estudos Políticos da Universidade Icesi em Cali, na Colômbia, lembra que, após Chávez assumir o poder em 1999, as relações da Venezuela com Washington se deterioraram rapidamente, levando a liderança chavista a buscar “alianças políticas além do Hemisfério Ocidental, especialmente com nações que se opunham à ordem mundial liberal estabelecida”.

“A Venezuela encontrou um parceiro disposto na Rússia pós-soviética”, diz. “Naquela época, Moscou já tinha experiência em apoiar líderes latino-americanos que haviam entrado em conflito com Washington, como seu apoio ao presidente colombiano Ernesto Samper no final dos anos 1990.”

Rouvinski ressalta, porém, que “a lealdade de Moscou a Maduro não se baseia em uma devoção inabalável, mas sim em uma aliança nascida de interesses mútuos sob certas configurações políticas, o que significa que, se essas configurações mudarem, a influência russa desapareceria rapidamente.”

Quanto à China, Forsans observa que seu apoio a Maduro se baseia em dois motivos principais: “Primeiro, garantir o pagamento da dívida. Segundo, a China precisa de petróleo e minerais, e a Venezuela possui ambos.”

“A China está interessada em garantir o acesso a esses recursos e acredita que isso é mais fácil com o regime atual do que com um governo apoiado pelos EUA”, diz Forsans.

Ele relembra que, em crises políticas anteriores da Venezuela, em 2015 e 2019, a resposta da China não foi “ideologicamente motivada”.

Em vez disso, Pequim argumentou que o problema deveria ser resolvido pelos venezuelanos, não por potências estrangeiras, acrescenta.

“A postura da China parece ser movida apenas por seus interesses comerciais e financeiros, que ela acredita estarem mais protegidos com o status quo”, conclui Forsans.

Apoio econômico

Estatal russa Rosneft investiu significativamente nos campos petrolíferos venezuelanos e forneceu crédito para equipamentos militares

Rússia e China têm oferecido apoio econômico essencial para a Venezuela.

Por muitos anos, a Rosneft — estatal russa de petróleo e uma das maiores empresas energéticas do mundo — realizou investimentos significativos nos campos petrolíferos da Venezuela e forneceu crédito para a compra de equipamentos militares.

Considerada por muitos especialistas como o braço político do Kremlin na Venezuela, a Rosneft estabeleceu joint ventures com a PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo, expandindo significativamente seu portfólio de reservas comprovadas, já que a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo cru do mundo.

Além disso, a Rosneft tornou-se a principal fonte de financiamento do regime de Maduro, adiantando pagamentos à PDVSA por petróleo bruto e produtos refinados, de acordo com dados da plataforma financeira Refinitiv Eikon e fontes do setor.

Em 2014, quando o governo de Maduro enfrentou uma grave escassez de moeda estrangeira devido à recessão econômica, a Rosneft concedeu à PDVSA US$ 6,5 bilhões (R$ 36 bilhões, em valores atuais) em empréstimos e adiantamentos.

Em dezembro de 2016, a Rosneft forneceu um empréstimo adicional de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bilhões), garantido por 49,9% da Citgo Holdings, a refinaria da PDVSA nos Estados Unidos.

No entanto, em março de 2020, a Rosneft anunciou surpreendentemente a venda de seus ativos na Venezuela para a Roszarubezhneft, uma empresa controlada pelo governo russo.

A decisão foi motivada pela pressão dos acionistas BP e Catar, que viram suas ações afetadas após o anúncio das sanções americanas à estatal devido às suas operações na Venezuela.

“Embora a Rosneft tenha vendido seus ativos, a Rússia ainda mantém a posse do que antes estava sob controle da Rosneft. Outras empresas russas também estão ativas na Venezuela, potencialmente fornecendo recursos adicionais, reativando investimentos em petróleo e gás e continuando o comércio de recursos naturais”, diz Rouvinski, da Universidade Icesi.

“Além disso, a Rússia ajuda a continuar o comércio de petróleo produzido na Venezuela e a entrada de dinheiro no país.”

Moscou e Caracas se aproximaram ainda mais após a Rússia ser alvo de sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia.

Em uma entrevista em 2023, o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, destacou a importância da colaboração entre os dois países diante das “tentativas ocidentais de usar a demanda por recursos energéticos como uma ferramenta de pressão política”.

“Nossa abordagem de solidariedade é crucial para garantir um equilíbrio saudável entre oferta e demanda no mercado de petróleo, manter a atratividade do investimento na indústria e combater o sentimento especulativo”, acrescentou Novak.

A China também concedeu bilhões em empréstimos à Venezuela, principalmente mediante acordos garantidos por petróleo, desde o início dos anos 2000.

Esses acordos permitiram que a Venezuela quitasse sua dívida com remessas de petróleo, garantindo os recursos necessários durante crises econômicas.

Segundo analistas, esse apoio foi fundamental para Maduro, especialmente em um período em que a economia venezuelana encolheu quase 80% na última década.

Dados do Diálogo Interamericano e do Centro de Políticas de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, mostram que a Venezuela é o principal destinatário latino-americano de empréstimos chineses para desenvolvimento, recebendo US$ 59,2 bilhões (R$ 330 bilhões), quase o dobro do valor destinado ao Brasil, que vem em segundo lugar, por exemplo.

A situação é diferente no caso do Investimento Estrangeiro Direto (IED) da China na Venezuela, que tem diminuído, ao contrário da tendência global.

O IED refere-se ao capital destinado à criação ou aquisição de operações em outros países, incluindo fusões, construção de novas instalações, reinvestimento de lucros e empréstimos entre empresas do mesmo grupo.

