Escritório não vai acabar, mas terá de agradar mais ao empregado que à empresa, diz líder de grupo de coworking

A volta aos escritórios após o isolamento imposto pela pandemia foi marcada pela nova realidade do trabalho híbrido, com profissionais em home office alguns dias da semana. Isso deixou certa dúvida nas empresas em relação ao tamanho e desenho de seus espaços corporativos.

Atingida em cheio pela Covid, a GoOffices Latam viu na solução para essa insegurança um novo filão, que a ajudou a atravessar a tormenta vivida pelo seu setor — nos EUA, por exemplo, a gigante WeWork pediu recuperação judicial.

Com mais de 10 mil clientes e 12 prédios em São Paulo, a Go Offices atrai grandes companhias para uma espécie de adaptação do modelo de coworking da GoWork, seu braço de espaços compartilhados.

Em entrevista ao GLOBO, o fundador e CEO da empresa, Fernando Bottura, conta como criou a GoCorporate, que desenha e tira do papel escritórios para companhias como Ambev, Qualicorp e Rappi em imóveis que subloca com contratos flexíveis.

— Ninguém sabe quantos funcionários vai ter em três anos — diz o executivo, que assume dois novos edifícios na capital paulista neste ano.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

Como descreve a GoWork?

Somos um solucionador de escritórios. O negócio nasceu como coworking, que é mais voltado para pequenos e médios empreendedores, e acabou evoluindo agora para uma nova vertente, que a gente chama de GoCorporate, que é a implantação de escritórios para grandes companhias.

Hoje temos duas vertentes de negócio. São 22 mil metros quadrados de coworking convencional, com prédios fracionados em unidades, desde uma estação de trabalho a salinhas de quatro pessoas. É onde o pequeno e o médio empreendedor conseguem ter um escritório bacana, estar num ambiente de empreendedorismo e network, com todos os serviços, mas sem luxo.

Nosso foco é o low cost premium, com um custo possível para o empreendedor, que ainda está crescendo e pensando onde colocar o dinheiro. E temos 30 mil metros quadrados na vertente corporativa.

E como funciona essa segunda vertente?

Como a nossa especialização é profunda em escritórios, começamos a ser procurados por grandes companhias dizendo: sou uma empresa de seguros ou bebidas, não tenho arquiteto e engenheiro. Monta um prédio para mim na Avenida Paulista? Aí começou esse novo modelo focado em empresas de maior porte, de 50 a 1.500 colaboradores.

A gente monta o prédio para a companhia, decora, compra a mobília, faz a infraestrutura de TI, etc. E depois a gente faz toda a gestão, a parte de facilities e tal, mas sempre com uma vibe de conexão entre os colaboradores. Desenvolvemos um modelo de arquitetura com ambientes que conectam as pessoas. Hoje 60% das nossas operações estão com empresas, que querem sair daquele grande escritório com cara de contabilidade, carpetinho e mesinha, tudo igualzinho.

Essa tendência de grandes companhias tentarem criar um ambiente interno de startup vem de algum tempo. Cresceu após a pandemia?

A gente vem fazendo desde 2017. Antes da pandemia, as empresas de tecnologia já tinham cabeça aberta para isso. Depois, outros tipos começaram a buscar a gente, de setores 1.0 mesmo, como escritório de advocacia ou a (cervejaria) Ambev, para quem montamos um prédio inteiro para o centro de tecnologia deles, que tem 500 pessoas.

Após a pandemia, com o home office e o trabalho híbrido, todo mundo começou a pensar: será que vale a pena alugar um imóvel, fazer todo o investimento em arquitetura, comprar mobiliário, sem saber se amanhã vou precisar ter 200 ou 500 colaboradores aqui? O que vou fazer para atraí-los para o escritório sem cara amarrada e perda de produtividade? Isso é o que provocou um boom na nossa demanda. Outra coisa é o custo. Como o meu negócio é montar escritório, meu custo é 40% menor que o que a empresa gastaria.

Por quê?

Tenho uma história de vida no mercado imobiliário e trabalhei em uma grande indústria de móveis de escritório. Virei um especialista em implantação de escritório. Quando fui fazer coworking, em vez de só criar um espaço bonito, eu sabia como montar uma rede de fornecedores, de pequenas empresas brasileiras de design a grandes indústrias na Ásia que são supplyers (fornecedores de componentes) de fábricas.

Hoje temos uma fábrica de escritórios. Temos um galpão alfandegário em Itajaí (SC) de 4 mil metros quadrados com todo o material. Não compro da revenda da revenda. Quebrei a cadeia inteira. Da arquitetura à equipe de engenharia, é tudo nosso. Minha fábrica é no prédio em que estou reformando.

Monto uma cadeira ali com custo 60% menor. Desenvolvemos divisórias que servem em qualquer dos nossos prédios. O piso é pensado para ser desmontado e levado para outro escritório. Consigo customizar um espaço para a Ambev, deixar com a cara dela, mas com essa característica e custo mais baixo.

Por que as empresas têm dificuldades de fazer isso?

O atual modelo do mercado de implantação de escritórios no Brasil é centenário, evoluiu muito pouco. A cadeia de valor é repleta de fornecedores distintos e cheia de interesses cruzados. O nosso modelo foi pensado exatamente para cobrir esses gaps.

Somos um modelo end-to-end, ou seja, que conecta todas as pontas, pois temos todos os fornecedores dentro de casa. Por isso, conseguimos oferecer para as empresas, que são o nosso cliente final, um custo-benefício extraordinário, se comparado ao mercado. Temos equipe de busca de imóveis, de tecnologia e um time de sete arquitetas e 12 engenheiros.

Alugam os prédios e sublocam?

Temos dois modelos. A gente vira sócio do dono do prédio ou aluga ele inteiro. E sublocamos. Esse mercado mudou muito. Antes da pandemia, a permanência média era de cinco anos. Mudou para 30 meses (dois anos e meio). Há cinco anos, não tinha robô digital que atende cliente no site, era preciso ter 500 pessoas no telemarketing. Hoje não precisa mais. Com a tecnologia, os ciclos mudam mais rapidamente. Cada vez vejo mais empresas que crescem e diminuem e crescem de novo.

Então, nos nossos prédios, a empresa pode pegar mais cinco andares por seis meses, por exemplo. No momento em que ela devolve, transformo a área em coworking até surgir outra interessada. Todo escritório que faço para empresas já é pré-montado estruturalmente para virar coworking, do ar-condicionado ao forro, passando pelo cabeamento de TI. Hoje estou com 92% de ocupação.

Mas para dar essa flexibilidade, vocês não assumem um risco grande ao alugar um prédio por 20 anos, por exemplo, e oferecer contratos de três para uma empresa neste momento em que muitos edifícios estão vazios e cresce o trabalho remoto?

Temos contratos com algumas proteções, a empresa não larga o prédio de um dia para o outro. Mas acreditamos que o escritório sempre vai ser necessário, não tenho a menor dúvida. Somos pessoas, temos necessidades psicossociais. O maior teste foi a pandemia, quando o que eu mais ouvi foi que nosso negócio ia acabar. Não acabou. Na volta, a Faria Lima (centro financeiro de São Paulo) lotou.

O corpo laboral está voltando, mas tudo vai ser híbrido. Hoje o que mais temos aqui são empresas de 80 colaboradores que montam escritórios para 30, 20 pessoas. Nossa cesta de ovos está bem distribuída. Temos hoje 9.800 estações de trabalho. Milhares são microempreendedores e pegam só uma mesa, milhares têm até quatro colaboradores, centenas têm 20 e dezenas têm mais de 50 empregados. Um sai e outro cresce, e vamos jogando com esse dinamismo.

Qual é o futuro do escritório?

Cada vez mais o escritório é para o colaborador e menos para as empresas. É o que elas estão buscando para reter talentos e fazê-los irem ao escritório participar de reuniões e se sentirem bem. É como a decisão que a gente toma na sexta à noite de jantar fora. A pessoa só sai de casa se o restaurante for legal, interessante, um lugar onde ela vê outras pessoas conversando.

E do lado das companhias, elas querem praticidade, baixo investimento e dinamismo. Poder crescer e diminuir ou mudar rapidamente. Quando uma empresa nos procura, a primeira pergunta que a gente faz é: quantas pessoas você vai ter no escritório daqui a três anos? Ninguém sabe responder, porque de fato ninguém sabe o que vai acontecer.

O fim do milagre chinês?

