Novo marco do saneamento é vitória do bom senso

No (não tão) longínquo ano de 2019, as discussões sobre o Novo Marco do Saneamento Básico (NMSB) pegavam fogo. No contexto catastrófico de atendimento do país, que até aquele momento era desconhecido da maioria da população, mas que, felizmente, dada a melhoria na qualidade do debate, ganhou notoriedade pública, apenas 5% dos municípios eram atendidos por empresas privadas.

Em artigo que publiquei aqui na Folha em 29 de maio de 2019, chamado “A água, as tarifas e os salários”, mostrei que, entre 2014 e 2017, quando a inflação foi de 21%, várias empresas estaduais de saneamento aumentaram seu custo por funcionário em até 85%, enquanto os investimentos eram cada vez menores.

No calor da discussão, a medida provisória 868, relatada pelo então senador Tasso Jereissati, caducou, por falta de acordo sobre o texto do substitutivo (que abria em definitivo o mercado para as empresas privadas). Dali surgiu o projeto de lei 3.261/2019 (apresentado pelo próprio Tasso, nos exatos termos do substitutivo, sendo finalmente aprovado pelo Senado e seguindo para a Câmara, onde ganhou relatoria do deputado Geninho Zuliani).

Por manobra regimental (para dar mais protagonismo à casa), se transformou no PL 4.162/2019, que, finalmente, virou a lei 14.026/2020, conhecida como o NMSB (aprovado no dia 24 de junho de 2020, após longos 540 dias de discussão).

Quando políticas públicas inovadoras são propostas, o ceticismo é natural. Porém, o NMSB trouxe mecanismos inéditos: previu não apenas metas claras e objetivas (universalização de 90% de coleta e tratamento de esgoto e 99% de água canalizada) mas também um prazo (até 2033) e, mais importante, um choque imediato (perda das operações) para os incumbentes (estatais) que não conseguissem comprovar que possuíam capacidade econômico-financeira para fazer frente aos investimentos necessários à universalização dos municípios atendidos.

Mesmo com as mudanças dos decretos em 2023, que flexibilizaram as regras e impediram que 494 municípios fossem licitados (permitindo que o controle desse grupo permanecesse estatal), incluindo nessa lista capitais como Belém e São Luís (respectivamente com 17% e 50% de coleta atual de esgoto), o setor privado alcançará, muito em breve (com as iniciativas formidáveis de privatização em São Paulo e de concessão em Sergipe e no Piauí), 28% dos municípios e mais de 1/3 da população brasileira!

É natural que o movimento completo de desestatização demore. Como comparação, o setor elétrico iniciou suas privatizações em 1995, interrompeu-as em 2000 (após 14 estados serem privatizados), retornando apenas em 2016 (a partir de quando outros 11 estados foram privatizados, além da Eletrobras, a nível federal).

Porém, hoje, energia elétrica é o serviço público mais universalizado do país, garantindo investimentos anuais da ordem de R$ 80 bilhões. Por isso, em um contexto em que mais de R$ 700 bilhões em investimentos serão necessários no saneamento até 2033, ter esse primeiro avanço tão significativo da participação privada em apenas quatro anos é tão fantástico.

Que a revolução no saneamento básico seja constante e garanta nossa esperada universalização dentro do prazo planejado: que vença a saúde; que vença o meio ambiente; que vença o bom senso; que vença o Brasil!

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Varini elogia elenco do Athletico e fala sobre filosofia: ‘Ser intenso e ter coragem’

Após a vitória do Athletico por 3 a 0 sobre o Ypiranga (RS), o técnico Martín Varini celebrou a classificação e sua estreia à beira do campo. Assim, o comandante exaltou o elenco, assim como as instalações do Furacão. Com o triunfo, a equipe paranaense garantiu a vaga nas oitavas de finais da Copa do Brasil.

“Estou muito satisfeito com a estrutura do nosso Centro de Treinamento. Me falaram que era top e pude confirmar. Organização, infraestrutura. Do elenco, estudei muito, mas claro que trabalhando com eles será melhor. Temos um bom time, jogadores de qualidade, são profissionais, dedicados, tem muita gana de fazer o melhor”, disse.

“Foram dois dias de treino mas muito bem aproveitados. Ainda está longe do que nós queremos, mas sabemos que foi muito bom para dois dias de treino. Nosso time teve coragem para jogar e fazer o que pedimos. Fico feliz, contente e motivado para a sequência”, completou.

O treinador também respondeu, na coletiva de imprensa, sobre o estilo de jogo que pretende implementar no Furacão. De acordo com o profissional, a equipe deve pressionar com intensidade e ter coragem para jogar.

“É a forma que tenho de ver o futebol, acredito muito nisso (filosofia de jogo). Foi pelo meu trabalho no Uruguai que o Athletico me contratou, então não posso mudar isso. Os jogadores demonstraram que gostam da ideia, do jeito de jogar. Pressionar, ser intenso, coragem para jogar. É a filosofia do clube também e vamos voltar a ter essa identidade”, explicou.