Apesar disso, a relação bilateral entre China e Venezuela foi elevada a uma “parceria estratégica para todas as condições climáticas”, segundo comunicado divulgado pelo governo chinês, em setembro passado, quando Maduro visitou Pequim pela primeira vez em cinco anos.

Na visita anterior, em 2018, a Venezuela havia aderido oficialmente à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), também conhecida como a “Nova Rota da Seda”, o projeto diplomático de Xi Jinping para construção de infraestrutura.

Ao final do encontro, o governo chinês saudou a intenção da Venezuela de aderir aos Brics, grupo de países emergentes voltado para a cooperação econômica e o desenvolvimento conjunto, e expressou apoio para alcançar esse objetivo.

Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco anunciou a adesão de seis países em agosto de 2023, incluindo Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Em 1º de janeiro deste ano, quatro deles — Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos — foram admitidos como membros plenos. O presidente argentino, Javier Milei, rejeitou a entrada da Argentina, enquanto a Arábia Saudita ainda considera sua adesão.

Apoio militar e estratégico

A cooperação militar com a Rússia tem sido fundamental para a estratégia de Maduro em manter o controle do regime, segundo especialistas.

A Rússia forneceu equipamentos militares avançados à Venezuela, como caças, tanques e sistemas de defesa aérea.

Em 2019, Moscou enviou conselheiros militares e tropas para a Venezuela.

Segundo especialistas, essa presença destacou o compromisso da Rússia em defender seu aliado contra possíveis intervenções externas.

Naquele ano, durante a crise política que levou à autoproclamação de Juan Guaidó, líder da oposição e presidente da Assembleia Nacional, como presidente interino com apoio dos EUA, o então presidente americano, Donald Trump, reiterou que “todas as opções estavam na mesa”, sugerindo a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela, uma ideia que já havia levantado em 2017.

Na ocasião, Trump afirmou que a Venezuela, sendo “vizinha” dos EUA, poderia ser alvo de uma intervenção militar para resolver a crise no país, onde meses de protestos contra Nicolás Maduro causaram distúrbios violentos e deixaram mais de 100 mortos.

“Temos tropas em lugares distantes, mas a Venezuela está próxima, e as pessoas estão sofrendo e morrendo”, disse Trump em 2017.

Em resposta, o ministro da Defesa da Venezuela, general Vladimir Padrino López, classificou a ameaça de Trump como “um ato de loucura e extremismo”, acusando uma elite extremista de governar os EUA.

Rouvinski, da Universidade Icesi, diz que “a Marinha russa já está presente na Venezuela, e Moscou não hesitaria em fornecer apoio militar adicional a Maduro, se necessário, potencialmente através do Wagner ou outros grupos paramilitares, para ajudá-lo a lidar com forças de oposição”.

Durante os protestos após a eleição de 28 de julho, surgiram vídeos nas redes sociais mostrando um homem com roupa de camuflagem ostentando um emblema do Grupo Wagner, um grupo paramilitar russo, ao lado de policiais venezuelanos em Caracas.

Essas imagens geraram preocupação entre a oposição e observadores internacionais sobre a presença do grupo na Venezuela, embora a BBC não tenha conseguido verificar essas informações de forma independente.

Há relatos não verificados de que combatentes do grupo Wagner teriam sido vistos durante protestos anti-Maduro após eleições contestadas

A China também contribuiu para ampliar as capacidades militares da Venezuela, embora em menor escala.

Tecnologias e treinamentos chineses foram incorporados às Forças Armadas venezuelanas, melhorando sua capacidade operacional, segundo especialistas.

Além disso, tecnologias chinesas de vigilância e cibersegurança foram usadas pelo governo venezuelano para monitorar e controlar a dissidência interna, consolidando ainda mais o poder de Maduro, acrescentam eles.

Apoio diplomático

No cenário diplomático, Rússia e China têm protegido consistentemente a Venezuela do isolamento internacional.

Ambos os países vetaram resoluções apoiadas pelos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU) que visavam pressionar Maduro a renunciar.

Em 2019, o Conselho de Segurança da ONU votou duas resoluções sobre a Venezuela, mas nenhuma foi aprovada devido a divergências entre EUA, Rússia e China.

Nove dos 15 membros, incluindo Alemanha, França e Reino Unido, apoiaram o rascunho dos EUA pedindo uma “restauração pacífica da democracia” e eleições. No entanto, Rússia e China vetaram a proposta. O enviado russo Vassily Nebenzia afirmou que o texto visava a mudança de regime, disfarçado de preocupação humanitária.

Naquele mesmo ano, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou: “Faremos tudo para apoiar o governo legítimo da Venezuela”.

A China manifestou apoio semelhante.

Em 2019, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, destacou: “A interferência externa e as sanções unilaterais só complicarão a situação e não ajudarão a resolver os problemas reais.”

Apoio de outros aliados

Cuba tem sido um aliado próximo da Venezuela, oferecendo assistência em segurança e inteligência, dizem especialistas

Além de Rússia e China, a Venezuela estabeleceu relações com outras nações que ofereceram diferentes formas de apoio, destacam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Cuba, por exemplo, tem sido considerada um aliado próximo, fornecendo assistência em segurança e inteligência, em troca de petróleo venezuelano.

Agentes cubanos desempenham papéis importantes no aparato de inteligência da Venezuela, ajudando a identificar e neutralizar ameaças da oposição, além de “prevenir deserções e conspirações” dentro das Forças Armadas venezuelanas, diz à BBC News Brasil Will Freeman, especialista em estudos latino-americanos no Council on Foreign Relations (CFR), centro de estudos baseado nos Estados Unidos.

A Turquia também se destacou como um parceiro significativo, especialmente em transações econômicas.

Em 2018, a Turquia concordou em refinar ouro venezuelano, contornando sanções dos Estados Unidos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, expressou apoio enfático a Maduro, criticando as políticas que considera intervencionistas dos Estados Unidos.