Talvez você tenha lido alguma notícia sobre a crise migratória na fronteira dos Estados Unidos com o México. Mas eu duvido que o leitor consiga adivinhar a nacionalidade que teve mais crescimento no número de detenções migratórias: os chineses.

Ao fim de 2023, o número de imigrantes chineses detidos na fronteira era quase 600% maior do que no mesmo período do ano anterior. Mas como há um crescimento percentual tão forte no número de pessoas que estão saindo de um país que está a 11 mil quilômetros para imigrar por terra? Eu, que moro nesta fronteira, também me fiz essa pergunta.

Quase todos eles, ao cruzar, pedem asilo político — e vão ter seu caso julgado pelas autoridades migratórias. Mas os chineses, vindo de uma ditadura, têm uma probabilidade muito maior de sucesso em seus casos. Em 2021, 17% dos pedidos de asilo de mexicanos foram aceitos. Entre os salvadorenhos, o percentual sobe para 28%. Entre chineses a taxa foi de 81%.

A probabilidade de sucesso torna a arriscada viagem um pouco mais atrativa. Para muitos deles, ela começa no Equador (país que não exige visto para chineses) e segue por terra cruzando Colômbia, América Central, até a fronteira Norte do México.

Existem fatores políticos e tecnológicos que podem ajudar a explicar esse incremento no fluxo.

Há um aumento na repressão política. Políticas recentes incluem interferências sem precedentes em universidades, prisão de advogados de defesa e repressão a protestos em províncias como Hong Kong. Ao mesmo tempo, à medida que as tensões entre EUA e China têm aumentado nos últimos anos, o acesso a vistos de turismo para chineses tem se tornado mais limitado.

Na esfera tecnológica, a conhecida censura do governo hoje tem implementação mais difícil. Com o uso de softwares de redirecionamento de rede, muitos chineses têm acesso à mídia social ocidental. Entre aqueles que chegaram nos Estados Unidos, muitos relataram ter aprendido sobre o trajeto da viagem no Instagram e no TikTok (ou seus equivalentes chineses).

Igualmente importante, há muitos fatores econômicos que ajudam a explicar esse tipo de fluxo migratório. Durante décadas, nos acostumamos a ver a economia chinesa crescendo a 10%. Mas a partir da década passada, a trajetória começou a arrefecer, com taxas rondando os 6%. Recentemente, o crescimento chegou a ficar abaixo dos 3% e o FMI prevê que nos próximos anos deve ficar entre 3-4%.

Como consequência, as projeções futuras de quando a economia chinesa ultrapassará a americana têm sido revisadas para o futuro. Por exemplo, em 2021 o FMI previa que a economia chinesa seria, no ano passado, 76% do tamanho da economia americana. Na verdade, com o crescimento mais baixo, ela chegou em 2023 com 65% da economia americana.

A previsão mais recente é que nem mesmo em 2028 vá se alcançar os 72% citados anteriormente. Alguns institutos privados já preveem que a economia chinesa nunca vá alcançar o tamanho da economia americana!

Em parte, a explicação é demográfica. A população americana continua expandindo, por causa do fluxo constante de imigrantes. Já a população chinesa tem envelhecido e estagnado em tamanho, muito em função da política de filho único ali existente.

Mas também há uma desaceleração no crescimento da produtividade do trabalho na China.

Isso não deveria ser uma surpresa tão grande. Um dos mais influentes economistas do século passado, Robert Solow, ganhou o Nobel principalmente por uma teoria do crescimento que previa que países mais pobres (com menos capital acumulado) tenderiam a crescer mais rápido do que aqueles com muito capital.

O Brasil também passou por seu milagre do crescimento. Hoje a China tem uma renda per capita próxima ao brasileiro. A dúvida que fica é se, como nós, eles também vão cair na “armadilha da renda média” — quando um país sai da pobreza e em seguida para de crescer. Num país em que tem taxas de poupança muito altas, infraestrutura bem melhor que a nossa e excesso de estoque de imóveis, é difícil pensar em avenidas tradicionais para estimular o crescimento.

E isso se reflete do outro lado do mundo. Muitos dos jovens chineses que cruzaram a fronteira falaram a repórteres que saíram da China porque hoje está muito mais difícil encontrar emprego. Para eles, chegou ao fim o milagre chinês. A pergunta mais importante é: e para os chineses, muito mais numerosos, que ficaram em casa? O que o futuro reserva?

O fim do milagre chinês?

Talvez você tenha lido alguma notícia sobre a crise migratória na fronteira dos Estados Unidos com o México. Mas eu duvido que o leitor consiga adivinhar a nacionalidade que teve mais crescimento no número de detenções migratórias: os chineses.

Ao fim de 2023, o número de imigrantes chineses detidos na fronteira era quase 600% maior do que no mesmo período do ano anterior. Mas como há um crescimento percentual tão forte no número de pessoas que estão saindo de um país que está a 11 mil quilômetros para imigrar por terra? Eu, que moro nesta fronteira, também me fiz essa pergunta.

Quase todos eles, ao cruzar, pedem asilo político — e vão ter seu caso julgado pelas autoridades migratórias. Mas os chineses, vindo de uma ditadura, têm uma probabilidade muito maior de sucesso em seus casos. Em 2021, 17% dos pedidos de asilo de mexicanos foram aceitos. Entre os salvadorenhos, o percentual sobe para 28%. Entre chineses a taxa foi de 81%.

A probabilidade de sucesso torna a arriscada viagem um pouco mais atrativa. Para muitos deles, ela começa no Equador (país que não exige visto para chineses) e segue por terra cruzando Colômbia, América Central, até a fronteira Norte do México.

Existem fatores políticos e tecnológicos que podem ajudar a explicar esse incremento no fluxo.

Há um aumento na repressão política. Políticas recentes incluem interferências sem precedentes em universidades, prisão de advogados de defesa e repressão a protestos em províncias como Hong Kong. Ao mesmo tempo, à medida que as tensões entre EUA e China têm aumentado nos últimos anos, o acesso a vistos de turismo para chineses tem se tornado mais limitado.

Na esfera tecnológica, a conhecida censura do governo hoje tem implementação mais difícil. Com o uso de softwares de redirecionamento de rede, muitos chineses têm acesso à mídia social ocidental. Entre aqueles que chegaram nos Estados Unidos, muitos relataram ter aprendido sobre o trajeto da viagem no Instagram e no TikTok (ou seus equivalentes chineses).

Igualmente importante, há muitos fatores econômicos que ajudam a explicar esse tipo de fluxo migratório. Durante décadas, nos acostumamos a ver a economia chinesa crescendo a 10%. Mas a partir da década passada, a trajetória começou a arrefecer, com taxas rondando os 6%. Recentemente, o crescimento chegou a ficar abaixo dos 3% e o FMI prevê que nos próximos anos deve ficar entre 3-4%.

Como consequência, as projeções futuras de quando a economia chinesa ultrapassará a americana têm sido revisadas para o futuro. Por exemplo, em 2021 o FMI previa que a economia chinesa seria, no ano passado, 76% do tamanho da economia americana. Na verdade, com o crescimento mais baixo, ela chegou em 2023 com 65% da economia americana.

A previsão mais recente é que nem mesmo em 2028 vá se alcançar os 72% citados anteriormente. Alguns institutos privados já preveem que a economia chinesa nunca vá alcançar o tamanho da economia americana!

Em parte, a explicação é demográfica. A população americana continua expandindo, por causa do fluxo constante de imigrantes. Já a população chinesa tem envelhecido e estagnado em tamanho, muito em função da política de filho único ali existente.

Mas também há uma desaceleração no crescimento da produtividade do trabalho na China.

Isso não deveria ser uma surpresa tão grande. Um dos mais influentes economistas do século passado, Robert Solow, ganhou o Nobel principalmente por uma teoria do crescimento que previa que países mais pobres (com menos capital acumulado) tenderiam a crescer mais rápido do que aqueles com muito capital.

O Brasil também passou por seu milagre do crescimento. Hoje a China tem uma renda per capita próxima ao brasileiro. A dúvida que fica é se, como nós, eles também vão cair na “armadilha da renda média” — quando um país sai da pobreza e em seguida para de crescer. Num país em que tem taxas de poupança muito altas, infraestrutura bem melhor que a nossa e excesso de estoque de imóveis, é difícil pensar em avenidas tradicionais para estimular o crescimento.