O Athletico volta a campo na quinta-feira (18), contra o Cerro Porteño, pela Sul-Americana, às 21h30 (de Brasília), em Assunção.

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STF mantém prisão de suspeitos de envolvimento com espionagem da Abin

O Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a prisão preventiva de cinco suspeitos de envolvimento no esquema de espionagem de autoridades, advogados e jornalistas. O grupo, que inclui policiais federais, é acusado de participação na chamada Abin Paralela, práticas ilegais de vigilância montadas na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Os investigados passaram por audiência de custódia nesta sexta-feira (12/7) e a Justiça entendeu pela manutenção do encarceramento. A Polícia Federal investiga o esquema, que mirou autoridades dos Três Poderes, inclusive deputados, senadores e ministros do Supremo.

As diligências fazem parte da Operação Última Milha. Foram cumpridos cinco mandados de prisão e sete de busca e apreensão expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

As ações ocorreram em Brasília, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador e São Paulo. Os alvos foram policiais federais que atuavam na Abin e sabiam ou participavam do esquema, além de influenciadores que faziam parte do esquema espalhando informações falsas.

As investigações apontam que a chamada Abin Paralela seria usada para “encontrar podres” de servidores da Receita Federal, para que eles fossem afastados e isso fosse usado na defesa do senador. A ideia teria partido de Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin. Em depoimento, ele negou as acusações.

As diligências apontam que o esquema teve o objetivo maior de criar falsas narrativas como ministros do Supremo, jornalistas, advogados e demais autoridades, personalidades e entidades que fossem críticas ao governo da época.

As diligências revelaram que membros dos Três Poderes e jornalistas foram alvos de ações do grupo, incluindo a criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas. Os investigadores também apontam que “a organização criminosa também acessou ilegalmente computadores, aparelhos de telefonia e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos”.

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Projeto que regulamenta atividade espacial no Brasil vai à sanção presidencial

O Senado aprovou nesta quarta-feira, 10, o projeto de lei que regulamenta as atividades espaciais no País. A proposta segue para a sanção presidencial. O texto estabelece regras para a exploração espacial e a possibilidade da investimento privado no setor.

O senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), relator do projeto, afirmou que a criação da lei é “esperada por décadas” e de extrema importância para o desenvolvimento do segmento em território nacional.

“Isso vai gerar muitos recursos para o País, vai gerar empregos. Isso vai trazer o desenvolvimento dos meios de espaço, seja através de satélites, foguetes-lançadores, infraestrutura de lançamento e controle”, disse Marcos Pontes, sobre o projeto de autoria do deputado Pedro Lucas Fernandes (União-MA).

Entre as diretrizes estabelecidas na proposta, estão a permissão para o transporte de materiais e o turismo de pessoas no espaço, além do desenvolvimento de tecnologias e equipamentos espaciais, como satélites e foguetes, e a exploração dos corpos celestes.

O estatuto permite que o poder público e a iniciativa privada atuem no ramo e estabelece que as verbas resultantes da atividade sejam utilizadas para pesquisa e manutenção do setor.

Ficará a cargo do Comando da Aeronáutica a fiscalização e a regulamentação das atividades espaciais, enquanto o Ministério da Defesa analisará os assuntos ligados à segurança do País. As ações civis serão administradas pela Agência Espacial Brasileira (AEB), e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) autorizará demais atividades.

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Novo projeto sobre dívida de estados prevê entrega de ativos para a União

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apresentou as linhas gerais do projeto de lei (PL) que tem por objetivo de viabilizar o pagamento da dívida dos estados e do Distrito Federal com a União. A proposta prevê a entrega de ativos, incluindo a participação acionária em empresas.

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O PL estabelece ainda que, numa contrapartida por entregarem ativos próprios, os estados tenham um abatimento na taxa de indexação da dívida, que hoje equivale ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4%.

A ideia é que a União abra mão de receber esses 4% em uma troca em que o estado use o dinheiro para investir na educação e qualificação técnica, como prioridade, ou em infraestrutura e segurança pública, sendo vedada a utilização de recursos para despesas de custeio da máquina pública.

Exemplo

Caso algum dos estados endividados consiga abater o estoque da dívida em 20% com a entrega e federalização de ativos, por exemplo, este ganharia o direito ao abatimento de metade da taxa fixa de 4% de juros. Essa parte dos juros seria então perdoada pela União, conforme já concordou o Ministério da Fazenda. As informações são da Agência Brasil.

Os outros 2% da taxa fixa de juros devem ser aplicados metade em investimentos no próprio estado e a outra metade destinada a um fundo de equalização, que será criado com o objetivo de compensar também os estados não endividados, que pagaram suas dívidas em dia e agora reivindicam tratamento igualitário.

Tal fundo de equalização deverá ser distribuído aos estados e ao DF seguindo critérios como tamanho da população e do território, porém sem permitir que o montante da unidade da federação que receber mais seja maior que o triplo do que a UF que receber menos tenha direito.