Naquele ano, Erdogan afirmou que a Venezuela foi injustamente alvo de sanções econômicas e disse que “não aprova essas medidas que ignoram as regras do comércio global”.

Ele defendeu seu “amigo” Maduro, dizendo que o líder venezuelano enfrenta “ataques manipulativos de certos países e sabotagem por parte de assassinos econômicos.”

O Irã, que também é alvo de sanções dos Estados Unidos, também prestou assistência crucial.

Em 2020, Teerã enviou vários navios-tanque de gasolina para a Venezuela, aliviando a severa escassez de combustível do momento.

Apesar de a Venezuela ter a maior reserva comprovada de petróleo cru do mundo, sua indústria necessita de importação de químicos e peças de reposição produzidos pelos Estados Unidos.

Futuro das relações

Com o aumento dos protestos e a crescente pressão internacional, especialistas dizem que o futuro de Maduro é incerto.

No entanto, de acordo com Freeman, do CFR, o líder venezuelano “pode se tornar ainda mais dependente de suas conexões com Turquia, Rússia e China”, conforme os próximos acontecimentos.

“Maduro pode acabar se vinculando ainda mais a esses Estados-párias, caso seja amplamente repudiado na América Latina”, afirma Freeman.

Ele ressalta que este é um “momento decisivo” e que muito dependerá de como “Brasil, Colômbia e México liderarão o restante da América Latina”.

Forsans, da Universidade de Essex, diz que “não haverá mudança de posição dos aliados quanto à Venezuela”.

“Rússia, China e Irã foram os primeiros a parabenizar Maduro, então não mudarão de posição e nunca apoiarão o Ocidente”, diz.

Rouvinski, da Universidade Icesi, considera que, dada a crescente ruptura de Putin com os Estados Unidos e o Ocidente, “sua aliança com Maduro se tornou mais valiosa do que nunca”.

Na avaliação dele, “os interesses russos na Venezuela servem como um sinal estratégico de apoio aos aliados que se opõem às políticas dos EUA, oferecendo ‘reciprocidade simbólica’ em resposta às ações ocidentais na Ucrânia e na região pós-soviética mais ampla”.

Rouvinski acrescenta que, se a oposição derrubar Maduro, “isso enfraqueceria o valor do apoio russo a regimes iliberais, forçando Putin a reconstruir sua reputação como aliado confiável”.

Por outro lado, “se Moscou conseguir manter Maduro no poder, isso fortaleceria sua influência entre regimes autoritários globalmente”, acrescenta.

Como resultado, diz Rouvinski, “Moscou pode intensificar seus esforços para proteger Maduro, usando recursos políticos, econômicos e militares, apesar de seu envolvimento na guerra na Ucrânia”.

Apesar disso, o especialista descreve a Venezuela como “uma mala sem alça para a Rússia”, destacando que a relação com Moscou é “desequilibrada”.

“Maduro acredita que pode obter mais benefícios da Rússia, como créditos, apoio financeiro e político, do que pode oferecer em troca. Se as circunstâncias mudarem, a Venezuela provavelmente priorizaria negociações com empresas ocidentais e a China, que têm mais recursos que a Rússia”.

Mas Freeman, do CFR, diz que Pequim está ciente dos riscos de apoiar Maduro.

Em um relatório de investimento recente do governo chinês, Liu Dajiang, então conselheiro econômico e comercial da embaixada da China em Caracas e agora diretor-adjunto no departamento de comércio de Pequim, afirma que espera que as empresas chinesas “façam novas contribuições para o desenvolvimento da parceria estratégica abrangente de todos os climas” entre os países.

Contudo, Liu também recomenda realizar uma “pesquisa e investigações profundas” sobre as condições políticas, macroeconômicas e setoriais da Venezuela antes de tomar decisões de investimento.

O alto funcionário chinês destaca que a Venezuela é considerada um país com riscos comerciais relativamente altos, e que as sanções dos Estados Unidos podem “criar vários obstáculos” para as empresas chinesas que queiram fazer negócios lá.

E acrescenta: “Atualmente, as empresas chinesas que realizam negócios na Venezuela enfrentam uma situação na qual os parceiros venezuelanos são incapazes de quitar suas dívidas a tempo”.

A IEIT Systems, uma fabricante de servidores e outros produtos de TI listada na bolsa de valores de Shenzhen, na China, relatou que possui uma dívida não recebida de 294,91 milhões de yuan (US$ 40,7 milhões ou R$ 230 milhões) da VIT, uma joint venture entre seu acionista controlador, Inspur, e uma empresa estatal venezuelana.

Essa dívida total tem sido considerada “irrecuperável” desde 2016, segundo relatórios anuais anteriores, pois “não se espera recuperar [o recebível] devido ao impacto dos riscos cambiais na Venezuela”.

Apesar desse cenário, “com Maduro no poder por mais um mandato, China e Rússia podem aprofundar sua relação comercial”, diz Forsans. “Uma mudança de regime é um salto no desconhecido.”

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Lençóis Maranhenses: patrimônio do Maranhão, do Brasil e, agora, de todo o planeta

A bela paisagem de dunas brancas, que lembram a trama de lençóis amassados, já foi inspiração para livros e poemas, locação para filmes e novelas. “Um cenário único no mundo”, assim já descreveu uma das centenas de produtoras, que por lá passaram. Muitos são os adjetivos e predicados que podem ser usados para descrever o nosso Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, porém ousamos dizer que, talvez, palavra nenhuma, em nossa vasta e rica língua portuguesa, seja capaz de verdadeiramente definir o nosso —agora— Patrimônio Natural da Humanidade, título merecidamente concedido ao parque pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco), em julho recente, durante a 46ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, em Nova Déli, na Índia.