E isso se reflete do outro lado do mundo. Muitos dos jovens chineses que cruzaram a fronteira falaram a repórteres que saíram da China porque hoje está muito mais difícil encontrar emprego. Para eles, chegou ao fim o milagre chinês. A pergunta mais importante é: e para os chineses, muito mais numerosos, que ficaram em casa? O que o futuro reserva?

Portugal inicia transição de governo, em guinada para a direita

Lisboa — Dez dias depois das eleições em que deu uma guinada à direita, Portugal, finalmente, começou seu processo de transição política. Antes mesmo de tomar posse — a cerimônia está marcada para 2 de abril —, o futuro primeiro-ministro, Luís Montenegro, líder da Aliança Democrática, se apresentou à presidente do Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, e emitiu um recado claro aos demais partidos para que não criem dificuldades ao novo governo. Para ele, o país deve mostrar à população, aos agentes econômicos e aos parceiros europeus que tem maturidade suficiente para manter a estabilidade que sempre o caracterizou.

“Não há motivo, nem interno nem externo, para se duvidar da capacidade administrativa do novo governo. Não há nenhuma razão para duvidar da maturidade democrática dos portugueses, seja dos que votaram, seja dos que assumiram responsabilidades, no governo e na oposição”, disse Montenegro. Na avaliação dele, embora não disponha de maioria absoluta na Assembleia da República, o novo governo tem a confiança dos eleitores e do que se exige dos atores políticos, ou seja, o sentido de responsabilidade. Da presidente da Comissão Europeia, ele recebeu a garantia de que terá todo o apoio necessário para governar Portugal. Montenegro também se reuniu com a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.

Um fato inédito chamou a atenção em Bruxelas: as presenças do atual premiê português, o socialista António Costa, e de seu sucessor. Os dois conversaram e ressaltaram a importância de se colocar em primeiro plano o desejo da população de um país melhor. “Não sou voz da oposição, até estou rouco”, disse Costa. Apesar do bom momento econômico de Portugal, com crescimento acima da média europeia, desemprego em baixa e contas públicas arrumadas, há um descontentamento enorme dos cidadãos, que reclamam dos impactos da recente inflação, da severa crise na habitação e da deterioração dos serviços da saúde e da educação. Foi esse sentimento de desproteção que levou mais de 1,1 milhão de portugueses a elegerem 50 deputados do partido Chega, de extrema-direita.

Revisão do Orçamento

O primeiro grande desafio de Montenegro será obter os votos necessários na Assembleia da República para revisar o Orçamento de 2024, feito pela administração que está saindo. Ele prometeu cortar impostos, mas, ao mesmo tempo, dar aumentos salariais para professores, policiais, médicos e aposentados e pensionistas. O Partido Socialista admitiu apoiar algumas medidas, porém, ressaltou que fará uma oposição responsável e aguerrida. O Chega, que tentou, de todas as formas, aderir ao novo governo e foi rechaçado pelo líder da Aliança Democrática, indicou que vai esperar um sinal mais claro de Montenegro para se posicionar.

Para não ficar tão refém de votos conquistados na oposição, o futuro primeiro-ministro de Portugal conta com a adesão ao governo da Iniciativa Liberal (IL), com seus oito deputados. O casamento ainda não foi selado. Também há possibilidade de o Livre, de centro-esquerda, com quatro parlamentares na Assembleia da República, se posicionar a favor de Montenegro em votações mais importantes. O líder do partido, Rui Tavares, afirmou que fará uma oposição “leal, construtiva e vigorosa”, mas rechaçou qualquer apoio se Montenegro ceder a uma parcela da Aliança Democrática que defende um acordo com a extrema-direita.

Montenegro informou que os novos ministros serão apresentados em 28 de março. Ele pretende dar uma cara mais liberal ao governo e passar aos investidores e ao comando da União Europeia a visão de que fará uma gestão responsável, uma vez que Portugal é extremamente dependente dos repasses de Bruxelas para tocar investimentos, sobretudo, na área de infraestrutura. Ele recebeu apoio de Úrsula von der Leyen, mas esse suporte veio acompanhado do alerta de que o momento vivido pela Europa é crucial. Há uma guerra nas suas franjas, entre a Ucrânia e a Rússia; a região vê o crescimento de movimentos anti-imigração; há falta de moradias e a ultradireita ganha força.

Lisboa — Os portugueses que vivem no Brasil, mas mantêm o direito de voto em Portugal, foram fundamentais para que um dos principais aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no país europeu perdesse o mandato de deputado para um representante da extrema-direita. Augusto Santos Silva, do Partido Socialista (PS), que ainda preside a Assembleia da República, não conseguiu obter os votos necessários no exterior para garantir uma vaga no Parlamento que tomará posse nos próximos dias.

Envolvidos pela máquina bolsonarista — especializada em difundir fake news nas redes sociais —, os portugueses que moram em território brasileiro garantiram 24,6% dos votos ao Chega, contra apenas 15,3% do Partido Socialista. O Chega também venceu de forma expressiva no circuito europeu, graças às votações maciças na Suíça e em Luxemburgo, para onde estão seguindo os jovens portugueses, que se sentem excluídos do atual processo político e econômico. Muitos consideraram o apoio desse grupo etário à ultradireita como um protesto.

O socialista Augusto Santos Silva: derrota para os ultraconservadores

Dos quatro deputados da Assembleia da República eleitos com votos do estrangeiro, o Chega ficou com dois, entre eles, José Dias Fernandes, que, durante anos, foi imigrante ilegal na França, sendo expulso duas vezes do país. Já o PS garantiu um parlamentar, e a Aliança Democrática, do futuro primeiro-ministro, Luís Montenegro, um.

Santos Silva tomou a frente na defesa de Lula na cerimônia em comemoração do 25 de Abril no ano passado. O líder brasileiro havia sido convidado para discursar no Parlamento no dia em que se celebra a Revolução dos Cravos, que garantiu o retorno da democracia em Portugal, mas enfrentou um protesto de deputados do Chega, que gritavam e batiam nas mesas enquanto o petista falava. O presidente da Assembleia interveio e pediu respeito ao líder brasileiro, alegando que se tratava do discurso de um chefe de Estado com fortes ligações com Portugal. Ele conseguiu controlar a situação.

A decepção com a não reeleição de Santos Silva foi grande no Partido Socialista e no governo brasileiro. Em entrevista à rede de tevê SIC, o político afirmou que a sua não reeleição reflete o péssimo momento enfrentado pelo Partido Socialista, depois de oito anos à frente do governo. A atual administração caiu por causa de denúncias de corrupção que atingiram o primeiro-ministro, António Costa, e vários de seus auxiliares. Costa pediu renúncia e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou eleições. Passados quatro meses da Operação Influencer, comandada pelo Ministério Público, nada foi provado contra nenhum dos acusados. (VN)

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Nas Olimpíadas de 2024 faça turismo com segurança

Nas Olimpíadas de 2024 faça turismo com segurança ((Foto: Freepik/ montagem))

Segurança nas Olimpíadas de 2024: Os jogos olímpicos são a maior competição e celebração esportiva de todo o mundo. As competições, como conhecemos na atualidade, foram idealizadas pelo francês Barão Pierre de Coubertin. No ano de 2024, as competições serão realizadas na França, na cidade de Paris, com abertura dos eventos em cerimônia aberta, às margens do rio Sena.

Por intermédio dos jogos, a cada quatro anos atletas de todos os continentes disputam diversas modalidades esportivas. As competições são realizadas em versões de inverno e verão, além das paralimpíadas, disputadas por atletas com alguma deficiência.

O objetivo principal dos jogos olímpicos é a promoção da paz, pela integração e a união entre os países componentes. Ainda, a visão do movimento olímpico está fundada na construção de um mundo melhor através do desporto, com a promoção dos valores da excelência, da amizade e do respeito.

A preparação para as Olimpíadas de 2024 está em ritmo acelerado, pois as celebrações e jogos estão com início programado para o mês de julho. Por se tratar de um evento global, de grande notoriedade e interesse mundial, a corrida para os ingressos dos eventos, reservas de hotéis e passagens é frenética, segundo sites especializados.

O mundo, o terrorismo, os ataques cibernéticos e as Olimpíadas de 2024

Os jogos olímpicos são eventos disputadíssimos por pessoas de todos os continentes. O trânsito de autoridades e turistas crescerá de forma exponencial, acarretando um incremento obrigatório nos níveis, protocolos e medidas de segurança e proteção.

