Demissões e lugar do Brasil: as polêmicas de Trump em 24 horas de governo

Com pouco mais de 24 horas desde que tomou posse como 47º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e o governo dele protagonizaram diversas polêmicas — desde o primeiro discurso, quando garantiu ida a Marte e deportação em massa, até gesto de Elon Musk, chefe de departamento do republicano, comparado a saudação nazista por entidades judaicas.

Uma das partes mais tradicionais da cerimônia de posse do presidente dos Estados Unidos, ocorrida na última segunda-feira (20/1), é o juramento que o novo governante faz com a mão direita erguida e a mão esquerda sobre a Bíblia e a Constituição.

Apesar de não se tratar de obrigação constitucional, tocar nos documentos é uma tradição institucional que foi esquecida ou ignorada por Trump, que não encostou na ‘Bíblia de Lincon’, segurada pela esposa dele, Melania.

Antes da cerimônia, uma autoridade do novo governo havia dito que Trump planejava emitir decretos para acabar com o direito de pedir asilo nos Estados Unidos e com o direito à cidadania por nascimento no país.

“Vamos acabar com o asilo (…), o que abre um processo de remoção imediata (de imigrantes)”, disse a fonte à AFP. “Depois, vamos acabar com o direito à cidadania por nascimento.”

Durante a posse, Trump afirmou que vai decretar emergência nacional na fronteira com o México, ao sul dos Estados Unidos, e prometeu enviar tropas a fim de “reparar desastres de invasões”.

“Toda entrada ilegal será imediatamente impedida e iniciaremos o processo de devolver milhões e milhões de imigrantes ilegais de volta para o lugar de onde vieram”, declarou. “Poderemos utilizar todas as forças de segurança pública para eliminar todas as gangues criminosas que atuam trazendo crime devastador para o solo americano.”

Contrariando as tendências globais de investimento em energias renováveis, Trump anunciou investimentos na exploração de petróleo e gás natural no país. “Vamos decretar emergência nacional de energia, vamos ‘perfurar, querida, perfurar’”, declarou.

Em discurso, Trump prometeu colocar os EUA entre os maiores exportadores dos combustíveis fósseis. “Seremos novamente uma nação rica, e é esse ‘ouro líquido’ nos ajudará nesse feito.”

O novo presidente dos Estados Unidos também prometeu taxar outras nações. Segundo ele, “tarifas e impostos” serão cobrados de países estrangeiros a fim de “enriquecer” os cidadãos americanos.

“Começarei imediatamente a reformular nosso sistema comercial para proteger os trabalhadores americanos e suas famílias”, disse.

Além disso, informou que espera impor tarifas alfandegárias de 25% ao México e ao Canadá a partir do dia 1º de fevereiro. “O Canadá também abusa fortemente — grandes quantidades de gente vindo e de fentanil chegando”, justificou.

Trump afirmou novamente que vai “tomar de volta” o Canal do Panamá. “Demos o canal ao Panamá e vamos recuperá-lo”, declarou. Segundo o novo mandatário, “a China está operando” o local.

Ele acusou os responsáveis pelo canal de sobretaxar navios estadunidenses e de não tratar o país de forma justa.

O republicano reiterou, também, que “em breve” o nome do Golfo do México será alterado para “Golfo da América”.

O presidente disse que os Estados Unidos vão ficar a bandeira do país em Marte. “Vamos perseguir nosso destino manifesto rumo às estrelas, enviando astronautas americanos para fincar as estrelas e listras (da bandeira americana) no planeta.”

O destino manifesto a que ele se refere diz respeito a uma ideologia prevalente no século XIX que defendia o direito moral e a missão divina de cidadãos americanos de expandir os próprios territórios, da costa atlântica até o Pacífico.

Trump disse também que os EUA não precisam do Brasil. “Eles precisam de nós muito mais que nós deles”, respondeu a uma jornalista.

Antes mesmo da cerimônia de posse, funcionários da Casa Branca haviam adiantado à AFP que o novo presidente iria assinar uma ordem executiva que orienta o governo a “reconhecer” a existência de apenas “dois gêneros”, o que foi confirmado no primeiro discurso do governante.

“Também acabarei com a política governamental de tentar aplicar a raça e o gênero em cada aspecto das vidas pública e privada”, ressaltou. “A partir de hoje, a política do governo dos Estados Unidos é de que existem apenas dois gêneros, masculino e feminino.”

Na noite de segunda-feira (20/1), Trump anunciou que iria assinar decretos para indultar pessoas condenadas por participar da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021.

Ele chamou os criminosos de “reféns”, “patriotas” e “presos políticos” e disse que assinaria “indultos para muita gente” ainda naquela noite.

Também na noite de segunda, foi assinada ordem executiva para tirar os EUA do Acordo de Paris sobre o clima, firmado em 2015 com o objetivo reduzir emissões de gases de efeito estufa.

O presidente também assinou carta formal dirigida à Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de notificar sobre a decisão — feita em um momento em que impactos produzidos pelo aquecimento global, inclusive eventos climáticos extremos, são percebidos no mundo inteiro.

Por fim, assinou decreto para retirar o país da Organização Mundial da Saúde (OMS), da qual os Estados Unidos são o principal doador e garantem financiamento vital. Ele diz que a OMS roubou os EUA.

Além disso, foi assinado decreto que cancela o regime de trabalho remoto de cerca de um milhão de funcionários públicos federais.

“Os chefes de todos os departamentos e agências do Poder Executivo do governo devem, o mais rápido possível, tomar todas as medidas necessárias para encerrar os acordos de trabalho remoto e exigir que os funcionários retornem ao trabalho presencial em seus respectivos locais de trabalho em tempo integral”, diz o documento.

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Trump revogou a decisão de Biden de tirar Cuba de uma lista de países patrocinadores de terrorismo, anunciada dias antes a fim de libertar presos políticos. A Casa Branca anunciou a decisão em comunicado divulgado após a cerimônia de posse.

O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse que medida é “ato de arrogância e desprezo pela verdade”.

Ao agradecer apoiadores de Trump em discurso feito na noite de segunda, Elon Musk fez um gesto que foi comparado a uma saudação nazista por entidades judaicas. De acordo com a AFP, ele “bateu no peito com a mão direita, que depois estendeu abertamente na direção da plateia”, por duas vezes.

No X, a historiadora especializada em nazismo nos EUA Claire Aubin disse que o gesto do futuro ministro de Trump foi um “sieg heil”. Mais tarde, Musk escreveu que as pessoas vão ter que encontrar “truques sujos melhores” para derrotá-lo e que “o ataque ‘todo mundo é Hitler’ é exagerado”.

A partir da madrugada de terça-feira (21/10), Trump demitiu, por meio da primeira publicação que fez na rede social Truth Social após a posse, quatro funcionários de alto escalão nomeados por Biden. O presidente disse também que “mais de mil” serão destituídos.

Os funcionários demitidos foram: José Andrés, do Conselho Presidencial de Esportes, Saúde e Nutrição; Mark Milley, do Conselho Consultivo Nacional de Infraestrutura; Brian Hook, do Centro Internacional Woodrow Wilson para Acadêmicos; e Keisha Lance Bottoms, do Conselho Presidencial para Exportações.

“Que isto sirva como aviso oficial de rescisão para esses quatro indivíduos, com muitos outros por vir”, escreveu. “Meu Departamento Pessoal Presidencial está ativamente no processo de identificar e demitir mais de mil cargos nomeados pelo governo anterior que não se enquadram em nossa visão de tornar a América grande novamente.”

*Com informações da AFP.

Governo de Israel aprova cessar-fogo em Gaza

O governo e o gabinete de segurança de Israel aprovaram o acordo de cessar-fogo em Gaza na noite desta sexta-feira (17/01, horário do Brasil).

As objeções dos ministros de direita radical no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não foram suficientes para rejeitar o acordo.

Antes mesmo das votações, após uma série de negociações e atrasos de última hora, Netanyahu confirmou que havia sido finalizada a negociação para a libertação de reféns sequestrados em Israel e que estão atualmente em Gaza.

Em troca, prisioneiros palestinos atualmente em Israel serão soltos.