‘Único’ —que, por definição do Dicionário Michealis, quer dizer “que não existe outro de sua espécie”— é possível que seja a palavra que mais se assemelhe a todo tipo de experiência que pode ser vivida naquele lugar e que faz parte do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o destino perfeito para aqueles que buscam aventura e contemplação de belezas naturais, mas sem perder de vista a preservação da natureza e o respeito às comunidades tradicionais.

Dotado de beleza estonteante, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, que abrange as cidades de Barreirinhas, Primeira Cruz e Santo Amaro do Maranhão, está localizado a cerca de 250 km da capital maranhense, São Luís, e foi instituído há mais de 40 anos, sendo o maior campo de dunas da América do Sul, com cerca de 155 mil hectares —o que equivale a um deserto de areia branca e fina maior que a cidade de São Paulo.

Seriam, então, os conceitos de “paraíso” ou “oásis” o que melhor o definiriam? Pelo menos é o que parece ser para quase meio milhão de pessoas que por lá passaram, em 2023, de acordo com dados do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão responsável pela administração do Parque. O certo é que os Lençóis Maranhenses têm chamado a atenção do mundo, com visitação constante de turistas do mundo inteiro.

Boa parte dessa visibilidade é fruto dos investimentos do governo do Maranhão e do governo federal, com ações de desenvolvimento que melhoram a infraestrutura das cidades que abrigam o parque, a exemplo da MA-320, que liga a cidade de Santo Amaro à BR-402, bem como o Aeroporto Regional de Barreirinhas, possibilitando o impulsionamento da economia e do turismo local.

Cabe destacar, ainda, a construção da ponte sobre o rio Preguiças, também, em Barreirinhas, realizada pelo governo Carlos Brandão (PSB), que facilitará o acesso ao parque e tem previsão de entrega em setembro deste ano.

Nessa importante corrida de divulgação do nosso parque nacional, o governo do estado encontra, no governo federal, por meio da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), um forte aliado.

Os esforços para que o turismo maranhense conquiste o mundo têm ganhado força desde o ano passado, quando a Embratur realizou uma série de eventos em São Luís e Barreirinhas, com operadoras e companhias aéreas do Uruguai, Chile, Argentina, Colômbia e Peru; além de duas “famtours’ pela “Rota das Emoções”, com operadores do Reino Unido, Espanha e Portugal, proporcionando uma verdadeira imersão na cultura, culinária, acomodações, atividades e atrações para que possam promovê-los de forma mais efetiva para seus clientes e público em geral.

Para o segundo semestre deste ano, as ações conjuntas entre os governos estadual e federal visam ainda ampliar a conectividade aérea, divulgando os destinos maranhenses em diversas feiras internacionais. Há também o estudo conjunto entre a Embratur e o governo do Maranhão para, em 2025, dar destaque aos Lençóis Maranhenses na campanha publicitária da agência nos Estados Unidos. Isso ocorre porque, de acordo com informações do Portal de Dados da Embratur, os EUA são o país que mais enviam turistas para o Maranhão.

Segundo o portal, os turistas norte-americanos representam 18% do total de visitantes, seguidos de viajantes de Portugal, Itália, Espanha e Alemanha. E, em dados gerais, esses turistas permanecem 22 noites ou mais no destino (34,8%) e viajam sozinhos (45,6%) ou em duplas (27,4%).

Assim, o Maranhão torna-se uma vitrine para turistas de todo o mundo, abrindo as portas para o desenvolvimento da cadeia produtiva do turismo local e do progresso socioeconômico. Tais fatores vão ao encontro do Novo Plano Nacional do Turismo, aprovado no início do mês pelo presidente Lula e que tem como objetivo geral possibilitar que o Brasil seja o país que mais recebe turistas na América do Sul até 2027.

Vale lembrar que esse título, concedido pela Unesco, é uma forma de incentivar a preservação de bens culturais e naturais, considerados significativos para a humanidade, o que nos traz, ainda, mais responsabilidade quanto ao chamado para a proteção da natureza primitiva e exuberante para esta e, também, para as futuras gerações.

O título de Patrimônio Natural da Humanidade do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses junta-se a outros títulos concedidos ao Maranhão, sendo eles o de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, com o nosso “bumba meu boi”, e o Patrimônio Mundial da Humanidade, pelo conjunto arquitetônico dos casarões da nossa capital, São Luís. Com o recente título concedido aos Lençóis, nosso país agora conta com oito áreas brasileiras que são Patrimônio Natural da Humanidade, o que demonstra a grandeza do nosso Brasil e a importância do Maranhão como um grande atrativo da diversidade brasileira para o mundo.

A verdade é que motivos não faltam para se achegar nos Lençóis maranhenses, seja para caminhar sobre as areias brancas e fofas, para se refrescar em lagoas de águas cristalinas ou, ainda, admirar um dos mais lindos pores do sol do mundo. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses está disponível e aberto à apreciação de todos, pois, como bem já cantou a maranhense Anna Torres na canção “Lençóis”, “a tua beleza inexata, um lindo Jardim de Alah, te contemplar, recontemplar e te admirar de novo. Não me canso de te olhar! “.

Sejam todos bem-vindos ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, nosso mais novo Patrimônio Natural da Humanidade! É do Maranhão, é do Brasil, é do mundo!

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

COP-30 acirra briga por votos nas eleições municipais em Belém

Belém — A preparação da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), em 2025, acirrou a disputa eleitoral em Belém, que sediará o evento. A projeção internacional da cidade e os investimentos bilionários na capital paraense fazem com que os principais protagonistas da política local se enfrentem com a faca nos dentes. O deputado federal Delegado Éder Mauro (PL), pré-candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem 30,7% das intenções de voto e lidera a corrida municipal, segundo pesquisa da 100% Cidades/Futura Inteligência, publicada pela revista Exame de 7 de agosto, a mais recente.