Próximos passos

O texto deverá agora seguir para nova análise do Executivo e dos líderes do Senado. “Buscamos um texto com um mínimo de consenso”, disse Pacheco, que indicou o senador Davi Alcolumbre (União-AP) como provável relator da matéria. O tema deverá ser levado para debate diretamente no plenário, em função de seu caráter federativo, afirmou o presidente do Senado.

Regras

Pacheco disse ter tentado incorporar o máximo de sugestões do Ministério da Fazenda ao projeto, mas que alguns pontos não puderam ser atendidos. Um deles é de que houvesse regras mais severas para a aplicação dos recursos que a União deixará de receber.

O governo queria limitar, por exemplo, o aporte somente na área de Educação. O presidente do Senado, contudo, avaliou ser necessário maleabilidade maior, tendo em vista as especificidades locais.

“Não pode querer o Poder Executivo Federal se imiscuir em questões de gestão dos estados, porque realmente isso trava e engessa as possibilidades que um estado tem de poder ter alternativas de investimentos”, disse Pacheco. “É um grande gesto federativo da União [perdoar parte dos juros], os estados precisam reconhecer isso, mas os estados precisam ter uma margem de aplicação desses investimentos dentro de sua própria necessidade”.

Caso o estado ou o DF demonstrem que já cumpriram pelo menos 60% das metas estabelecidas para a Educação, por exemplo, parte do dinheiro poderá ser direcionada para projetos de infraestrutura, de prevenção a catástrofes naturais ou de segurança pública.

Estoque total da dívida

O estoque total da dívida atual dos estados com a União chega a cerca de R$ 765 bilhões. A maior parte, aproximadamente R$ 684 bilhões, é devida por quatro estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

O texto do PL parte do princípio de consolidar o tamanho da dívida no patamar atual, afirmou Pacheco, de modo a impedir que eventual adiamento de pagamentos resulte em acúmulo de juros que venha a se tornar impagável, como ocorre nos regimes de recuperação fiscal atuais, frisou Pacheco.

O presidente do Senado disse que, nos moldes atuais, a União finge que recebe e os estados fingem que pagam. “Estamos dando na realidade uma forma de equalização do problema”. A proposta trazida por Pacheco foi apresentada após ele ter se reunido com governadores dos estados mais endividados, na semana passada.

Minas Gerais e Rio Grande do Sul

Questionado sobre o caso específico de Minas Gerais, que tem um prazo exíguo dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apresentar alternativas para o pagamento da dívida, Pacheco disse que o Senado deverá pedir mais tempo ao estado, até que o PL sobre o assunto seja votado no Congresso. “O STF certamente terá essa sensibilidade”, disse.

No caso do Rio Grande do Sul, que encontra-se com o pagamento da dívida suspenso em razão da catástrofe climática da qual se recupera, Pacheco disse apenas que “outras medidas serão também necessárias” para solucionar o problema específico do estado.

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Ranking de Práticas LGBTQIA+: Natura, Banco do Brasil, TIM, Dasa e Mercado Livre se destacam entre empresas inclusivas

Inclusão LGBTQIA+ nas grandes empresas brasileiras está em crescimento, impulsionada por líderes em diversos setores

Um levantamento recente sobre as práticas de inclusão LGBTQIA+ das 100 maiores empresas brasileiras trouxe à tona líderes surpreendentes nos setores de cosméticos, saúde, tecnologia, bancário e telefonia. Realizado pelo Integridade ESG em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e a Knewin, a maior empresa de gestão de dados da América Latina, o estudo revelou que Natura, Dasa, Mercado Livre, Banco do Brasil e TIM compõem o top 5 do ranking.

A pesquisa, que utilizou inteligência artificial para mapear iniciativas, ações, anúncios, investimentos e projetos relacionados à inclusão LGBTQIA+, analisou centenas de milhares de registros ao longo de 2023. Foram consultados mais de 550 veículos de notícias brasileiros, repositórios de dados de órgãos governamentais e da sociedade civil, além de informações abertas online. Um sistema de IA baseado em machine learning atribuiu valores às ações positivas e negativas, gerando uma medição precisa. A avaliação final contou com uma banca de especialistas em IA, programadores, e associações LGBTQIA+ e de Saúde Mental.

Kaká Rodrigues, cofundadora da consultoria Div.A Diversidade Agora!, comenta que os segmentos líderes refletem uma diversidade de abordagens e estratégias para promover a inclusão LGBTQIA+. “São todas empresas referências, não apenas no seu setor, e com grande potencial de liderar uma retomada nas ações e investimentos em DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), arrefecidos nos últimos anos”, avalia.

Estratégias de Inclusão das Empresas Destaques:

Natura

Liderando o ranking, a Natura é reconhecida por suas campanhas inclusivas nas redes sociais, retratando casais homossexuais. Desde 2019, a empresa enfrentou críticas e protestos, mas manteve seu posicionamento firme, como na campanha de lançamento da linha #ColeçãoDoAmor. A marca também desenvolve produtos e embalagens pensando em todos os gêneros, fortalecendo seu compromisso com a inclusão.

