Belém — A preparação da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), em 2025, acirrou a disputa eleitoral em Belém, que sediará o evento. A projeção internacional da cidade e os investimentos bilionários na capital paraense fazem com que os principais protagonistas da política local se enfrentem com a faca nos dentes. O deputado federal Delegado Éder Mauro (PL), pré-candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem 30,7% das intenções de voto e lidera a corrida municipal, segundo pesquisa da 100% Cidades/Futura Inteligência, publicada pela revista Exame de 7 de agosto, a mais recente.
Na segunda posição, com 19,2% da preferência do eleitorado, está Igor Normando (MDB), o candidato do governador Helder Barbalho (MDB), principal responsável pela realização do evento da ONU. O atual prefeito da cidade, Edmilson Rodrigues (PSol), apoiado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aparece com 14% das intenções de votos. Pela margem de erro, que é de 3,5 pontos percentuais, os dois primeiros estão em empate técnico. Na pesquisa espontânea, Éder Mauro aparece com 20,1%, seguido por Igor Normando com 12,3% e Edmilson Rodrigues com 11,1%. Os demais nomes não ultrapassam o patamar de 2%.
Edmilson é o mais rejeitado: 54,8% dos entrevistados afirmaram que não votariam no atual prefeito de jeito nenhum. O maior problema do candidato à reeleição é a conservação da cidade, pois enfrentou uma grave crise com a empresa responsável pela coleta de lixo e relacionada à zeladoria da cidade.
O candidato tenta reverter a situação com a implantação do novo sistema de mobilidade urbana, que contará com 213 novos ônibus, sendo 30 deles elétricos. Os veículos contam com ar-condicionado) e acessibilidade para quem tem locomoção reduzida, além de carregadores de celular. Mas o atual prefeito também enfrenta litígio judicial com as empresas concorrentes.
Éder Mauro, líder do levantamento, é rejeitado por 39,7% dos eleitores de Belém. Igor Normando tem a menor rejeição, com apenas 8,7%. Na simulação de segundo turno, Mauro vence o atual prefeito por 46,6% a 29%. Na disputa entre Mauro e Normando, o cenário mostra um empate técnico, com o deputado federal do PL com 41,3% e o deputado estadual do MDB, com 40,4%.
A disputa eleitoral em Belém tensiona as relações entre o governador Barbalho, o presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro, que apoiam candidatos diferentes. O resultado é uma variável que pode facilitar a realização da COP se o vencedor for aliado do governador ou do presidente da República; mas também pode ser tornar uma variável negativa, por causa do tratamento dado pelos bolsonaristas à questão ambiental, em temas como desmatamento, garimpo ilegal e demarcação de terras indígenas.
Nos bastidores da COP-30, Barbalho sofre cobranças de parte de ministros do governo Lula, que desejam mais protagonismo e visibilidade na preparação do evento; e questionamentos por causa do deficit hoteleiro. Há também a concorrência dos que gostariam de desmembrar a COP-30, levando alguns de seus eventos para outros estados, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR), e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD).
Entretanto, essa possibilidade está descartada, até pelo volume de investimentos que estão sendo feitos. O último ataque especulativo forte foi duramente as enchentes do Rio Grande do Sul, quando se propunha redirecionar esses investimentos para os gaúchos.
O governador Barbalho foi o grande responsável por atrair o evento para a Amazônia, durante a COP-28, em Dubai, com o argumento de que é preciso pensar nas causas. “Eventos climáticos extremos têm como origem danos ambientais cometidos em outras regiões do planeta, como a Amazônia”, sustenta. Ele rebate as críticas com veemência: “Será a COP da floresta, na natureza, a COP da nossa gente. Vamos mostrar que somos capazes de aproveitar esta oportunidade para buscar soluções para o meio ambiente e para o nosso povo que vive na Amazônia”, garante.
A disputa eleitoral, ao mesmo tempo que acende as críticas à preparação da COP-30, leva o governador Barbalho e o prefeito Edmilson a se desdobrarem para realizar as obras e cooperarem administrativamente, como aconteceu na superação da crise que deixou em colapso a coleta de lixo de Belém.
Porto Futuro: obras em Belém abrangem urbanismo e infraestrutura
Porto Futuro: obras em Belém abrangem urbanismo e infraestrutura
Belém nunca recebeu tantos investimentos, desde a Belle Époque do ciclo da borracha. Estima-se que chegarão a R$ 4,1 bilhões. A Prefeitura de Belém recebeu R$ 323,5 milhões da Itaipu Binacional para implantação do Parque Urbano Igarapé São Joaquim, o que inclui projetos de arquitetura, paisagismo, rede esgoto, abastecimento, iluminação pública, pavimentação e sinalização viária — além da reforma e revitalização do Complexo Ver-o-Peso, um dos mercados mais antigos do Brasil; e da restauração do Mercado Municipal de São Brás, no centro da cidade. Outros R$ 41,8 milhões foram destinados à gestão de resíduos sólidos, ações de educação ambiental e de inovação em biotecnologia.