Na segunda posição, com 19,2% da preferência do eleitorado, está Igor Normando (MDB), o candidato do governador Helder Barbalho (MDB), principal responsável pela realização do evento da ONU. O atual prefeito da cidade, Edmilson Rodrigues (PSol), apoiado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aparece com 14% das intenções de votos. Pela margem de erro, que é de 3,5 pontos percentuais, os dois primeiros estão em empate técnico. Na pesquisa espontânea, Éder Mauro aparece com 20,1%, seguido por Igor Normando com 12,3% e Edmilson Rodrigues com 11,1%. Os demais nomes não ultrapassam o patamar de 2%.

Edmilson é o mais rejeitado: 54,8% dos entrevistados afirmaram que não votariam no atual prefeito de jeito nenhum. O maior problema do candidato à reeleição é a conservação da cidade, pois enfrentou uma grave crise com a empresa responsável pela coleta de lixo e relacionada à zeladoria da cidade.

O candidato tenta reverter a situação com a implantação do novo sistema de mobilidade urbana, que contará com 213 novos ônibus, sendo 30 deles elétricos. Os veículos contam com ar-condicionado) e acessibilidade para quem tem locomoção reduzida, além de carregadores de celular. Mas o atual prefeito também enfrenta litígio judicial com as empresas concorrentes.

Éder Mauro, líder do levantamento, é rejeitado por 39,7% dos eleitores de Belém. Igor Normando tem a menor rejeição, com apenas 8,7%. Na simulação de segundo turno, Mauro vence o atual prefeito por 46,6% a 29%. Na disputa entre Mauro e Normando, o cenário mostra um empate técnico, com o deputado federal do PL com 41,3% e o deputado estadual do MDB, com 40,4%.

A disputa eleitoral em Belém tensiona as relações entre o governador Barbalho, o presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro, que apoiam candidatos diferentes. O resultado é uma variável que pode facilitar a realização da COP se o vencedor for aliado do governador ou do presidente da República; mas também pode ser tornar uma variável negativa, por causa do tratamento dado pelos bolsonaristas à questão ambiental, em temas como desmatamento, garimpo ilegal e demarcação de terras indígenas.

Nos bastidores da COP-30, Barbalho sofre cobranças de parte de ministros do governo Lula, que desejam mais protagonismo e visibilidade na preparação do evento; e questionamentos por causa do deficit hoteleiro. Há também a concorrência dos que gostariam de desmembrar a COP-30, levando alguns de seus eventos para outros estados, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR), e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD).

Entretanto, essa possibilidade está descartada, até pelo volume de investimentos que estão sendo feitos. O último ataque especulativo forte foi duramente as enchentes do Rio Grande do Sul, quando se propunha redirecionar esses investimentos para os gaúchos.

O governador Barbalho foi o grande responsável por atrair o evento para a Amazônia, durante a COP-28, em Dubai, com o argumento de que é preciso pensar nas causas. “Eventos climáticos extremos têm como origem danos ambientais cometidos em outras regiões do planeta, como a Amazônia”, sustenta. Ele rebate as críticas com veemência: “Será a COP da floresta, na natureza, a COP da nossa gente. Vamos mostrar que somos capazes de aproveitar esta oportunidade para buscar soluções para o meio ambiente e para o nosso povo que vive na Amazônia”, garante.

A disputa eleitoral, ao mesmo tempo que acende as críticas à preparação da COP-30, leva o governador Barbalho e o prefeito Edmilson a se desdobrarem para realizar as obras e cooperarem administrativamente, como aconteceu na superação da crise que deixou em colapso a coleta de lixo de Belém.

Porto Futuro: obras em Belém abrangem urbanismo e infraestrutura

Porto Futuro: obras em Belém abrangem urbanismo e infraestrutura

Belém nunca recebeu tantos investimentos, desde a Belle Époque do ciclo da borracha. Estima-se que chegarão a R$ 4,1 bilhões. A Prefeitura de Belém recebeu R$ 323,5 milhões da Itaipu Binacional para implantação do Parque Urbano Igarapé São Joaquim, o que inclui projetos de arquitetura, paisagismo, rede esgoto, abastecimento, iluminação pública, pavimentação e sinalização viária — além da reforma e revitalização do Complexo Ver-o-Peso, um dos mercados mais antigos do Brasil; e da restauração do Mercado Municipal de São Brás, no centro da cidade. Outros R$ 41,8 milhões foram destinados à gestão de resíduos sólidos, ações de educação ambiental e de inovação em biotecnologia.

A prioridade do governo estadual nessas regiões vem sendo a implantação de centros multidisciplinares do programa Usinas da Paz, que oferece assistência à saúde, cultura, esporte e lazer, num total de 70 serviços. Das 28 usinas previstas, estão em pleno funcionamento na região metropolitana de Belém: Cabanagem, Bengui, Guamá, Terra Firme, Jurunas/Confor, Ananindeua e Marituba. O impacto na criminalidade foi uma redução de 13,7%.

Outro desafio são as obras do Parque da Cidade, a cargo da Vale, que estão apenas 30% concluídas. É onde fica o Hangar do antigo aeroclube, o Centro de Convenções da Amazônia. O espaço contará com estruturas específicas para a COP-30, integradas ao Hangar. Até a Conferência da ONU, 60% do espaço do parque estará disponível para o público; os outros 40% só serão entregues após o evento, com previsão de término em 2027, o que fará do local um dos maiores parques urbanos do Brasil.

