O premiê chinês Li Qiang lançou no último sábado a construção de um megaprojeto de usina hidrelétrica no trecho inferior do Rio Yarlung Tsangpo, no Tibete, com investimento total previsto de 1,2 trilhão de yuans (US$ 167 bilhões ou R$ 933 bilhões), segundo a agência oficial de notícias chinesa Xinhua.
Também foi oficialmente apresentada no sábado uma nova empresa chamada China Yajiang Group, que será responsável pela construção do projeto hidrelétrico, composto por cinco barragens em cascata, localizado na cidade de Nyingchi, no sudeste da região autônoma do Tibete, informou a Xinhua.
Segundo a agência, a energia gerada será transferida principalmente para fora do Tibete, embora também atenda às necessidades de consumo local. Não foram fornecidos detalhes sobre a capacidade do projeto, mas se realmente sair do papel pode se tornar a maior hidrelétrica do mundo, posto atualmente da também chinesa Usina de Três Gargantas, seguida pela binacional Itaipu, entre Brasil e Paraguai.
O volume total de investimento torna essa hidrelétrica uma das obras de infraestrutura mais caras da História e possivelmente um impulso para os esforços de Pequim de reaquecer o crescimento econômico.
Desafio diplomático
No entanto, a barragem pode se tornar um ponto de tensão entre China e Índia, já que o rio Yarlung Tsangpo atravessa a disputada região de Arunachal Pradesh e alimenta um dos principais rios indianos. Pequim afirmou que não haverá impactos negativos nas áreas rio abaixo.
Ambientalistas na China há muito expressam preocupação com os impactos irreversíveis da construção de barragens no desfiladeiro do Yarlung Tsangpo, onde o rio sofre uma queda de 2.000 metros em um trecho de 50 quilômetros. A região abriga uma reserva natural nacional e é considerada um dos principais pontos de biodiversidade do país.
Projeto cheio de superlativos
Há muito tempo se especula sobre a construção de uma megausina hidrelétrica no rio Yarlung Tsangpo. Em 2020, uma reportagem da mídia estatal citou um executivo da empresa estatal de construção de projetos elétricos da China afirmando que o trecho inferior do rio possui um imenso desfiladeiro com potencial para gerar 70 gigawatts de eletricidade, mais do que o triplo da capacidade de Três Gargantas, a maior do mundo.
Um projeto desse porte representaria um feito colossal tanto de engenharia quanto de diplomacia. Apenas transportar os equipamentos de construção e transmissão de energia até o local remoto já seria um grande desafio, sem contar a dificuldade de contornar os trechos de corredeiras onde o rio sofre uma queda de 2.000 metros de altitude ao longo de 50 quilômetros.
O rio segue seu curso rio abaixo em direção à Índia e a Bangladesh, o que significa que eventuais alterações no fornecimento de água podem se transformar em incidentes internacionais.
Os rumores em torno do projeto ganharam força em dezembro, quando a agência estatal Xinhua noticiou que o governo chinês havia aprovado a construção de “um projeto hidrelétrico” no trecho inferior do Yarlung Tsangpo.
O governo, no entanto, não revelou muitos detalhes sobre o empreendimento, como seu porte ou cronograma. Limitou-se a afirmar que será seguro e não causará impactos adversos ao meio ambiente nem aos países vizinhos localizados a jusante.