Demissões e lugar do Brasil: as polêmicas de Trump em 24 horas de governo

Com pouco mais de 24 horas desde que tomou posse como 47º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e o governo dele protagonizaram diversas polêmicas — desde o primeiro discurso, quando garantiu ida a Marte e deportação em massa, até gesto de Elon Musk, chefe de departamento do republicano, comparado a saudação nazista por entidades judaicas.

Uma das partes mais tradicionais da cerimônia de posse do presidente dos Estados Unidos, ocorrida na última segunda-feira (20/1), é o juramento que o novo governante faz com a mão direita erguida e a mão esquerda sobre a Bíblia e a Constituição.

Apesar de não se tratar de obrigação constitucional, tocar nos documentos é uma tradição institucional que foi esquecida ou ignorada por Trump, que não encostou na ‘Bíblia de Lincon’, segurada pela esposa dele, Melania.

Antes da cerimônia, uma autoridade do novo governo havia dito que Trump planejava emitir decretos para acabar com o direito de pedir asilo nos Estados Unidos e com o direito à cidadania por nascimento no país.

“Vamos acabar com o asilo (…), o que abre um processo de remoção imediata (de imigrantes)”, disse a fonte à AFP. “Depois, vamos acabar com o direito à cidadania por nascimento.”

Durante a posse, Trump afirmou que vai decretar emergência nacional na fronteira com o México, ao sul dos Estados Unidos, e prometeu enviar tropas a fim de “reparar desastres de invasões”.

“Toda entrada ilegal será imediatamente impedida e iniciaremos o processo de devolver milhões e milhões de imigrantes ilegais de volta para o lugar de onde vieram”, declarou. “Poderemos utilizar todas as forças de segurança pública para eliminar todas as gangues criminosas que atuam trazendo crime devastador para o solo americano.”

Contrariando as tendências globais de investimento em energias renováveis, Trump anunciou investimentos na exploração de petróleo e gás natural no país. “Vamos decretar emergência nacional de energia, vamos ‘perfurar, querida, perfurar’”, declarou.

Em discurso, Trump prometeu colocar os EUA entre os maiores exportadores dos combustíveis fósseis. “Seremos novamente uma nação rica, e é esse ‘ouro líquido’ nos ajudará nesse feito.”

O novo presidente dos Estados Unidos também prometeu taxar outras nações. Segundo ele, “tarifas e impostos” serão cobrados de países estrangeiros a fim de “enriquecer” os cidadãos americanos.

“Começarei imediatamente a reformular nosso sistema comercial para proteger os trabalhadores americanos e suas famílias”, disse.

Além disso, informou que espera impor tarifas alfandegárias de 25% ao México e ao Canadá a partir do dia 1º de fevereiro. “O Canadá também abusa fortemente — grandes quantidades de gente vindo e de fentanil chegando”, justificou.

Trump afirmou novamente que vai “tomar de volta” o Canal do Panamá. “Demos o canal ao Panamá e vamos recuperá-lo”, declarou. Segundo o novo mandatário, “a China está operando” o local.

Ele acusou os responsáveis pelo canal de sobretaxar navios estadunidenses e de não tratar o país de forma justa.

O republicano reiterou, também, que “em breve” o nome do Golfo do México será alterado para “Golfo da América”.

O presidente disse que os Estados Unidos vão ficar a bandeira do país em Marte. “Vamos perseguir nosso destino manifesto rumo às estrelas, enviando astronautas americanos para fincar as estrelas e listras (da bandeira americana) no planeta.”

O destino manifesto a que ele se refere diz respeito a uma ideologia prevalente no século XIX que defendia o direito moral e a missão divina de cidadãos americanos de expandir os próprios territórios, da costa atlântica até o Pacífico.

Trump disse também que os EUA não precisam do Brasil. “Eles precisam de nós muito mais que nós deles”, respondeu a uma jornalista.

Antes mesmo da cerimônia de posse, funcionários da Casa Branca haviam adiantado à AFP que o novo presidente iria assinar uma ordem executiva que orienta o governo a “reconhecer” a existência de apenas “dois gêneros”, o que foi confirmado no primeiro discurso do governante.

“Também acabarei com a política governamental de tentar aplicar a raça e o gênero em cada aspecto das vidas pública e privada”, ressaltou. “A partir de hoje, a política do governo dos Estados Unidos é de que existem apenas dois gêneros, masculino e feminino.”

Na noite de segunda-feira (20/1), Trump anunciou que iria assinar decretos para indultar pessoas condenadas por participar da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021.

Ele chamou os criminosos de “reféns”, “patriotas” e “presos políticos” e disse que assinaria “indultos para muita gente” ainda naquela noite.

Também na noite de segunda, foi assinada ordem executiva para tirar os EUA do Acordo de Paris sobre o clima, firmado em 2015 com o objetivo reduzir emissões de gases de efeito estufa.

O presidente também assinou carta formal dirigida à Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de notificar sobre a decisão — feita em um momento em que impactos produzidos pelo aquecimento global, inclusive eventos climáticos extremos, são percebidos no mundo inteiro.

Por fim, assinou decreto para retirar o país da Organização Mundial da Saúde (OMS), da qual os Estados Unidos são o principal doador e garantem financiamento vital. Ele diz que a OMS roubou os EUA.

Além disso, foi assinado decreto que cancela o regime de trabalho remoto de cerca de um milhão de funcionários públicos federais.

“Os chefes de todos os departamentos e agências do Poder Executivo do governo devem, o mais rápido possível, tomar todas as medidas necessárias para encerrar os acordos de trabalho remoto e exigir que os funcionários retornem ao trabalho presencial em seus respectivos locais de trabalho em tempo integral”, diz o documento.

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Trump revogou a decisão de Biden de tirar Cuba de uma lista de países patrocinadores de terrorismo, anunciada dias antes a fim de libertar presos políticos. A Casa Branca anunciou a decisão em comunicado divulgado após a cerimônia de posse.

O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse que medida é “ato de arrogância e desprezo pela verdade”.

Ao agradecer apoiadores de Trump em discurso feito na noite de segunda, Elon Musk fez um gesto que foi comparado a uma saudação nazista por entidades judaicas. De acordo com a AFP, ele “bateu no peito com a mão direita, que depois estendeu abertamente na direção da plateia”, por duas vezes.

No X, a historiadora especializada em nazismo nos EUA Claire Aubin disse que o gesto do futuro ministro de Trump foi um “sieg heil”. Mais tarde, Musk escreveu que as pessoas vão ter que encontrar “truques sujos melhores” para derrotá-lo e que “o ataque ‘todo mundo é Hitler’ é exagerado”.

A partir da madrugada de terça-feira (21/10), Trump demitiu, por meio da primeira publicação que fez na rede social Truth Social após a posse, quatro funcionários de alto escalão nomeados por Biden. O presidente disse também que “mais de mil” serão destituídos.

Os funcionários demitidos foram: José Andrés, do Conselho Presidencial de Esportes, Saúde e Nutrição; Mark Milley, do Conselho Consultivo Nacional de Infraestrutura; Brian Hook, do Centro Internacional Woodrow Wilson para Acadêmicos; e Keisha Lance Bottoms, do Conselho Presidencial para Exportações.

“Que isto sirva como aviso oficial de rescisão para esses quatro indivíduos, com muitos outros por vir”, escreveu. “Meu Departamento Pessoal Presidencial está ativamente no processo de identificar e demitir mais de mil cargos nomeados pelo governo anterior que não se enquadram em nossa visão de tornar a América grande novamente.”

*Com informações da AFP.

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