O Parque da Cidade será uma extensão do Porto Futuro I, com espaços de lazer a céu aberto, e da Estação das Docas, área turística, gastronômica e cultural montada nos armazéns de um antigo porto com o avanço do ciclo da borracha no Pará.

O novo espaço contará com sete pavilhões, sendo dois deles transformados em hotéis. Um terceiro funcionará como estação hidroviária, para o recebimento de navios e cruzeiros de grande Calado do Rio Guamá.

Com a expectativa de receber cruzeiros durante a COP-30, o porto do Rio Guamá terá que passar por uma obra de dragagem, para aumentar em cerca de 4 metros o seu calado e evitar acidentes ou embarcações encalhadas. A obra está prevista no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com investimentos de R$ 200 milhões do governo federal por meio do Ministério dos Portos e Aeroportos. Sem a dragagem, haveria uma crise de hospedagem.

Um dos maiores problemas de Belém é o saneamento básico. As grandes avenidas Doca e Tamandaré, que ligam pontos turísticos e permitem acesso aos eventos da COP-30, passarão por modificações relevantes. A revitalização prevê a eliminação do lançamento de esgotos nos rios que passam pelas avenidas, além da construção do Parque Linear, com a criação de espaços de uso coletivo, como academias ao ar livre e ciclovias.

Além das obras que fazem parte do polígono da COP, há outros projetos que devem ser realizados, com a intenção de melhorar a capital paraense para receber os turistas. É o caso do novo terminal hidroviário, que deve ampliar o fluxo de viagens para todas as regiões do Pará, tendo como origem e destino a cidade de Belém.

Estão previstas ações na área de saneamento, como a execução de 50 quilômetros de rede coletora de esgoto, 4,8 mil ligações de tubulações, pavimentação de vias de acesso ao local da COP-30, implantação de vias marginais do Canal Água Cristal, e a instalação de equipamentos de controle de tráfego, além de colocação de asfalto em cerca de 600 ruas da capital.

Em obras desde 2019, o BRT Metropolitano de Belém deve ficar pronto até o fim deste ano. A expectativa é que a obra desafogue parte do trânsito da BR-316, via de entrada e saída de Belém.

O jornalista Ronaldo Brasiliense, no site Repórter da Amazônia, que monitora os preparativos da COP-30, afirma que, apesar das mudanças profundas, “a mais charmosa capital da Amazônia” continuará uma “cidade partida”. Segundo ele, os bilhões de investimentos anunciados pelos governos federal, estadual e municipal “não evitarão que Belém exiba para o mundo suas favelas de palafitas nos bairros periféricos”, como Barreiro, Bangui, Mata Fome, Guamá e Terra Firme.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou 6.329 favelas em todo o país, localizadas em 323 dos 5.565 municípios brasileiros. As capitais com maior proporção de habitantes morando em favelas são Belém, com mais da metade da população (53,9%) vivendo nesse tipo de aglomeração; Salvador (26,1%); São Luís (24,5%); e Recife (23,2%). Três delas estão na capital do estado: Assentamento Sideral (12.177 domicílios); Baixadas da Condor (11.462 domicílios); e Bacia do Una-Pereira (11.453 domicílios).

O Pará foi a grande surpresa do novo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado na última quinta-feira. O estado avançou da 26ª posição para a 6ª colocação no ranking nacional, com um resultado de 4,3. É um crescimento de 1,3 ponto entre 2021 e 2023, o maior aumento registrado na história do Ideb.

O destaque foi a avaliação dos estudantes das séries de 1ª, 2ª e 3ª do ensino médio, com idade a partir de 15 anos. Em 2021, o Pará ocupava a penúltima posição, agora é uma estrela ascendente no cenário educacional brasileiro.

“Isso é fruto do trabalho de milhares de pessoas, profissionais da educação, professores e professoras, da comunidade escolar, do envolvimento das famílias, de cada aluno e aluna”, comemorou o governador Helder Barbalho (MDB).

O secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, destaca o esforço para entregar material, fazer reforço escolar, aula aos sábados e de contraturno.

“A gente teve aula em janeiro. Estudante que não tinha participado das aulas, a gente chamou de volta para a escola. Ou seja, não deixar ninguém para trás”, relatou.

O repórter viajou a convite do Governo do Estado do Pará.

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Invasões ampliam risco de tragédias como a que matou cinco pessoas em Arapoanga

Telha, lona, pedaço de toldos, madeira e barras de ferro são alguns dos materiais comumente utilizados para levantar casas em invasões e em áreas de extrema pobreza. No Distrito Federal, há inúmeras localidades com estruturas feitas dessa maneira. Segundo a Secretaria DF Legal, atualmente existem 37 áreas consideradas de monitoramento prioritário, por serem locais comumente alvo de invasões e ocupações irregulares. Os aglomerados de barracos e a condição em que essas pessoas vivem tornam esses cenários passíveis de tragédias.

Na noite da última segunda-feira, um incêndio matou cinco pessoas que viviam em um barraco de madeira no bairro Nossa Senhora de Fátima, na região de Arapoanga, perto de Planaltina. A casa estava localizada próxima a outras residências também feitas em madeirite, e o fogo só não atingiu outras casas porque o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) conseguiu conter as chamas a tempo.

O CBMDF apontou que o risco de incêndios em invasões é mais alto, uma vez que os materiais usados para a construção das residências, como a madeira, são altamente inflamáveis por si só. A corporação salientou que o risco aumenta principalmente pelo fato desse tipo de residência estar associada ao uso de energia clandestina (gatos), ou velas e lamparinas. A falta de barreiras resistentes também contribui para a facilidade da propagação das chamas, o que propicia que o foco inicial passe para outras residências e proporcione um incêndio generalizado na ocupação.

