Inundações e secas cada vez mais intensas são um “sinal de socorro” do que está por vir, à medida que as mudanças climáticas tornam o ciclo da água do planeta cada vez mais imprevisível, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira. No ano passado, os rios do mundo seu ponto de maior secura em mais de 30 anos, as geleiras sofreram a maior perda de massa de gelo em meio século e também houve um número “significativo” de inundações, disse a Organização Meteorológica Mundial da ONU em um relatório.
“A água é o canário na mina de carvão das mudanças climáticas”, disse a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, em uma declaração que acompanha o relatório sobre o Estado dos Recursos Hídricos Globais. “Recebemos sinais de socorro na forma de chuvas cada vez mais extremas, inundações e secas que causam um grande impacto em vidas, ecossistemas e economias”, disse ela.
Celeste disse que o aquecimento da atmosfera da Terra tornou o ciclo da água “mais errático e imprevisível”. O ano passado foi o mais quente já registrado, com altas temperaturas e condições secas generalizadas, produzindo secas prolongadas. Também houve muitas inundações ao redor do mundo.
Esses eventos extremos foram influenciados em parte por condições climáticas naturais, incluindo os fenômenos climáticos La Niña e El Niño, mas também, e cada vez mais, por mudanças climáticas induzidas pelo homem.
“Uma atmosfera mais quente retém mais umidade, o que é propício para chuvas pesadas. Evaporação mais rápida e secagem dos solos pioram as condições de seca”, disse Celeste.
Derretimento maciço de geleiras
A água é abundante ou insuficiente, colocando muitos países em situações cada vez mais difíceis. No ano passado, a África foi o continente mais impactado em termos de vítimas humanas. Na Líbia, duas barragens romperam devido a uma grande enchente em setembro de 2023, matando mais de 11 mil pessoas e afetando 22% da população, de acordo com a OMM.
As inundações também atingiram o Grande Chifre da África, a República Democrática do Congo, Ruanda, Moçambique e Malawi. Atualmente, 3,6 bilhões de pessoas têm acesso insuficiente à água doce pelo menos uma vez por mês por ano, de acordo com a ONU. Espera-se que esse número aumente para mais de cinco bilhões até 2050.
Nos últimos três anos, mais de 50% das bacias hidrográficas ficaram mais secas do que o normal. Enquanto isso, o fluxo para os reservatórios ficou abaixo do normal em muitas partes do mundo na última meia década.
O aumento das temperaturas também significa que as geleiras derreteram em taxas sem precedentes, perdendo mais de 600 bilhões de toneladas de água, o pior em 50 anos de observações, de acordo com dados preliminares de setembro de 2022 a agosto de 2023.
“O derretimento do gelo e das geleiras ameaça a segurança hídrica de longo prazo para milhões de pessoas. E ainda assim não estamos tomando as medidas urgentes necessárias”, disse Celeste.
Além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem, que causam o aquecimento global, a OMM quer que os recursos de água doce do mundo sejam melhor monitorados, para que os sistemas de alerta precoce possam reduzir os danos às pessoas e à vida selvagem.
“Não podemos gerir o que não medimos”, frisou Celeste.
Stefan Uhlenbrook, diretor do departamento de hidrologia, água e criosfera da OMM, enfatizou a importância de investir em infraestrutura para preservar a água e proteger as pessoas dos perigos. Mas ele também destacou a necessidade de conservar água, especialmente para a agricultura, que utiliza 70% do consumo mundial de água doce. Ele alertou que retornar a um ciclo natural da água mais regular seria difícil.
“A única coisa que podemos fazer é estabilizar o clima, o que é um desafio geracional”, disse ele.