Segundo o gabinete de Netanyahu, os primeiros reféns poderão ser libertados já no domingo (19). Os nomes dos 33 reféns que serão soltos em uma primeira etapa do acordo já foram divulgados.

O atraso na votação, inicialmente prevista para quinta-feira (18), gerou dúvidas — Netanyahu havia garantido que, caso o acordo fosse aprovado pelos órgãos de Israel, a libertação dos primeiros reféns ocorreria conforme o planejado.

O que o acordo prevê

O acordo, intermediado pelos Estados Unidos e pelo Catar, é dividido em três fases, com objetivos distintos e escalonados.

Na primeira fase, que entra em vigor em 19 de janeiro e terá duração de seis semanas, 33 reféns, incluindo mulheres, crianças e idosos, serão libertados em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel.

Paralelamente, as forças israelenses devem recuar para o leste, afastando-se das áreas mais densamente povoadas de Gaza. Esse movimento permitirá que palestinos deslocados comecem a retornar às suas casas, interrompendo temporariamente o conflito direto em áreas urbanas.

Além disso, está prevista a entrada diária de centenas de caminhões de ajuda humanitária no território palestino, aliviando a grave crise humanitária na região.

A segunda fase do acordo será marcada por novas negociações para a libertação dos reféns restantes. Esse período também incluirá o recuo total das tropas israelenses em Gaza e esforços para alcançar uma “calma sustentável”.

A expectativa é que essa etapa estabeleça as bases para um acordo mais duradouro, evitando a retomada imediata do conflito armado.

Por fim, a terceira e última fase focará no retorno dos restos mortais de quaisquer reféns que não sobreviveram ao cativeiro.

Além disso, será iniciada a reconstrução de Gaza, o que inclui a restauração de infraestrutura essencial e assistência às famílias afetadas pela destruição.

Esse processo, no entanto, pode levar anos, considerando a magnitude dos danos causados pelo conflito.

Manifestantes em Tel Aviv pedindo o retorno dos reféns mantidos na Faixa de Gaza reagem após o anúncio do cessar-fogo

A situação agora

Enquanto isso, a violência persiste. Desde o anúncio do acordo, mais de 100 palestinos foram mortos em ataques aéreos israelenses, incluindo 27 crianças e 31 mulheres, segundo a defesa civil de Gaza.

Bombardeios recentes atingiram casas em diferentes partes do território, agravando ainda mais a crise humanitária.

A situação humanitária em Gaza é crítica, com 91% da população enfrentando insegurança alimentar aguda, segundo dados da ONU.

Os suprimentos de ajuda humanitária diminuíram drasticamente desde o início do conflito.

Antes de outubro de 2023, cerca de 500 caminhões de ajuda, incluindo combustível, entravam em Gaza diariamente. No entanto, em outubro de 2024, essa média caiu para apenas 37 caminhões por dia.

Danos em edifício residencial após ataque aéreo israelense em Jabalia, ocorrido em 16 de janeiro, depois de Israel e Gaza chegarem a um acordo de cessar-fogo

A agência da ONU dedicada às crianças, a Unicef, relatou que “milhares de carregamentos de ajuda” estão retidos em armazéns na Jordânia, aguardando para entrar em Gaza.

Rosalia Bollen, porta-voz da Unicef, disse ao programa Today, da BBC Radio 4: “Estamos muito esperançosos de que as condições no terreno melhorem com o cessar-fogo.”

Contudo, mesmo que os suprimentos sejam liberados, haverá grandes desafios para distribuí-los devido aos danos na infraestrutura e à insegurança na região.

No país liderado por Netanyahu, a política interna refletiu as tensões em torno do acordo, que teve resistência de membros do governo de direita radical, como Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich.

Governo de Israel aprova cessar-fogo em Gaza

O governo e o gabinete de segurança de Israel aprovaram o acordo de cessar-fogo em Gaza na noite desta sexta-feira (17/01, horário do Brasil).

As objeções dos ministros de direita radical no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não foram suficientes para rejeitar o acordo.

Antes mesmo das votações, após uma série de negociações e atrasos de última hora, Netanyahu confirmou que havia sido finalizada a negociação para a libertação de reféns sequestrados em Israel e que estão atualmente em Gaza.

Em troca, prisioneiros palestinos atualmente em Israel serão soltos.

Segundo o gabinete de Netanyahu, os primeiros reféns poderão ser libertados já no domingo (19). Os nomes dos 33 reféns que serão soltos em uma primeira etapa do acordo já foram divulgados.

O atraso na votação, inicialmente prevista para quinta-feira (18), gerou dúvidas — Netanyahu havia garantido que, caso o acordo fosse aprovado pelos órgãos de Israel, a libertação dos primeiros reféns ocorreria conforme o planejado.

O que o acordo prevê

O acordo, intermediado pelos Estados Unidos e pelo Catar, é dividido em três fases, com objetivos distintos e escalonados.

Na primeira fase, que entra em vigor em 19 de janeiro e terá duração de seis semanas, 33 reféns, incluindo mulheres, crianças e idosos, serão libertados em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel.

Paralelamente, as forças israelenses devem recuar para o leste, afastando-se das áreas mais densamente povoadas de Gaza. Esse movimento permitirá que palestinos deslocados comecem a retornar às suas casas, interrompendo temporariamente o conflito direto em áreas urbanas.

Além disso, está prevista a entrada diária de centenas de caminhões de ajuda humanitária no território palestino, aliviando a grave crise humanitária na região.

A segunda fase do acordo será marcada por novas negociações para a libertação dos reféns restantes. Esse período também incluirá o recuo total das tropas israelenses em Gaza e esforços para alcançar uma “calma sustentável”.

A expectativa é que essa etapa estabeleça as bases para um acordo mais duradouro, evitando a retomada imediata do conflito armado.

Por fim, a terceira e última fase focará no retorno dos restos mortais de quaisquer reféns que não sobreviveram ao cativeiro.

Além disso, será iniciada a reconstrução de Gaza, o que inclui a restauração de infraestrutura essencial e assistência às famílias afetadas pela destruição.

Esse processo, no entanto, pode levar anos, considerando a magnitude dos danos causados pelo conflito.

Manifestantes em Tel Aviv pedindo o retorno dos reféns mantidos na Faixa de Gaza reagem após o anúncio do cessar-fogo

A situação agora

Enquanto isso, a violência persiste. Desde o anúncio do acordo, mais de 100 palestinos foram mortos em ataques aéreos israelenses, incluindo 27 crianças e 31 mulheres, segundo a defesa civil de Gaza.

Bombardeios recentes atingiram casas em diferentes partes do território, agravando ainda mais a crise humanitária.

A situação humanitária em Gaza é crítica, com 91% da população enfrentando insegurança alimentar aguda, segundo dados da ONU.

Os suprimentos de ajuda humanitária diminuíram drasticamente desde o início do conflito.

Antes de outubro de 2023, cerca de 500 caminhões de ajuda, incluindo combustível, entravam em Gaza diariamente. No entanto, em outubro de 2024, essa média caiu para apenas 37 caminhões por dia.

Danos em edifício residencial após ataque aéreo israelense em Jabalia, ocorrido em 16 de janeiro, depois de Israel e Gaza chegarem a um acordo de cessar-fogo

A agência da ONU dedicada às crianças, a Unicef, relatou que “milhares de carregamentos de ajuda” estão retidos em armazéns na Jordânia, aguardando para entrar em Gaza.

Rosalia Bollen, porta-voz da Unicef, disse ao programa Today, da BBC Radio 4: “Estamos muito esperançosos de que as condições no terreno melhorem com o cessar-fogo.”

Contudo, mesmo que os suprimentos sejam liberados, haverá grandes desafios para distribuí-los devido aos danos na infraestrutura e à insegurança na região.

No país liderado por Netanyahu, a política interna refletiu as tensões em torno do acordo, que teve resistência de membros do governo de direita radical, como Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich.