Dasa

Em segundo lugar, a Dasa foca em estratégias corporativas, marcando presença em editorias de economia e negócios. Com comitês específicos e grupos de afinidade, a empresa estimula e apoia iniciativas internas de diversidade. Participa de frentes como o Fórum de Empresas e Direitos LGBTQIA+ e a Rede Empresarial de Inclusão Social, destacando-se no LinkedIn por seu posicionamento pela diversidade.

Mercado Livre

O Mercado Livre, terceiro colocado, promove ações afirmativas tanto no ambiente virtual quanto no mundo real. A empresa patrocina paradas do orgulho gay e promove campanhas digitais com artistas renomados como Pabllo Vittar, aumentando o engajamento com a causa LGBTQIA+.

Banco do Brasil

O Banco do Brasil se destacou ao retomar, em 2023, investimentos na causa LGBTQIA+ após quatro anos de distanciamento. Sob a liderança da presidente Tarciana Medeiros, a primeira mulher e LGBT a ocupar o cargo, o banco lançou a campanha “LGBTQIA+ Cidadania” e criou um Conselho Consultivo de Diversidade, Equidade e Inclusão.

TIM

A TIM investe na cultura e no ambiente digital, incorporando elementos das bandeiras LGBTQIA+ em suas campanhas e logotipos. A empresa lançou um aplicativo de emprego voltado para profissionais LGBTQIA+ e patrocina paradas gay, reforçando sua imagem como uma empresa inclusiva.

Visibilidade e Ações Corporativas

Rodrigues destaca que a visibilidade midiática e as ações corporativas em prol da inclusão LGBTQIA+ são sinais de progresso. No entanto, ela alerta para a necessidade de planejamento estratégico e políticas internas robustas para garantir a continuidade e autenticidade dessas iniciativas.

Carlos Assis, CEO do Instituto Philos Org, reforça a importância da diversidade para a saúde mental, destacando que um ambiente inclusivo é fundamental para a segurança psicológica. Ele observa que, embora a agenda de diversidade tenha ganhado destaque, muitas empresas ainda limitam suas ações a campanhas de comunicação. Assis defende a necessidade de programas de formação para líderes, utilizando conceitos de Psicologia, Filosofia e Arte para criar um ambiente organizacional verdadeiramente inclusivo.

Em resumo, a inclusão LGBTQIA+ nas grandes empresas brasileiras está em crescimento, impulsionada por líderes em diversos setores. Para garantir que essas iniciativas sejam duradouras e impactantes, é essencial um compromisso genuíno das lideranças e a colaboração com a comunidade LGBTQIA+.

Fonte: Brasil 247

Na China, Alckmin levanta R$ 26 bi em financiamentos

A viagem à China do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, rendeu ao Brasil mais de R$ 26 bilhões em acordos de financiamento em infraestrutura. Nesse montante, estão incluídos recursos para a reconstrução do Rio Grande do Sul.

Esses R$ 26 bilhões se dividem em empréstimos com diferentes aplicações. Para os setores da economia gaúcha, será destinado um crédito de R$ 5 bilhões pelo Banco Asiático de Investimentos e Infraestrutura (AIIB).

A missão comandada por Alckmin formalizou, também, o financiamento de mais R$ 5,7 bilhões pelo banco do Brics para o Rio Grande do Sul. O acordo foi assinado por Alckmin e pela presidente da instituição, Dilma Rousseff.

Outros R$ 4 bilhões serão repassados pelo Banco de Desenvolvimento da China ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para projetos relacionados ao combate das mudanças climáticas.

Após um encontro com o presidente chinês Xi Jinping, Alckmin fez um balanço da reunião bienal da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação (Cosban) — principal mecanismo de diálogo entre os dois países. Conforme ressaltou, a força da parceria comercial se materializa na geração de novos empregos e na melhoria da renda dos brasileiros.

Parceria

“Acredito que a parceria com a China vai crescer. Defendemos o multilateralismo e a China também. O Brasil é um grande protagonista em segurança alimentar, um dos maiores exportadores do mundo. Tem eficiência energética, a maior floresta tropical do planeta e o compromisso com o desmatamento zero”, avaliou Alckmin.

Outras negociações com instituições chinesas foram entre o Banco de Exportação e Importação da China (Eximbank) e o Banco do Brasil (BB), que assinaram um acordo de empréstimo de R$ 2,5 bilhões — recursos que devem facilitar o comércio e a cooperação bilateral. O BB também firmou acordo com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) para uma linha de crédito de R$ 2,5 bilhões.

Já o BNDES e o Banco Asiático de Investimentos e Infraestrutura assinaram carta de intenção para negociar uma linha de crédito de R$ 1,3 bilhão.

Brasília recebe um dos principais eventos de Beach Tenis

Brasília será casa de um dos maiores eventos de Beach Tennis do mundo. A quarta edição do ITF Sand Series Brasília Classic está confirmada para acontecer entre 10 e 16 de junho, na Arena BRB. O torneio se tornou um dos eventos mais emblemáticos e prestigiados do esporte no mundo, com inovações e alta qualidade. A edição deste ano promete superar as expectativas trazendo uma experiência ainda mais completa para os atletas e amantes do esporte, com mais atrações e entretenimento.