Em contraponto ao espírito desportivo, o mundo atravessa uma fase de inconstâncias e disputas de toda natureza, que merecem ser trazidas como forma de alerta, para a segurança dos turistas. Há uma grande turbulência globalizada nos panoramas políticos e bélicos, fatos que criam grande instabilidade.

Nesse prisma, o terrorismo e os ataques cibernéticos são considerados pelos organizadores do evento os maiores temores para as pessoas durante a realização das cerimônias, dos jogos e de toda a estrutura envolvida.

Uma das questões mais trabalhadas pelos responsáveis pela estruturação das olimpíadas está ligada à cerimônia de abertura, pois ocorrerá em local aberto, às margens do rio Sena. O que potencializa o risco e as possíveis ações terroristas e criminosas.

Histórico de ataques em jogos olímpicos

Na história das olimpíadas, era moderna, há registros oficiais de ataques terroristas em duas edições. O mais gravoso ocorreu durante os jogos em Munique no ano de 1972. Naquele momento fatídico 11 membros da delegação de Israel foram sequestrados e assassinados. O outro fato foi registrado em 1996, em Atlanta, quando um artefato explosivo foi detonado fazendo uma vítima fatal, deixando outras 110 pessoas feridas.

Além das disputas e conflitos diversos pelo planeta, neste ano de 2024 temos um cenário de guerra envolvendo países que estarão presentes na disputa dos jogos. Tal fato pode potencializar a existência de possíveis retaliações ou ataques diretos. Ou mesmo, serem utilizados como pano de fundo para a atuação de grupos terroristas divergentes.

A bem-estar físico e moral das autoridades, atletas, turistas e dos moradores locais é um ponto sempre observado nas publicações e artigos sobre a estruturação dos esquemas de segurança para as olimpíadas.

Os planos e ações são apresentados ao mundo para que as atividades sejam consideradas confiáveis no quesito segurança.

Saiba como está a situação política na França

Vivenciou-se um passado recente com bastantes conturbações em território francês. As mobilizações populares estiveram perceptivelmente inflamadas nos últimos anos, em especial pelas questões sociais, políticas e raciais. Atualmente, ainda se percebe uma adequação das questões apresentadas.

No que se refere aos eventos olímpicos, uma outra situação a ser considerada está afeta às estruturas necessárias para o devido atendimento do turista nas questões emergenciais e de infraestrutura.

Segundo notícias e movimentações ocorridas no início deste mês, trazidas pela Confederação Geral do Trabalho (em francês, Confédération générale du travail, CGT), os setores de serviços franceses cogitam a paralisação, por estado de greve, durante o período olímpico.

Estas nuances devem ser devidamente acompanhadas pelos viajantes que estarão presentes durante os eventos das olimpíadas.

Dicas para a sua segurança durante as Olimpíadas de 2024

As olimpíadas atrairão um número expressivo de turistas de todo o mundo. É fundamental que você, como turista muito antenado que deve ser, esteja atento a fatores que potencializem sua segurança, comodidade e bem-estar durante sua experiência.

Planejamento

O planejamento e devido acompanhamento dos passos e informações relativas aos eventos (transporte, hospedagem, ingressos, etc.) devem ter uma checagem rotineira. Especialmente, por se tratar de uma viagem internacional, os detalhes precisam ser seguidos e cumpridos para o sucesso da atividade.

Seguro viagem

Não se esqueça de contratar um bom seguro de viagem, observando as peculiaridades e tranquilidade que esta ferramenta pode apresentar em casos de um evento fortuito.

Deslocamentos, documentos e pertences

Mesmo cercado de todo o aparato que ocorre durante eventos dessa natureza, evite o deslocamento por locais menos seguros ou afastados. Nos deslocamentos procure utilizar transportes oficiais ou aplicativos. Mantenha seus documentos e pertences de maior valor em local seguro. Mantenha bolsas e carteiras sempre próximas ao corpo.

Contatos

É necessário estar de posse de uma relação de contatos e pontos oficiais de apoio. Conheça os ambientes para atendimentos emergenciais e de socorrimento.

Como em todo evento de grande monta, o número excessivo de pessoas transitando e aglomeradas deverá ser uma constante. Tenha em mente que adotar uma postura de segurança é fundamental para evitar transtornos.

Haja vista ser um evento de grande notoriedade e capilaridade, muitos fatores de segurança além dos convencionais devem ser observados. Quaisquer dúvidas procure as autoridades locais, em casos extremos busque uma representação diplomática do Brasil naquele ambiente.

LEIA TAMBÉM: Quebec: agora ficou mais fácil chegar a Mont-Tremblant

Como dica de segurança em suas viagens busque sempre por ambientes que possam disponibilizar um sentimento de segurança ou uma entrega de benefícios, através de constatações físicas e presenciais de suas estruturas.

Sua segurança, sempre em primeiro lugar. Não caia em furadas e divirta-se em suas viagens.

No mais busque atividades que transmitam um sentimento de segurança, mesmo nas aventuras mais radicais. Caso queira compartilhar suas experiências, de forma que a coluna possa contribuir para a segurança dos demais turistas, envie sua sugestão no nosso Instagram.

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Embratur cria programa para aumentar número de voos internacionais para o Brasil

O governo quer atrair novos voos internacionais com destino ao Brasil. Para isso, criará um programa, executado pela Embratur, que prevê o uso de recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), no qual as companhias de aviação e aeroportos poderão promover, em parceria, as rotas aéreas estreantes em campanhas de publicidade e outras ações.

Deverá ser publicado hoje no Diário Oficial o primeiro edital do Programa de Aceleração do Turismo Internacional (Pati), que prevê a realização de parceria público-privada com as companhias aéreas e aeroportos. A meta é ampliar o número de assentos e voos internacionais que aterrissam no Brasil.

Segundo interlocutores do governo, a primeira fase será de testes e ajustes, com previsão de investimentos de cerca R$ 7 milhões. Metade desse valor será de recursos públicos, e o restante, das empresas.

O edital convida as companhias aéreas e aeroportos a lançarem novos voos internacionais com destino ao Brasil e apresentarem propostas de investimento na promoção desses trajetos.

São exemplos campanhas publicitárias no país de origem dos voos e a realização de viagens promocionais com jornalistas, influenciadores digitais e operadores de turismo estrangeiros.

‘Mercados estratégicos’

Segundo o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, esse programa é inédito no país. Ele destacou que serviram de referência para o Brasil iniciativas adotadas por países como Reino Unido, Espanha, Irlanda e Suécia.

— O alcance das metas de crescimento do turismo internacional no Brasil está intrinsecamente associado a um fator de mercado, que é a conectividade aérea. Não adianta o crescente interesse internacional em conhecer o Brasil, se não houver voo direto ou com conexões curtas, em preço competitivo. Com esse programa, adaptamos para nossa realidade as melhores práticas internacionais de atração de novos voos — disse Freixo.

A estimativa é que o programa gere cerca de 83 mil novos assentos. Atualmente, há em torno de 13 milhões de assentos em aviões internacionais que vêm para o país, e a previsão para este ano, sem o programa, é que o volume atinja cerca de 15 milhões.

O edital também estabelece critérios que privilegiam voos a partir de países considerados “mercados estratégicos” — ou por já enviarem uma grande quantidade de turistas para o Brasil, ou porque são grandes emissores internacionais.

É o caso, por exemplo, de Alemanha e China, segundo e terceiro maiores emissores de turistas no mundo, mas que ocupam apenas a oitava e a vigésima posições entre os que mais visitam o Brasil, respectivamente.

Em 2023, mais de 60% dos turistas alemães que visitaram o Brasil vieram em voos com conexão em outros locais da Europa, o que evidencia a baixa conectividade com aquele país. Já os voos diretos da China para o Brasil serão retomados apenas em maio deste ano.

A contrapartida da Embratur é financeira: com recursos do FNAC, a estatal vai bancar parte das ações de promoção das novas rotas aéreas. Serão R$ 40 para cada assento em novo voo que pouse no Brasil, durante o período de 27 de outubro deste ano a 29 de março de 2025. A companhia aérea também entraria com R$ 40.

Pontuação vai variar

O edital prevê pontuações crescentes para as propostas que projetem um investimento privado maior que o público. Ao mesmo tempo, estabelece penalidade na pontuação das propostas com contrapartidas menores que o valor investido pela Embratur.

Para pleitear o recurso, a companhia tem de garantir um crescimento da malha aérea em relação à temporada anterior. Assim, o dinheiro estará vinculado aos novos assentos e deverá ser investido na promoção das rotas.