Pobreza infantil ainda atinge 55,9% das crianças e adolescentes no Brasil

O Brasil reduziu em 6,6% o número de crianças e adolescentes de 0 a 17 anos vivendo na pobreza, em suas múltiplas dimensões, nos últimos seis anos. Segundo o estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil, publicado nesta quinta-feira (16/1) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em 2017, eram 34,3 milhões (62,5%) e, em 2023, o número caiu para 28,8 milhões (55,9%).

O levantamento, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), analisou sete dimensões fundamentais: renda, educação, acesso à informação, água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil, além da segurança alimentar.

Com relação à pobreza multidimensional extrema, o número passou de 13 milhões (23,8%) para 9,8 milhões (18,8%), no mesmo período. De acordo com os dados, a redução da pobreza desse indicador foi influenciada principalmente pelo aumento da renda — beneficiado em especial pela ampliação do Bolsa Família —, e pela melhoria no acesso à informação.

A pobreza multidimensional é um conceito que considera vários fatores que contribuem para a pobreza, além da renda monetária. É resultado da relação entre privações, exclusões e vulnerabilidades que comprometem o bem-estar de meninas e meninos.

Segundo a chefe de Políticas Sociais do Unicef no Brasil, Liliana Chopitea, os resultados do estudo mostram que o Brasil conseguiu avançar nas diversas dimensões avaliadas. No entanto, o percentual ainda é preocupante. “Naturalmente, é positivo e esperançoso saber que essa situação está melhorando”, destaca.

A pobreza infantil pode ter impactos duradouros na saúde, no desenvolvimento cognitivo e nas oportunidades da criança. “A pobreza infantil é importante, porque se nós endereçarmos esses primeiros anos essa pobreza pode se perpetuar e os impactos podem ser duradouros para crianças e adolescentes. Então é importante entender que a pobreza afeta mais as crianças e adolescentes porque está justamente em um momento de desenvolvimento. Qualquer direito que não seja garantido na idade certa pode ter consequências a médio e longo prazo para o desenvolvimento das crianças”, explica Chopitea.

A longo prazo, esses efeitos também podem ser sentidos na economia do país. “Se tivermos crianças que não estão devidamente desenvolvidas e apoiadas, naturalmente vamos ter menos adultos que possam contribuir economicamente para o país. Então é importante colocar como prioridade as políticas endereçadas a acesso aos direitos das crianças e adolescentes na idade certa”, complementa.

No período analisado, entre 2017 e 2023, o percentual de crianças e adolescentes de 0 a 17 anos privados de renda caiu de 25,4% em 2017 para 19,1% em 2023. O percentual de crianças sem acesso à informação caiu de 17,5% para 3,5%.

Dentre as dimensões avaliadas, no acesso a água a queda foi de 6,8% para 5,4%. Na dimensão de saneamento, o percentual caiu de 42,3% para 38%. Eram 13,2% crianças e adolescentes sem acesso adequado a moradia em 2017, caindo para 11,2% em 2023.

Já o percentual de crianças e adolescentes em trabalho infantil ficou estável, passando de 3,5% em 2017 para 3,4% em 2023. Em relação à educação, o estudo analisou as privações de acesso à escola na idade certa e alfabetização. Olhando apenas a dimensão de alfabetização, cerca de 30% das crianças de 8 anos não estavam alfabetizadas em 2023.

De acordo com o estudo, esse é um dos reflexos da pandemia entre os anos de 2020 e 2021, período marcado pelo ensino remoto e pela falta de acesso a recursos educacionais e suporte pedagógico adequados. À época essas crianças, que tinham tinham entre 5 e 6 anos, estavam na alfabetização. Em um recorte racial, as crianças negras tiveram maiores privações em educação, especialmente em relação ao analfabetismo.

Separado por Unidades da Federação, o estudo mostra avanços na grande maioria dos estados. Embora o Norte e Nordeste continuem apresentando os maiores desafios, foram observadas reduções de até 10 pontos percentuais da pobreza multidimensional em alguns estados dessas regiões entre 2017 e 2023.

O estudo destaca ainda o impacto geográfico da privação de crianças e adolescentes, os que residem em áreas rurais enfrentam consistentemente níveis muito altos de privação. Em 2023, a taxa geral cai levemente para 95,3%, após ter atingido 96,9% em 2019. Por outro lado, nas áreas urbanas, o percentual de crianças e adolescentes com alguma privação mostra uma tendência de redução mais acentuada, caindo de 55,3% em 2017 para 48,5% em 2023.

Apesar de as áreas rurais terem significativamente mais crianças e adolescentes com alguma privação em todos as dimensões, saneamento se destaca. Enquanto em áreas urbanas, o percentual com privação de saneamento é de quase 28%, no caso de áreas rurais esse percentual é de quase 92%.

O resultado reflete as dificuldades contínuas enfrentadas por crianças e adolescentes em áreas rurais, onde o acesso a serviços básicos, educação e infraestrutura é frequentemente limitado, destacando a necessidade de políticas específicas que abordem as necessidades particulares de crianças e adolescentes em comunidades rurais para reduzir essa lacuna de privação.

Lula sanciona lei que limita celular nas escolas: as dificuldades dos professores para implementar as novas regras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou na segunda-feira (14) a proibição do uso de aparelhos celulares por alunos nas escolas públicas e privadas de todo o Brasil.

O uso de smartphones está no centro de um debate global sobre os impactos no desempenho acadêmico, desenvolvimento de habilidades cognitivas e na saúde mental de crianças e adolescentes.

A nova lei pretende equilibrar os benefícios e prejuízos do uso desses dispositivos, especialmente em salas de aula.

Ela prevê:

A lei não prevê nenhum tipo de sanção específica aos alunos que a descumprirem, mas empodera as escolas para ter mais controle sobre o uso dos aparelhos.

Como será a aplicação da lei em 2025?

O início da lei não significa que o que acontece nas escolas – tanto por parte dos alunos quanto dos educadores – mudará instantaneamente.

Em dezmebro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou lei aprovada por unanimidade na Assembleia Legislativa do estado (Alesp) em novembro, tornando São Paulo o primeiro estado a implementar a proibição.

A BBC News Brasil visitou escolas da capital paulista para entender como estão se preparando para se adaptar à legislação e o que fizeram aquelas que já haviam adotado a prática antes da aprovação da lei.

Em visita da reportagem à Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, em São Paulo, os educadores compartilharam que ainda não têm um plano totalmente definido, e afirmam que não há recomendações muito específicas vindas do Estado, visto que cada escola pode ter uma realidade distinta.

Manuela Fachini, vice-diretora, diz que o caminho será de ‘tentativa e erro’.

Maria das Graças e Rogério Migotto dão aulas para o ensino fundamental II e para o Ensino Médio, e relatam que, atualmente, é difícil controlar o uso mesmo durante as aulas.

Maria das Graças e Rogério Migotto, professores Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna

“Eles acham que tudo precisa ser feito no celular – cerca de 80% dos alunos usa dentro da sala de aula. A gente pede para guardar, mas eles escondem o aparelho embaixo da carteira ou até da perna. Parece que não conseguem ficar sem.”

Ainda assim, os professores não se sentem confortáveis em tirar o aparelho de um aluno.

“Eu parei de pegar celular por que se acontecesse uma queda, qualquer coisa, eu poderia ser responsabilizada por ter pego o celular”, diz Graças.

Migotto relata também que há alunos discutindo com os professores dizendo que eles “não podem fazer nada” em relação ao uso das telas – e alguns poucos se tornam agressivos.

“Já tive uma experiência que resolvi tirar o aluno de sala por não guardar o celular. Ele atirou o celular na parede e saiu me xingando.”

Eles esperam que a lei os garanta mais autoridade em sala de aula, mas ainda não sabem como exatamente isso poderia ser feito.

“Uma coisa que me preocupa muito é como vamos nos responsabilizar pelos celulares. Até que ponto conseguiremos, junto com as famílias, dar um destino adequado para esses aparelhos, evitando qualquer tipo de problema, de ambos os lados? Estamos pensando em alternativas para que isso aconteça”, acrescenta a vice-diretora.

Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna após o último dia letivo de 2024

Os alunos Rafaela Teodoro e Gabriel Takashi, de 17 e 16 anos, dizem compreender que o celular pode ser nocivo e não deve ser usado durante as aulas.