“Pelo quarto ano seguido, Brasília realiza o ITF Sand Series Brasília Classic, consolidando a capital federal na rota dos grandes eventos internacionais e atraindo a atenção de atletas do mundo inteiro. E não só isso. Com uma infraestrutura completa não só para a competição como também para o fã do Beach Tennis, o evento ainda promove o desenvolvimento da modalidade na cidade com a realização do torneio amador, com cerca de 400 atletas inscritos, que é disputado paralelamente ao profissional, além de proporcionar aos atletas amadores experiências inesquecíveis”, afirma Sergio Oprea, presidente da Federação Brasiliense de Tênis.

O ITF Sand Series Brasília Classic 2024 será realizado na Arena BRB, localizada ao lado do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. O espaço contará com oito quadras com arquibancadas cobertas, sendo que a quadra central terá 1.500 lugares, áreas de relacionamento, área reservada para atletas amadores, profissionais e imprensa e estrutura de transmissão internacional. Os ingressos estão disponíveis no site www.bilheteriadigital.com, de forma gratuita.

Boulevard Monumental de 800 metros quadrados cobertos contará com praça de alimentação, estandes, ativações palcos, área de convivência, uma praia artificial com pedalinhos para o público, e estacionamento privativo.

Os melhores do mundo estarão em Brasília

A participação dos melhores atletas do mundo está confirmada de 13 a 15 de junho, quando será disputada a chave principal da competição. Antes, no dia 12, acontece o qualifying. O torneio distribuirá uma premiação de US$ 50 mil e 600 pontos no ranking mundial da ITF (Federação Internacional de Tênis).

Já estão definidas as duplas cabeças de chaves da competição. No feminino, Patricia Diaz (VEN)/Rafaella Miiller (BRA), cabeça 1; Flaminia Daina (ITA)/Nicole Nobile (ITA), cabeça 2; Sophia Chow (BRA)/Vitória Marchezini (BRA), cabeça 3, Giulia Gasparri (ITA)/Ninny Valentini (ITA), cabeça 4; Sofia Cimatti (ITA)/Greta Giusti (ITA), cabeça 5; Veronica Casadei (ITA)/Marcela Vita (BRA), cabeça 6; Juliana Nogueira (BRA)/Isadora Simões (BRA), cabeça 7; e Eva Palos (ESP)/Giulia Trippa (ITA).

No masculino, as duplas favoritas são: Nicolas Gianotti (FRA)/Mattia Spoto (ITA), André Baran (BRA)/Michele Cappelletti (ITA); Nikita Burmakin/Tommaso Giovannini (ITA); Maksimilians Andersons (LAT)/Antonio Ramos (ESP); Federico Galeazzi (ITA)/Hugo Russo (BRA); Fabricio Neis (BRA)/Allan Oliveira (BRA); Leonardo Branco (BRA)/Mathieu Guegano (FRA); e Giovanni Cariani (BRA)/Daniel Mola (BRA).

Além do ITF Sand Series, o evento terá também a disputa do ITF BT 50, nos dias 10 e 11 de junho, e do ITF BT10, no dia 16, e o torneio amador dividido em várias categorias – A, B, C, 40+ e 50+.

Confira a programação prévia:

Profissional

10 e 11/06 – ITF BT50

12/06 – ITF Sand Series Brasília Classic – Qualifying

13 a 15/06 – ITF Sand Series Brasília Classic – Chave Principal

16/06 – ITF BT10

O ITF Sand Series Brasília Classic 2024 tem o apoio máster da Secretaria de Esporte e Lazer do GDF, com o patrocínio da Alto Giro, SESC Fecomércio e o apoio do Banco BRB, Meliá Brasil XXI, Porsche, Eurobike, Nox, Talk e Lessence. O Evento é realizado pela Federação Brasiliense de Tênis, com a chancela da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e Federação Internacional de Tênis (ITF).

*Estagiária sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

Análise: Caso Marcelo Odebrecht fecha o caixão da Lava-Jato

O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a revisão da decisão monocrática do ministro Dias Toffoli, que anulou todos os atos da 13ª Vara Federal de Curitiba contra o empresário Marcelo Odebrecht, no contexto da Operação Lava-Jato. Por meio de agravo interno, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, solicitou a reconsideração da decisão pelo próprio ministro ou que o caso seja levado ao plenário do Supremo.

A decisão de Toffoli foi provocada por um pedido da defesa de Marcelo, na qual pleiteava a extensão de duas decisões anteriores do próprio ministro, que anularam todos os atos praticados pela 13ª Vara sob o argumento de “conluio processual” entre o então juiz federal Sergio Moro e os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, que investigava o escândalo da Petrobras e outros delitos. No mês passado, o pedido foi aceito pelo ministro do STF, que anulou todas as provas.