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Na disputa por recursos do FNAC, a criação de rotas que decolem de aeroportos que não têm voo direto para o Brasil ganhará pontos. A frequência semanal maior do voo também será premiada com maior pontuação, assim como a conveniência do horário de chegada e partida, com preferência para o intervalo entre 9h e 18h.

Também serão mais bem ranqueadas as propostas que usarem aeronaves mais modernas, que emitam menos carbono na atmosfera. Além disso, terão mais chances empresas com políticas de sustentabilidade e meio ambiente, combate ao tráfico de pessoas, atendimento à mulher, inclusão social e diversidade.

Empresas aéreas cancelam voos SP-RJ por mau tempo mesmo sem intempéries

Quase metade dos cancelamentos de voos da ponte aérea no ano passado feitos sob alegação de má condição climática em um dos aeroportos ocorreu em dias nos quais nem Congonhas (São Paulo) nem Santos Dumont (Rio de Janeiro) fecharam um minuto sequer.

Empresas aéreas, especialistas e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) afirmam que a identificação de mau tempo inclui outras variáveis além do fechamento do aeroporto, como modelo da aeronave, certificados dos pilotos e rajadas de ventos momentâneas.

Contudo, o levantamento mostra cancelamentos em dias nos quais tanto Congonhas como o Santos Dumont operavam nas melhores condições climáticas possíveis. Uma das companhias aéreas reconheceu o erro na justificativa dada em um dos casos apontados.

Como mostrou reportagem da Folha, as companhias apresentaram no ano passado justificativas divergentes aos dois aeroportos para cancelar voos da ponte aérea. Há também um vácuo na fiscalização dessas informações, já que nenhum órgão do setor assumiu a responsabilidade pela tarefa.

Toda rota de voo utiliza dois slots: um no aeroporto de partida e outro no de chegada. Ao cancelar um voo da ponte aérea, as companhias são obrigadas a apresentar uma justificativa para cada um dos aeroportos por não utilizarem o espaço reservado a elas.

A cobrança ocorre porque Santos Dumont e Congonhas são considerados aeroportos coordenados, em que há intensa disputa por uma posição a ser operada.

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Resolução da Anac exige das empresas um índice de utilização de 80% dos slots. No entanto, não são considerados no cálculo cancelamentos por motivos fora da capacidade de gerenciamento das empresas, como má condição climática.

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Dos 2.004 cancelamentos de voos nessa rota, 634 indicaram em ao menos uma das justificativas condição climática adversa no aeroporto de partida ou de chegada (código 71 e 72 da portaria da Anac sobre o tema). O levantamento não inclui mau tempo na rota (código 73).

Neste grupo, 279 (14% do total e 44% dos cancelamentos por mau tempo) ocorreram em dias nos quais nenhum dos dois aeroportos fechou.

Entre os 634 voos cancelados com indicação de má condição climática em um dos aeroportos, também foi identificado 368 divergências em relação ao código atribuído no outro ponto da rota (partida ou chegada).

Além disso, em 121 desses cancelamentos, o outro código atribuído não confere abono no cálculo do índice (6% do total de cancelamentos ou 19% dos que indicam mau tempo em um dos aeroportos).

Foi, por exemplo, o que ocorreu com o voo 3916 da Latam, que partiria às 14h do dia 25 de maio do ano passado de Congonhas para Santos Dumont. No aeroporto de partida, a empresa atribuiu o código 99 (“motivos diversos”) para justificar a não utilização do slot —causa não abonável no índice de regularidade. No de chegada, porém, incluiu o código 72 (“problema no aeroporto de destino causado por condições climáticas adversas”).

Dados da Rede de Meteorologia da Aeronáutica mostram, porém, que o Santos Dumont operou em condições visuais ao longo de todo o dia —são as melhores condições de voo, segundo especialistas ouvidos pela reportagem. Não houve, também, qualquer fenômeno naquele dia que impedisse o pouso.

Algo semelhante ocorreu com o voo 1031 da Gol em 29 de março de 2023, que sairia do Santos Dumont em direção a Congonhas às 14h40. A companhia atribuiu o código 72 como justificativa do cancelamento nos dois aeroportos.

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O aeroporto de São Paulo operou ao longo de quase todo o dia em VFR (operação segundo as regras do voo visual), tendo uma leve piora apenas as 17h —mais de uma hora depois do horário previsto para pouso do voo. A companhia reconheceu o erro na atribuição do código, mas afirma que o correto seria outra justificativa também abonável no índice de regularidade —colisão de aeronave com um pássaro.

Entre as divergências nas justificativas, há também casos de contradição flagrante. Em 32 voos, o motivo dado para o cancelamento no aeroporto de partida foi má condição climática no de chegada (código 72), enquanto no de destino foi apontado motivo inverso: mau tempo na partida (código 71). Um é da Azul e os 31 restantes, da Latam.

A indicação de má condição climática em ao menos um dos aeroportos foi mais comum na Azul. Ela aparece em 85% dos 129 voos cancelados nesta rota no ano passado. Neste grupo da companhia, há divergência entre os códigos em 30% dos casos. Em 9%, a outra justificativa dada não confere abono.

A Latam inclui os códigos 71 e 72 em 44% dos cancelamentos que realizou no período nesta rota. Em 30% houve divergência entre os códigos, e em 10% a outra causa impacta no cálculo do índice de regularidade.

A Gol foi a que proporcionalmente menos usou condição climática adversa nos aeroportos como justificativa (6% dos cancelamentos).

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O coordenador do curso de Aviação Civil da Universidade Anhembi Morumbi, Alexandre Kaperaviczus, diz que o aeroporto estar aberto não é o suficiente para indicar a possibilidade de pouso e decolagem.

“Não basta o aeroporto estar aberto. Isso é decisão do piloto. Ele vai analisar os dados meteorológicos. Dentro do avião, ninguém toma decisão se não for o piloto”, afirma.

Aroldo Soares, mestre em segurança de voo pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), diz que há aeronaves que têm limitações específicas. Rajadas de vento, mesmo em boas condições meteorológicas, podem impedir a decolagem e o pouso. Ele afirma, porém, que há a possibilidade de uso sem critério da justificativa.

“Usam esse termo ‘condições meteorológicas’ para tudo, quando na verdade são outros fatores que acabam interferindo.”

Nem todas as adversidades climáticas fecham aeroporto, diz Anac

Em nota, a Anac diz que “nem todas as adversidades climáticas se referem à visibilidade mínima, que é o parâmetro típico para que um aeródromo declare operação abaixo dos mínimos”.

“Condições climáticas adversas abarcam um escopo amplo de incidências climatológicas. Além de chuva forte, são consideradas condições climáticas adversas ventos fortes que possam interferir no equilíbrio da aeronave durante uma manobra de aproximação ou neblinas que prejudiquem a visibilidade, por exemplo”, afirma a agência.

“O próprio impacto da meteorologia em operações é amplamente relativo e dependerá de aspectos como os procedimentos de segurança operacional da empresa e do piloto que comanda o voo, o próprio horário da operação, entre outros. Trata-se, portanto, de um dado complexo e de avaliação metódica”, diz a nota.

A agência não comentou os casos de divergência nas justificativas, por afirmar não ter a atribuição para fiscalizar os motivos de não utilização dos slots.

A Azul afirma que “pousos e decolagens podem ser afetados por uma série de fatores, decisões operacionais da tripulação ou do centro de operações da companhia, seja por ventos fortes, incidência de chuvas, contingenciamento de tráfego aéreo e outros fatores, mesmo que o aeroporto esteja apto e aberto para operações”.

A Latam diz que “a maior parte dos cancelamentos ocorre por questões alheias ao seu controle” e que registrou “95% de regularidade nos voos da ponte aérea” no ano passado.

“Quando uma aeronave é impossibilitada de decolar ou pousar em algum aeroporto por situações alheias ao seu controle, como questões meteorológicas ou de infraestrutura, os demais voos programados para aquela aeronave podem ser impactados em uma espécie de ‘efeito cascata'”, diz a companhia.

A companhia não se posicionou sobre o cancelamento voo 3916 do dia 25 de maio.

A Gol afirma que voos podem ser afetados por um efeito cascata de cancelamentos causados por má condições climáticas em outros aeroportos —motivo não incluído nos códigos 71 e 72, usados no levantamento.