“Eu acho que, por termos crescido tão ligados às telas, quando estamos na sala de aula e chega uma notificação no celular, a vontade de olhar é quase inevitável, e isso acaba gerando até uma sensação de ansiedade”, diz Rafaela.

Gabriel concorda, mas preferia ter acesso durante os intervalos.

“O celular acaba, sim, desviando nossa atenção. Eu acho válido proibir, mas acredito que isso vai depender muito da abordagem adotada em sala de aula. Mas acho que a proibição não deveria se estender ao recreio, que é um momento em que os alunos estão mais livres para relaxar.”

Gabriel Takashi, 16, e Rafaela Teodoro, 17, alunos do segundo ano do Ensino Médio na Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, em São Paulo

Escolas particulares que já adotaram a medida ficam mais confortáveis

Quem tem mais recursos têm também mais liberdade para explorar soluções que mantêm os alunos longe da tentação das telas.

É o caso do Colégio Porto Seguro, particular, que impõe uma regra interna de não uso de telas – mesmo durante intervalos – há seis anos.

Em conversa com a reportagem, Meire Nocito, diretora institucional educacional do colégio, diz que o segredo é o espaço de diálogo direto com os alunos, sobretudo com aqueles que demonstram mais resistência em ficarem afastados do celular.

“Os alunos já estavam tão focados no celular durante os intervalos que pararam de interagir socialmente ou brincar entre si. Por isso, implementamos o ‘detox’ às sextas-feiras, um dia em que eles deixavam os celulares de lado nos intervalos para brincar e participar de atividades recreativas, esportivas e culturais.”

Depois, a regra passou a valer para todos os dias. E mesmo com uma infraestrutura completa, com quadras, laboratórios e salas de música, os alunos puderam oferecer atividades que, em sua visão, poderiam ajudá-los a ignorar as telas.

“Independentemente das atividades que já oferecemos, eles começaram a apresentar suas próprias ideias. Foi assim que surgiram propostas como oficinas de cupcakes, contação de histórias e ateliês de artes.”

Meire Nocito, diretora da unidade Morumbi do Colégio Visconde de Porto Seguro

No também particular colégio Camino, situado na zona Oeste, há cerca de quatro anos é proibido que os alunos usem celular ou outros dispositivos eletrônicos. Para evitar a tentação, os aparelhos são colocados em uma caixa. Se alguém é pego usando, um funcionário da escola pode retirar e devolver somente após o término do dia escolar.

A diretora Letícia Lyle conta que decidiu impor a regra após a pandemia, quando percebeu que os alunos estavam ainda mais apegados à tecnologia.

“No começo, muitos ficaram revoltados, fizeram até um protesto. Mas não durou muito. Depois de uma semana eles começaram a engajar em atividades, jogar vôlei, conversar entre eles… E passaram a ver que também existiam benefícios.”

Maria Morena, Gustavo Matias, Fernando Montoro e Alicia Pereira, alunos do colégio Camino

“Eu quase não sinto falta do celular, porque estou com meus amigos. Mas, por exemplo, quando saiu o Spotify Wrapped [uma retrospectiva personalizada com os artistas mais ouvidos no ano], no ano passado, eu fiquei muito ansiosa para ver o meu. Estávamos na escola, e eu só conseguia pensar: ‘Quero muito ver o meu'”, diz Alicia Pereira, aluna do colégio Camino, de 15 anos.

“Mas, em relação às redes sociais, eu não sinto tanta necessidade, porque sei que, quando a aula acabar e eu puder mexer, vou acabar vendo as mesmas coisas de sempre. E eu acho que quanto mais tempo a gente passa online, é pior para a nossa saúde mental, por conta da comparação com outras pessoas”.

A aluna admite, porém, que muitos dos amigos tem seus ‘jeitinhos’ para manter os celulares escondidos e usar quando ninguém está olhando.

Aluno usando celular durante o tempo livre no último dia letivo, quando ficaram mais livres para escolher suas atividades

O papel da família e a ‘sensação de controle’

Tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, muitos pais defendem que os filhos tenham o celular consigo “para emergências” ou para garantir que “a criança está bem”. Ao mesmo tempo, há um consenso quase unânime de que as famílias esperam que os educadores consigam garantir que, pelo menos durante as aulas, os jovens estejam focados no conteúdo acadêmico.

“Os pais querem manter essa conexão, o que é compreensível, então nem sempre é fácil. Eles precisam aprender a desapegar um pouco e confiar que seus filhos estão em um ambiente seguro e favorável para o aprendizado”, defende Lyle.

A vice-diretora da Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, Manuela Fachini, ressalta que os pais precisam estar alinhados não apenas com as regras da escola, mas também colaborando para promover uma educação digital mais equilibrada.

“Não posso delegar ao professor algo que, como mãe, é minha responsabilidade. O que vemos hoje é que muitos pais, pela correria do dia a dia, acabam permitindo que o filho use o celular como uma recompensa, como se isso fosse uma forma de compensar a falta de tempo com ele.”

Camila Bruzzi, uma das mães por trás do ‘Movimento Desconecta’, avalia que o argumento de muitos pais para que as crianças sigam portando os aparelhos em escolas parte de uma “falsa sensação de controle”, já que em caso de emergências, como, por exemplo, um ataque violento à escola, o aluno deve focar em se proteger e seguir as orientações da instituição.

“E se precisar contatar a criança, o caminho é ligar na escola, como sempre foi feito”, diz ela, que pretende espalhar a ideia do grupo de criar ações coletivas para adiar, limitar e controlar o acesso de crianças a smartphones e redes sociais.

Para ela, o porte deve ser totalmente proibido. “As crianças e adolescentes estão sempre tentando quebrar regras. Com o nível de sofisticação dos algoritmos usados para viciar e capturar a atenção das pessoas, é injusto esperar que se comportem bem e sigam as regras sem o apoio de diretrizes claras da escola.”

Bruzzi considera alarmante a falta de definição da lei que menciona que se houver uma necessidade importante, a criança pode usar o celular sem qualquer autorização.

“O texto se tornou mais amplo e nada claro. A preocupação é que, basicamente, qualquer coisa pode ser considerada uma exceção.”

O impacto na saúde mental dos jovens

O psicólogo Cristiano Nabuco alerta que os efeitos das dependências das telas, tema do qual é pesquisador, são especialmente nocivos para os jovens.

“O córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos e pela reflexão sobre nossas ações, só se desenvolve totalmente por volta dos 25 anos. O uso constante de telas digitais estimula atalhos no cérebro, liberando dopamina, o que acelera as decisões e reduz a influência de outras áreas cerebrais”, diz ele.

Segundo Nabuco processo reforça a sensação de prazer imediato, como ao receber “curtidas” nas redes sociais, mas também altera a estrutura do cérebro, diminuindo a conectividade entre os neurônios. “Isso pode ter efeitos negativos no longo prazo, como a redução do QI, de acordo com pesquisas.”

A expectativa é que, uma vez implementada, a lei contribua não apenas para um melhor desempenho acadêmico, mas também para a melhoria da saúde mental e das habilidades cognitivas dos alunos, como redução da ansiedade, aumento da atenção, maior foco nas atividades escolares, melhora na interação social e maior capacidade de concentração nas tarefas.

*Com colaboração de Jéssica Cruz

Lula sanciona lei que limita celular nas escolas: as dificuldades dos professores para implementar as novas regras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou na segunda-feira (14) a proibição do uso de aparelhos celulares por alunos nas escolas públicas e privadas de todo o Brasil.

O uso de smartphones está no centro de um debate global sobre os impactos no desempenho acadêmico, desenvolvimento de habilidades cognitivas e na saúde mental de crianças e adolescentes.

A nova lei pretende equilibrar os benefícios e prejuízos do uso desses dispositivos, especialmente em salas de aula.

Ela prevê:

A lei não prevê nenhum tipo de sanção específica aos alunos que a descumprirem, mas empodera as escolas para ter mais controle sobre o uso dos aparelhos.

Como será a aplicação da lei em 2025?

O início da lei não significa que o que acontece nas escolas – tanto por parte dos alunos quanto dos educadores – mudará instantaneamente.