Gonet ponderou que os casos são diferentes e a anulação dos atos não deveria ser estendida ao acordo de leniência de Marcelo, que fez um acerto de delação premiada com a Justiça, assinado por Moro — à época responsável pelos processos da Lava-Jato em primeira instância. Segundo argumenta o MPF, o pedido de extensão deve ter estreita simetria com o pedido originário e com o que o tribunal nele decidiu: “Há aqui a falta de correlação estrita entre o pedido e a decisão tomada no decisório que poderia servir de paradigma”, avalia.

O acordo de leniência anulado por Toffoli foi assinado em dezembro de 2016 com o MPF do Paraná, que conduzia a Lava-Jato, coordenada pelo ex-procurador Deltan Dallagnol. O Ministério Público Federal alega ter a prerrogativa de firmar esse tipo de acordo. Entretanto, a Lei Anticorrupção, de 2013 — na qual o acordo de leniência é previsto — diz que somente a Controladoria-Geral da União (CGU) pode fazer acordos nos casos relacionados ao Poder Executivo federal e contra a administração pública estrangeira.

A Odebrecht foi investigada na Lava-Jato por um esquema de propina revelado com detalhes no acordo de leniência de Marcelo Odebrecht. O livro A Organização (Companhia das Letras), da jornalista Malu Gaspar, conta o caso em detalhes. Gonet lembra que Marcelo confessou a prática de crimes contra a administração pública, bem como diversos executivos da empresa, sob a supervisão final do STF.

“Não há, desse modo, como anular as investigações e processos, que decorreram desse acordo, e que agora seguem curso nas instâncias ordinárias”, argumenta.

Moro e os procuradores da Força-Tarefa de Curitiba adotaram métodos heterodoxos de investigação. O ex-juiz foi considerado suspeito para julgar os casos e as provas estão sendo anuladas uma a uma, por terem sido obtidas sem respeitar o chamado devido processo legal. O caso de Marcelo praticamente fecha a tampa do caixão da Lava-Jato, embora o procurador-geral da República ainda tenha a esperança de mitigar a decisão para salvar o acordo de leniência.

Empreiteiras

Dificilmente Toffoli fará a revisão de sua decisão monocrática e, provavelmente, submeterá o pedido da PGR aos demais membros da Segunda Turma do STF: os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Nunes Marques e André Mendonça. Com exceção de Fachin, todos são considerados “garantistas” — isto é, advogam o estrito respeito aos ritos do processo penal.

Deflagrada em 2014 pela Justiça Federal, a Lava-Jato investigou um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro no país. Começou com a descoberta de um esquema de lavagem de dinheiro em um posto de gasolina de Brasília, envolvendo o ex-deputado federal José Janene e os doleiros Alberto Youssef e Carlos Habib Chater.

Uma rede de doleiros que atuava em várias regiões do Brasil, por meio de empresas de fachada, contas em paraísos fiscais e contratos de importação fictícios, “lavava” o dinheiro desviado da administração pública. Nas duas primeiras fases da operação, foram executados 119 mandatos de busca e apreensão, 30 mandados de prisão e 25 mandados de condução coercitiva. Entre os presos, estavam Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras) e Youssef, que realizaram um acordo de delação premiada — ou seja, passaram a contribuir com as investigações em troca de benefícios.

Executivos da Petrobras, vários políticos do PP, do PT e do MDB, as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Correia, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, Engevix e UTC, e diversas empresas de outros ramos estavam envolvidos. O esquema também incluía grandes obras públicas de infraestrutura, como a construção da Usina Nuclear Angra 3, a Ferrovia Norte-sul e as obras realizadas para a Copa do Mundo, como a reforma do Maracanã.

“PEC das praias”: a história de como terrenos à beira-mar se tornaram bens públicos no Brasil

A polêmica Proposta de Emenda Constitucional que pretende mudar as regras do controle da costa brasileira, popularmente chamada de PEC das Praias, parte do fato de que, no Brasil, os terrenos beira-mar são públicos, considerados “áreas de marinha” e, portanto, pertencentes à União.

A origem desse entendimento remonta ao Brasil colonial, quando a Coroa portuguesa decidiu reservar para si esses espaços em vez de incluí-los nas sesmarias distribuídas aos colonizadores.

O objetivo era tanto manter controle sobre a produção de sal quanto garantir a defesa contra potenciais invasores vindos pelo oceano.

Estudioso das monarquias portuguesa e brasileira, o pesquisador e biógrafo Paulo Rezzutti conta à BBC News Brasil que o primeiro documento que regulamentava essas áreas foi a carta régia assinada por Dom João 5º (1689-1750) em 21 de outubro de 1710.

“Ela determinava que se reservasse para a Coroa portuguesa as marinhas. As praias do litoral deveriam ficar livres de construção”, ressalta ele.

Isso teve implicância nas chamadas sesmarias, as cessões de terras feitas pelo reino português a colonizadores que vieram ocupar e explorar o Brasil.

Segundo o pesquisador, no início não era clara a dimensão dessa faixa de terra, mas aos poucos novas cartas régias foram especificando melhor, até chegarem à medida de 15 braças — equivalente a cerca de 33 metros.