“Casas feitas de materiais inflamáveis e localizadas próximas umas das outras aumentam significativamente a chance de incêndio, especialmente em contextos, como barracos, ocupações e invasões. Esses materiais, frequentemente compostos por madeira, plástico ou outros componentes facilmente combustíveis, contribuem para a rápida propagação do fogo. Quando as residências estão muito próximas, o calor e as chamas podem facilmente se transferir de uma casa para outra, exacerbando a velocidade e a intensidade do incêndio”, explicou o CBMDF.

Barraco de madeirite no bairro Nossa Senhora de Fátima

Segundo os militares, a falta de espaço e a proximidade dos barracos aumentam a dificuldade para os serviços de emergência combaterem o fogo e evacuarem os moradores de forma segura, elevando ainda mais os riscos para a segurança e a integridade dessas comunidades vulneráveis.

Insegurança

Alex Vitor Silvestre, 29 anos, vive no bairro Nossa Senhora de Fátima há cerca de três anos, ele mora a poucos metros da casa que pegou fogo. De acordo com ele, os moradores do local criam suas próprias gambiarras para ter acesso à energia elétrica e à agua. Apesar de saber dos riscos, ele relatou que essa foi a única forma que encontraram para viver. “Mesmo morando em barracos de madeira e sabendo dos riscos, a gente usa gás e lenha para fazer comida, mas não tem outra escolha, muitos não estão aqui porque querem. Temos medo, mas é questão de necessidade.” O Corpo de Bombeiros destaca que as gambiarras ou “gatos” favorecem os curto-circuitos, que também podem desencadear incêndios e choques elétricos.

Alex Vitor Silveira contou que mesmo sabendo dos riscos os moradores usam velas quando não há outra opção

A empregada doméstica Aparecida Coelho Rodrigues, 45, também mora no bairro, há quatro anos, em um barraco feito inteiramente em madeirite. Ela confessou que, desde que chegou, vive com insegurança, e que depois de saber da tragédia, passou a ter ainda mais medo diante da situação. À reportagem, os moradores do bairro destacaram que, apesar de saberem dos perigos, não é incomum o uso de velas dentro das casas, pois recorrem a essa alternativa quando a energia acaba — o que não é raro.

Aparecida se diz insegura no barraco feito de madeira

Ao Correio, o capitão Dayan, da Defesa Civil, acrescentou que grande parte das tragédias com fogo registradas nessas localidades são causadas por conexão à rede elétrica de maneira irregular (gatos), fiação mal dimensionada, com muitas emendas, fiação antiga, exposta aos intempéries, curtos-circuitos e sobrecargas. “A Defesa Civil é um órgão articulador e realiza rotineiramente visitas em diversas regiões do DF visando à conscientização dos moradores, sobretudo aos que vivem em áreas mais sensíveis, sobre eventuais riscos a que estejam submetidos”, disse.

Em Santa Luzia é possível ver gatos de energia nos postes

O urbanista Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), explica que é preciso melhorar a qualidade das políticas urbanas para que essas pessoas sejam retiradas da exposição aos riscos. “Além dos sinistros de incêndio, há riscos relacionados às instalações elétricas, riscos sanitários, de toda ordem, além, também, da questão da segurança pública”, apontou.

Em Santa Luzia, na Estrutural, as circunstâncias não são muito diferentes. Os barracos em alvenaria e em madeira praticamente invadem o espaço um do outro. Maria Domingas Viana, 54, mora na região há cinco anos e contou que não é mais novidade quando os barracos pegam fogo. “As casas são feitas de madeira e, nessa época da seca, até uma lâmpada acesa durante o dia faz o barraco pegar fogo, porque vai esquentando e depois a gente só vê a fumaça, isso aconteceu na casa da minha vizinha e todo mundo teve que se juntar para tentar apagar as chamas.” Ela desabafou que alguns moradores têm consciência dos riscos, mas que outros não sabem e acabam colocando a vizinhança em risco.

Maria: alguns vizinhos não têm consciência dos riscos

Terezinha Pereira, 43, mora em Santa Luzia há 15 anos e compartilhou relatos semelhantes aos de Maria. “Os fios de energia sempre pegam fogo, é direto mesmo, e acaba que a gente fica muitos dias sem energia. Aqui também aconteceu de pessoas morrerem após incêndios em barracos. Nós vivemos na insegurança”, relatou.

Terezinha: a invasão tem problemas vão além dos incêndios

Para anular a possibilidade de tragédias causadas por incêndios originados por velas, por exemplo, é fundamental, segundo o CBMDF, adotar medidas de segurança rigorosas. “Primeiramente, deve-se promover a conscientização sobre os riscos associados ao uso de velas, especialmente em áreas com alta vulnerabilidade e em ambientes com infraestrutura inadequada, como foi o caso mencionado nessa ocorrência. Em áreas propensas a incêndios, como em ocupações e residências precárias, é aconselhável considerar alternativas mais seguras, como lanternas LED, que eliminam o risco de ignição.”

O urbanista Benny Schvarsberg indicou que para evitar novos desastres é imprescindível que, junto ao mapeamento das áreas vulneráveis ocupadas de modo precário por populações de baixa renda, sejam implementadas políticas públicas integradas de prevenção de riscos com investimentos públicos em melhoria das condições de infraestrutura, serviços e equipamento urbanos, bem como apoio público a ações de melhoria das condições habitacionais, por exemplo, um Programa Permanente de Assistência Técnica para a Habitação de Interesse Social.