Em dezmebro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou lei aprovada por unanimidade na Assembleia Legislativa do estado (Alesp) em novembro, tornando São Paulo o primeiro estado a implementar a proibição.

A BBC News Brasil visitou escolas da capital paulista para entender como estão se preparando para se adaptar à legislação e o que fizeram aquelas que já haviam adotado a prática antes da aprovação da lei.

Em visita da reportagem à Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, em São Paulo, os educadores compartilharam que ainda não têm um plano totalmente definido, e afirmam que não há recomendações muito específicas vindas do Estado, visto que cada escola pode ter uma realidade distinta.

Manuela Fachini, vice-diretora, diz que o caminho será de ‘tentativa e erro’.

Maria das Graças e Rogério Migotto dão aulas para o ensino fundamental II e para o Ensino Médio, e relatam que, atualmente, é difícil controlar o uso mesmo durante as aulas.

Maria das Graças e Rogério Migotto, professores Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna

“Eles acham que tudo precisa ser feito no celular – cerca de 80% dos alunos usa dentro da sala de aula. A gente pede para guardar, mas eles escondem o aparelho embaixo da carteira ou até da perna. Parece que não conseguem ficar sem.”

Ainda assim, os professores não se sentem confortáveis em tirar o aparelho de um aluno.

“Eu parei de pegar celular por que se acontecesse uma queda, qualquer coisa, eu poderia ser responsabilizada por ter pego o celular”, diz Graças.

Migotto relata também que há alunos discutindo com os professores dizendo que eles “não podem fazer nada” em relação ao uso das telas – e alguns poucos se tornam agressivos.

“Já tive uma experiência que resolvi tirar o aluno de sala por não guardar o celular. Ele atirou o celular na parede e saiu me xingando.”

Eles esperam que a lei os garanta mais autoridade em sala de aula, mas ainda não sabem como exatamente isso poderia ser feito.

“Uma coisa que me preocupa muito é como vamos nos responsabilizar pelos celulares. Até que ponto conseguiremos, junto com as famílias, dar um destino adequado para esses aparelhos, evitando qualquer tipo de problema, de ambos os lados? Estamos pensando em alternativas para que isso aconteça”, acrescenta a vice-diretora.

Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna após o último dia letivo de 2024

Os alunos Rafaela Teodoro e Gabriel Takashi, de 17 e 16 anos, dizem compreender que o celular pode ser nocivo e não deve ser usado durante as aulas.

“Eu acho que, por termos crescido tão ligados às telas, quando estamos na sala de aula e chega uma notificação no celular, a vontade de olhar é quase inevitável, e isso acaba gerando até uma sensação de ansiedade”, diz Rafaela.

Gabriel concorda, mas preferia ter acesso durante os intervalos.

“O celular acaba, sim, desviando nossa atenção. Eu acho válido proibir, mas acredito que isso vai depender muito da abordagem adotada em sala de aula. Mas acho que a proibição não deveria se estender ao recreio, que é um momento em que os alunos estão mais livres para relaxar.”

Gabriel Takashi, 16, e Rafaela Teodoro, 17, alunos do segundo ano do Ensino Médio na Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, em São Paulo

Escolas particulares que já adotaram a medida ficam mais confortáveis

Quem tem mais recursos têm também mais liberdade para explorar soluções que mantêm os alunos longe da tentação das telas.

É o caso do Colégio Porto Seguro, particular, que impõe uma regra interna de não uso de telas – mesmo durante intervalos – há seis anos.

Em conversa com a reportagem, Meire Nocito, diretora institucional educacional do colégio, diz que o segredo é o espaço de diálogo direto com os alunos, sobretudo com aqueles que demonstram mais resistência em ficarem afastados do celular.

“Os alunos já estavam tão focados no celular durante os intervalos que pararam de interagir socialmente ou brincar entre si. Por isso, implementamos o ‘detox’ às sextas-feiras, um dia em que eles deixavam os celulares de lado nos intervalos para brincar e participar de atividades recreativas, esportivas e culturais.”

Depois, a regra passou a valer para todos os dias. E mesmo com uma infraestrutura completa, com quadras, laboratórios e salas de música, os alunos puderam oferecer atividades que, em sua visão, poderiam ajudá-los a ignorar as telas.

“Independentemente das atividades que já oferecemos, eles começaram a apresentar suas próprias ideias. Foi assim que surgiram propostas como oficinas de cupcakes, contação de histórias e ateliês de artes.”

Meire Nocito, diretora da unidade Morumbi do Colégio Visconde de Porto Seguro

No também particular colégio Camino, situado na zona Oeste, há cerca de quatro anos é proibido que os alunos usem celular ou outros dispositivos eletrônicos. Para evitar a tentação, os aparelhos são colocados em uma caixa. Se alguém é pego usando, um funcionário da escola pode retirar e devolver somente após o término do dia escolar.

A diretora Letícia Lyle conta que decidiu impor a regra após a pandemia, quando percebeu que os alunos estavam ainda mais apegados à tecnologia.

“No começo, muitos ficaram revoltados, fizeram até um protesto. Mas não durou muito. Depois de uma semana eles começaram a engajar em atividades, jogar vôlei, conversar entre eles… E passaram a ver que também existiam benefícios.”

Maria Morena, Gustavo Matias, Fernando Montoro e Alicia Pereira, alunos do colégio Camino

“Eu quase não sinto falta do celular, porque estou com meus amigos. Mas, por exemplo, quando saiu o Spotify Wrapped [uma retrospectiva personalizada com os artistas mais ouvidos no ano], no ano passado, eu fiquei muito ansiosa para ver o meu. Estávamos na escola, e eu só conseguia pensar: ‘Quero muito ver o meu'”, diz Alicia Pereira, aluna do colégio Camino, de 15 anos.

“Mas, em relação às redes sociais, eu não sinto tanta necessidade, porque sei que, quando a aula acabar e eu puder mexer, vou acabar vendo as mesmas coisas de sempre. E eu acho que quanto mais tempo a gente passa online, é pior para a nossa saúde mental, por conta da comparação com outras pessoas”.

A aluna admite, porém, que muitos dos amigos tem seus ‘jeitinhos’ para manter os celulares escondidos e usar quando ninguém está olhando.

Aluno usando celular durante o tempo livre no último dia letivo, quando ficaram mais livres para escolher suas atividades

O papel da família e a ‘sensação de controle’

Tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, muitos pais defendem que os filhos tenham o celular consigo “para emergências” ou para garantir que “a criança está bem”. Ao mesmo tempo, há um consenso quase unânime de que as famílias esperam que os educadores consigam garantir que, pelo menos durante as aulas, os jovens estejam focados no conteúdo acadêmico.

“Os pais querem manter essa conexão, o que é compreensível, então nem sempre é fácil. Eles precisam aprender a desapegar um pouco e confiar que seus filhos estão em um ambiente seguro e favorável para o aprendizado”, defende Lyle.

A vice-diretora da Escola Estadual Professor Antônio Emílio Souza Penna, Manuela Fachini, ressalta que os pais precisam estar alinhados não apenas com as regras da escola, mas também colaborando para promover uma educação digital mais equilibrada.

“Não posso delegar ao professor algo que, como mãe, é minha responsabilidade. O que vemos hoje é que muitos pais, pela correria do dia a dia, acabam permitindo que o filho use o celular como uma recompensa, como se isso fosse uma forma de compensar a falta de tempo com ele.”

Camila Bruzzi, uma das mães por trás do ‘Movimento Desconecta’, avalia que o argumento de muitos pais para que as crianças sigam portando os aparelhos em escolas parte de uma “falsa sensação de controle”, já que em caso de emergências, como, por exemplo, um ataque violento à escola, o aluno deve focar em se proteger e seguir as orientações da instituição.

“E se precisar contatar a criança, o caminho é ligar na escola, como sempre foi feito”, diz ela, que pretende espalhar a ideia do grupo de criar ações coletivas para adiar, limitar e controlar o acesso de crianças a smartphones e redes sociais.