“Até a independência [do Brasil] o que prevaleceu foi a orientação geral para uso e exploração dos territórios portugueses na América, como a terra, rios, áreas costeiras e florestais. A normatização geral e colonial portuguesa seguia os interesses e as conveniências nas relações de lealdade e de fidelidade aos propósitos da Monarquia e dos sucessivos reinados, em particular”, comenta à BBC News Brasil o historiador Paulo Henrique Martinez, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

“Por esta razão as normas e a legislação referentes aos espaços coloniais formam um cipoal de interdições, proibições e permissões, nominais, específicas, localizadas e temporárias”, afirma.

“As áreas costeiras das capitanias da América portuguesa estavam sujeitas a tais flutuações. Assim como havia a concessão de posses para usufruto da terra, ocorriam também concessões para a pesca, a ocupação, a extração e coleta de produtos naturais também em ambientes aquáticos, como a passagem de rios e a navegação de cabotagem.”

Tiros, sal e peixes

Os objetivos de manter essa faixa de terra sob o comando da Coroa eram por razões de segurança e também por um controle econômico.

Em uma época em que qualquer ataque externo viria do Atlântico, foram nas praias que os portugueses ergueram fortes. E era preciso manter a área livre de construções para o caso de serem necessários disparos de canhão.

“O propósito era garantir o controle e a defesa do território, bem como assegurar a exploração e o uso estratégico dessas áreas pela Coroa”, crava à BBC News Brasil o jurista Marcelo Crespo, coordenador do curso de direito da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

É história corrente, inclusive, a que explica que a distância das tais 15 braças tenham sido em virtude da potência dos canhões da época. Mas isso não é comprovado e pode ser mais lenda do que realidade.

“A ideia de que tinha a ver com os canhões é mais uma lenda do que um fato histórico comprovado”, afirma Crespo.

“Esse limite foi estabelecido mais com base em critérios administrativos e de gestão territorial do que em considerações militares específicas.”

Economicamente, manter essa faixa restrita à Coroa garantia um controle sobre a pesca na costa. E também na exploração do sal. “Só a Coroa poderia repassar essas áreas para quem quisesse explorar as salinas”, pontua Rezzutti.

À BBC News Brasil, o historiador Vitor Soares, quem mantém o podcast História em Meia Hora, lembra que “essa delimitação visava a garantir que a Coroa mantivesse o controle sobre áreas estratégicas para a defesa e a navegação, evitando que essas terras fossem apropriadas por indivíduos sem o controle estatal adequado”.

“Além dos aspectos de defesa e controle, essa demarcação tinha implicações econômicas, permitindo à Coroa controlar o uso dos recursos naturais costeiros e os pontos de comércio e pesca”, afirma Soares.

As tais quinze braças foram mantidas em 1818, por dom João 6º (1797-1826) e demarcadas apenas em 1831, no período da Regência.

Segundo Crespo, a medida de João 6º serviu principalmente “para melhorar a gestão e a arrecadação de impostos sobre essas áreas”.

“Em 1831, durante o período da Regência, houve uma tentativa de modernização e adaptação das leis às novas realidades do Brasil independente. A legislação foi ajustada para melhor adequar a administração dessas terras, garantindo que as áreas de marinha continuassem sob controle do governo, agora brasileiro, e fossem utilizadas para fins públicos e estratégicos”, ressalta o jurista.

“A legislação de 1818 também trouxe normas mais detalhadas sobre a ocupação e o uso dessas terras. O objetivo era assegurar que essas áreas estratégicas fossem administradas de maneira eficiente e que qualquer atividade realizada nelas estivesse sob o controle do governo, prevenindo abusos e garantindo a exploração considerada adequada dos recursos naturais”, avalia Soares.

“Essas mudanças refletiam a crescente preocupação com a proteção das áreas costeiras e a necessidade de um controle mais rigoroso sobre as terras de marinha.”

“A presença da corte portuguesa implicou na reacomodação das necessidades de transporte, comércio, construção e defesa do litoral brasileiro”, acrescenta Martinez.

“A definição e a exclusividade no aproveitamento das terras de marinha esteve vinculada às oportunidades para aqueles fins. Instalação de atracadouros, canais, estaleiros, armazéns, abastecimento e fontes de água, de matérias-primas, como madeiras, lenha, resinas, fibras, facilidades de circulação, construção e reparos navais.”

“Estas áreas eram selecionadas e reservadas para uso da Coroa, com duração variada, conforme a motivação e a necessidade, como o estoque para a extração e coleta de recursos apropriados para a navegação. Esta destinação pontual sobreviveu”, diz.

“Ainda hoje há espaços de usos exclusivo das forças armadas, para geração de energia, Terras Indígenas, a conservação da natureza e da biodiversidade.”

A legislação de 1831 trouxe um detalhe importante: o chamado “aforamento a particulares”, segundo o qual o poder público poderia conceder esses terrenos em regime de arrendamento de longo prazo a particulares, conforme considerarem apropriado — o chamado “refime de enfiteuses”.