Vítimas

Sobre a tragédia que vitimou Ione da Conceição, 47 anos; Eulália Narim da Conceição Pereira, 5; Sophya Hellena Conceição Costa, 8; Marybella Marinho da Silva, 9; e Kethleen Vitoria da Conceição Silva, 14; em Arapoanga, Richard Valeriano Moreira, delegado-chefe da 16ª DP, informou, ao Correio, que a investigação está em processo de coleta de depoimentos e que aguarda o laudo de perícia local para determinar a causa do incêndio. “Existe uma possibilidade levantada por parentes de uma das vítimas que ela era devota e acendia uma vela toda segunda-feira.” Nenhuma linha de investigação é descartada, mas segundo o delegado, não há nenhum elemento que ligue o fato a um ato criminoso.

Os corpos das cinco vítimas seguem no Instituto de Medicina Legal (IML) e não têm data para liberação. Devido ao estado de carbonização, algumas identificações são feitas por meio de comparação do material genético de DNA com familiares.

O administrador de Arapoanga, Sérgio de Araújo, disse à reportagem, logo após a tragédia, que a Defesa Civil está fazendo um levantamento do número de famílias e barracos que há no bairro Nossa Senhora de Fátima, para avaliar as possibilidades de regularização ou de assentamento desses moradores em um local mais apropriado.

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Meio século das relações diplomáticas Brasil – China

GUSTAVO MENON — Docente de relações internacionais na Universidade Católica de Brasília (UCB) e no Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam-USP); WAGNER IGLECIAS — Docente em políticas públicas na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e no PROLAM-USP

Amanhã, dia 15, comemora-se meio século da retomada das relações diplomáticas entre Brasil e China. Apesar de terem laços desde a primeira metade do século 19, inclusive com missões militares e acordos de cooperação, Brasil e China não foram grandes parceiros comerciais até o início do século 21. Os dois países mantiveram relações até 1949, quando o governo brasileiro rompeu com a nascente China comunista e deslocou seu pessoal diplomático para a embaixada brasileira em Tóquio, no Japão. A retomada das relações diplomáticas ocorreu somente em 1974, em plena ditadura militar no Brasil e durante o governo de Mao Tse-Tung na China.

Aquela iniciativa ocorreu no âmbito da retomada das relações entre vários países da América Latina e Beijing, muito influenciadas pela reaproximação entre os governos da China e dos Estados Unidos, que tiveram na visita de Richard Nixon à capital chinesa em 1972 o seu gesto mais simbólico. Na mesma época, não somente o Brasil, mas também Argentina, Peru, México e Venezuela reataram laços com o país asiático.

Naquele contexto, as embaixadas do Brasil em Beijing e da China em Brasília foram inauguradas, em 1975. Aluízio Napoleão de Freitas Rêgo foi o primeiro embaixador do Brasil na nação asiática, enquanto Chang The-Chun foi nomeado pelo governo chinês para ser o embaixador em Brasília. Tais eventos marcaram o início de uma nova era nas relações diplomáticas entre os dois países, estabelecendo uma ponte para o fortalecimento dos vínculos políticos, comerciais e culturais.

Dos anos 1970 até a virada do século, Brasil e China estabeleceram diversos acordos de cooperação em áreas como educação, cultura, ciência e tecnologia. Após o fim da URSS e da Guerra Fria (1989-1991) e da prevalência dos Estados Unidos no cenário mundial, interessava ao Brasil atuar pela construção de uma ordem mundial multipolar, enquanto a China buscava avançar em sua estratégia de abertura econômica ao mundo. Não é por acaso que o gigante asiático foi admitido, em 2001, como membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), contando com o apoio de Brasília durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, o aprofundamento das relações econômicas entre os dois países só se intensificou a partir de 2003, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva.

A partir de 2009, a China se estabeleceu como o principal parceiro comercial do Brasil, com o comércio bilateral atingindo US$ 36,1 bilhões naquele ano. As cifras têm mostrado um crescimento constante, alcançando US$ 157,5 bilhões em 2023, o que representou um terço do comércio exterior brasileiro. A Parceria Estratégica Global entre as duas nações tem fortalecido diálogos cooperativos em fóruns multilaterais como G20, Basic e Brics, promovendo acordos em áreas como comércio, infraestrutura, investimentos, agricultura, energia, meio ambiente, educação, ciência e tecnologia, além de debates sobre a revisão dos mecanismos de governança global, proporcionando maior participação para as economias em desenvolvimento e abrindo espaço geopolítico ao chamado Sul Global.

Os dois países têm desenvolvido, ao longo das últimas décadas, uma relação de complementaridade econômica: de um lado, o Brasil consolidou-se como importante fornecedor de commodities à China; de outro, a China tem sido uma exportadora fundamental de bens industrializados ao Brasil. Desde meados dos anos 2000, o Brasil está acumulando sucessivos superavits comerciais com a China, mas tem passado também por um forte processo de reprimarização de sua estrutura produtiva, tendo no parceiro asiático um mercado fundamental para o fornecimento de soja, minério de ferro, petróleo cru e proteína animal. Ao mesmo tempo, a chegada ao mercado brasileiro de um sem-número de bens manufaturados produzidos na China tem exercido forte impacto na indústria nacional, inclusive com a desestruturação de algumas cadeias produtivas.

No aniversário de 50 anos da retomada das relações entre China e Brasil, espera-se que os dois países aprofundem sua aliança estratégica e possam diversificar sua relação econômica. Investimentos chineses até agora focalizados, em grande medida, nas áreas de infraestrutura e energia poderiam, no médio e longo prazos, ser direcionados a outras áreas, como telefonia 5G e 6G, big data, cidades inteligentes e outros setores da economia brasileira, ajudando a impulsionar um potencial processo de (neo)industrialização do país. De qualquer maneira, as duas maiores nações em desenvolvimento nos hemisférios Ocidental e Oriental, Brasil e China, podem juntas abrir o caminho para a construção de uma ordem mundial multipolar de paz e com ganhos mútuos para ambas, para a América Latina e para o mundo.

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