“Os aviões não estão restritos a rotas específicas diariamente, e entram numa escala conhecida como ‘trilho’, utilizando um jargão do setor aéreo. No mesmo dia, as aeronaves, assim como as tripulações, podem atender de dois a sete aeroportos distintos, obedecendo a um trilho previamente planejado. Essa versatilidade, embora valiosa, também significa que condições adversas em qualquer uma dessas localidades pode impactar negativamente as etapas subsequentes da aeronave”, diz a companhia.

A companhia, porém, reconheceu equívoco na atribuição do código 72 para justificar o cancelamento do voo 1031 do dia 29 de março do ano passado. A Gol afirma que ele ocorreu em razão da colisão de uma aeronave com um pássaro em Congonhas, o que levou ao fechamento temporário do aeroporto.

“A Gol salienta que tanto o código 72 (meteorologia adversa no aeroporto de destino) como o 81 (tráfego aéreo) são usados em situações não gerenciáveis pela empresa aérea.”

Com 8,1 mil casos, afastamentos do trabalho por transtornos mentais e burnout no Ceará aumenta 46%

A quantidade de afastamentos do trabalho no Ceará por questões relacionadas à saúde mental — como ansiedade generalizada, fobia social, depressão e — aumentou 46% em 2023, na comparação com o ano anterior. No ano passado, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concedeu 8,1 mil benefícios acidentários ou previdenciários no Estado, enquanto em 2022 esse número foi de 5,5 mil.

Esse aumento ocorre após uma redução de 5% em 2022, quando comparado a 2021. No primeiro ano da série histórica enviada pelo Instituto ao , 5,8 mil benefícios haviam sido concedidos pelos CID-10 — o código internacional de doenças — relativos a transtornos mentais e comportamentais e esgotamento. A média de afastamentos mensais em 2021 foi de 489. Esse número reduziu para 464 em 2022 e depois saltou para 678 em 2023.

Os transtornos mentais e comportamentais estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no Ceará. O do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab) aponta que essas doenças foram responsáveis por 11% dos casos em 2022 — correspondendo a um em cada nove afastamentos naquele ano, o mais recente disponível na plataforma.

O contexto em relação ao trabalho cria um cenário propício para o adoecimento mental, explica Iratan Bezerra de Sabóia, doutor em Psicologia e professor do mestrado de Psicologia e Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará (UFC), no Campus de Sobral.

Três fatores são citados pelo docente: o fato de as pessoas passarem cerca de metade do dia no trabalho, uma série de pressões sofridas pelos trabalhadores e a lógica de se trabalhar com algo que permita acesso ao mínimo para a subsistência — e não necessariamente por interesse na área em que se atua.

O professor ainda acrescenta o atual ritmo de vida “muito intenso” e a cobrança por se manter sempre atualizado quanto às tendências de mercado e aos processos de trabalho. Tudo isso enquanto há um volume de informações que “sequer conseguimos cognitivamente processar e reter”.

Isso sem falar em toda a pressão social que sofremos hoje porque a posição social está muito vinculada ao nosso poder de consumo — que, no final das contas, está vinculado ao trabalho. Então, o trabalho é também uma medida social, de bem-aventurança social. Todo esse caldo é muito propício para o adoecimento. Não é à toa que depressão, ansiedade e burnout são considerados males do século, estão entre as doenças que mais afetam a população no mundo e em especial no Brasil.

Iratan Bezerra de Sabóia

Doutor em psicologia e professor do Campus de Sobral da UFC

SAÚDE MENTAL E MERCADO DE TRABALHO

Em novembro de 2023, após 24 anos, o Ministério da Saúde atualizou a lista de doenças relacionadas ao trabalho, com incorporação de 165 novas patologias, como Covid-19, doenças de saúde mental e distúrbios musculoesqueléticos. Com a mudança, a quantidade de códigos de diagnósticos inseridos no documento passou de 182 para 347.

Entre essas novas doenças na lista está a síndrome de . Incluída na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID 11) como um fenômeno ocupacional, ela consta na CID 10 entre os “problemas relacionados com a organização de seu modo de vida”. No Ceará, a quantidade de afastamentos por esse motivo aumentou a cada ano, entre 2021 e 2023.

Considerado uma síndrome laboral, o foi a causa de 70 benefícios concedidos pelo INSS no Ceará em 2023. Destes, foram 47 benefícios previdenciários — sem relação com o trabalho — e 23 acidentários — em que há relação com afunção. Iratan Bezerra de Sabóia aponta a dificuldade para se estabelecer um nexo causal entre o adoecimento mental e o trabalho como causador desse quadro. Apesar disso, ele afirma que esse entendimento tem mudado ao longo do tempo.

Durante muito tempo foi muito complicado, principalmente em termos legais, termos uma associação entre a saúde mental e os impactos que o trabalho tem na saúde mental. Isso porque a relação de causa e efeito entre um acontecimento e a provável doença mental, o agravamento em relação à saúde mental do trabalhador, é meio distante. É diferente de uma causa física.

Iratan Bezerra de Sabóia

Doutor em psicologia e professor do Campus de Sobral da UFC

Sobre a quantidade de benefícios concedidos pelo INSS no Ceará ao longo dos últimos anos, o docente destaca o salto “de uma ordem absurda” entre 2022 e 2023. Foram 2,5 mil afastamentos a mais entre os dois anos. “É uma tendência que temos hoje em dia, inclusive podendo nem só estar relacionado ao trabalho, mas ao adoecimento mental de uma forma geral”, comenta.

Sabóia aponta, ainda, o impacto da desregulamentação do mercado e da precarização do trabalho para a saúde mental, em um contexto de crescente informalidade e no qual o trabalhador precisa do salário para sobreviver enquanto os empregadores têm “um exército de reserva disponível”.

“No cenário de uma economia fragilizada, o primeiro corte feito é na mão de obra. Agora, imagina esse trabalhador sendo demitido. O que ele vai fazer? Como ele vai levar comida para casa? Obviamente, isso causa uma pressão nessa pessoa que vai impactar a saúde mental dela”, reflete.

O professor também destaca o direito ao uso do tempo, que é prejudicado quando é necessário dedicar “um tempo excessivo ao trabalho para garantir minimamente uma condição material para a família”.

Toda a conjuntura na qual as pessoas sentem que trabalham muito, ganham pouco e a vida não melhora tem ainda outro impacto, segundo o professor: uma virada de radicalização em torno do espectro social e guinadas autoritárias na política em todo o mundo.

“Está intimamente ligado a essa resposta inadequada que temos tido no campo do trabalho, do que o trabalho devolve para a pessoa não só como bem material, mas como bem psicológico. De a pessoa enxergar algum sentido no seu trabalho ou ter condição de ter outros espaços sociais e tempos sociais para se fazer como sujeito”, complementa.

“ATÉ O DESCANSO TEM CERTA CULPA”

O ápice do cansaço — mental e físico — para Felipe* (nome fictício) foi em outubro de 2023. Um dia, acordou triste, sem ânimo. O corpo e a mente estavam cansados. Com dores de cabeça, no ouvido e no corpo, sensibilidade ao barulho e falta de paciência, ele avisou ao chefe que precisava ir a uma emergência hospitalar.

“Se você não teve febre e não está com coriza, podemos descartar algumas síndromes gripais. Me parece, portanto, que você está encaminhando para um ”, disse o médico, ao ouvir a lista de sintomas. Mas Felipe não podia parar. O máximo que conseguiu foi um atestado de três dias — o total de faltas que poderia ter em um mês. “Na segunda-feira da semana seguinte, tive que retornar ao trabalho, porque, enfim, a vida demandava. E fui tentando lidar com esse cansaço”, lembra.

Recém-concursado, Felipe é professor da rede pública de um município cearense. Ele já era bolsista de doutorado antes de assumir o cargo com jornada de oito horas diárias e, quando estava focado apenas na pós-graduação, conta que tinha tempo para o lazer. Com o novo emprego e a distância percorrida de casa até a escola, a rotina mudou, o tempo para dedicar à escrita da tese ficou mais escasso e a preocupação passou a rondar seus pensamentos.

“Estou trabalhando, não tenho tempo para escrever. Quando tenho tempo livre, no final de semana, minha cabeça já está muito estressada, muito cansada, meu corpo está cansado. Fico desejando descanso. Só que até o descanso tem certa culpa, porque minha cabeça não para, ela fica: ‘poxa, você tem que estar escrevendo, tem que aproveitar esse tempo para escrever, tem que aproveitar esse tempo para ler, para continuar a tese, ou não vai dar tempo’. Então, toda essa preocupação foi se somatizando ao longo desse último ano”, narra.