Para ela, o porte deve ser totalmente proibido. “As crianças e adolescentes estão sempre tentando quebrar regras. Com o nível de sofisticação dos algoritmos usados para viciar e capturar a atenção das pessoas, é injusto esperar que se comportem bem e sigam as regras sem o apoio de diretrizes claras da escola.”

Bruzzi considera alarmante a falta de definição da lei que menciona que se houver uma necessidade importante, a criança pode usar o celular sem qualquer autorização.

“O texto se tornou mais amplo e nada claro. A preocupação é que, basicamente, qualquer coisa pode ser considerada uma exceção.”

O impacto na saúde mental dos jovens

O psicólogo Cristiano Nabuco alerta que os efeitos das dependências das telas, tema do qual é pesquisador, são especialmente nocivos para os jovens.

“O córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos e pela reflexão sobre nossas ações, só se desenvolve totalmente por volta dos 25 anos. O uso constante de telas digitais estimula atalhos no cérebro, liberando dopamina, o que acelera as decisões e reduz a influência de outras áreas cerebrais”, diz ele.

Segundo Nabuco processo reforça a sensação de prazer imediato, como ao receber “curtidas” nas redes sociais, mas também altera a estrutura do cérebro, diminuindo a conectividade entre os neurônios. “Isso pode ter efeitos negativos no longo prazo, como a redução do QI, de acordo com pesquisas.”

A expectativa é que, uma vez implementada, a lei contribua não apenas para um melhor desempenho acadêmico, mas também para a melhoria da saúde mental e das habilidades cognitivas dos alunos, como redução da ansiedade, aumento da atenção, maior foco nas atividades escolares, melhora na interação social e maior capacidade de concentração nas tarefas.

*Com colaboração de Jéssica Cruz

Especialista destaca importância da descarbonização pelo hidrogênio verde

Considerado o combustível do futuro, o hidrogênio verde (H2V) é apontado como chave para a descarbonização da logística, uma oportunidade para o Brasil se consolidar como polo mundial da indústria sustentável. Em razão de sua dimensão continental e particularidades regionais, o país apresenta um enorme potencial para a produção do gás, gerado a partir de fontes renováveis.

Desde 2021, a utilização do hidrogênio verde como matriz energética no Brasil tem mudado de forma abrupta. O Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, deve produzir 1,3 milhão de toneladas docombustível por ano. Os investimentos em plantas de H2V já ultrapassam R$ 188 bilhões no país, impulsionado por gigantes globais.

Com mais de 25 anos de experiência no setor de hidrogênio, Monica Saraiva Panik, consultora da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), avalia que o país ainda está aquém do potencial que possui. Em entrevista ao Correio, a especialista em H2 e Célula a Combustível, que reside na Alemanha, avaliou as principais tendências e gargalos do setor na corrida internacional.

“Eu sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe passar essa mensagem. Eu acho que falta um foco técnico de como fazer. E essa parte técnica é viabilizadora, é assim que os países se espelham uns nos outros”, disse Monica, que destaca a importância das plantas de hidrogênio para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades.

Confira os principais trechos da entrevista.

É um potencial enorme que vai desde a substituição dos combustíveis fósseis, em todos os modais de transporte, e envolve toda a cadeia. Embarcações, porta-contêineres, todas essas máquinas e equipamentos que são utilizados na logística dos portos. Você tem hoje uma indústria que já fornece esses veículos ou equipamentos e máquinas movidas ou a célula combustível, no caso, para navios é amônio e metanol, que estão sendo mais cotados, que são produzidos à base do hidrogênio. O transporte fluvial envolve também outros modais de transporte, como o rodoviário, transporte de gasodutos, tudo isso está sendo transformado. Toda a infraestrutura que você tinha para distribuir combustíveis fósseis está sendo transformada para distribuir não só hidrogênio derivado, mas também os subprodutos das plantas de hidrogênio. Os portos adquiriram um papel importante nessa transição, porque eles conectam países, indústrias, e isso são novas oportunidades de negócios, de geração de empregos e essa transformação da infraestrutura.

O portfólio de soluções é enorme. Uns querem veículos elétricos; outros movidos a hidrogênio puro; outros a combustíveis à base de hidrogênio. E não importa a rota, todas são válidas. A gente não deve limitar rotas tecnológicas, porque isso limita investimentos. Você deve abrir contanto com o objetivo da descarbonização, a partir daí cada um escolhe o que for melhor para aquela situação, para aquele ambiente.

O Brasil demorou um pouco para se alinhar a essa força internacional que começou há três, quatro anos. Mas eu acho que o Brasil tem condições para avançar muito mais rápido do que outros países. Porque temos matriz elétrica renovável, temos outras coisas que outros países não têm. Por exemplo, há países onde toda a energia gerada para a produção de eletricidade ainda é fóssil. Então eles têm que começar do zero. O Brasil não tem que começar do zero.

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Motivar a demanda, ou seja, motivar a descarbonização, a substituição de insumos de combustíveis fósseis. Por isso, é importante a consciência de que é preciso existir um plano de descarbonização. Se você não tem hoje um plano de descarbonização na sua empresa, não importa o que a empresa faça, você está perdido e vai ficar para trás. O Ministério do Desenvolvimento indicou que quer lançar um selo de pegada de carbono. Isso vai revolucionar todos os setores.

Está bem avançado. Eu conversei com o secretário de Economia Verde, Rodrigo Rollemberg, que participou da concepção do programa. Ele me disse que já estão chamando as agências certificadoras para fazer a metodologia de como é que você vai quantificar a pegada de carbono do seu produto.

O aço verde é o que utiliza energia renovável na sua produção, que utiliza hidrogênio verde. É o aço que tem uma eficiência energética e substituição de insumos fósseis. Então, se não for o aço verde, daqui a pouco não vou mais poder comercializar. Porque se as empresas já começaram esse movimento, principalmente as montadoras, fabricantes de veículos, é uma motivação, porque o aço é uma matéria-prima essencial, está em tudo. Se um comprador disser que a partir de hoje não compra mais aço produzido com carvão, serão buscadas as soluções possíveis para fazer um aço livre de emissões.

Estamos muito aquém do que podemos fazer. Você não acha que esse plano do MDIC de selo de descarbonização não deveria ter sido divulgado na COP? O Brasil não sabe fazer marketing daquilo que ele tem. O mundo não sabe o que o Brasil tem e pode fazer. Eu acho incrível que o Brasil não saiba vender o Brasil. Já melhorou muito, mas, mesmo assim, não sabe. Esse programa de selos, mesmo ainda que não esteja pronto, tinha que ser divulgado. Na COP 29 focou-se muito nessa meta de redução de emissões. O mundo quer ver medidas, quer saber qual caminho seguir. E o Brasil já tem esse caminho, o país tem trabalhado muito nisso. Qual outro país que tem experiência na substituição de combustível? Eu não conheço nenhum. Eu sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe passar essa mensagem.

O Marco Regulatório com certeza é importante, mas não é só isso. Você tem que dar segurança, também, para a região onde você está ou você quer investir. Ainda vai chegar o momento onde você vai ver as comunidades sentindo essa parte de desenvolvimento socioeconômico. À medida que as plantas vão se instalando, você vai agregando valores. Não é só o ambiental, não se pode esquecer o socioeconômico e como as comunidades vão se envolver nisso, o que elas vão ganhar com isso.

Especialista destaca importância da descarbonização pelo hidrogênio verde

Considerado o combustível do futuro, o hidrogênio verde (H2V) é apontado como chave para a descarbonização da logística, uma oportunidade para o Brasil se consolidar como polo mundial da indústria sustentável. Em razão de sua dimensão continental e particularidades regionais, o país apresenta um enorme potencial para a produção do gás, gerado a partir de fontes renováveis.

Desde 2021, a utilização do hidrogênio verde como matriz energética no Brasil tem mudado de forma abrupta. O Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, deve produzir 1,3 milhão de toneladas docombustível por ano. Os investimentos em plantas de H2V já ultrapassam R$ 188 bilhões no país, impulsionado por gigantes globais.

Com mais de 25 anos de experiência no setor de hidrogênio, Monica Saraiva Panik, consultora da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), avalia que o país ainda está aquém do potencial que possui. Em entrevista ao Correio, a especialista em H2 e Célula a Combustível, que reside na Alemanha, avaliou as principais tendências e gargalos do setor na corrida internacional.

