Em agosto deste ano, a tarifa média do gás usado pela indústria foi de US$ 13,82 por milhão de BTU, de acordo com a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace). É um valor bem superior ao de mercados como os EUA e a Argentina, em torno de US$ 2 por milhão de BTU, e uma barreira a ser vencida por esse segmento para estimular a demanda pelo insumo.
— O cenário não é animador. Temos hoje um preço totalmente desalinhado com o das principais economias do planeta. Nosso gás é caro, temos pouca competição e nossa indústria está perdendo competitividade a cada dia que não resolvemos essa questão — diz Adrianno Lorenzon, diretor de gás natural da Abrace.
Segundo Oswald Nunes, especialista no setor de gás, o Brasil precisa caminhar em diferentes frentes, desde aumento da produção até a simplificação da legislação, já que as regras variam entre os estados do país.
—Precisamos de unificação das regras para permitir a criação de um mercado livre no gás. Não adianta ter mais produção e leilões da PPSA, se as empresas não conseguem acessar as redes estaduais de gás de forma econômica. Por isso, a nova legislação vai se debruçar sobre ter uma harmonização entre os estados, mas o caminho é longo. Hoje temos preços elevados, pois há muitas barreiras para permitir a concorrência — disse Nunes.
O Brasil, avaliam especialistas, precisa desenvolver novas formas de monetizar o gás para reduzir seus preços. Segundo Edmar Almeida, professor do Instituto de Economia da PUC-RJ, embora o país passe por um momento de crescimento na oferta de gás, a infraestrutura é um desafio:
— Mais de 80% do gás são associados ao petróleo. Isso cria desafios para aumentar a oferta em termos de infraestrutura, e nem sempre isso é entendido pelo mercado. Por outro lado, com os preços no mercado internacional estabilizados, há aumento de importação de GNL (gás em formato líquido), que pode ocupar o espaço de quem produz aqui — explica Almeida.
Acordo com a argentina
Ao mesmo tempo, há esforços para trazer o gás barato da Argentina ao Brasil. Eduardo Javier Rodríguez Chirillo, secretário de Energia da Argentina, que esteve no ROG.e, disse que a conclusão do processo de reversão do gasoduto que liga as reservas do campo de Vaca Muerta, no Oeste do país, ao norte da Argentina, deve terminar em março de 2025.
A operação é essencial para permitir a exportação de gás para o Brasil por meio da Bolívia. A expectativa é que, com essa mudança, o país possa receber em torno de 4 milhões de metros cúbicos por dia.
Chirillo destacou que a Argentina passa por um processo de transição regulatória e precisa considerar aspectos como preços e demanda interna antes de definir quanto será o volume enviado para o Brasil. O secretário afirmou que, nas próximas semanas, deverá ser assinado um memorando de entendimento com o governo brasileiro:
— O memorando é muito significativo porque somos facilitadores para que as empresas façam as coisas.
Empresas que atuam na Argentina também já desenvolvem planos para o Brasil. Sem dar detalhes, Fausto Caretta, diretor da Pan American Energy, maior empresa privada de energia argentina e maior produtora privada de gás de Vaca Muerta, disse no evento de óleo e gás no Rio de Janeiro que está de olho no mercado brasileiro.
— O Brasil importa GNL dos Estados Unidos. E podemos competir com esse gás de alguma forma. Há muitas coisas que podemos otimizar e nas quais temos que trabalhar — afirmou.