“Em resumo, a lei permitiu que as câmaras municipais administrassem e utilizassem os terrenos de marinha para fins públicos, além de concedê-los a particulares mediante pagamento de uma taxa anual, regularizando assim a ocupação informal e arrecadando recursos”, diz Soares.

Professor no Museu Paulista da Universidade de São Paulo, o historiador Paulo César Garcez Marins lembra à BBC News Brasil que embora o “regime de enfiteuses” não esteja mais presente no atual Código Civil Brasileiro, “os que já existiam continuam válidos”.

“Você não pode criar outros, estabelecer novos, mas pode manter os já constituídos”, afirma.

Em 22 de fevereiro de 1868, um novo decreto acaba regulando todos os anteriores quanto às unidades de medida. “É quando as 15 braças se tornaram 33 metros, porque a unidade anterior não era mais usada”, explica Rezzutti.

De lá para cá

“A adoção do regime de propriedade privada da terra, a partir de 1850, levou ao retalhamento do território nacional em unidades de extensão e localização diversificadas. O ordenamento territorial escapou ao controle exclusivo do Estado e as áreas costeiras não foram exceção”, avalia Martinez.

“Desde, então, os conflitos e as disputas pela apropriação e uso do território no Brasil assumem proporções e violência crescentes na espoliação de áreas públicas e em conflitos sociais em torno das condições de vida e de trabalho de inúmeras contingentes populacionais regionais.”

“Terras indígenas, pescadores artesanais, marisqueiros, caiçaras, extrativismo em ecossistemas aquáticos e terrestres, como os de mangues e lagunas, são afrontados pelo turismo predatório, a pesca de arrasto, obras de infraestrutura, expansão urbana, desmatamento, lixões, poluição química, industrial e doméstica, aterramentos, vazamentos de petróleo que comprometem o saneamento ambiental marinho e costeiro”, argumenta o historiador.

Cada vez mais passou a haver a necessidade de um controle do Estado. Não mais por defesa ou valor econômico, mas para garantir a proteção.

“O interesse coletivo, o poder público, a qualidade de vida e as formações socioculturais e naturais do litoral, diariamente, são solapados por interesses privados, individuais e empresarias. Vale lembrar a emblemática atitude do presidente anterior. Ele se permitia pescar em áreas de proteção da natureza e fez anular a infração que lhe havia sido aplicada pelos órgãos federais, em benefício próprio”, critica Martinez.

No século 20, a questão das terras de marinha foi objeto de decreto do então presidente Eurico Gaspar Dutra (1883-1974), em 5 de setembro de 1946.

Na extensa lei que dispunha sobre os bens imóveis da União, ficou determinado que os terrenos de marinha eram todos aqueles a 33 metros “horizontalmente”, da “posição da linha do preamar-medido de 1831”. Por preamar se entende o nível da maré alta.

De acordo com Crespo, essa legislação, “com algumas modificações ao longo dos anos, é a base do que vigora até hoje”.

“Essa regulamentação foi mantida e adaptada ao longo dos séculos, sendo incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro após a independência do país. Atualmente, a legislação que trata das terras de marinha está incluída no Código Civil Brasileiro e em outras normas específicas que regulamentam o uso e a ocupação dessas áreas”, comenta Soares.

Ele ressalta que embora a legislação de 1946 “continue a ser a base para a regulamentação dos terrenos de marinha”, ela foi “complementada e atualizada por outras normas”, principalmente por uma lei de 1998 “que trouxe mais detalhes e modernizações sobre a administração, regularização, aforamento e alienação dos bens imóveis de domínio da União”.

O último capítulo dessa história, ao menos até a discussão levantada pela PEC das Praias, foi a Constituição de 1988, em vigor.

“Foi quando esses terrenos de marinha passaram a ser um preceito constitucional, incluídos como bens da União”, pontua Rezzutti.

“A PEC das Praias não é nada mais do que a face deste Brasil predador dos ecossistemas e das formas de vida. É um documento atual do processo de auto atribuição de privilégios às custas da população brasileira, de bens e do patrimônio público e coletivo globais”, critica Martinez.

“Em termos sócio-políticos, deveria ser tipificada como prática de racismo ambiental e, como tal, proscrita da pauta legislativa como afronta aos direitos humanos e aos princípios do Estado democrático de direito.”

O relator do texto no Senado, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), tem argumentado que a PEC não será para “privatizar” praias, mas terá como efeitos positivos, por exemplo, conceder títulos de propriedade a comunidades que já ocupam as áreas — incluindo alguns grupos de quilombolas.

“A legislação sobre as áreas de marinha tem sido constantemente revisitada para ajustar-se às mudanças sociais, econômicas e ambientais”, diz Crespo.

“Recentemente, debates sobre a ocupação irregular, preservação ambiental e uso sustentável dessas áreas têm ganhado destaque, refletindo a importância contínua de uma gestão adequada e equitativa dos espaços públicos costeiros no Brasil.”