“Eu sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe passar essa mensagem. Eu acho que falta um foco técnico de como fazer. E essa parte técnica é viabilizadora, é assim que os países se espelham uns nos outros”, disse Monica, que destaca a importância das plantas de hidrogênio para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades.

Confira os principais trechos da entrevista.

É um potencial enorme que vai desde a substituição dos combustíveis fósseis, em todos os modais de transporte, e envolve toda a cadeia. Embarcações, porta-contêineres, todas essas máquinas e equipamentos que são utilizados na logística dos portos. Você tem hoje uma indústria que já fornece esses veículos ou equipamentos e máquinas movidas ou a célula combustível, no caso, para navios é amônio e metanol, que estão sendo mais cotados, que são produzidos à base do hidrogênio. O transporte fluvial envolve também outros modais de transporte, como o rodoviário, transporte de gasodutos, tudo isso está sendo transformado. Toda a infraestrutura que você tinha para distribuir combustíveis fósseis está sendo transformada para distribuir não só hidrogênio derivado, mas também os subprodutos das plantas de hidrogênio. Os portos adquiriram um papel importante nessa transição, porque eles conectam países, indústrias, e isso são novas oportunidades de negócios, de geração de empregos e essa transformação da infraestrutura.

O portfólio de soluções é enorme. Uns querem veículos elétricos; outros movidos a hidrogênio puro; outros a combustíveis à base de hidrogênio. E não importa a rota, todas são válidas. A gente não deve limitar rotas tecnológicas, porque isso limita investimentos. Você deve abrir contanto com o objetivo da descarbonização, a partir daí cada um escolhe o que for melhor para aquela situação, para aquele ambiente.

O Brasil demorou um pouco para se alinhar a essa força internacional que começou há três, quatro anos. Mas eu acho que o Brasil tem condições para avançar muito mais rápido do que outros países. Porque temos matriz elétrica renovável, temos outras coisas que outros países não têm. Por exemplo, há países onde toda a energia gerada para a produção de eletricidade ainda é fóssil. Então eles têm que começar do zero. O Brasil não tem que começar do zero.

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Motivar a demanda, ou seja, motivar a descarbonização, a substituição de insumos de combustíveis fósseis. Por isso, é importante a consciência de que é preciso existir um plano de descarbonização. Se você não tem hoje um plano de descarbonização na sua empresa, não importa o que a empresa faça, você está perdido e vai ficar para trás. O Ministério do Desenvolvimento indicou que quer lançar um selo de pegada de carbono. Isso vai revolucionar todos os setores.

Está bem avançado. Eu conversei com o secretário de Economia Verde, Rodrigo Rollemberg, que participou da concepção do programa. Ele me disse que já estão chamando as agências certificadoras para fazer a metodologia de como é que você vai quantificar a pegada de carbono do seu produto.

O aço verde é o que utiliza energia renovável na sua produção, que utiliza hidrogênio verde. É o aço que tem uma eficiência energética e substituição de insumos fósseis. Então, se não for o aço verde, daqui a pouco não vou mais poder comercializar. Porque se as empresas já começaram esse movimento, principalmente as montadoras, fabricantes de veículos, é uma motivação, porque o aço é uma matéria-prima essencial, está em tudo. Se um comprador disser que a partir de hoje não compra mais aço produzido com carvão, serão buscadas as soluções possíveis para fazer um aço livre de emissões.

Estamos muito aquém do que podemos fazer. Você não acha que esse plano do MDIC de selo de descarbonização não deveria ter sido divulgado na COP? O Brasil não sabe fazer marketing daquilo que ele tem. O mundo não sabe o que o Brasil tem e pode fazer. Eu acho incrível que o Brasil não saiba vender o Brasil. Já melhorou muito, mas, mesmo assim, não sabe. Esse programa de selos, mesmo ainda que não esteja pronto, tinha que ser divulgado. Na COP 29 focou-se muito nessa meta de redução de emissões. O mundo quer ver medidas, quer saber qual caminho seguir. E o Brasil já tem esse caminho, o país tem trabalhado muito nisso. Qual outro país que tem experiência na substituição de combustível? Eu não conheço nenhum. Eu sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe passar essa mensagem.

O Marco Regulatório com certeza é importante, mas não é só isso. Você tem que dar segurança, também, para a região onde você está ou você quer investir. Ainda vai chegar o momento onde você vai ver as comunidades sentindo essa parte de desenvolvimento socioeconômico. À medida que as plantas vão se instalando, você vai agregando valores. Não é só o ambiental, não se pode esquecer o socioeconômico e como as comunidades vão se envolver nisso, o que elas vão ganhar com isso.

2025 e, Ainda estou aqui!

2025 e, Ainda estou aqui! ((Foto: Gerd Altmann/ Pixabay))

É inegável, que o assunto principal no Brasil, além das férias, do verão e da preparação para o carnaval que se aproxima, é o estrondoso e merecido sucesso do filme “Ainda Estou Aqui, dirigido pelo brilhante Walter Salles e estrelado por um elenco jovem e fabuloso, encabeçado pelo talentoso Selton Mello e a premiadíssima Fernanda Torres.

O filme conta a trajetória e recria a experiência vivida pela advogada Eunice Paiva e seus filhos, em um Brasil de 1971, em plena ditadura militar, quando o patriarca da família, Rubens Paiva, foi “convidado” a desaparecer!

Não ousarei falar muito sobre o filme, mas é impossível tocar neste assunto e não louvar as “Eunices”! Uma, a Eunice Paiva real, mãe, resiliente, que estudou Direito e se posicionou historicamente como uma ativista dos Direitos Humanos no Brasil, após o desaparecimento de Rubens Paiva seu Marido.

A outra, a Eunice Paiva da ficção, que voltou à vida na pele e na voz de Fernanda Torres e sua mãe Fernanda Montenegro, que de forma sensível, clara e muito presente, deram vida à transformação vivenciada por uma mulher forte, lidando com o agressivo desaparecimento de seu marido, em um momento brasileiro difícil, se transformando em uma defensora voraz pelos Direitos Humanos.

Fernanda Torres, com uma atuação vitoriosa, reconhecidamente premiada, nos apresentou a dor resiliente de Eunice Paiva, que como pôde, manteve a rotina familiar junto a seus filhos, ao mesmo tempo em que buscava corajosamente pela verdade.

Sobre a Direção de Walter Sales, não tenho muito o que falar, basta ver o filme para sentirmos leveza, verdade, realidade, sensibilidade e competência.

Mas o gancho que me interessa pegar, é a frase, que intitula o filme, “Ainda Estou Aqui”!

Refletindo sobre “Ainda Estou Aqui”

Intimamente penso, que ainda vivemos em uma luta incansável por justiça e pela memória, em um cenário muitas vezes sombrio de tortura, agora mais psicológica e virtual, que nos apresenta até hoje, um odor da violência, das feridas deixadas pela ditadura militar e em muitos casos, até de impunidade.

Estamos em 2025 e literalmente, “Ainda Estou Aqui!”, neste Brasil que não se cansa de escancarar as mazelas sociais, que só crescem e estão profundamente interligadas, criando um ciclo vicioso de desigualdade e exclusão, e olha que já estamos no Século 21.

Sinceramente, queria envelhecer em um ambiente social e culturalmente mais saudáveis e mais abastecido de obras contemporâneas mais qualificadas como o que temos visto na produção literária e cinematográfica brasileira, acontecendo também nos segmentos de música, das artes cênicas, das artes plásticas, da manutenção das tradições folclóricas e muito mais.

Tenho plena convicção, que o povo brasileiro, merece ser servido com ações culturais competentes, convincentes e educativas. Seria uma forma mais justa de contraponto, com a realidade que nos é mostrada todos os dias em vários cenários.

Ainda nos sentimos inseguros

Se falarmos de segurança pública, o que assistimos nos telejornais é só violência, com altíssimas taxas de homicídios, roubo e agora até violência da sociedade vítima, contra a marginalia, explicitando seu descontentamento com tantos absurdos e falta de sossego social.