Felipe cita a infraestrutura da escola — que não oferece “o mínimo de conforto” para o professor e para o estudante — e questões sociais relacionadas à realidade dos alunos como pontos que dificultam o trabalho.

A prefeitura, por mais que se preocupe com isso, quer resultados. E os resultados são quantificáveis, não são qualitativos. Ela quer saber se o aluno está tirando nota 10, se a escola está sendo aprovada, se a quantidade ‘X’ de alunos está sendo aprovada. Não pode reprovar aluno. Todas essas questões tiram um pouco da nossa saúde mental, vão consumindo você aos poucos.

Felipe*

Professor e estudante de doutorado

Depois da conversa com o médico no ano passado, o professor passou a intensificar as atividades físicas e pensar menos na tese, uma vez que o estado probatório não permite afastamento para finalizar o doutorado. Em consequência, o processo de escrita ficou mais lento e ele solicitou, pela segunda vez, o adiamento do prazo para a defesa.

“Estou no aguardo, nessa ansiedade de saber se o programa vai ou não aceitar esse pedido. Até lá, (estou) tentando escrever no ritmo que posso, sem violentar o meu corpo, sem violentar a minha mente”, afirma.

TIPOS DE BENEFÍCIO E DIREITOS DO TRABALHADOR

Os dados concedidos à reportagem pela assessoria de imprensa do INSS dizem respeito a benefícios previdenciários (código B-31) e acidentários (código B-91) concedidos no Ceará por incapacidade temporária e permanente. O juiz do Trabalho em Sobral Raimundo Dias de Oliveira Neto, gestor do Programa Trabalho Seguro (PTS) no Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região (TRT Ceará), explica haver uma “diferença fundamental” entre os efeitos jurídicos deles.

Enquanto o benefício previdenciário é concedido devido a doenças comuns, sem relação com o trabalho, o funcionário tem direito ao benefício acidentário em casos de acidentes de trabalho ou doenças relacionadas à função. Nesse último caso, é reconhecido o nexo causal entre a doença e a atividade desempenhada no trabalho.

O magistrado explica que, nos casos de acidente de trabalho ou doenças relacionadas à atividade, o empregado só poderá voltar às funções após a alta pelo perito médico do INSS. Além disso, após o retorno, o trabalhador tem garantida a manutenção do contrato de trabalho por pelo menos um ano. Essa determinação consta no artigo 118 da Lei 8.213, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social.

“Caso a empresa, antes de completado este período, dispense o trabalhador sem que ele tenha cometido qualquer falta grave, deverá indenizar o período restante da estabilidade provisória, mediante pagamento dos salários, 13º salário, férias mais ⅓ e FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço)”, explica. O período de estabilidade pode ser maior, se isso for previsto na convenção coletiva de trabalho ou em acordo coletivo aplicável à categoria profissional.

Por outro lado, quando o nexo de causalidade não é reconhecido, o benefício é concedido como doença comum e o trabalhador não tem direito à estabilidade no emprego nem aos depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) nesse período.

É importante destacar que, quando a Previdência não reconhece o nexo de causalidade entre a doença e a atividade laboral, o empregado pode judicializar o caso na Justiça Federal, contra a Autarquia Previdenciária, reclamando o enquadramento como doença relacionada ao trabalho, para que obtenha, se acolhida a ação judicial, o benefício previdenciário com direitos mais amplos.

Raimundo Dias de Oliveira Neto

Juiz do Trabalho e gestor do Programa Trabalho Seguro (PTS) no TRT Ceará

O juiz também afirma que as empresas podem ser responsabilizadas pelo adoecimento mental dos trabalhadores, “desde que incorram em práticas que contribuam para tal”. Assédio moral praticado por gestores ou chefes imediatos estão entre os exemplos mais comuns — como quando há cobrança com rigor excessivo de produtividade ou tratamento clara e comprovadamente discriminatório.

“É comum que, em casos tais, os trabalhadores venham à Justiça do Trabalho pedir indenizações por danos morais, materiais ou existenciais, inclusive pensão vitalícia, em casos mais extremos”, complementa.

Os casos mais comuns relacionados à saúde mental que chegam à Justiça do Trabalho por meio de ações ajuizadas pelos trabalhadores estão relacionados principalmente à depressão e à síndrome de , segundo Raimundo Neto. “Infelizmente, também tem aumentado o número de suicídios”, acrescenta.

“Segundo a International Stress Management Association (ISMA), com base em dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), o Brasil ocupa o 2º lugar no mundial de casos de , com 30% dos trabalhadores atingidos pela doença, atrás apenas do Japão (70%)”, comenta o juiz do Trabalho.

Em busca de promover ações de conscientização e prevenção de acidentes e doenças do trabalho, Raimundo Neto explica que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) implantou o Programa Trabalho Seguro em 2012, do qual é gestor regional ao lado da desembargadora Regina Gláucia Cavalcante Nepomuceno. O projeto realiza eventos em diferentes datas, como o Dia Nacional de Combate ao Assédio Moral no Trabalho, em 2 de maio, e o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, em 10 de setembro.

Além disso, há o Grupo de Trabalho Interinstitucional do Programa Trabalho Seguro (Getrin), do TRT Ceará, que reúne entidades parceiras e representantes de empregadores e empregados. Outra iniciativa, ainda em fase embrionária, é o projeto CIPA Escolar, que visa promover, em salas de aula, discussões sobre temas relacionados a questões tratadas em Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e de Assédio (CIPAs).

“Acreditamos firmemente que essa atuação conjunta com a sociedade nesse trabalho extrajudicial de conscientização há de contribuir como política pública de prevenção aos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais”, afirma Raimundo Neto.

Tempo que o brasileiro fica sem energia está em queda, diz Aneel

Os consumidores brasileiros ficaram, em média, 10,43 horas sem energia durante interrupções de fornecimento em 2023. Segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a duração dos blecautes é a menor em 15 anos. O dado representa uma queda de 6,9% em comparação a 2022, quando a soma do tempo sem luz chegou a 11,2 horas.

Segundo a agência, houve melhora na qualidade de prestação do serviço. A frequência (FEC) das interrupções se manteve em trajetória decrescente, reduzindo de 5,47 interrupções em 2022 para 5,24 interrupções em média por consumidor no ano passado, o que significa uma melhora de 4,2% no período.

Duas grandes interrupções marcaram 2023. Em agosto, erros em dados usados para funcionamento de usinas geradoras causaram corte de energia em 25 unidadas da Federação e no Distrito Federal. O evento começou em uma linha de transmissão entre Quixadá e Fortaleza, no Ceará, que pertence à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), uma subsidiária da Eletrobras. Roraima foi a única unidade federativa não atingida pelo episódio porque o estado é isolado e não faz parte do sistema integrado nacional.

Em novembro, mais de 2 milhões de pessoas foram prejudicadas por um apagão na grande São Paulo. Embora a maioria das regiões atingidas tenha passado 72 horas no escuro, alguns locais chegaram a ficar quase uma semana sem energia. O episódio teve início com uma forte tempestade que atingiu o estado, com rajadas de vento de mais 100km/h, que provocaram a queda de centenas de árvores e diversos alagamentos. Segundo a Enel, principal distribuidora que atua na região, a força dos ventos danificou a rede de distribuição, quebrou centenas de postes, derrubou transformadores e rompeu cabos elétricos.

A frequência de interrupções e a duração vêm caindo, sucessivamente, desde 2015. No entanto, os dois episódios acenderam alerta para fragilidades no sistema elétrico brasileiro. Em tempos de mudanças climáticas, o assessor político para o tema de Energia do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Cássio Cardoso, afirmou que os efeitos, que já são devastadores, tendem a ser agravados. “O setor não consegue atender à demanda devido, principalmente, à falta de mão de obra e investimentos na infraestrutura”, avaliou Cardoso, a exemplo do que aconteceu em São Paulo.

Os valores de compensação, que são pagos pelas distribuidoras aos consumidores que sofreram níveis altos de interrupção no fornecimento de energia, registraram alta no último ano, passando de R$ 765 milhões em 2022 para R$ 1,08 bilhão em 2023. A compensação é paga automaticamente por meio de descontos na conta de luz, sem que haja a necessidade de que o consumidor acione a distribuidora.

“O valor de compensações pagas aos consumidores aumentou sensivelmente no ano passado, fruto do trabalho de regulação da agência que aperfeiçoou as regras de compensação para direcionar maiores valores para os consumidores com piores níveis de continuidade”, destacou a Aneel, em nota.

A quantidade de compensações também aumentou, de 20 milhões para 22 milhões. A agência destacou que a forte redução na quantidade de compensações de 2021 para 2022 ocorreu em virtude de mudança na regulação sobre o tema, com o objetivo de direcionar maiores valores para os consumidores com piores níveis de continuidade. Assim, o valor de compensação pago individualmente aumentou, em média, cerca de quatro vezes.

A Aneel avaliou o desempenho de todas as concessionárias de energia no Brasil por meio do Desempenho Global de Continuidade (DGC). Entre as distribuidoras de grande porte, as com pior avaliação foram a Equatorial GO, em Goiás, na 29º posição, a CEEE, braço da Equatorial no Rio Grande do Sul, em 28º, e a Neoenergia Brasília, em 27º lugar.

A Aneel avalia o desempenho das distribuidoras de energia de acordo com dois critérios: o indicador de Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC), que mede o tempo médio que cada unidade consumidora, como casas e comércios, ficou sem energia elétrica, e a Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC), número médio de interrupções ocorridas. Cada distribuidora tem uma meta individual para esses indicadores.

A concessionária que atua no Distrito Federal caiu uma posição em relação ao ranking de 2022. Em nota enviada ao Correio, a Neoenergia Brasília afirmou que a classificação “não se trata de um índice da empresa que tem a melhor qualidade em nível nacional”. Segundo a concessionária, a qualidade do fornecimento percebida pelos consumidores do DF é melhor do que a dos clientes de outras distribuidoras mais bem posicionadas no ranking. “Isso é evidenciado quando observamos a quantidade de tempo que o brasileiro ficou sem energia (aproximadamente 12 horas) e comparamos com a quantidade de tempo que o brasiliense ficou sem energia (6,87 horas) no último ano”, destacou a empresa.

Entre as concessionárias que atendem a mais de 400 mil unidades consumidoras, a mais bem avaliada pela Aneel foi a CPFL (Companhia Jaguari de Energia) Santa Cruz, que opera no interior de São Paulo. Em seguida, estão a Equatorial PA (Pará) e Cosern, braço da Neoenergia no Rio Grande do Norte.

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Os reflexos da segurança na promoção do turismo

Os reflexos da segurança na promoção do turismo (Foto: Freepik)

Há uma relação intrínseca do turismo e economia, haja vista uma constatação fática da importância da atividade na geração de dividendos ao país. Segundo dados oficiais, 8% do PIB está ligado à indústria do turismo. Conforme o Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged) o setor foi responsável pela criação de 214.086 vagas de empregos formais no ano de 2023.

Nesse mesmo período, pelos dados do Banco Central (Bacen) e do Ministério do Turismo, só os turistas internacionais trouxeram um aporte financeiro de aproximadamente 35 bilhões de Reais no ano de 2023. Esse quantitativo financeiro se configura, na entrada de cerca de 5,91 milhões de turistas estrangeiros que estiveram em território nacional no ano citado. Os dados da entrada de estrangeiros são certificados pela Polícia Federal.

A Embratur, na sua função de promoção internacional do turismo, afirma que o circuito ligado às atividades turísticas, tais como transporte aéreo, hotelaria, gastronomia, agências de viagens, dentre outros tiveram um crescimento de 7,5% no ano de 2023.

Os voos ofertados em 2023 foi cerca de 40% a mais que no ano anterior, redundando na oferta de 32,47% a mais no número de assentos disponibilizados.

Os dados disponibilizados apresentam a importância e grandeza da atividade turística no contexto da economia nacional.

Panorama da segurança no turismo

Notadamente, sem a necessidade de uma pesquisa censitária, o quesito segurança é primordial para a realização de quaisquer atividades econômicas. O tema é presente e compõe todos os discursos, políticos ou não, na obtenção de recursos e investimentos.

Tendo como referência a imensa indústria do turismo e, consequentemente, os diversos setores e pessoas que estão atrelados a todas as atividades, torna-se imprescindível uma rede de segurança e apoio para a realização dos diversos circuitos turísticos e atividades inerentes ao turismo.

Não há nenhuma dúvida, mesmo que por percepção empírica, que o fator segurança tem grande influência na atração de investimentos e recursos. Além, de ser determinante na escolha de destinos uma grande parcela de viajantes.

Em todos os segmentos envolvidos para a estruturação da atividade turística o fator segurança está permeado. As questões de infraestrutura relativas ao transporte, hospedagem e serviços de toda natureza devem estar contempladas por esses preceitos daquela natureza.

Turismo e segurança pública

O Brasil, por suas dimensões continentais, possui uma geografia extremamente diversificada, um dos fatores de atração de uma gama de viajantes. Lindas praias, biomas maravilhosos, uma rica biodiversidade, cartões postais conhecidos mundialmente, além de um povo gentil e acolhedor em sua grande maioria.

Cada ambiente apresenta padrões e comportamentos distintos que necessitam de medidas próprias do poder público através das ferramentas estatais para a proteção e segurança da coletividade.

Podemos citar a segurança em seu conceito mais amplo, o relativo à atividade estatal, ou seja, a segurança pública, como presente e necessária, cooperando em todos os ambientes e cadeias produtivas do turismo.

A garantia da estabilidade necessária para a execução de todos os elementos constitutivos das diversas atividades dessa imensa indústria do turismo. Não podemos deixar de assinalar a estrutura estatal de apoio ao turista, em especial ao internacional, através de entes especializados no atendimento e socorrimento desses viajantes.

Certamente, a segurança no turismo faz parte desse sistema complexo, interligado e, por vezes independente, que compõe a atividade. A estruturação física e social deve ser implementada nos espaços destinados ao turismo, compondo uma equação adequada ao propósito, ou seja, a segurança dos envolvidos.

Por esta abordagem, todas as ações no âmbito do turismo, devem ser pautadas numa perspectiva ampla que inclua os usuários, a infraestrutura e as políticas de segurança, necessárias para o bem-estar de todos.

Reflexos da segurança em ambientes turísticos

Turistas não estão isentos de possíveis ações humanas, por intermédio da criminalidade, ou do acontecimento de acidentes ou fenômenos naturais que possam colocar em risco sua integridade.

No entanto, a sensação de segurança deve ser explorada e transmitida para que os turistas se sintam confortáveis em visitar determinado destino. O ambiente ideal deve ser aquele em que o público local e o turista tenham a mesma percepção de tranquilidade.

A diferença, no entanto, está no sentimento daquele que está em férias ou desfrutando do lazer em outro ambiente. Pois, sem dúvida, está buscando o entretenimento, por vezes desconsiderando quesitos formais de segurança. Por essa circunstância o turista tende a estar mais vulnerável pela condição de explorar ao máximo a experiência.

Por essas questões peculiares, os destinos turísticos tendem a receber maior atenção no que diz respeito às questões de proteção.

A inobservância dessa percepção e a ausência de medidas protetivas podem comprometer grandemente as atividades turísticas, e por consequência as questões econômicas.

Acidentes e prevenção no turismo

Eventos naturais ou provocados pelo homem podem impactar economicamente ambientes com grande potencial turístico. Contratempos e intempéries podem ocorrer, em sua maioria, quando quesitos de segurança não são observados ou são deixados de lado.

Neste cenário, um grande desafio é a prevenção de acidentes e fenômenos de toda natureza. Há uma necessidade premente de conscientização das pessoas, em especial os turistas, das peculiaridades ambientais, das restrições de segurança e das limitações técnicas de profissionais envolvidos nas incontáveis atividades turísticas presentes no país.

Segundo literatura especializada na atividade turística cerca de 90% dos acidentes ocorrem por falta de comunicação dos riscos. Foram elencadas as principais causas dessas situações:

Não há dúvida que um turismo seguro atrai e garante a manutenção da atividade laboral e econômica.

Não podemos deixar de trazer aquelas tradicionais dicas. Assim, tenha a condição de segurança como fator preponderante para a escolha dos ambientes de suas aventuras. Sua segurança, sempre em primeiro lugar.

Não caia em furadas e divirta-se em suas viagens. No mais busque atividades que transmitam um sentimento de segurança, mesmo nas aventuras mais radicais. Caso queira compartilhar suas experiências, de forma que a coluna possa contribuir para a segurança dos demais turistas, envie sua sugestão no nosso Instagram @portaluaiturismo.

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