A prioridade do governo estadual nessas regiões vem sendo a implantação de centros multidisciplinares do programa Usinas da Paz, que oferece assistência à saúde, cultura, esporte e lazer, num total de 70 serviços. Das 28 usinas previstas, estão em pleno funcionamento na região metropolitana de Belém: Cabanagem, Bengui, Guamá, Terra Firme, Jurunas/Confor, Ananindeua e Marituba. O impacto na criminalidade foi uma redução de 13,7%.
Outro desafio são as obras do Parque da Cidade, a cargo da Vale, que estão apenas 30% concluídas. É onde fica o Hangar do antigo aeroclube, o Centro de Convenções da Amazônia. O espaço contará com estruturas específicas para a COP-30, integradas ao Hangar. Até a Conferência da ONU, 60% do espaço do parque estará disponível para o público; os outros 40% só serão entregues após o evento, com previsão de término em 2027, o que fará do local um dos maiores parques urbanos do Brasil.
O Parque da Cidade será uma extensão do Porto Futuro I, com espaços de lazer a céu aberto, e da Estação das Docas, área turística, gastronômica e cultural montada nos armazéns de um antigo porto com o avanço do ciclo da borracha no Pará.
O novo espaço contará com sete pavilhões, sendo dois deles transformados em hotéis. Um terceiro funcionará como estação hidroviária, para o recebimento de navios e cruzeiros de grande Calado do Rio Guamá.
Com a expectativa de receber cruzeiros durante a COP-30, o porto do Rio Guamá terá que passar por uma obra de dragagem, para aumentar em cerca de 4 metros o seu calado e evitar acidentes ou embarcações encalhadas. A obra está prevista no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com investimentos de R$ 200 milhões do governo federal por meio do Ministério dos Portos e Aeroportos. Sem a dragagem, haveria uma crise de hospedagem.
Um dos maiores problemas de Belém é o saneamento básico. As grandes avenidas Doca e Tamandaré, que ligam pontos turísticos e permitem acesso aos eventos da COP-30, passarão por modificações relevantes. A revitalização prevê a eliminação do lançamento de esgotos nos rios que passam pelas avenidas, além da construção do Parque Linear, com a criação de espaços de uso coletivo, como academias ao ar livre e ciclovias.
Além das obras que fazem parte do polígono da COP, há outros projetos que devem ser realizados, com a intenção de melhorar a capital paraense para receber os turistas. É o caso do novo terminal hidroviário, que deve ampliar o fluxo de viagens para todas as regiões do Pará, tendo como origem e destino a cidade de Belém.
Estão previstas ações na área de saneamento, como a execução de 50 quilômetros de rede coletora de esgoto, 4,8 mil ligações de tubulações, pavimentação de vias de acesso ao local da COP-30, implantação de vias marginais do Canal Água Cristal, e a instalação de equipamentos de controle de tráfego, além de colocação de asfalto em cerca de 600 ruas da capital.
Em obras desde 2019, o BRT Metropolitano de Belém deve ficar pronto até o fim deste ano. A expectativa é que a obra desafogue parte do trânsito da BR-316, via de entrada e saída de Belém.
O jornalista Ronaldo Brasiliense, no site Repórter da Amazônia, que monitora os preparativos da COP-30, afirma que, apesar das mudanças profundas, “a mais charmosa capital da Amazônia” continuará uma “cidade partida”. Segundo ele, os bilhões de investimentos anunciados pelos governos federal, estadual e municipal “não evitarão que Belém exiba para o mundo suas favelas de palafitas nos bairros periféricos”, como Barreiro, Bangui, Mata Fome, Guamá e Terra Firme.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou 6.329 favelas em todo o país, localizadas em 323 dos 5.565 municípios brasileiros. As capitais com maior proporção de habitantes morando em favelas são Belém, com mais da metade da população (53,9%) vivendo nesse tipo de aglomeração; Salvador (26,1%); São Luís (24,5%); e Recife (23,2%). Três delas estão na capital do estado: Assentamento Sideral (12.177 domicílios); Baixadas da Condor (11.462 domicílios); e Bacia do Una-Pereira (11.453 domicílios).
O Pará foi a grande surpresa do novo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado na última quinta-feira. O estado avançou da 26ª posição para a 6ª colocação no ranking nacional, com um resultado de 4,3. É um crescimento de 1,3 ponto entre 2021 e 2023, o maior aumento registrado na história do Ideb.
O destaque foi a avaliação dos estudantes das séries de 1ª, 2ª e 3ª do ensino médio, com idade a partir de 15 anos. Em 2021, o Pará ocupava a penúltima posição, agora é uma estrela ascendente no cenário educacional brasileiro.
“Isso é fruto do trabalho de milhares de pessoas, profissionais da educação, professores e professoras, da comunidade escolar, do envolvimento das famílias, de cada aluno e aluna”, comemorou o governador Helder Barbalho (MDB).
O secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, destaca o esforço para entregar material, fazer reforço escolar, aula aos sábados e de contraturno.
“A gente teve aula em janeiro. Estudante que não tinha participado das aulas, a gente chamou de volta para a escola. Ou seja, não deixar ninguém para trás”, relatou.
O repórter viajou a convite do Governo do Estado do Pará.
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