A insegurança que paira em qualquer “voltinha para relaxar”, principalmente nos grandes centros, nos confirma a total falta de confiança nas instituições e no sistema de justiça.

Em um cenário mais comunitário, o que vemos é o aumento nítido da pobreza e da desigualdade social e não é para menos. Em um país onde é clara a concentração de riqueza com dados que confirmam que 1% da população detém 40% da riqueza nacional e mais de 20 milhões de brasileiros vivem com menos de R$420,00 ao mês, o que podemos esperar.

Em outro espectro, insistem que não, mas está cada dia mais nítido, que estamos vivendo em muitos aspectos, o sentimento e a presença da censura e temos cada vez menos, a segurança da liberdade de expressão.

Vivemos um momento cheio de restrições, com ameaças e violência camuflada contra a sociedade, contra profissionais da comunicação, controle de informações, que nos dias de hoje podemos chamar de “censura online e offline”, as restrições à liberdade criativa e uma lamentável alienação da educação de modo geral.

É claro, que temos as ilhas de conforto e sensatez, principalmente no âmbito municipal, onde os recursos são obrigatoriamente aplicados na educação, mas em outras esferas, é clara e proposital a falta de recursos para a educação pública. O acesso à educação de qualidade, infelizmente é desigual e se pensar, cito ainda um tanto de mazelas que não deveriam estar presente neste ambiente.

Ainda estamos aqui, e o que podemos fazer?

É meus caros leitores, é por isso que digo, “ainda estou aqui”, resistindo, seguindo meu trabalho, tentando trazer a minha colaboração social da melhor forma e convivendo, lamentavelmente, com as consequências que são inevitáveis diante da polarização social com claras divisões e muita intolerância.

Esta estagnação econômica, é o portal escancarado para a desigualdade e a pobreza, que lógico, limitam o crescimento.

No fim das contas, como “ainda estou aqui” e não vale, ou não adianta só reclamar, temos que pensar também em caminhos e soluções para tudo isso, afinal ainda estamos aqui e estamos vivos e produtivos.

Dentro do possível é importante e necessário cobrarmos pela implementação de políticas públicas inclusivas, que criem ambiente para investimentos em educação, saúde e muito, em segurança.

Fica evidente a importância e a pressa em se pensar na reforma tributária progressiva, se quisermos de fato, reduzir a desigualdade econômica. Como cidadãos, temos a obrigação de atuar no fomento à participação cidadã, cada vez mais, se quisermos fortalecer a democracia participativa tão necessária.

Devemos proteger a liberdade de expressão, criando um cenário de proteção à produção cultural e às artes em geral e por fim, lutarmos pela justiça social e pela igualdade em todos os âmbitos, combatendo qualquer tipo de discriminação.

2025, ano da COP 30

Como estamos em 2025, ano da COP 30 em nosso país, é nosso dever, atentarmos para o cenário atual da sustentabilidade no Brasil, que nos apresenta desafios e oportunidades. Apesar de progressos em vários aspectos, ainda há muito a ser feito e esta obrigação é nossa, da população brasileira.

Ainda lidamos com desafios enormes como o desmatamento e perda de biodiversidade. Tenho andado muito pelo norte do Brasil e é fácil a percepção sobre os efeitos na Amazônia e outros biomas brasileiros que enfrentam alta taxa de desmatamento.

As mudanças climáticas, ano após ano nos mostram seus efeitos terríveis. O Brasil é o 6º maior emissor de gases de efeito estufa. Precisamos mudar nosso comportamento e aprendermos as práticas mais adequadas para os nossos recursos hídricos. A seca e a escassez de água, afetam muitos lugares em muitas regiões do país.

A saúde comprometida com o aumento da poluição, com resultados negativos como a contaminação do ar, do solo e da água por atividades industriais e agrícolas. Nos falta infraestrutura para o gerenciamento adequado do lixo e insistimos em manejar inadequadamente os resíduos sólidos que produzimos em larga escala.

É hora de pensarmos em aproveitar as oportunidades e encararmos o desafio da renovação energética, aproveitando o sol, o vento e a água para nos oferecer a energia que carecemos.

Ampliar o conhecimento sobre práticas agrícolas orgânicas e de baixo impacto ambiental, que atribuem um caráter sustentável ao ambiente agrícola. Incentivarmos ações de proteção das áreas naturais, incentivar o ecoturismo e a sensibilização para a preservação.

Urge pensarmos em inovações tecnológicas, que permitam o desenvolvimento de soluções sustentáveis, como a economia circular, que reduz, reutiliza e recicla o lixo.

Envolvimento de todos para um futuro melhor

Já que ainda estou aqui, sonhar não custa nada! Vamos conhecer as iniciativas do setor público, da iniciativa privada e incentivar a sociedade como um todo a encarar o desafio da promoção e sensibilização sobre a importância da sustentabilidade para nossa qualidade de vida no futuro.

A participação cidadã não é uma opção e sim uma obrigação de atuarmos no engajamento das comunidades em que convivemos, para que participem sempre das decisões das ações que envolvam o meio ambiente e que fiquem atentos ao consumo responsável, escolhendo produtos sustentáveis e saudáveis.

E cá pra nós, não custa nada praticarmos a redução do desperdício, em todos os âmbitos.

Temos a sorte de estamos na era da tecnologia e da Inovação. Estamos na era dos investimentos e das pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias limpas e buscando a eficiência energética.

Podemos e devemos ajudar no alcance dos resultados de nosso progresso. Sempre atual, pensarmos na redução das emissões dos gases de efeito estufa, na preservação das áreas de florestas, na redução de resíduos e muito mais. Se ainda estou aqui, preciso trazer a minha contribuição cidadã para uma vida melhor.

Queremos e precisamos de um cenário mais adequado de sustentabilidade e para tanto, precisamos aguçar nosso compromisso político e social, contribuir dentro do possível, com os investimentos em tecnologia e inovação e propagarmos as ações de educação, sensibilização e conscientização do maior número de pessoas.

Você, que nos lê e que também, ainda está aqui, está disposto a participar e contribuir com um futuro mais saudável, mais seguro e próspero?

Eu sinceramente espero que sim. Juntos chegaremos lá!

Até a próxima.

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Veja as profissões que terão declínio e crescimento até 2030 em função da IA

O avanço da tecnologia está mudando o mercado de trabalho. Segundo o estudo “Futuro do Trabalho”, divulgado na quarta-feira (8/01), ao menos 170 milhões de novos postos serão criados entre 2025 e 2030, enquanto 92 milhões de empregos atuais serão substituídos.

Nesse sentido, empregos que exigem habilidades relacionadas à tecnologia terão crescimento acelerado, com destaque aos especialistas em inteligência artificial. Por outro lado, funções administrativas, secretariais e operacionais têm forte tendência pela substituição de tecnologias digitais.

“O avanço do acesso digital foi acompanhado pelo desenvolvimento de infraestrutura tecnológica, como servidores e usinas de energia, para atender à crescente demanda. Esse cenário também gerou um aumento expressivo na demanda por habilidades relacionadas à IA, refletindo o seu potencial de aprimorar o desempenho, ganhos de produtividade e a eficiência dos trabalhadores em suas atividades”, diz o estudo.

A pesquisa também frisa que, sem estruturas adequadas de tomada de decisão, incentivos econômicos estratégicos e regulamentações governamentais, essas tecnologias podem ser utilizadas para substituir o trabalho humano, em vez de aprimorar as capacidades dos trabalhadores, o que poderia resultar em maior desemprego e desigualdade.

Ainda segundo o estudo, cerca de 39% das habilidades existentes deverão ser transformadas ou tornarem-se obsoletas entre 2025 e 2030. O treinamento, requalificação e aprimoramento de habilidades estão no centro das estratégias das empresas para lidar com essas mudanças.

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A demanda por habilidades tecnológicas, como Inteligência Artificial e Big Data, está crescendo rapidamente. No Brasil, 53% dos empregadoresindicam que estas serão áreas prioritárias de requalificação nos próximos cinco anos.

O estudo foi publicado pelo Fórum Econômico Mundial, em parceria com o Núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral.